Alexandrina de Balasar

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Ao longe troa o canhão!...

O novo ano começará como terminou o outro: sofrimentos e dissabores diversos ocuparão os dias e as noites da bem-aventurada vítima de Balasar.

Desde Janeiro Jesus prediz-lhe o começo da guerra que porá o mundo em ruínas e causará a morte de milhões de pessoas de todas as idades e sexo, de todas as religiões e ritos.

— « O mundo está preso num fiinho tão quebradiço! Dum instante para o outro ou o Santo Padre se move a consagrá-lo ou o castigo vem ao mundo ! A vossa Imaculada Mãe tem o remédio para tudo ! Mas até lá crucificais a Vossa louquinha ! A consagração do mundo tem tantas vantagens ! Faz que desça o perdão e a paz do Céu à terra ! Faz que vão a Vós os corações, e afervora as almas no amor à Vossa Mãe Santíssima ! Vós quereis que Ela seja amada? Ela está entre o pecador e a mão da Justiça Divina ! É a salvação da humanidade ! Que remédio tão salutar! Depressa, depressa a aplicá-lo! Ai, que maldade vai pelo mundo ! Sofrestes tanto ! » [1]

Como sempre, dócil às moções divinas, Alexandrina oferece-se como vítima pela paz!...

O interveniente da maldade e da audácia tenta interpor-se entre a Alexandrina e Jesus... O mentiroso, ou o “manquinho”, como ela lhe chama, não se cansa nas suas lides pérfidas, nas suas mentiras que ele pensa bem urdidas, nas suas investidas tempestuosas, nos seus “chilreados” viperinos, para tentar desconcertar a Vítima do Calvário de Balasar... Mas ali parte os dentes, porque aquela que ele julga frágil é tão forte como um exército pronto para a batalha, tão decidida como o gladiador bem armado, tão impregnada das graças divinas que nada a faz recuar, que nada a faz temer, mesmo quando, por vezes, o medo parece fazê-la temer o caminho... Alexandrina só tem um lema e esse é de avançar, custe o que custar, para a maior glória de Deus e o bem das almas.

Mas, ouçamos o que ela escreve ao seu Paizinho espiritual no começo deste novo ano:

« Agora o demónio é que me consome. Diz-me que eu faço a paixão quando eu quero. Que sou eu, que sou eu quem a faço. “Aos médicos não enganas”: diz-me ele. “Não te acreditam. Mas aqueles f. etc... e mais alguém bastam para espalhar”. E nestes momentos, quando me diz estas coisas, que raiva ele tem contra mim. Uiva, parece que lhe oiço ranger os dentes, e figura-se me que me dá pontapés e escarra na cara. Eu, quando me parece que sinto os escarros, digo só com o pensamento: também a Nosso Senhor o escarraram. Então é que ele fica furioso. Diz-me tantas coisas feias de mim e do meu Paizinho! Que combate ainda hoje tive. Chamei pelo meu Jesus, pela Mãezinha do Céu e por muitos santos e santas para me ajudarem a vencer tão grande combate sem desgostar ao meu Jesus. Diz-me, também, que eu tremo porque quero. Foi por eu não tremer diante do Senhor Abade e do Senhor Cónego ao eles pronunciarem palavras das que costumam fazer-me tremer. Diz-me: “Não tremeste, porque eles não te agradaram” » [2].

O diabo fala aqui do “Senhor Cónego” — e até foi delicado em tratá-lo por “Senhor” — e é verdade — ele com a verdade se engana! — pois trata-se do Sacerdote vindo de Roma e do qual já falamos: O Dr. Manuel Vilar, professor no Colégio português de Roma e que, enviado pela Santa Sé, vinha informar-se junto da Alexandrina acerca da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria.

Escrevendo ao seu Director espiritual, a Alexandrina diz:

« Ontem tive aqui o Senhor Cónego Vilar, vinha do mando da Santa Sé.

O meu Paizinho já sabe? Mesmo sem ele me dizer nada, pensei e não me enganei, ao que ele vinha. Falou muito bem. Gostei muito dele. Parecia-me um santinho. Não deixou, com tudo isto, de me custar imenso. Fez-me várias perguntas que a tudo respondi, como sabia. Como ele não trazia cartão nenhum do meu Paizinho, já tinha dúvidas se procederia mal. Se fiz mal, peço desde já que me perdoe. Bem sabe que em nada lhe quero desobedecer. Se fosse outro Senhor Padre qualquer, que não viesse mandado como ele veio, claro está, que lhe não dizia nada.

Ele disse-me que talvez cá voltasse e hoje, o nosso senhor Abade, quando me veio trazer Nosso Senhor, disse-me que o Senhor Cónego Vilar talvez cá viesse na próxima sexta-feira, se pudesse. Ainda bem que o meu Paizinho está aqui na freguesia » [3].

Santa obediência!...

Como dissemos acima, a Alexandrina vive nas trevas e vai endossar uma outra missão, difícil e dolorosa: “encarnar” a humanidade pecadora e responder por ela perante a Justiça divina... Mas antes que isso aconteça, as trevas que começam a atormentá-la. Ouçamo-la:

« Não mereço ser falada, sou digna de desprezo. Vivo numa tristeza e noite contínuas. Trevas, trevas, ó que trevas. Vejo isto a grande distância. É escuro, é medonho, o caminho que tenho que seguir. Nem ao menos uma pequena luz para me guiar. Por vezes parece que rebento com o peso que vem sobre mim. Oh! como me faz sofrer!

Faz-me sofrer também, não caibo em mim, parece que me faz rebentar, as ânsias do meu Jesus. Ai, meu Paizinho, como eu queria amar o meu Jesus. Ele é digno de todo o amor.

Eu sofro, e sofro tanto, por me parecer que O não amo e que não tenho que Lhe oferecer » [4].

Na mesma carta ao seu Director espiritual Alexandrina faz uma confidência muito interessante onde ela revela uma vez mais não só a sua simplicidade e humildade, mas também a sua ingenuidade espiritual. Ouçamos, porque é deveras significativo:

« Neste mesmo instante — portanto quando escrevia ao seu Paizinho — me brada Jesus:

— Coragem, coragem, para o sacrifício. Não negues nada ao teu Jesus.

Momentos antes de principiar esta carta chamava-me Ele:

— Alexandrina, meu querido amor, já que não chamas por Mim, chamo Eu por ti. Dás-me todos os sacrifícios que te peço!

— Tudo, tudo, meu Jesus: O que eu quero é ter que Vos dar!

— É esta vida triste e dolorosa, mas Eu quero que vivas assim. Se soubesses em que fim aplico os teus sofrimentos! O proveito que tiro! Mas confia que te dou força e te darei sempre que precises, o teu Paizinho para te confortar e te guiar.

Eu lembro-me sempre do meu Jesus, mas confesso a minha falta, não chamo por Ele com o fim de Ele me falar... » [5]

Santa simplicidade, santa inocência!...

*****

Mas agora Jesus queixa-se da ingratidão dos homens:

« Hoje, antes de comungar — escreve ela a 3 de Fevereiro —, ai meu Jesus, como era medonho o meu estado. E logo que recebi a Jesus, parecia-me que Ele se abraçava ao meu coração, parecia arrancar-mo. E com tanta mágoa dizia-me:

— Tem pena, tem dó de Jesus: compadece-te de Mim, minha crucificada. Que ingratidão, que maldade a do Universo. Que dor pungente, que tristeza infinda. Sofro tanto! Não posso sair da dor, da tristeza e da amargura » [6].

Quinze dias mais tarde, Jesus volta a queixar-se e pede o auxílio da Alexandrina, porque os pecados dos homens são como lanças a trespassar o seu Coração.

« De manhã, ainda cedinho, caíram sobre mim, mais fortemente, os sofrimentos da alma. Recebi o meu Jesus ainda para mais sofrer no meio de toda a miséria, com um peso esmagador e uma tristeza profunda. Mas ouvi que Ele me falava assim:

— A força do amor tudo vence, minha jóia. Ai! Consentes que Eu passe para ti toda a minha dor, tristeza o peso com que a gravidade da humanidade a cada momento trespassa com lanças o meu Divino Coração e faz abrir a minha Divina Chaga? » [7]

Alguns dias depois, na carta que escreveu ao seu Director espiritual, lemos esta “queixa” da Alexandrina e o desabafo de Jesus:

« Nosso Senhor não me tem falado: só ontem me disse estas tristes palavrinhas com paz mas sem nenhuma consolação:

— Ai, ai, como o meu Divino Coração está triste e amargurado. Compartilha da minha dor. Eu fui tão, oprimido! » [8]

Jesus faz pesar sobre o coração e sobre a alma da sua vítima, todo o amargor que Ele mesmo sente por causa dos pecados do mundo, mas de vez em quando, para a aliviar de tão pungentes situações, retira-lhe esse peso, deixando-a desfrutar de momentos de paz e de sossego, como para a preparar para novos combates, novos sofrimentos e angústias.

« De repente saiu de mim todo o peso, saí daquela noite e como que uma luz começou a iluminar-me. E falou-me Jesus assim:

— A minha amada está assustadinha. Mas olha minha louquinha; não é nada, nada contigo; é o estado da alma do pecador. São os horrores do mundo. Queres salvá-lo?

Sim Jesus, eu quero sofrer tudo contanto que sejais comigo: sou a Vossa vítima.

— Eu só quero a tua alma e o teu corpo para crucificar: e a tua generosidade nada mais posso exigir. Só tenho que te tomar para os meus Santíssimos braços, estreitar-te ao meu Divino Coração, e acariciar-te.

Senti então as carícias de Jesus » [9].

Como ninguém, Jesus conhece a medicina que cura sem sarar, o bálsamo suave que faz esquecer a dor que não cessa de doer, que reaviva a força que faz desfalecer em Seus braços a vítima que se oferece, que crucifica o corpo para melhor e mais ser amado... ciência divina, como és impenetrável!

Por vezes, uma curta frase, uma palavra apenas, valem mais do que um grande discurso... Exemplo:

« Durante a paixão dizia-me:

— Estou tão deliciado no teu coraçãozinho! Tem coragem, tem confiança que sou Eu » [10].

É na verdade uma curta intervenção, mas suficiente para tranquilizar, suficiente para dar novas forças, para desperta o amor — se isso fosse necessário! — na vítima que se esquece ou permanece no enleio das doçuras celestes.

E, o resultado deste despertar das doçuras celestes, desta viagem celeste inconsciente, é mais do que positivo, é um renovar de forças, é uma entrega redobrada, é uma aurora de amor, um arrependimento renovado e uma entrega total e sem reticências.

« Oh! Se eu pudesse ainda ter mais sofrimentos para com eles conseguir que o meu Jesus não soubesse da maldade com que é ofendido, para Ele não se desgostar, para que se não ferisse o seu Divino Coração! » [11]

E, sem ambiguidade, sempre continua no centro o Coração de Jesus, aquele Coração de que Ele mesmo nos fala no Evangelho, quando nos diz que o seu jugo é suave:

« Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração » (Mt.11, 29).

E, como todos os tesouros confiados à Alexandrina estão no Coração de Jesus, podemos dizer com Ele e com ela:

«Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração » (Mt. 6, 21).

São numerosos os trechos ― nos escritos da Alexandrina ― em que encontramos unidos os Corações de Jesus e de Maria, dois Corações inseparáveis vibrando no mesmo Amor, o Amor de Deus. Aqui temos uma prova dessa dualidade e dessa santa união:

« Nosso Senhor antes de principiar não faltou a dar-me um bocadinho de conforto. Dizia-me:

— Minha filha, minha esposa, loucura do meu Coração, dá a esmola da crucifixão em honra das dores da minha Santa Mãe e da minha Paixão. Dá a esmola ao teu Jesus. O fruto dela. Eu o distribuirei como me aprouver. Tem coragem e confiança. O teu Jesus com o teu Cireneu são a tua força » [12].

O Cireneu de que fala Jesus é o Padre Mariano Pinho que, mesmo distante, está sempre presente pela oração e pelo pensamento, particularmente às sextas-feiras, dia em que Alexandrina revive a dolorosa Paixão.

É grande a missão confiada à Alexandrina: participar, pelos seus sofrimentos e pela sua entrega total nas mãos do Senhor, no mistério da Redenção. Jesus mostra-lhe a grandeza dessa missão e lembra-lhe os tesouros que havia pouco lhe confiara:

« De repente estava na luz. Sentia-me tão grande, não cabia em mim: e Jesus dizia-me:

— À louquinha do meu amor renovo a entrega dos tesouros do meu Divino Coração, toda a riqueza do meu amor para poderes dar às almas. Dou tudo que possa dar à louquinha a quem mais amo. Tem coragem! A dor há-de pungir o coração. O teu corpo, o teu coração, a tua alma são mártires do teu amor. Eu escolhi a dor, pela dor salvei o mundo. Tu pela dor de novo vens a resgatá-lo. Tem coragem. Só terás o teu Jesus a falar-te quando estiveres caída a desfalecer. Eu serei a tua força » [13].

Encarnando a humanidade pecadora, a Alexandrina incorre muitas vezes, durante este ano sobretudo, a cólera justiceira de Deus; não que ela tenha qualquer culpa, mas por que representa essa humanidade que não quer arrepiar caminho; por isso mesmo, as palavras que ela ouve são terríveis e mostram quanto o Senhor está irado contra a maldade dos homens.

Porque já tratámos este tema noutro trabalho [14], não iremos aqui desenvolvê-lo, damos apenas alguns exemplos da justa cólera divina.

Alexandrina acabara de receber a Comunhão, mas o seu coração está frio, pior, está endurecido e insensível às graças divinas. Ela explica:

« Eu acredito que recebo a Jesus porque vejo: de contrário em tais momentos não acreditava. Ó pedra dura e fria que eu sou. Jesus não se me faz sentir senão para ralhar-me muito irado. Hoje dizia-me:

— Vingança, vingança. Como hei-de desagravar-me de tão graves crimes neste corpo tão frágil. Mas pouco importa: paga, dá-me contas: paga à Divindade Santíssima a dívida que deves à humanidade.

O coração era-me atravessado por uma forte lança: ficou-me como que a escorrer sangue com muita abundância » [15].

Alguns dias depois, escrevendo de novo ao seu Director espiritual ela conta:

« Meu Paizinho, a minha alma sente a morte do mundo inteiro. É a morte, é a noite escura que reina por toda parte, e quando recebo a Jesus, é o que Ele mais faz sentir, a morte total: não sou só eu, é Jesus que se finge morto. Faz-me sofrer tanto! Mas é por Ele, benditos sofrimentos. Hoje, passei um pedaço assim neste estado e, por fim, ouvi o que o bom Jesus me dizia:

— Maldita, maldita! E um Pai como Eu bondoso, terno e amável! Que dor, que angústia, que martírio para o meu divino Coração! »

E, como sempre, a resposta heróica da Alexandrina:

— « Ó meu Jesus, passai para o meu coração a dor, a angústia e o martírio. Fazei que eu sofra tudo; eu ainda estou aqui, meu Jesus. Seja o meu coração, a minha alma, o meu corpo um instrumento de reparação para Vós » [16].

Cinco dias mais tarde, o Senhor volta a ralhar a humanidade, mas é a Alexandrina, que a representa, que recebe as repreensões severas de Jesus. Ela as comunica ao seu Paizinho espiritual na carta escrita a 27 de Abril desse ano:

« Hoje, no fim da Sagrada Comunhão, estava morta, coalhada de gelo. Estive assim um grande pedaço. Depois Nosso Senhor dizia-me:

— Maldita, não te posso ver, retira-te de mim.

E com o braço, parecia-me que me repelia d’Ele.

— Estás tão suja e esfarrapada, não te aproximes de mim, porque é para mais e melhor poderes ferir o meu Divino Coração.

Mas, depois, já com mais bondade, dizia-me:

— Mas olha: a Chaga do meu Coração está aberta, é uma fonte pura. Queres-te lavar nela? Ficas limpinha e asseada. Ficas rica e brilhante, mais bela do que a rainha coroada com o rei » [17].

“A Chaga do meu Coração está aberta, é uma fonte pura. Queres-te lavar nela?”

Quem não quereria lavar-se no “sangue do Cordeiro” e na “fonte de água viva”, aquela fonte de água que dá a vida eterna”? (S. João, 4, 14.)

Mas o estado em que então se encontrava Alexandrina não lhe permitia a aceitação de tão precioso convite. Apenas pôde explicar e dizer a Jesus:

« O meu coração era como um rochedo e eu não queria ouvir as palavras de Nosso Senhor. Mas disse-lhe:

— Jesus vede como estou » [18].

Foi neste estado de alma que em Julho desse ano, no dia 16, festa do Sagrado Coração de Jesus a Alexandrina pede ao Papa, por escrito e pela última vez, a Consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria.

Nesse mesmo dia, ao Pai espiritual, ela explica o que faz para que as almas voltem a Jesus, para que os homens arrepiem caminho:

« Afigura-se-me que ando a correr o mundo de braços abertos sem parar um momento a abraçar todas as almas e a trazê-las todas para o meu Jesus: afigura-se-me mesmo que sou eu quem as meto no seu Divino Coração fechando-as lá para sempre » [19].

No mesma carta, a Alexandrina queixa-se de nada poder fazer, da sua incapacidade perante tamanha catástrofe, perante as queixas dolorosas de Jesus... Quereria ela sofrer mais ainda, para que não sofra Jesus, mas o seu “nada” é para ela evidente, e os seus esforços, pensa ela, de nada ou pouco servem para aplacar a divina Justiça.

« Como pode este nada sem haver outro igual desempenhar tão alta missão? Oh! Se assim fosse! Se eu conseguisse com os meus sofrimentos dar todas as almas a Jesus, mesmo todas sem deixar perder uma! Não me importava de dar a vida a todo o momento no meio dos mais horríveis sofrimentos ».

Mas Jesus que a ama tanto, não a deixa neste estado, vem consolá-la, encorajá-la a prosseguir firmemente a sua missão, afirmando-lhe que nada lhe faltará, que Ele estará sempre a seu lado, sempre pronto a dar-lhe a mão para a ajudar a subir o doloroso calvário:

« Com muito medo e quase sem o coração poder palpitar, esperei a hora da minha crucifixão: estava tão aflita, tão abandonada! E Nosso Senhor chamou-me:

— Minha filha, minha querida filha, loucura dos meus olhos, dá-me a esmola. Horas aflitas apertam o mundo, horas de tremendos e horríveis castigos. O meu Divino Coração sangra, está angustiado de dor e o bálsamo de tua crucifixão pode curar-lhe as feridas. Queres curar-me?

— Ó meu Jesus, eu quero tudo que seja para Vós e para as almas. Crucificai-me.

— Tem coragem: as forças não te hão-de faltar » [20].

Mais adiante, na mesma carta ela escreve as palavras que ouviu ainda de Jesus. São de novo palavras a inspirar-lhe coragem, palavras de amor:

— « Minha louquinha, tem coragem, não desanimes e não duvides. Sou Eu o Jesus, o artista divino que trabalha em ti: faço maravilhas que nunca fiz no mundo, nem jamais farei. Apresso-me a realizar em ti a minha obra.

Não tive outras palavras para o meu Jesus senão um “muito obrigada”. Mais tarde um pouquinho, quando o desânimo era muito, Nosso Senhor disse-me:

— Coragem, minha filha, minha alegria, minha loucura. Primeiro que tu sofri o abandono e todos os sofrimentos: abri-te o caminho. É por meu amor; não achas que mereço tudo?

— Ó meu Jesus, é por Vós que eu sofro de boa vontade. Quero morrer por Vosso amor; milhões e milhões de vezes e por Vós derramar todo o meu sangue ».

Um mês mais tarde, escrevendo ao Padre Mariano Pinho, ela tem este desabafo sintomático, como ela mesmo o confessa:

« A dor é contínua. Isto será ilusão minha? Estarei convencida que sofro desta maneira e não sofrerei nada? Perdoe-me, é um desabafo. O desânimo teima comigo, quer vencer mas eu confio que só Jesus vencerá » [21].

Mais adiante, na mesma carta ela explica ao seu Pai espiritual a atitude e a pena de Jesus, atitude que muito a interpela:

« Há pouco tempo recebi a Jesus ― escreve ela. É sempre para mais sofrimento, mas não posso viver sem Ele. Sentia que Ele tremia em mim ao mesmo tempo que me dizia:

— Que dor, que dor, para o meu Divino Coração ao ver o mundo incendiar-se nas chamas ardentes das paixões e do vício, ao ver os indivíduos, a sociedade, em todos os povos, uma guerra feroz. Parece que desencadeou para a terra todo o inferno. Ai mundo, que não te levantas, ai mundo que não te convertes. E está tão próximo o teu castigo! É por isto que Eu tremo de dores e não de frio.

Ai meu Paizinho, eu sentia que Nosso Senhor dentro de mim erguia os olhos e os braços ao Céu como que para implorar perdão para a pobre humanidade e estreitava o meu pobre coração ao d’Ele o que me obrigava a condoer-me mais das tristezas de Nosso Senhor » [22].

Alexandrina não pode ver Jesus sofrer assim... O seu pobre coração sangra de dor e, logo se prontifica para receber sobre ela aquilo que tanto mal, que tanto desgosto causa a Jesus. A sua resposta é uma oração vinda do mais profundo do seu coração e reflecte todo o amor de que a sua alma está cheia a transbordar:

— « Ó meu Jesus, meu Jesus, como se não me amasses e não tivesses dó de mim, esmagai-me, fazei-me sofrer, para alegrar e consolar o Vosso Divino Coração: não quero ver o Vosso sofrimento: Quero sofrer tudo por Vosso Amor e para Vos ver sempre em contínua alegria. quero-vos desagravar, quero reparar todos os crimes para que o mundo seja salvo. Sou Vossa Jesus, imolai-me a cada instante: não tenho que dar, aceitai os meus desejos » [23].

E, logo a seguir, sente necessidade de desabafar com o seu Pai espiritual; precisa de motivar-se e para isso dá largas ao muito que lhe vai na alma, ao fogo que a consume, à sede que tem de amar o seu divino Esposo. Ouçamo-la:

« Meu Paizinho, o meu coração arde, está a transbordar com ânsias de pertencer a Jesus, de voar ao Céu. Mas a minha pobreza é tal que afigura-se-me que o meu Jesus não encontra nada em mim, que não lhe posso pertencer. Causa-me nojo de ver o que sou em defeitos: nada mais tenho. Afigura-se-me que a minha fortuna é uma vida vergonhosa. Eu queria principiar uma vida nova, para só a Jesus pertencer e à minha querida Mãezinha. Mas não tenho forças. Como poderão aqueles Corações tão puros ver o meu tão sujo? É bem motivo para sentir o abandono que sinto, e não haver nada no Céu nem na terra que me possa desejar. Que vida tristíssima e amarga! Que ao menos o meu Jesus se console e se alegre no meu viver! » [24]

No dia seguinte volta a escrever e volta a falar da sua alma, daquilo que nela sente, daquilo que a preocupa e que ela desejaria pôr em prática. A oração que lhe vem da alma, é um verdadeiro cântico de amor e de entrega:

« Afigurava-se-me que tinha morrido para Jesus e Jesus tinha morrido para mim.

— Meu Deus, meu Deus,
se a minha morte dá a vida,
se a minha tristeza dá alegria,
se a minha escuridão dá a luz,
quero estar sempre morta,
quero a tristeza,
quero a escuridão,
para que vivam as almas,
e se alegrem só em Vós, meu Jesus,
e se abrasem e iluminem
nos raios do Vosso Amor.

Eu quero sim meu Jesus,
tudo o que quereis.

Dai-me sofrimentos
para eu ter que Vos oferecer,
para Vos consolar.

Ou sofrer, ou morrer
para Vos amar no Céu
com aquele amor que me satisfaz.

Tenho ambição de amar e de sofrer,
não quero outra riqueza [25].

Um comentário? Não, porque a beleza do texto o dispensa!...

Breve a má notícia chega: o mundo entra em guerra...

Alexandrina que portanto devia estar a contar com um tal desaire, parece surpreendida e, “durante uns momentos fiquei tão triste”, diz ela. Mas depressa o seu zelo pelas coisas de Deus é mais forte e de novo está pronta para se oferecer ao Senhor e à Mãezinha.

Escrevendo ao seu Director espiritual ela diz:

« Meu Paizinho, era já noite e surpreendeu-me a triste notícia que tinha rebentado a guerra. Será verdade? Durante uns momentos fiquei tão triste e aflita, parece que o meu coração saltava cá fora. Mas depois principiei a acalmar, confiando cegamente e sem limites no meu Jesus e na querida Mãezinha que ainda que verdade seja, ainda podem entrar em acordo e vir a paz. Ai minha Mãezinha querida, Ela é a Rainha da Paz é o refúgio dos pobrezinhos: há-de ser Ela que sem cessar vai obter o perdão e a paz para a pobre humanidade. Ai quem me dera poder dar a vida a cada momento e a cada momento ressuscitar, e o meu corpo sempre esmigalhado e sempre direito, nos sofrimentos mais horríveis, para desagravar Jesus! Ó que peninha eu tenho d’Ele ser ofendido! E nada posso e nada faço por Ele. Sinto a dor e a amargura do seu Divino Coração com as desordens da pobre humanidade » [26].

Daqui em diante, a Alexandrina vai cada vez mais sentir nela o peso da humanidade pecadora que ela representa e da qual Jesus a tornou fiadora. E, quando “ao longe troa o canhão”, ela no seu quarto expia e sofre com amor, sabendo-se sempre ajudada pelo Senhor, mesmo quando Ele não se lhe mostra a ela ou quando se mostra e lhe ralha... Tudo lhe parece escuridão naquele caminho pedregoso por onde ela deve caminhar. Brandamente ela queixa-se, mas não deixa de se oferecer generosamente, como sempre.

« Vejo-me em cima dum abismo tão medonho, quero-me amarrar para não cair, mas não tenho nada que me possa sustentar; se caio nele, nunca mais de lá saio.

— Meu Deus, meu Deus, não vejo para caminhar e estou presa e enterrada em imundícies. Meu Jesus, bem-vindos sejam os Vossos sofrimentos: mais, meu Jesus, mais. O Vosso Divino Amor obriga-me a tudo. Sofro contente sem sentir alegria, mas é por Vos: tomai-a toda a que eu havia de sentir e alegrai-Vos Vós. Ai meu Deus, que tremenda desolação e que guerra na minha alma: tenho que combater sem cessar. Que ódio eu sinto sobre mim. Meu Jesus, eu não quero alegria nem consolação porque assim o quereis, sei que é a Vossa Vontade Divina. Também é a minha. Mas vede que não tenho força, que sou nada, ou menos que nada se pudesse ser; dai-me coragem, dai-me toda a força precisa; conto só com Vós » [27].

A hora continua grave e a “Doentinha de Balasar” continua a sofrer pelo mundo que não quer paz, pelo mundo que mesmo em guerra peca e ofende gravemente o seu Criador e Senhor.

Alexandrina vê e reconhece que os Corações Jesus e Maria sofrem com esta situação, sofrem porque o mundo os não ama, porque o mundo blasfema para com eles, mesmo quando, um joelho em terra, parece desmoronar-se de um momento para o outro. Então, a vítima de Balasar, heróica como sempre, oferece-se generosamente, tenta reconfortar aqueles Corações que ela tanto ama.

« Morro para o mundo, morro para Deus. Para o mundo quero eu morrer, mas quero viver para Vós, meu Jesus, para vos consolar e amar, para desagravar o vosso divino Coração e o da querida Mãezinha. Deixai, meu Jesus, deixai, querida Mãezinha, arrancar dos vossos divinos Corações, com toda a doçura e amor, os espinhos que vos ferem. Quero o meu coração sempre cercado com eles, a agonizar de dor e a derramar sangue até à última gota: sofrer eu tudo, Jesus e Maria, nada. Quero ser vítima de amor! » [28].

Alguns dias mais tarde volta a escrever ao seu Pai espiritual, contando-lho o seu estado interior e comunicando-lhe igualmente as queixas de Jesus, os choros de Jesus...

« A dor não cessa, a luz não aparece: não vejo para on­de fugir e é tão grande a necessidade que sinto de me esconder! Só no Coração santíssimo do meu Jesus ou da querida Mãezinha tenho refúgio seguro. Mas sinto-me tão abandonada deles: somos uns desconhecidos! Parece que Eles não sabem que eu existo. Nosso Senhor hoje, mal baixou ao meu coração, principiou a chorar, mas a chorar muito. E dizia-me:

— Choro, choro, porque o mundo me faz chorar. A malícia, a gravidade dos seus crimes, se fosse possível, crucificava-me, fazia-me expirar a cada momento » [29].

Outro sofrimento para a Alexandrina era o que dela diziam as pessoas da aldeia. Corriam boatos de toda a espécie: que era uma bruxa, uma interesseira, uma fingida, e tantas outras coisas, que demonstram que nem sempre a voz do povo é a voz de Deus!...

Ela conta, na sua Autobiografia:

« Outros diziam que fui tirar o “retrato de santa”, isto é, avaliar a minha santidade por meio de uma máquina. Minha irmã disse (para desfazer essa ideia): “Se isso pudesse ser, também eu queria tirar esse retrato para ver no ponto em que estava”.

Que pena tenho que as coisas do Senhor sejam tão mal compreendidas!...

Outros então diziam que todos os senhores Padres que me visitavam andavam a pedir esmolas por essas freguesias fora para me darem, e portanto que não me faltava nada.

Diziam que eu talhava o ar, fazendo de mim bruxa, que era corpo aberto; chegando várias pessoas a aproximar-se de mim para fazerem várias perguntas, como se eu adivinhasse. Falavam-lhes muito serenamente, fingindo não as compreender, mas, quando insistiam comigo, respondia-lhes: “Eu não adivinho, nem ninguém adivinha. Nós não temos o direito de penetrar nas consciências alheias. Isso é só para Nosso Senhor”.

Quando me contavam o que diziam a meu respeito, eu fingia não sofrer, mas sofria amargamente e respondia: “Eles falam de mim? É porque têm que dizer. Eu não tenho; deixai que falem para eles. Que Nosso Senhor lhes perdoe, que eu também lhes perdoo. Falam, falam e falarão. Não há quem os cale: uns contra mim, outros a favor de mim”.

E assim o tempo ia passando ».

Se os ditos das gentes da aldeia causavam um certo sofrimento à Alexandrina, a situação espiritual da sua alma, a situação do mundo e sobretudo a pena sentida pelo Senhor, ainda lhe causavam muito mais; era com isso que ela mais se preocupava, era nisso que ela muito mais se investia, procurando, quanto lhe era possível, minimizar essas penas, essas dores que tanto faziam sangrar o Coração de Jesus.

Numa carta ao seu Paizinho espiritual ela confessa humildemente:

« E Jesus sofre e faz-me sentir a sua dor. Todos os espinhos que vão ferir o seu divino Coração passam para o meu » [30].

No mês de Dezembro, Jesus ralha de novo, não com a Alexandrina, mas com a Humanidade que ela representa. As palavras do Senhor são duras, quase insuportáveis:

— « Ai, ai de ti, miserável; ai de ti, maldita, e de todo aquele que Me ultraja, que Me ofende a ponto de merecer a minha ira, a minha cólera, a minha justiça vingadora! Para eles já não é coração de Pai, já não tem ternuras nem amor! Sou juiz, mas juiz que castiga com toda a severidade e sem dó nem compaixão. És tu o réu de toda a Humanidade, o réu que merece todo o castigo da Justiça divina » [31].

1940. Na Europa, a guerra estende-se, o canhão continua a troar de maneira ensurdecedora vitimando não só na Polónia, mas também na Finlândia invadida pela União Soviética. Na Alemanha começa a ser construído, em Auschwitz, aquele campo de concentração que se tornará mais tarde a vergonha do mundo civilizado e a demonstração resplandecente da loucura humana.

No seu quarto, em Balasar, a Vítima da Eucaristia, a Crucificada do Calvário de Balasar, ora por aqueles que não oram, sofre por aqueles que preferem os prazeres ao apelo de Deus e oferece-se toda a Jesus para O apaziguar, para Lhe pedir perdão pelos pecados do mundo, oferecendo-se como vítima.

A noite na sua alma é densa e terrível: “está às escuras de todo”, “não sabe para onde seguir”; “o abandono faz-lhe sentir que não tem ninguém que a guie”; “pensa cair morta num canto do caminho”; por isso grita ao seu Senhor com todas as forças da sua alma:

« Ó meu Jesus, ó meu amor, compadecei-vos da minha dor; não me deixeis cair. Dai-me força para ir ao encontro do vosso divino Coração e nele descansar eternamente! » [32].

Jesus vem e queixa-se das poucas vítimas que aceitam de reparar os crimes do mundo, o desvaire da Humanidade. Ele diz-lhe:

— « Minha filha, minha filha, ando à procura de amor para ser amado e à busca de corações para Mim e não os encontro. Até aqueles de quem Eu tudo esperava, me esqueceram e desprezaram. À busca de quem hei de ir Eu agora? É por isso que o meu Coração está triste e cheio de dor »[33].

Evidentemente, a Vítima de Balasar não espera que Jesus lhe peça mais sacrifícios, mais sofrimentos, mais reparação: ela oferece-se generosamente:

— « Contai comigo, meu Jesus, eu estou pronta para sofrer e para amar-vos. É com a minha dor e com o meu amor que eu vos hei de fazer amado. Esquecei os desprezos, as ofensas e os esquecimentos de todos. Olhai para mim: lembrai-Vos de que nem um só momento quero deixar de estar imolada, para que venha a nós o vosso Reino e para que todas as almas vão ao encontro do vosso Coração divino, ao vosso Coração de amor, ao vosso Coração de Pai ».

E logo a seguir continua, não como a vítima que fala ao seu Senhor, mas como a esposa que fala ao seu amado. Estas efusões de amor — onde o “tu” é utilizado por Alexandrina — não são muito frequentes nos seus escritos, por isso mesmo parece-nos judicioso registar esta declaração da vidente de Balasar:

« Vê, meu Jesus, vê, meu Amado, que de boa vontade me deixo ferir por Ti. O meu coração está aberto, está em sangue, mas ainda tem vida, ainda conserva nele as ânsias devoradoras do teu amor. Amor, Jesus, amor, só o teu amor! Basta-me, satisfaz-me, nada mais quero. Com ele venço a dor, com a dor hei de aplacar, hei de sustentar a Justiça do teu Pai. Sê comigo, ó meu Amado, e eu nada temo ».

Na mesma carta ao Padre Mariano Pinho, explica ela ainda num estilo muito figurado:

« Ai, meu Padre, sinto-me aniquilada, reduzida ao nada e entregue à força da corrente. Mergulho aqui, para aparecer além, mas não há quem me salve. Mas eu quero bradar bem ao mundo: é com toda a alegria que eu abraço todo este martírio de dor, porque sinto que não há nada melhor para nos unir a Jesus como é a dor. Sinto que a dor tem laços, fortes cadeias de oiro que me prendem ao Coração divino do meu Esposo, do meu Jesus »[34].

Maravilhosa expressão, excelente apologia da dor redentora e extraordinária declaração de amor a Jesus: “Sinto que a dor tem laços, fortes cadeias de oiro que me prendem ao Coração divino do meu Esposo, do meu Jesus”!

Já quando pela primeira vez ela se oferecera como vítima, tinha escrito algo de belo sobre a dor, que a seguir damos por ser um trecho de grande importância na vida da Alexandrina:

— « Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor, toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava ».

Raramente encontramos nas vidas dos santos um amor tão grande à dor, ao sofrimento livremente consentido para o bem comum dos filhos de Deus, o que se chama também comunhão dos santos. Alexandrina é um raro exemplo desse amor heróico, pois este a leva ao martírio.

Pouco antes da guerra tomar novas proporções, Jesus volta a ralhar contra a humanidade que de Vítima de Balasar representa. As suas palavras são de grande severidade e causarão ao coração simples e amante da Alexandrina um doloroso sofrimento. Disse-lhe Jesus:

— « Desgraçada, desgraçada! O teu sono é mortal; vão acordar-te os horrores do inferno!

Ai de ti, se não te convertes! Espera-te o inferno ladeado de demónios, de fogo e de almas ardendo, ardendo eternamente. Converte-te, vem a Mim, vem ao meu Divino Coração que está aberto para receber-te... » [35].

De nada servirá esta severidade do Senhor: Os homens continuarão a ofendê-lo gravemente, fecharão os ouvidos para não O ouviram e os olhos para O não verem. Que surdez!... Que cegueira!...

« Eu não quero que Jesus sofra — escreve a vidente: quero sofrer eu a dor do seu santíssimo Coração. E Ele aceita: passa tudo para mim » [36].

A 4 de Julho, um movimento espiritual se levanta no silêncio dos quartos ou no recolhimento das celas, para pedir a paz no mundo. É um movimento composto por almas-vítimas corajosas que, contra o canhão mortífero, apresentam a única arma eficaz: o Rosário. Sob a materna protecção de Maria, essas almas, originárias de diversos países e continentes, oferecem as suas preces e os seus sacrifícios para que o Senhor intervenha e restabeleça a paz no mundo. Alexandrina faz parte desta via láctea de orações e de penitência. Ela pedirá insistentemente à Jesus que Portugal seja poupado e não entre neste conflito. Jesus que tanto a ama não permitirá que a Pátria terrena da sua esposa seja vítima da loucura geral que se apodera dos povos, sobretudo após a invasão da Holanda, da Bélgica, do Luxemburgo e do norte da França pelas tropas do brutal líder alemão.

Em Balasar, entre os momentos de trevas negras e pavorosas, e os momentos rápidos estes, de calma e de doce paz, a Alexandrina continua de orar, orar, orar sempre, para suavizar o Coração de Jesus seu Esposo tão ofendido pelos homens, Jesus que chora por causa da perda eterna das almas. Ouçamos o que ela escreve a 16 de Julho de 1940:

« Passados alguns minutos baixou Ele a mim: transformou-me por completo, deixando-me em luz, paz e enlevo; mas só por alguns rápidos momentos. Voltei à dor e às trevas bem intensas e dor bem dolorosa. E de novo senti que Jesus chorava e dizia-me:

— Chora comigo, minha filha; as minhas lágrimas, a minha dor e a agonia do meu Coração é o que Eu mais dou às minhas esposas. Chora, chora, para que o teu Jesus não tenha que chorar a perda eterna das almas » [37].

No mês de Outubro, alguns Bispos de Portugal, incentivados pelo Padre Mariano Pinho, procuram juntar o testemunho da Irmã Lúcia de Fátima, pedindo-lhe que escrevesse ao Santo Padre Pio XII pedindo a consagração do mundo a Maria.

Mas, a vidente de Fátima sabe muito bem que o pedido que lhe fora feito anos antes na Cova da Iria apenas falava da consagração da Rússia, por  isso mesmo ela recorre à oração, pedindo que o Senhor lhe mostre claramente o que fazer. Durante essa prece fervorosa, o próprio Jesus, confirma à Irmã Lúcia de Fátima o pedido feito através da Alexandrina.

Em Balasar a Vítima continua a imolar-se, continua a oferecer-se pela consagração e pela paz do mundo. Jesus mostra-lhe quanto o seu generoso sacrifício é útil para a salvação das almas e a paz da humanidade:

« A tua crucifixão continua a ser a salvação e a paz da Humanidade. Eu sei, minha amada, que não me podes ver sofrer. Vem então com coragem: deixa-te crucificar, para curares a chaga tão dolorosa do meu divino Coração. Coragem: tens o teu Jesus com a tua Mãezinha querida, louca de amor pela esposa de Cristo Crucificado » [38].

Na Europa já tão ferida, o canhão continua de troar e muitas vozes se levantam para afirmar que o Santo Padre está em perigo: que pode ser preso ou até mesmo morto. Alexandrina tem medo que isso aconteça, que o Vigário de Cristo seja molestado. Para evitar isso, ela reza e sacrifica-se, oferecendo a Deus tudo quanto pode, tudo quanto lhe permite a debilidade das suas forças e do seu corpo doente.

A 6 de Dezembro, Jesus assegura-lhe que o Santo Padre será poupado fisicamente aos horrores da Guerra, mas que terá moralmente muito que sofrer.

Um ano passa, outro ano desponta agora, mas a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria não se concretiza.

No dia 2 de Janeiro de 1941, Alexandrina escreve ao seu Paizinho espiritual:

« Terminou o ano velho; sinto que todo ele foi morto para mim e a mesma mortandade vejo no que agora entrou ».

Esta afirmação vem mais desenvolvida na carta que a 3 de Janeiro desse novo ano escreveu ao seu Pai espiritual:

« No Horto sentia que me revestia de todas as imundices da Humanidade; era por minha vontade, não era obrigada; Eu fazia as vezes de Jesus porque depois senti que apesar de Ele se sujeitar ao que não precisava, ia ser ofendido sem dó nem piedade. Ele revestido dos nossos pecados, não tinha quem se compadecesse d’Ele; era olhado com frieza e desprezo. A dor que Jesus sentiu e a mim me deu uma pequenina amostra, já parecia tirar-me a vida » [39].

No dia seguinte escreve de novo ao mesmo sacerdote. É uma carta cheio de júbilo, tanto da parte da Alexandrina, como de Jesus. O Senhor, depois de lhe dar os mais calorosos e lindos títulos, pede-lhe de novo que insista junto do Santo Padre para obter a consagração tão desejado do mundo ao Coração Imaculado de Maria.

« O meu coração e a minha alma tiveram hoje um bocadinho de festa. A vinde de Jesus a mim dissipou logo as trevas. Logo que O recebi parecia-me que se andava dentro em mim a preparar um banquete com grande alegria. E Ele falou-me assim:

— Minha filha, minha filha, pupila dos meus olhos, jóia brilhante e formosa, cândida açucena, lírio perfumado que com o teu aroma fazes exalar o perfume nas minhas prisões de amor. Como não tenho outra generosidade inigualável na terra, queria prolongar por mais tempo aqui a tua existência; mas não posso. Eu e a minha bendita Mãe temos umas ânsias sem igual de te vermos no Céu junto de nós. Prometo-te neste sábado consagrado a Ela não demorar na terra por muito tempo a tua existência. E prometo alcançar-te no Céu com os teus pedidos e amor o que agora te alcanço na terra pela tua dor. Mas para isso, minha filha, pede, pede ao Santo Padre que se compadeça do teu martírio e que satisfaça os desejos divinos de Jesus, que é consagrar o mundo à minha Mãe bendita. Diz, diz a Salazar que quero que ele seja um guerreiro como não houve nem haja em Portugal no decorrer da Humanidade. Que faça guerra ao maldito vício da carne, à impureza. Que ponha proibição em todos os caminhos por onde ele se possa alastrar. Diz ao teu Paizinho quer pregando quer escrevendo fale sempre contra o maldito vício e dá-lhe a certeza de todo o meu amor e de minha Mãe bendita da nossa protecção.

Não me faltaram as carícias de Jesus e da Mãezinha. Parecia-me que a minha vida era só do Céu. Fiquei alegre e com muita paz, mas durou poucas horas. De novo voltaram os espinhos a ferir-me » [40].

E junta aquela promessa que não devemos deixar de frisar, pois é de suma importância para todos aqueles que sentem pela Alexandrina uma devoção sincera:

“Prometo alcançar-te no Céu com os teus pedidos e amor o que agora te alcanço na terra pela tua dor”.

Que grande poder de intercessão não terá no Céu, junto do Senhor, a Vítima de Balasar, ela que nunca se recusou a sofrer para desagravar o Coração misericordioso de Jesus!...

Uma outra figura portuguesa, contestada por uns e admirada por outros é aquela do Dr. Salazar, Chefe do Estado português nessa época já remota. Jesus quer enviar-lhe uma mensagem urgente e serve-se da sua esposa para isso:

“Diz, diz a Salazar que quero que ele seja um guerreiro como não houve nem haja em Portugal”.

Mas que deve fazer aquele Homem investido de todo o poder legislativo, para ajudar Jesus?

“Que faça guerra ao maldito vício da carne, à impureza. Que ponha proibição em todos os caminhos por onde ele se possa alastrar”.

Cumprindo a vontade do Senhor, Alexandrina lhe escreverá e avisá-lo-á deste pedido urgente e de suma importância.

Nós sabemos que tanto o Professor Salazar como o Cardeal Patriarca, Dom Manuel Gonçalves Cerejeira receberam a carta que a Alexandrina lhes escreveu. Fizeram eles caso do aviso?

Conhecendo outros detalhes referentes às relações que existiram entre a “Doentinha de Balasar” e o erudito Cardeal, estaríamos tentados em responder pela afirmativa. Quanto ao Chefe do Estado português, não podemos confirmar dizer nem desmentir.

Quanto ao pedido feito ao Padre Mariano Pinho para que, “quer pregando quer escrevendo fale sempre contra o maldito vício e dá-lhe a certeza de todo o meu amor e de minha Mãe bendita da nossa protecção”, não temos qualquer dúvida em afirmar que seguiu à letra os desejos do Senhor, não só enquanto foi Director espiritual da Alexandrina, mas mesmo depois, quando foi exilado para o Brasil, onde continuou o seu apostolado junto daqueles que Jesus lhe confiou.

Foi no princípio deste novo ano —  a 14 de Fevereiro —  que um outro interveniente na vida da Alexandrina entrou em cena: o Dr. Manuel Dias de Azevedo.

Este homem cujo coração estava na Coração de Deus será daí em diante o Cireneu da Alexandrina: ele estará sempre presente em todas as lutas, em todas as situações difíceis e, com uma coragem extraordinária, defenderá sempre a “sua” “Doentinha”. Ele fará parte daqueles a quem o Senhor dirigirá palavras cheias de carinho, como podemos ler nos colóquios dos primeiros sábados.

A situação mundial não melhora; bem pelo contrário: a guerra continua e a Humanidade mantém-se surda aos apelos divinos. É isso que nos explica a Alexandrina na carta que escreveu ao Padre Mariano Pinho à 21 de Fevereiro:

« Que revolta do Céu contra a terra e que malícia da terra contra o Céu. O Eterno Pai quer castigar. Oh! Sinto que Ele tem de castigar. Nosso Senhor já não pode com mais ofensas. Temo e tremo aterradamente » [41].

Nessa mesma carta, Jesus convida-a a descansar no seu Coração, antes de lhe dar novas cruzes, novos sofrimentos...

— « Minha filha, minha filha, a porta está aberta, entra, é o meu divino Coração! »

Dois dias depois, volta a escrever ao Director e, qual conselheira avisada e experiente, diz:

« Ai das almas se não se convertem. É preciso amar a Jesus para que Ele esqueça as ofensas que lhe são feitas. É preciso orar continuamente e pedir perdão para os culpados. Oh! Se eu possuísse sangue para apagar o pecado no mundo lançava-me sobre ele a derramá-lo como se fosse água a apagar um incêndio! » [42]

A consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria parece ser uma urgência, o caminho mais eficaz para o mundo alcançar a paz, eis porque Jesus insiste, pede e argumenta:

— « Foi a ti mais que a nenhuma outra alma que Eu escolhi para por ti fazer chegar ao Papa os meus desejos de o mundo ser consagrado à minha bendita Mãe... » [43]

Mas ninguém parece ter em conta estes pedidos insistentes de Jesus... Será que são surdos ou esperam mais algum sinal para agir? Só Deus o sabe...

Entretanto, o Coração de Jesus continua a ser o abrigo da Alexandrina, a mansão onde ela se pode refugiar nos momentos difíceis do seu longo penar. É no Coração amante do Esposo divino que ela experimenta os mais deliciosos instantes, as maiores e mais excepcionais graças divinas. É ainda nesse Coração “que tanto amou os homens” que ela recebe as queixas e os choros de Jesus, quando a maldade dos homens atinge os limites do que é divinamente suportável...

Aqui está um excerto que confirma o que dizemos:

— « Minha filha, suaviza a tua dor no abismo do amor do meu divino Coração. Recebe nele todo o conforto para completares o resto do teu calvário.

Ainda a ser açoitada experimentei o amor de Jesus. No Calvário senti que Jesus sofreu todo o abandono do Céu e da terra. Parecia que todas as criaturas que haviam existido e hão-de existir atiravam balas que feriam o seu Coração divino » [44].

Neste momento, a vida da Alexandrina é feita de luz e trevas, de consolações e de sofrimentos; de palavras meigas de Jesus e de palavras terríveis contra a Humanidade que ela continua a representar.

A 26 de Junho, escrevendo ao seu Pai espiritual ela explica:

« Creio na luz, mas caminho nas trevas como se ela não existisse. Só com os olhos em Jesus será possível caminhar assim. Pobre de mim! Quantas vezes me parece Ele não existir! No sábado, 14, estive esmagadinha com o peso da humanidade e senti como na sexta-feira depois da crucifixão uma enxurrada de sangue que saía do Coração amantíssimo de Nosso Senhor e vinha passar pelo meu. Este martírio para mim era doloroso, mas mais doloroso ainda era para o Coração de Nosso Senhor. E então por ele deixei-me mergulhar num abismo sem fim de dores mais cruciantes só procurando viver na união mais íntima com Jesus » [45].

Na mesma carta, ao mesmo sacerdote, um lindo trecho que nos mostra não só a Misericórdia divina em acção, mas também o amor do Amado para com a amada... Quão amorosas são as palavras de Jesus!

— « Pede, pede, minha filha que Eu nunca te negarei nada que me pedires para as almas; e quando lhes não der aquilo que Me pedes, dar-lhes-ei ainda maior recompensa. A tua vida é um milagre contínuo, é a prova mais clara das maravilhas e prodígios que opero em ti. Estou no teu coração como um centro rodeado de toda a variedade de flores mais belas e perfumadas ».

Na dita carta, encontramos uma referência à consagração do mundo e à paz que breve virá... Não esqueçamos que os tempos de Deus não se medem como os nossos...

A consagração virá efectivamente em breve — um pouco mais de um ano após esta mensagem — mas a paz do mundo, o fim da guerra que continua a ensanguentar o mundo, essa virá ainda mais tarde e custará ainda muitos sofrimentos e muitas vidas humanas.

Continuemos a ler essa carta de 20 de junho de 1941 :

— « Minha filha, minha filha, luz que Me irradia a Mim e irradia o mundo. Une a tua dor à minha dor e o teu amor ao meu amor; só assim te será suavizado o caminho do calvário, só assim os pecadores serão salvos, só assim vem a paz ao mundo; e vai vier depressa, dentro de pouco. Depois todo o mundo se rejubilará ao ser consagrado ao Coração da tua e minha bendita Mãe ».

Esta carta é na verdade uma fonte que não cessa de correr, uma mina de pérolas preciosas que brilham e centelham como as estrelas no firmamento.

Diz-nos a Alexandrina, escrevendo ao seu Pai espiritual:

« Ai quanto sofreu Jesus por nós!... Como Ele é digno do nosso amor!... Que mal é o pecado!... Não posso pensar que o meu Jesus é ofendido depois de sentir o que Ele por nós sofreu! »

Alexandrina acabava de viver o drama da paixão. Não só nesse dia era sexta-feira, mas era também o dia da festa do Sagrado Coração de Jesus. Na mesma carta, e para terminar, ela escreve ainda:

« Depois de toda a tragédia do calvário a minha alma ficou em luz; não me parecia ser sexta-feira. Até ao cair da noite andei de pé, cantei e estive alegre. Bendito seja o dia do Sagrado Coração de Jesus! Anseio amá-lo e possuí-lo cada vez mais. Anseio o Céu para o louvar eternamente ».

Neste mês de Junho — a 15 — Alexandrina terá de voltar ao Porto para lá ser examinada por médicos especialistas. Esta viagem não a encantava, mas a obediência mandava, por isso mesmo, ela acabará por aceitá-la, não sem ter pedido luzes do Céu para a guiarem. Ouçamo-la:

« De repente senti luz; inundou-se-me a alma de amor e ouvi Jesus dizer-me:

— Minha filha, minha heroína, a tua dor na terra dá glória ao meu divino Coração, glorifica toda a Santíssima Trindade e a minha Mãe bendita. Tem coragem, não temas. Vai ao Porto, entrega-te ao exame dos médicos. Bem-aventurados aqueles que crêem sem ver, bem-aventurados aqueles que vêem em ti a minha divina Pessoa ponde de parte todo o sofrimento humano. Nenhum terá o lugar devido em meu Coração a não ser o Doutor Azevedo. Tem coragem! A tua humilhação servir-te-á para te exaltar um dia dentro de pouco » [46].

Neste ano um incidente vai produzir-se que não só causará uma grande pena à Alexandrina, mas será um dos motivos do próximo afastamento do seu Paizinho espiritual. Trata-se da visita do Padre Terças.

Este sacerdote que então escrevia a vida de Jesus segundos os místicos, desejou assistir à Paixão da Alexandrina...

Em carta enviada ao seu Director, em 27 de Agosto, a Alexandrina conta:

« Ai, meu Paizinho, hoje ao cair da tarde fui interrogada por um Senhor Padre da Ordem do espírito Santo chamado Padre Terças; tratou-me com muito carinho mas interrogou-me seriamente; custou-me tanto! Não posso falar da Paixão de Jesus e tive que falar, eis a razão das minhas lágrimas. Só por Jesus, só por amor! Este exame veio agravar a minha dor já tão profunda, tornou-me mais doloroso o meu Calvário, novos espinhos vieram ferir o meu pobre coração e ladear o caminho triste do meu penoso Calvário » [47].

Depois deste interrogatório muito aprofundado, o Padre Terças publicou o resultado da sua visita, levando assim ao conhecimento de todos os portugueses, e não só, o caso de Balasar, que até aí não beneficiava de grande publicidade e era apenas conhecido por um número limitado de pessoas, mesmo se, como já dissemos, tivesse havido intervenções da Santa Sé por causa do pedido de consagração do mundo.

Esta publicação vai também espicaçar os ânimos no seio da Companhia de Jesus a que pertence o Padre Mariano Pinho e nem todos os seus colegas saberão, nesse momento delicado, mostrar-se caridosos: alguns deles, e sobretudo o Padre Agostinho Veloso, desencadearam contra ele uma trama que acabará por motivar o seu envio para o exílio, no Brasil.

A consagração do mundo continua a ser um desejo de Jesus. Ele quer que o Santo Padre se decida a realizar este acto solene, mas em Roma “as coisas” são “eternas”, como a cidade, não se fazem com celeridade: exames aprofundados, inquéritos e outras formas de informações são pedidas aqui e ali, porque o pedido dessa consagração não chega unicamente de Portugal, mas também doutros países onde outras almas-vítimas recebem do Céu pedidos idênticos: da Bélgica, da França, da Alemanha e também da Itália.

Em 31 de Julho o Padre Mariano Pinho escreveu a Pio XII, suplicando a Consagração e mostrando que algumas predições da Alexandrina sobre a guerra se haviam revelado verdadeiras profecias. Mas a resposta tarda...

Jesus queixa-se desta lentidão:

— « As coisas não se têm feito conforme os meus divinos desejos. O remédio para o mundo está no mundo e nas mãos do Santo Padre. Diz minha filha, diz depressa ao teu Paizinho que pregue e mande pregar penitência, penitência, penitência e oração sem cessar; e que se consagre o mundo à minha bendita Mãe. Servi-me de ti para a fazer conhecida e amada. És d’Ela e sempre a amaste desde a mais tenra idade » [48].

Uma resposta vem enfim de Roma; não uma aceitação do pedido de consagração, mas um pedido de informações suplementares, pedido esse endereçado ao Eminentíssimo Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, diocese onde vive a Vítima de Balasar.

E assim vai passando o tempo... enquanto a guerra continua cada vez mais feroz, matando cada dia milhares de pessoas...

A ano vai terminar. Alexandrina, como se fizesse um balanço, escreve ao seu Pai espiritual:

« Que profunda tristeza de alma e coração! Findou este ano e nada vejo de merecimento, nada vejo de amor para o meu Jesus; tudo morreu num montão de cinzas e no abismo das minhas misérias. Estou deveras aterrada ao ver no que empreguei o tempo que Nosso Senhor me deu de vida. Devia ser só para amá-lo e foi só para ofendê-lo. Torna-se impossível o meu viver. Cresce o abandono de Jesus; sinto-me cada vez mais nada, é inigualável a minha pobreza! » [49]


 

[1] Carta ao Padre Mariano Pinho : 20.01.1939.

[2] Carta ao Padre Mariano Pinho : 02.01.1939.

[3] Carta ao Padre Mariano Pinho : 06.01.1939.

[4] Carta ao Padre Mariano Pinho : 06.01.1939.

[5] Carta ao Padre Mariano Pinho : 06.01.1939.

[6] Carta ao Padre Mariano Pinho : 03.02.1939.

[7] Carta ao Padre Mariano Pinho : 17.02.1939.

[8] Carta ao Padre Mariano Pinho : 23.02.1939.

[9] Carta ao Padre Mariano Pinho : 07.03.1939.

[10] Carta ao Padre Mariano Pinho : 09.03.1939.

[11] Carta ao Padre Mariano Pinho : 21.03.1939.

[12] Carta ao Padre Mariano Pinho : 31.03.1939.

[13] Carta ao Padre Mariano Pinho : 13.04.1939.

[14] Alexandrina e a II Guerra mundial : http://alexandrinabalasar.free.fr

[15] Carta ao Padre Mariano Pinho : 05.04.1939.

[16] Carta ao Padre Mariano Pinho : 22.04.1939.

[17] Carta ao Padre Mariano Pinho : 27.04.1939.

[18] Carta ao Padre Mariano Pinho : 27.04.1939.

[19] Carta ao Padre Mariano Pinho : 16.07.1939.

[20] Carta ao Padre Mariano Pinho : 28.07.1939.

[21] Carta ao Padre Mariano Pinho : 27.08.1939.

[22] Carta ao Padre Mariano Pinho : 27.8.1939.

[23] Carta ao Padre Mariano Pinho : 28.8.1939.

[24] Carta ao Padre Mariano Pinho : 28.8.1939.

[25] Carta ao Padre Mariano Pinho : 29.08.1939.

[26] Carta ao Padre Mariano Pinho : 01.09.1939.

[27] Carta ao Padre Mariano Pinho : 05.9.1939.

[28] Carta ao Padre Mariano Pinho : 19.10.1939.

[29] Carta ao Padre Mariano Pinho : 24.10.1939.

[30] Carta ao Padre Mariano Pinho : 12.11.1939.

[31] Carta ao Padre Mariano Pinho : 06.12.1939.

[32] Carta ao Padre Mariano Pinho : 14.02.1940.

[33] Carta ao Padre Mariano Pinho : 10.04.1940.

[34] Carta ao Padre Mariano Pinho : 10.04.1940.

[35] Carta ao Padre Mariano Pinho : 11.04.1940.

[36] Carta ao Padre Mariano Pinho : 21.06.1940.

[37] Carta ao Padre Mariano Pinho : 16.07.1940.

[38] Carta ao Padre Mariano Pinho : 08.11.1940.

[39] Carta ao Padre Mariano Pinho : 03.01.1941.

[40] Carta ao Padre Mariano Pinho : 04.01.1941.

[41] Carta ao Padre Pinho : 22.02.1941.

[42] Carta ao Padre Pinho : 24.02.1941.

[43] Carta ao Padre Mariano Pinho : 07.06.1941.

[44] Carta ao Padre Mariano Pinho : 13.06.1941.

[45] Carta ao Padre Mariano Pinho : 20.06.1941.

[46] Carta ao Padre Mariano Pinho : 05.07.1941.

[47] Carta ao Padre Mariano Pinho :  27.08.1941.

[48] Carta ao Padre Mariano Pinho :  08.10.1941.

[49] Carta ao Padre Mariano Pinho :  31.12.1941.

   

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