Alexandrina de Balasar

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Padre
Paulo Durão Alves,
sj

 

Capítulo 12

PRIMEIRO EXAME POR ORDEM DA SANTA SÉ

1937

Dissemos acima como o director espiritual da doente de Balasar, para descargo de consciência, se resolveu finalmente a escrever para Roma, ao Emº. Cardeal Pacelli, sobre o pedido da Consagração do mundo a Nossa Senhora.

O resultado foi que, meses depois, o Sr. Arcebispo Primaz de Braga, D. António Martins Júnior, em cuja diocese morava a Alexandrina, recebia da Sagrada Congregação do Santo Ofício essa carta escrita ao Emº. Cardeal, com o pedido de mais informes sobre o caso e o autorizado parecer do Prelado. Sua Ex.cia Rev.ma chama o director espiritual, interroga-o miudamente e pede-lhe um relatório por escrito.

O Venerando Prelado de Braga deve ter respondido para Roma, porque logo veio ordem para a Nunciatura de Lisboa, para que mandasse examinar a enferma por outrem que não o director espiritual. A Nunciatura encarrega o Provincial dos Jesuítas, R. Padre Paulo Durão, de determinar alguém para essa incumbência e ele escolheu seu irmão, Padre António Durão, também jesuíta e hoje já falecido.

A 31 de Maio de 1937, a irmã da Alexandrina escreve:

Acabámos de receber aqui a visita de um Sr. Padre, que por sinal parecia muito santo. Trazia um cartão de V. R. que dizia para a Alexandrina lhe falar à vontade; e foi bom, porque ela diz que, se não fosse o cartão, não lhe dizia nada do que ele queria saber. Ele disse-lhe ao que vinha e de mando de quem vinha.

Diz-me ela que lhe respondeu com toda a franqueza e simplicidade. Que Nosso Senhor a não levou ainda, porque lhe queria mandar mais esta prova, que tanto lhe custou. Se o sacrifício que fazia para dizer as coisas ao Paizinho era grande, para as dizer a este que nem ao menos o tinha visto antes, foi ainda muito maior. Não lhe disse tudo, porque era impossível em tão pouco tempo e o pouco que lhe disse foi com grande esforço, porque V. R. bem sabe quanto lhe custa falar. Diz ela também que para estas coisas já é um pouco tarde, porque não tem a cabeça em condições. Para ela que lhe é indiferente tudo isto; só o que quer muito é que seja feita a vontade de Nosso Senhor...

Mas a própria Alexandrina exarou mais tarde, na sua autobiografia, este exame. Oiçamo-la a ela:

Em 31 de Maio de 1937, recebi a visita do Rev.mo Sr. Padre (António) Durão. Vinha mandado da Santa Sé para examinar o caso da Consagração do mundo a Nossa Senhora. O meu desejo era viver ocultamente, sem que ninguém soubesse o que se passava. Sua Rev.cia entregou a minha irmã um cartão do meu Director Espiritual e disse-lhe que mo lesse. Ao ouvir as palavras do cartão que eram assim:

— Vai aí o Sr. Padre Durão; fale-lhe à vontade e responda-lhe a tudo o que ele lhe perguntar.

Fiquei aflita e disse para minha irmã: que hei de eu dizer-lhe? Não sabia que eram precisos estes exames para casos destes. Minha irmã animou-me e disse-me:

— Dirás o que Nosso Senhor te inspirar.

Fiquei surpreendida, quando me fez perguntas das coisas de Nosso Senhor; mas, sem a mais pequena hesitação, comecei a responder as suas perguntas. Sua Rev.cia disse-me que só queria que lhe dissesse o principal, pois não me queria cansar, visto ser grave o meu estado. Respondi-lhe que não sabia o que era o principal. Sua Rev.cia disse-me assim:

— Gosto disso, gosto disso.

E foi quando me falou da Consagração do mundo a Nossa Senhora. Depois de me fazer várias perguntas com muito bom modo, disse-me:

— Não se enganará?

Ao ouvir estas palavras, passou-me pela mente o engano da minha morte e pensei assim: isto é contra mim, vou já dizê-lo. Então respondi: enganarei... e contei-lhe o que se tinha passado na festa da Santíssima Trindade, em 1936. Sua Rev.cia não mais me disse se estaria enganada e falou assim:

— Estas coisas custam muito, não custam?

Respondi: custam e fico triste; e comecei a chorar.

Sua Rev.cia pediu-me para não o esquecer nas minhas orações e prometeu nunca me esquecer no santo Sacrifício da Missa. Ajoelhou-se, rezou três Ave-Marias a Nossa Senhora e algumas jaculatórias, despediu-se de mim e retirou-se.

No dia seguinte escrevia ele à doente o seguinte cartão:

Senhora Alexandrina

Venho agradecer a sua Mãe e a Si e a sua Irmã a bondade com que me receberam ontem nessa casa. Venho pedir desculpa também do grande incómodo que causei, certamente a pesar meu e por dever de consciência. Já hoje na Santa Missa recomendei suas intenções. Hei de continuar a pedir a Nosso Senhor para que se faça a sua vontade santíssima, naquilo que Ele deseja da Alexandrina. Pela minha parte procurarei não pôr obstáculo à mesma vontade divina.

Entreguemo-nos totalmente a Deus. A cruz pode ser às vezes pesada. Mas Jesus está-nos vendo! E depois temos a eternidade! A graça divina não nos há de faltar, mesmo sem nós a sentirmos. Recomendo-me às orações de todos para eu não ser indigno discípulo de Jesus.

Ínfimo servo no Coração de Jesus: Padre António Durão Alves.

Mais tarde, o R. Padre Provincial, informando o Padre espiritual da doente do trâmite que o caso estava tomando, declarou-lhe que seu irmão, o Padre António Durão, após o exame da Alexandrina, tinha ficado bem impressionado e lhe parecia tratar-se de um caso sério.

Em 1939, virá outro exame também por ordem da Santa Sé, feito por Mons. Vilar; mas não antecipemos, porque estamos ainda em 1937.

   

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