Capítulo 9
O ALIMENTO
DA ALEXANDRINA
Eucaristia
Na história já se
tinham verificado casos de místicas e místicos que tinham vivido, mesmo durante
anos, só com o alimento da Eucaristia. Por exemplo, Santa Ângela de Foligno,
durante 12 anos, S. Catarina de Sena, durante anos, o Beato Nicolau de Flue,
durante 20 anos (vd. C G, p. 137).
Também na
Alexandrina Jesus quer pôr em evidência o valor da Eucaristia.
Em 1946 está muito
consumida com os sofrimentos e com o jejum, que dura desde 42. Alguns sugerem
ajudá-la com injecções nutritivas.
O Dr. Azevedo não
quer fazer nada contra a vontade divina. Então a Alexandrina pergunta a Jesus:
— Ó
meu Jesus, eu quero sofrer, mas saber que em tudo faço a vossa divina
vontade. Se quiserem que eu me alimente, se quiserem aplicar-me injecções,
que devo eu fazer?
— (...)
Não quero que tu uses medicina, a não ser aquela a que não possam atribuir
alimentação.
Esta ordem é para o teu médico: será ele que toma a tua defesa.
Quero que ele continue com toda a sua vigilância a amparar-te: é grande o
milagre da tua vida. Que ele me ajude, que te ampare! S (7-12-46)
No desígnio de
Jesus o jejum da Alexandrina é um martírio mais que deve levar os homens a
meditarem sobre a Eucaristia.
Em Abril de 54 isto
será claramente expresso:
— Faço
que tu vivas só de Mim para mostrar ao mundo o valor da Eucaristia e o que é
a minha vida nas almas.
És luz e salvação para a humanidade. Ditosos aqueles que se deixam iluminar!
S (9-4-54)
O valor nutritivo
da Eucaristia está bem provado com o facto de que a Alexandrina, durante o jejum
total, não poderia sobreviver. De facto Jesus promete-lhe que não a deixará sem
a Eucaristia em nenhuma sexta-feira, dia em que se esgota muito ao reviver a
Paixão, mesmo sem movimentos.
Em certos
períodos o pároco (único que lhe pode levar Jesus) está ausente; há
depois as sextas-feiras santas, em que a liturgia consente receber a Eucaristia
só como Viático (quando vivia a
Alexandrina).
Mas Jesus supre
quando falham os homens, mostrando mais uma vez o seu poder no Caso da
Alexandrina, que receberá misticamente, mas realmente, da mão dum anjo ou do
próprio Jesus, a Hóstia consagrada!
Transcrevamos de
algum diário.
— Prepara-te,
filhinha: ou dar-Me a ti. (...) Repara: desce o Céu sobre ti.
Dou-Me a ti numa Comunhão real, numa Comunhão Eucarística.
Desceu sobre mim
a abóbada do céu:
— Que
lindo, que lindo! — exclamei eu — Vale a pena, meu Jesus, sofrer e sofrer
tudo para possuir o Céu. (...)
Parece-me bem
que estendi a língua para receber Jesus.
Ficámos por
alguns momentos num silêncio profundo, numa união tão grande. S
(30-3-45)
Jesus insiste em
afirmar que se trata duma real Comunhão eucarística.
Em 13 de Maio de 49
dirá:
— Vais
receber-me em Corpo, Sangue, Divindade, como estou no Céu.
Em 4 de Abril de 47
é Sexta-Feira Santa: Jesus dá-Se-lhe como Viático:
— Minha
filha, minha esposa querida, vais agora (apenas terminado o êxtase da
Paixão) receber-Me pelas mãos do teu Anjo da Guarda. Vêm ao seu lado S.
Miguel Arcanjo e o Anjo S. Gabriel. Atrás deles seguem-nos uma grande
multidão deles. Prepara-te: descem do Céu (...)
Inclinou-se para mim o Anjo. Eu estendi-lhe a língua e ele, ao dar-me Jesus,
não principiou pelas palavras do costume, mas sim: “Viaticum Corpus Domini
nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vidam aeternam”
[1].
(...)
Fiquei
mergulhada em amor, numa intimidade com Jesus: parecia-me inseparável dele.
— Minha
filha, dei-Me a ti em alimento: sou a tua vida. Dei-Me desta forma para mais
e melhor mostrar as minhas maravilhas e para mostrar que estou contente com
os meus representantes na terra, com a doutrina da minha Igreja. (...)
Recebeste-Me como Viático; e é verdade que és enferma e sem um milagre
divino não terias resistido à dor: estavas moribunda. S (4-4-47)
Transfusão de sangue, efusão de amor
O fenómeno da
Eucaristia real dada misticamente já se tinha verificado com algumas grandes
almas muito elevadas na espiritualidade, dotadas duma especial sensibilidade
para as realidades celeste. Por exemplo, S. Verónica Giuliani, S. Gema Galgani;
e em 1916 Jesus escolheu a pequena Lúcia de Fátima para dar-Se a ela mediante o
anjo da guarda.
Mas a Beata
Alexandrina recebe ainda um outro alimento para o corpo e para a alma: um
conjunto de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira transfusão para o sangue
e de efusão para o amor. É a primeira alma mística para quem se efectua tal
fenómeno. O próprio Jesus o afirma:
— Vou
dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu infinito amor, a
maior de todas as maravilhas, a maravilha única, que tinha destinado de dar
à maior vítima da humanidade, a quem confiei a missão mais sublime”. S
(13-2-48)
— Que
grande graça, que grande prodígio o sangue do Crucificado do Gólgota correr
nas veias da maior crucificada da humanidade!
Jesus ia
falando — ajunta a Alexandrina — e a gota do seu precioso Sangue passava
lentamente.
Que união
intima: o seu divino Coração unido ao meu! S (11-6-48)
É importante notar
que tal transfusão de sangue não é um facto puramente espiritual, como a efusão
de amor. Não, não! É sangue verdadeiro, concreto, que lhe faz dilatar o coração
de modo sensível e que deve compensar o sangue que a Alexandrina perde
frequentemente, e mesmo durante longos períodos diariamente!
Jesus diz-lhe:
— Dar-te-ei
o meu Sangue gota a gota, assim como gota por gota o dás por Mim e pelas
almas. S (29-6-45)
— Recebe-o
antes que percas todo o sangue que tens em tuas veias.
Quero sempre
esta mistura: o sangue da vítima deste Calvário (o
lugar de Balasar onde vive Alexandrina),
da maior vítima da humanidade, com o sangue da Vítima do Gólgota, de Cristo
redentor. Assim tens todo o poder e tudo vencerás. S (19-10-45)
No fim do diário de
9 de Novembro de 45 o Dr. Azevedo colocou a seguinte nota:
Há três meses
que a doentinha tem diariamente perda de sangue.
— Se
o mundo soubesse que é a tua vida! Se ele soubesse o sangue que corre em tuas
veias, quereriam tocar teu corpo como foi tocado o meu (...) S (27-12-46)
— Recebe
a gota do meu divino Sangue: é o remate, é a coroa das minhas maravilhas em
ti. É o sangue de Cristo, é o sangue que trouxe do ventre puríssimo de minha
Mãe bendita, a girar, a correr em ti, nas tuas veias! S (11-11-49)
O sangue que Jesus
lhe transmite tem indubitavelmente o objectivo de sustentá-la, de ajudá-la a não
ceder sob o peso dos enormes sofrimentos que deve suportar enquanto alma-vítima:
— Deixa
que corra em tuas veias o sangue que te dá a vida; é a vida que te dá força
na tua dor, no teu calvário. S (30-4-48)
Mas para o espírito
é preciso o amor:
— O
sangue dá-te a vida ao corpo, o amor dá-te a vida à alma.
Prodígio maravilhoso! Recebe, enche-te. S (29-4-49)
A efusão de amor é
frequentemente evidenciada por luz, ardor, raios luminosos:
Apareceu-me
Jesus em direcção a mim. Do seu divino Coração vieram para o meu uns raios
luminosos que mo atravessavam como uns punhais. Jesus parecia estar numa
nuvem branca (…)
O meu coração
satisfazia-se naqueles raios: eram o seu alimento e o bálsamo de toda a dor.
O tempo foi
passando e eu mergulhada naquele doce Paraíso. S (23-7-48)
Eram tais e em
tão grande número os sofrimentos que eu não podia, sentia-me desfalecer. No
meu caminho apareceu-me Jesus (...) Da chaga do seu Sagrado Coração saíam
raios brilhantes de fogo que vinham todos para mim.
Levantou a mão, com
um dedo apontou para o Céu e disse-me:
— Caminha,
que Eu te ajudarei! (...)
Esta chuva
acendeu em mim um fogo ardente. A dor e a tristeza desapareceram. Fiquei em
luz clara.
— Agora
sim, meu Jesus, conheço que sois Vós! (tem sempre temor de que os fenómenos
místicos que acontecem nela sejam fruto da sua fantasia: é um dos maiores
sofrimentos). S (8-7-49)
Apareceu
Jesus e vi que (aqueles raios) saíam do seu divino Coração.
Ele chamou-me e
disse-me:
— Minha
filha, minha filha, minha amada filha, os raios de fogo que atravessavam o
teu coração são raios de amor do teu Jesus. Estes raios levam-te vida,
levam-te conforto, paz e luz.
É com esta luz que podes ver quanto necessitas de dar ao teu Esposo Jesus
dor, muita dor, com grande reparação.
Os crimes não diminuem, os crimes não deixam de aumentar.
Oh, filha, tantos sacrilégios, tantas iniquidades! S (19-8-49)
— Minha
filha, minha filha, venho com o fogo do meu amor aquecer-te o coração,
dar-te vida, venho provar-te que estou contigo. S (4-3-50)
É preciso ter
presente, todavia, uma coisa essencial: todas as graças que Alexandrina recebe
não a têm por fim, mas à missão à que é chamada. Alexandrina deve transmitir à
humanidade o amor, a vida de Jesus:
— Leva
o meu amor, leva a minha paz. Vai dá-la às almas: criei-te para elas e para
elas te fiz poderosa. S (23-4-48)
— Leva
o meu divino amor, vai irradiá-lo. Infunde-o nas almas, fá-lo passar nos
corações como setas. S (25-3-49)
Vi pelo centro do Coração de Jesus saírem umas chamas de fogo que o irradiavam
todo. Perguntei-Lhe:
— Que
fogo é esse, Jesus?
— É
o fogo do meu divino amor. É o fogo, minha filha, é o amor que Eu, por ti,
dou ao mundo, dou às almas.
Espalha-o, espalha-o! S (21-7-50)
Via o seu lado
aberto e aberto o seu divino Coração. Dele saía uma chuva de ouro e, em vez
de cair para baixo, vinha de encontro ao meu coração. Quanto mais chuva do
de Jesus saía, mais o meu se enchia, mais luz possuía, maior fogo me
queimava.
— Estou
a arder, meu Jesus: bendito sejais por tanto me dardes!
Fazei que eu
saiba distribuir como Vos apraz! S (16-6-50)
— Eu
sou a ressurreição e a vida (acabara de reviver a Paixão). E tu, à
semelhança de Jesus, teu Esposo, és ressurreição e vida de muitas almas, de
milhares, milhões e milhões e milhões de almas.
Quando Jesus
falava de milhões, parecia que a sua divina voz se espalhava ao longe e que
era um nunca acabar, nunca acabar.
E, tomando nas
suas mãos sacrossantas o seu divino Coração como se fosse uma custódia cheia
de raios dourados, começou a abençoar-me de cima a baixo.
Os raios que
dele pendiam atravessaram e penetraram todo o meu ser. Parecia ver-me a mim
mesma toda luz, dum lado ao outro. Fiquei como que a arder em fogo.
— Enche-te,
minha filha, do que é divino, enche-te do meu amor!
A minha graça e tudo o que é meu há-de transparecer de ti e ver-se em ti
como em espelho cristalino. S (23-2-51)
Jesus exprime numa
incisiva síntese a missão da Alexandrina:
— Enche-te
para encheres,
abrasa-te para abrasares!
S (10-9-48)
A entrega da
humanidade
A Alexandrina, na
sua tarefa de transmitir às almas o que recebe da Jesus, é apresentada como “mãe
da humanidade”, porque a alimenta e a salva.
No êxtase do dia da
Imaculada de 1944 está presente também a Mãe, embora seja sexta-feira. Jesus
diz:
— Filhinha,
amada querida, está comigo a minha bendita Mãe; escuta o que Ela te diz. (…)
— Minha
filha, venho com o meu divino Filho fazer-te a entrega da humanidade e
fechá-la em teu coração. Ficam as chaves na posse do teu Jesus e da tua
querida Mãezinha.
(…) És rainha dos pecadores, és rainha do mundo, escolhida por Jesus e por
Maria.
Hoje, dia da minha Imaculada Conceição, fazemos-te a entrega do teu reinado.
Principia desde hoje, é teu: guia-o, governa-o e guarda-o. Guarda-o na terra
assim como o guardarás e governarás depois nos céus.
Escolhi este dia que em minha honra é guardado, para que em união comigo
seja festejado o dia em que te entreguei o reinado da humanidade.
E a Mãezinha
continuou:
— Filhinha
amada, querida do meu Jesus, recebe a vida de que vives, recebe a vida do
Céu, recebe-a e dá-a às almas. (...)
Recebi novas
carícias de Jesus e da Mãezinha, fiz-Lhe a entrega de mim mesma e de todos
os que me são queridos e por fim do mundo inteiro, incluindo também os que
me fazem sofrer.
Mãezinha,
faço-Vos a entrega da humanidade, guardai-a, que é Vossa, salvai-a! Só Vós
podeis. S (8-12-44)
Esta maternidade
fá-la sofrer muito. Refere-o em várias ocasiões. Por exemplo, cerca de dois
meses depois dita no diário:
Tenho que
transformar este rochedo: da pedra dura transformá-lo em pedras preciosas,
em ouro fino. (...) tenho que o mover, que o desfazer, tenho que fazer dele
um mundo belo, agradável para Jesus, de encantos para todo o Céu.
Ó Jesus, vede
esta louquinha, vede o martírio que a consome!
Que hei-de fazer
pelo mundo? Como hei-de transformá-lo? De que forma hei-de consolar e
alegrar o vosso divino Coração? S (15-2-45)
Cerca de um mês
depois desafoga a sua dor.
Tenho fome,
muita fome das almas. Queria engolir o mundo. Sinto-me cada vez mais mãe
dele.
Que loucura a
minha por aquilo que é engano, lodo e imundície! (…)
Sou mãe que
chora a perda de seus filhos; sou mãe que os não pode ver em tanta desordem,
em tanta miséria e crimes.
Ai meu Jesus, o
que hei-de fazer? O que posso eu fazer?
Sou mãe que
chora lágrimas de sangue que banham toda a humanidade. Não posso resistir a
tanta dor, não posso conceder-me trégua: quero salvar o mundo, quero sofrer
tudo, quero-lhe dar a vida. (...) S (8-3-45)
[i]
Corpo Viático de Nosso Senhor Jesus Cristo guarde a tua alma para a vida
eterna.
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