13 de
Maio
Nova
transformação na minha alma. Morreu por completo aquele pequenino
sopro de vida. Já não sinto aquela respiração que de longe a longe
sentira. Vive em mim a dor e essa de toda a qualidade e espécie.
Morri, morri para o mundo e para as criaturas. Tudo baixou ao túmulo
para ficar para sempre sepultado. Meu Deus, que horror! Já não vivo,
só vive a minha dor amada, só vive o meu inexplicável martírio.
Poderá ele, sem a minha vida, dar a vida às almas? Poderei ser ainda
útil à humanidade? Ó Jesus, ó Jesus, posso assim amar-Vos e consolar
o Vosso santíssimo Coração? Pobre de mim! Depois do ódio e do
abandono, depois do esquecimento, do desprezo, baixei à minha
sepultura, já vivo na eternidade e sem que me désseis o meu Paizinho
e sem ter de novo aqui a Santa Missa. Nunca mais, meu Jesus; nunca
mais posso ter alegria, a não ser com os olhos em Vós. Podem de novo
darem-me tudo o que me roubaram, sinto que para mim tudo é morte e
que já é tarde para me ser restituído aquilo que eu mais amava e
estimava depois de Vós, ó meu Jesus. Ai a Santa Missa! O meu
director espiritual! E tudo mais, meu Jesus, tudo mais! Que horror!
Como resistir a tanto? Não fui eu, meu Amado, fostes Vós em mim, foi
o Vosso Amor. Obrigada, meu Jesus! Continuai a dispensar-me, dai-me
força.
A minha
eternidade não tem luz : é uma eternidade que não Vos ama, que não
Vos louva, que não Vos vê, que não Vos goza. Tremenda eternidade.
Não ver a Jesus é uma eternidade de morte. Só a dor triunfa sobre a
morte. É o que vivo na eternidade que sinto. Seja qual for o estado
da minha alma, Jesus, apressai-Vos, cumpri as Vossas santas
promessas. Eu espero, eu espero, confiada por Vosso amor. Dai,
Jesus, dai a vida às almas com a minha morte, com a minha
eternidade. Dai-lhes a Vossa eternidade ; dai-lhes o Céu, o Céu, ó
Jesus.
29 de
Maio
Estava
em grande aflição e depois de receber a Jesus, desabafava com Ele
mas sem contar obter resposta. Mas Ele, bom como sempre, dignou-se
aliviar-me :
— Diz,
minha filha, à tua irmãzinha, que estou a ver até que ponto chega a
confiança dela em Mim. Ela desempenha junto do teu Calvário o papel
que, junto do meu, desempenhou minha Bendita Mãe. Diz-lhe que muito
espero dela. Se assim não fosse, não a associava tanto ao teu
martírio.
E,
referindo-se a quem tanto nos fazia sofrer, disse :
— Vá,
tende coragem. Satanás está raivoso, estende sobre Vós as suas
garras infernais. Confia, ele não vence. Ela é uma insensata : usou
para Vós com a maior das ingratidões, mas perdoai-lhe de todo o
Vosso coração, assim como Eu lhe perdoo. Se soubesse quanto sofro !
Recebe-me friamente, por hábito, por rotina. Que mágoa para o Meu
divino Coração ! |