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Padre Henrique Macedo

Cavalões, 15 de Outubro de 1955.

«Recebi a ordenação sacerdotal no dia 3 de Julho de 1955. Em 25 de Setembro, num domingo de tarde, e um colega estudante fomos a Balasar de bicicleta. Apesar de Cavalões estar pertinho de Balasar, era a primeira vez que lá ia. Ao chegar, vi uma enorme fila de gente em direcção ao quarto de Alexandrina. Lá me coloquei também, não falando para ninguém só ouvindo. Quando já estava à porta do quartinho, ela olhou para as pessoas que estavam junto de mim e disse: “Não se importam de sair por uns momentos, porque eu queria falar só com este sacerdote?” As pessoas fizeram-lhe a vontade. Eu fiquei logo muito impressionado, porque era a primeira vez que nos víamos, no meu vestuário não tinha qualquer peça que me identificasse como sacerdote; ia em mangas de camisa, e na fila não estava ninguém conhecido. Mais desconcertado fiquei quando a Alexandrina, com aquele sorriso sobrenatural de inspiração divina, me diz:

“Então o Sr. Padre Henriques é de Cavalões, não é?”

E Alexandrina continuou:

“Sei que já está nomeado para uma paróquia.”

“Não, respondi eu, ainda não estou.”

Mas ela confirmou:

“Brevemente vai saber que está nomeado para uma paróquia, onde vai ter muito que sofrer. Caluniado, como Jesus, vai andar pelos tribunais, mas vencerá, porque Jesus vai consigo.”

E ao pegar na minha mão para beijar, certamente notou o meu nervosismo, concluindo:

“Vá, não tenha receio e... não conte isto a ninguém.”

Tudo isto se passou no dia 25 de Setembro de 1955.

No dia 4 de Outubro surge a minha nomeação para Cabreiros. Logo combinei a tomada de posse para o domingo seguinte, dia 9, e no dia 13, dia de Nossa Senhora de Fátima, entrei definitivamente na paróquia. Pouco depois da chegada, o noticiário das 18 horas dava a notícia: “Acaba de falecer Alexandrina de Balasar.” Que coincidência! Pensei eu. Mas ao recordar o “filme” do dia 25 de Setembro, tão vivo na minha memória, concluí que a minha vida estava, de certo modo, ligado à sua... Estes factos foram escritos no dia 15 de Outubro de 1955 e ficam assim registados num envelope que só será aberto e lido por mim ou por outrem para o fim da minha vida sacerdotal. Esta foi, sem dúvida, uma graça extraordinária que Deus concedeu à Alexandrina inspiração divina e da qual eu beneficiei também porque, em vez de ficar assustado, sinto uma coragem maior para enfrentar um futuro que se apresenta muito sombrio...

“Alexandrina: Se ainda na terra já estás tão perto de Deus, pede então ao Senhor que me acompanhe e me dê forças nos momentos difíceis que, pelo visto, vou ter.” P. Henrique.

Depois da leitura deste testemunho na Igreja de Balasar, no dia 17 de Maio de 2009, acrescentei: “O que acabo de vos ler é a cópia fiel do original que se encontra na mão do Sr. P. Granja, em envelope lacrado.

Só queria acrescentar que nesta profecia:

a) infelizmente tudo se cumpriu, porque, passados 13 anos, andava realmente nos tribunais; mas...

b) felizmente, porque, milagrosamente, como dizia Alexandrina, Deus estava comigo. O milagre que então surgiu não explico agora aqui.

Se este facto for necessário para a canonização da Beata Alexandrina, ele aí fica.

Obrigado Alexandrina! Obrigado Jesus!»

E no meio de uma grande ovação de palmas, o Sr. P. Granja mostrou o envelope lacrado.

Padre Henrique Macedo

  

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