Alexandrina de Balasar

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Alexandrina Maria da Costa
Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradução Prof. José Ferreira

FILHA DA DOR MÃE DE AMOR

PARTE I - A VIDA

CAPÍTULO 8°
(1933-1937)

 

A AÇÃO DE SATANÁS

 

O demónio continua a consumir-me muito,

ora com pensamentos de vaidade,

como se eu pudesse atribuir alguma coisa disto a mim,

ora com dúvidas que não é Nosso Senhor quem me fala: E é o que o meu Bom Jesus não quer que eu tenha

nem um momento de dúvida.

        

... Também me diz o demónio que me mate,

que me arranja um meio e que nada custa.

Que estou a sofrer muito sem nenhuma recompensa,

que Nosso Senhor não me tem amor nenhum.

 

... não satisfeito de me atormentar a consciência

e de me dizer coisas demasiadamente feias,

principiou a atirar-me abaixo da cama

de noite e a qualquer hora do dia.

 

Onde quer que operem as forças do Bem, aí logo intervêm as forças do Mal: é a luta da sempre e... para sempre?

A Alexandrina, que se pôs totalmente ao serviço de Deus, que se dedicou generosamente, heroicamente a cooperar na con­tinuação da Redenção, que luta incessantemente pela salvação das almas e que foi escolhida como instrumento para a consagração do mundo a Nossa Senhora, como veremos no capítulo 12°, é por isso alvejada insistentemente por Satanás, que tudo faz para impedir nela a acção de Cristo.

A Alexandrina é por isso vítima de tentações e também de assaltos verdadeiros e autênticos: às vezes chega a estar alguns momentos verdadeiramente possuída.

 

Tentações

 

Esta acção de oposição ao bem começa muito cedo. O mali­gno tenta impedir toda a acção da Alexandrina que possa fazer bem à sua alma.

Por exemplo na Carta de 27 Outubro de 1933 lê-se

 

O manquinho[1] estava quase a arranjar de (eu) não ser (membro das Filhas de Maria), mas Nosso Senhor venceu.

 

Era já o dia 18 Outubro de 1933, como se pode deduzir desta Carta.

Depois, logo que em Agosto de 1934 a Alexandrina abre a sua consciência ao P.e Pinho que iria ter o papel principal em a ajudar na sua ascese para a união com Deus, o demónio intervém tentando impedir este entendimento entre ela e o seu guia espiritual, como vimos no capítulo 5°, n. 2.

Numerosas são depois as tentativas do demónio para a impedir de escrever ao P.e Pinho. Por exemplo na Carta do 14 de Setembro de 1934 lemos que o demónio lhe faz vir à mente que o que ela escreve ao P.e Pinho será causa da sua condenação.

Uma outra tarefa em que o demónio se empenha muito insisten­temente é a de convencer a Alexandrina que tudo quanto acontece nela de sobrenatural é fruto da sua fantasia, que tudo quanto a sua alma sente é um engano: per exemplo nas Cartas de 4 Outubro de 1934 e de 6 Agosto de 1935 lê-se respectivamente:

 

O demónio continua a consumir-me muito, ora com pensamentos de vaidade, como se eu pudesse atribuir alguma coisa disto a mim, ora com dúvidas que não é Nosso Senhor quem me fala: E é o que o meu Bom Jesus não quer que eu tenha nem um momento de dúvida.

O demónio, hoje, afligiu-me muito com dúvidas a dizer-me que invento coisas de minha cabeça e por vaidade. Já me fez chorar. Maldito ele seja!

 

Frequentíssimas e dolorosíssimas depois são as tentações contra a carne: por exemplo na Carta de 18 de Abril de 1935 lemos:

 

Vou-lhe dizer uma coisa com muito custo: tenho sofrido nesta semana fortes tentações da carne. Pelo menos duas vezes, foram tão fortes que me obriguei a bater em mim mesmo até pisar o corpo.

Vinham-me coisas fracas à cabeça. Não sei o fim de nenhuma.

Eu repetia muitas vezes: Meu Deus, vinde ao meu auxílio!

 

O demónio tenta depois desviá-la da sua missão. Por exemplo nas Cartas de 30 de Maio de 1935 e de 18 de Abril de 1936 lê-se respectivamente:

 

Não acha bem o demónio que eu recomende isto da impureza tantas vezes a Vª Revª, que se torna chato e que Vª Revª de cada vez fica mais aborrecido comigo.

O demónio tem-me atormentado muito e vem-me com estes disparates:

— És tu a maior condenada no inferno. Hás-de aparecer àquele impostor a dizer-lhe que estás condenada pelo que lhe disseste. E que contas aquele malvado há-de dar, por te ter acreditado.

Não te ofereças como vítima pelos pecadores, que cada vez mais te condenas. Não rezes, que te não vale de nada. As tuas orações não têm merecimento nenhum. Estás perdida; estás nas minhas mãos; estás nas mãos de Satanás.

Afigurava-se-me que andavam em volta de mim, numa correria e parecia-me ouvir umas gargalhadas; até parecia que essas gargalhadas eram dadas por mim.

Durante algum tempo, fiquei como que a ligar muita importância (ao que dissera o demónio), sem recorrer a Nosso Senhor. Mas, ao cabo de pouco tempo, principiei a beijar as santas chagas de Nosso Senhor e senti logo algum alívio e dizia assim:

― Ó meu Jesus, eu Vos amo. Sou toda Vossa, sou Vossa vítima. Minha Mãe Santíssima, não consintais que eu ofenda a Jesus, nem na mais leve sombra de pecado.

Mas quase logo principiei a ouvir outra vez:

— Não te vale nada, estás perdida. És minha, posso-me sentar à vontade; já não me foges...

E outras frases semelhantes a estas.

Mas no íntimo do meu coração eu digo a Nosso Senhor: “Faça-se a Vossa Santíssima Vontade. Dou-me toda a Vós, disponde de mim como Vos aprouver, que eu não quero ofender-vos”.

 

Nalguns momentos o demónio chega até a tentar de induzi-la ao suicídio! E isto repete-se várias vezes. Per ex. nas Cartas de 10 e 27 de Janeiro de 1935 e de 14 de Maio de 1936 lê-se respectivamente:

 

... Também me diz o demónio que me mate, que me arranja um meio e que nada custa. Que estou a sofrer muito sem nenhuma recompensa, que Nosso Senhor não me tem amor nenhum.

 

O demónio também me dizia:

— Manda vir pedras de sublimado para a caspa e toma-as, engole alfinetes com o bico para baixo.

 

(depois um ataque do demónio mais forte que o costume) Principiou por dizer que tinha chegado o tempo de serem descobertas as minhas mentiras, que se ia saber a verdade, porque eu não ia morrer no tempo indicado.[2]

— Mata-te! Escuta-me! Escolho-te uma morte que nada te custa; se não, que vergonha!

 

Mas em toda esta luta Jesus não abandona a Alexandrina; ajuda-a falando-lhe, tranquilizando-a depois de cada ataque do demónio. Per ex. na carta do 16 de Maio de 1935 refere:

 

Disse-me Nosso Senhor que me inspiraria tudo como eu havia de dizer, e que não desse ouvidos ao demónio, ele que lhe pedia para me tentar por todos os modos e Ele que lhe permitia, mas não lhe permitia vencer-me. Porque eu tenho muito receio do que digo a Vª Revª porque não queria dizer de mais nem de menos e aquele malvado de tudo se serve para me consumir.

Sentia-me muito acariciada por Nosso Senhor numa união tão grande!

 

Naturalmente, são também numerosas as tentações contra a fé. O tormento devido às dúvidas sobre a fé acentuar-se-á de modo dolorosíssimo especialmente nos últimos anos, como veremos. Por agora eis uma incisiva afirmação, cortante como uma espada:

 

— Não ofereças nada: não serve de nada; Deus não existe. -

 

Assaltos

 

Mas a acção de Satanás não se limita a atormentar-lhe a fantasia, a perturbar-lhe a consciência: chega a fazer-se sentir também no campo material, com verdadeiros assaltos, que a obrigam a duros com­bates. Começam já em 1935:

 

Na noite de 7 para 8 de Janeiro, estando eu a dormir, acordei sobressaltada, mais que uma vez, porque me parecia que à beira da minha cabeça, na travesseira se esgatanhava. Depois, de madrugada, vi atravessar umas sombras altas e pretas da porta de meu quarto para a janela.

 

Mas a acção torna-se mais furiosa especialmente desde 1937. O Padre Pinho escreverá em No Calvário de Balasar:

 

"Dir-se-ia que o inferno raivava contra a Consagração do mundo ao Imaculado Cora­ção de Maria.”

 

De facto em 31 de Maio de 1937 a Alexandrina tinha recebido a visita de P.e António Durão, como enviado da Santa Sé para examinar a questão da sobredita Consagração (Ver à frente no Capítulo 12°).

Quer dizer que os pedidos de tal Consagração feitos pela Alexandrina por meio do P.e Pinho começam a ser considerados seriamente: daqui o “perigo” para Satanás que tal Consagração seja feita.

Notemos além disso que o demónio aproveita também as condi­ções de saúde da Alexandrina extremamente graves, depois da morte mística. Leiamos o que diz a Alexandrina na sua Autobio­grafia, no parágrafo intitulado “Período em que o demónio mais me apoquentou”.

 

... Redobraram os assaltos do demónio que há meses me vinha ameaçando. Foi em Julho de 1937 que o “manquinho” (o demónio), não satisfeito de me atormentar a consciência e de me dizer coisas demasiadamente feias, principiou a atirar-me abaixo da cama e de noite e a qualquer hora do dia.

A princípio, até para as pessoas da casa fui encobrindo, menos para a minha irmã, passando por ser aflições do coração. A pouco e pouco, o mal foi aumentando e teve que o saber minha mãe e uma pessoa que vivia connosco. [3]Quem observava os tombos que eu dava abaixo da cama mostravam-se muito pesarosos, não supondo nada do que se tratava.

Passavam-se os dias e o mal aumentava sempre. Uma noite atirou-me para o chão, passando por cima da cama de minha irmã, que ficava junto de mim.[4] Ela levantou-se, pegando em mim ao colo, e dizia:

“Anda para a tua caminha.” Mal ela me deitou, levantei-me rapidamente e dei uns assobios.

Reconhecendo imediatamente o mal que tinha feito, principiei a chorar e disse para minha irmã:

“Ai, o que eu fiz!”

Ela sossegou-me, dizendo:

“Não te aflijas, que não foste tu.”

Na noite seguinte, voltou a acontecer o mesmo, e disse-lhe em voz alta:

“Não me deito” – afastando-a de mim.

Quando reconhecia que fazia mal, chorava.

Uma noite em que passei com o mafarrico as coisas piores que se podiam imaginar, o que tudo desconhecia e ignorava, chorava amargamente e pensava não receber o meu Jesus sem me confessar.

Nesse dia, o Sr. Abade não estava na freguesia para vir trazer Nosso Senhor, mas pensava quanto me custaria ter de dizer que não comungava sem me reconciliar, com receio que o Sr. Abade me perguntasse a causa, e ter de lhe dizer tudo, tudo, e não querer abrir-me com ele.

Minha irmã, ao ver as minhas lágrimas, procurava consolar-me por todas as formas. Como não conseguisse, disse-me que à tarde iria falar com o meu Director espiritual que se encontrava a fazer uma pregação numa freguesia vizinha da nossa. Disse-lhe que nada adiantava, pois não lhe diria a ele o que se tinha passado. Pedi-lhe um postal de Nossa Senhora e, com grande sacrifício, descrevi por maior o sucedido, guardando-o debaixo do travesseiro até que chegasse a hora de o ir entregar (ao P.e Pinho).

De repente, entrou no meu quarto o meu Director, acompanhado por um seminarista, trazendo-me Jesus-Hóstia para eu receber. Como soubesse que estava para banhos o nosso pároco, teve a boa lembrança de me vir trazer Jesus.

Quando Sua Reverência (o P.e Pinho) me disse que trazia Nosso Senhor para receber, respondi-lhe:

“Não posso comungar sem me confessar.”

As lágrimas e a vergonha não me deixavam falar. Com muito custo disse que tinha escrito um postal e que o guardava sob o travesseiro.

O meu Director tomou-o, leu-o e tudo compreendeu, sossegando-me e dizendo-me que tudo previa em face de tudo quanto se tinha passado, mas não me tinha prevenido de nada.

Foi tremenda esta tribulação, que se repetiu por várias vezes. Tinha ataques muito furiosos duas vezes por dia, pelas nove ou dez horas da noite e depois do meio-dia, durante cerca de uma hora ou mais. Durante os ataques, sentia em mim toda a raiva e furor do inferno. Não podia consentir que me falassem de Nosso Senhor e na Mãezinha, nem podia ver as Suas imagens, cuspindo-as e calcando-as aos pés. Também não podia consentir junto de mim o meu Director; chamava-lhe nomes, queria espancá-lo e tinha-lhe uma raiva de morte, assim como a algumas pessoas da casa. Ficava com o meu corpo denegrecido com as pancadas e a escorrer sangue com as mordeduras.[5] Também dizia palavras muito feias para quem estava junto de mim.

Hoje gostava que muita gente presenciasse só para temerem o inferno e não ofenderem a Jesus.

Depois que passava a influência do demónio e recordava o que tinha feito e dito, sentia horrorosos escrúpulos; parecia-me ser a maior criminosa.

Foram meses de doloroso martírio. Muito mais tinha que dizer sobre este assunto, mas não posso. A minha alma não resiste ao relembrar tais sofrimentos.

 

Transcrevamos alguns fragmentos, relativos a este assunto, das Cartas da Alexandrina ao P.e Pinho de 12 e 30 de Agosto e de 2 de Outubro de 1937 respectivamente; em todos há também a menção da ajuda por parte de Jesus, que não falta nunca em cada ataque.

 

No domingo de manhã, eu tive um grande combate com o demónio. Depois de passada a tempestade, deixou-me numa tremenda noite escura.

Mas muito maior ainda foi à noite. Durou algumas horas. Nunca pensei em tal na minha vida. Se não fosse o muito que o paizinho se consumiu comigo e lembrar-me dessas suas santas palavras, com certeza na segunda-feira já não comungava.

Dizia-me o maldito que não comungasse se não mais depressa me vinha buscar para o inferno.

― Não te dizia que te havia de fazer cair em horrendos crimes? Tu queres, tu consentes. Digo-te as coisas mais feias! Tenho a certeza que as não dizes àquele intrujão, àquele impostor...

E outro nome ainda pior. Durante essas horas de combate, ouvi por duas vezes a voz de Nosso Senhor, com um pequeno intervalo uma da outra. Uma, coisa muito rápida e das duas vezes repetiu as mesmas palavras.

— Minha filha, ouve o teu Jesus, o teu esposo. Coragem, a batalha é tua. Eu estou contigo para te dar força, minha bela, meu lírio, minha açucena, ó pura, pura, pura.

Nessa ocasião parecia-me ouvir o demónio a rosnar como um cão. Ameaçava-me que me não deixaria mais nem um momento, nem na terra nem no inferno, e que não tinha lá outro condenado como eu, que eu era a pior.

Eu já não podia mais. Se não vem Nosso Senhor, pela terceira vez, como que a separá-lo de mim, parece-me que eles até me matavam.

Ouvi o meu bom Jesus, que me dizia:

— Minha filha, já te não fazem mais mal.

E disse-me por que permitia tais coisas, mas que me não tinham feito o mal que a mim me parecia.

Têm-se repetido aqueles combates tão tremendos que só o meu paizinho sabe…

Ó meu Jesus, que cosa tanto horrível! E ainda me dizia o maldito:

- Praticas tão horrendos crimes[6] e queres passar por boa, por inocente! …

E atirou comigo abaixo da cama. Mas o meu querido Jesus não me abandonou: veio em meu auxílio. Ainda antes de O ouvir falar, sentia uma grande paz.

E dizia-me então Nosso Senhor:

 - Minha filha, esposa querida, anjo do meu Coração, quem poderá dar-te a paz que eu te faço sentir? Coragem!

É tua a vitória. É impossível ofenderes-Me. Eu não posso dispensar-te de tão tremendos ataques, de tanta reparação para Mim. Que tesoiros de graças para Eu derramar sobre os pobres pecadores!

Descansa em paz dentro do meu Coração. Os anjos bons te defenderão dos maus. Recebe, meu anjo, as carícias do teu Jesus. –

O demónio odeia-te, mas deves estar contente, que porque tem por que te odiar. Tem-te muita raiva, uma raiva de morte. Se Eu o deixasse, matava-te; mas não deixo: sou o Senhor da vida e da morte. A tua morte será apenas um voo da Terra ao Céu...

Tem confiança em Mim. Debalde os demónios tentarão man­char a tua pureza, debalde tentarão que Me ofendas. Não poderei consentir jamais a alguma das minhas esposas e a ti que amaste tão a pureza e a tiveste sempre em tão alto preço!...

Minha querida filha, ó toda minha, coragem! Eu sou a força divi­na. Eu reino no teu coração. Sou o Senhor de todo o teu corpo. A batalha foi grande, foi tremenda, mas a glória para Mim, para o meu Santíssimo Coração, foi grande, muito grande. E que proveito para as almas dos pecadores!

Minha filha, entrega-te à paz que te dou, que só do Céu pode vir, do teu Jesus.... –

 

Na sua biografia No Calvário de Balasar o P.e Pinho diz que a alguns dos sobredito assaltos estava presente ele mesmo.

Depois de algumas considerações de carácter geral, descreve quanto aconteceu no ataque de 7 de Outubro de 1937:

 

“Nesses dois ataques maiores diários, dava-se não só verda­deira obsessão diabólica, mas até instantes de possessão, a nosso ver.

A algum assistimos nós, por exemplo a 7 de Outubro de 1937.

Em tais lutas, ela entrevada e torturada de dores, esgo­tada de forças, pesando uns 33 quilos, tão violentamente tenta­va despedaçar-se contra os ferros da cama, morder-se, etc., que nem quatro pessoas conseguiam dominá-la de todo.

Isto presenciámos nesse dia; e o demónio levava-a a dizer blasfémias e palavras inconvenientes de que nem ela mesma sabia o sentido, como nos declarou.

Para chegarmos à absoluta certeza de que não estáva­mos a contemplar um ataque de histeria mas um ataque dia­bólico, imperámos em latim:[7]

In nomine Jesu, dic mihi: tu quis es? (Em nome de Jesus, diz-me: tu quem és?)

Respondeu imediatamente, sem hesitação nenhuma:

— Sou Satanás e odeio-te!

Para maior certeza, demos outra volta à frase, sempre em latim, e a resposta foi também imediatamente esta:

— Sou eu, sou eu, não duvides!”

 

Duas semanas depois, a Alexandrina escreve ao P.e Pinho:

 

... Tenho ganhado um horror tamanho aos ataques do demónio! Sempre lhe tive medo, mas agora não tem explicação. Estou esgotada de forças.

Mas o meu bom Jesus promete-me libertar-me de tão tremendas lutas.

Eu quero sofrer muito, muito por amor ao meu querido Jesus, mas agora parece-me já não poder mais...

 

E mais à frente na mesma Carta refere quanto ouve Jesus dizer:

 

— Minha filha, são muitos os demónios que te afligem, mas também são milhões e milhões os pecadores que Me ofendem neste ponto.

Coragem, minha filha! Custa muito seres tratada assim desta forma, bem o sei. Mas é o que costa que mais conso­la o teu Jesus.

O meu Coração constrange-se de te ver assim sofrer.

Devo dizer-te, minha filha, que não serão muitas as lutas: proi­birei os demónios de te tratarem assim.

 

Na Carta de 29 de Outubro de 1937 refere estoutras palavras do Senhor:

 

Coragem, minha filha! Os ataques acabam, mas os demónios não perderão um instante para te atormentarem e fazer cair. Tem confiança em Mim: a tua alma a alvura e o perfume do lírio e da açucena. … Descansa, minha filha; acabou a guerra desta forma. Venceste tu e com grande vitória.

Os demónios não tornarão a tratar-te desta forma. Atacar-te-ão horrorosamente, dolorosamente, mas de tal forma que poderás sofrer diante de todo o mundo, sem que o percebam.

 

Em No Calvário de Balasar o P.e Pinho confirma:

 

“As lutas diabólicas com agressões corporais cessaram de facto para sempre; nunca mais o demónio lhe tocou até à morte.

Mas o inimigo não desarma e há de até ao fim, por todos os outros meios ao seu alcance, combater a heróica vítima.


[1] Nome que ela dava ao demónio.
[2] O tempo indicado são cerca de três semanas depois: 7-3-1936, dia da sua morte mística. Vimos o que a Alexandrina sofreu depois daquele famoso dia, constatando que, não tendo morido fisicamente, o demónio tinha tido razão.
[3] Felismina dos Santos, que em 1965 testemunhou isto ao P.e Humberto Pasquale, explicando que, com a Deolinda, se punha a cantar para sufocar os gritos que podiam ser ouvidos na estrada e chamar a atenção de estranhos.
[4] Naquela altura a Deolinda dormia num colchão junto à cama da Alexandrina.
[5] Num relatório escrito enviado pelo P.e Pinho ao arcebispo de Braga, com o título “Em luta com o Inferno”, lêem-se pormenores impressionantes desta prova da Alexandrina.
Alguns são referidos à frente, no excerto de No Calvário de Balasar, quando o P.e Pinho interroga Satanás em latim.
[6] O demónio tentava-a com palavras, figuras e toques indecentes (nota do P.e Pinho na carta de 30-8-1937).
[7] O P.e Pinho fala em latim para a Alexandrina não compreender e não responder, mas Satanás pelos lábios dela.

   

 

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