Alexandrina de Balasar

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Alexandrina Maria da Costa
Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradução Prof. José Ferreira

FILHA DA DOR MÃE DE AMOR

Preliminares e apresentação

Alexandrina Maria da Costa

 

 

FILHA DA DOR, MÃE DE AMOR

 

(Quase uma autobiografia)
 

Título original: Figlia del Dolore Madre di Amore
Autores: Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradutor: José Ferreira

SIGLAS USADAS

 

1) Para as fontes donde são extraídas as citações originais:

A.

Autobiografia

C.

Cartas ao primeiro director, Padre Pinho[1]

C.”

Cartas ao segundo director espiritual, Padre H. Pasquale

S.

Sentimentos da alma (diários)

Cd.

Cartas a diversos

D.

Diário autógrafo

Ps.

Pensamentos soltos

          

2) Para as fontes donde são tiradas informações:

                 

SUMM.

Sumário do Processo Informativo Diocesano

Al.

«Alexandrina», biografia escrita pelo P.e H. Pas-quale

Cr.Ge.

«Cristo Gesù in Alexandrina» (pelo P.e H. Pas-quale)

V.A.

«Anima di vittima e di apostolo» (pelo P.e H. Pasquale)

V.C.

«Voleva chiudere l’inferno» (pelo P.e H. Pas-quale)

No.C.

«No Calvário de Balasar» biografia escrita pelo P. Pinho

PGA

«La Passione di Gesù in Alexandrina»

P.Sa

Postulação dos Salesianos – Roma v. della Pisana 1111

Am.

«Tu sei amore che tutto vince» (pelo P.e H. Pasquale)

Para comodidade do leitor indicamos também as siglas usadas para citar alguns passos da Sagrada Escritura:

Evangelhos

Mt    Mateus

Mc    Marcos

Lc     Lucas

Jo      João

Actos dos Apóstolos

At Actos dos Apóstolos

Cartas de Paulo

Rm: aos Romanos

1ª Cor: 1ª aos Coríntios

2ª Cor: 2ª aos Coríntios

Gal: Gálatas

Ef: Efésios

Fil: Filipenses

Col: Colossenses

1ª Ts: 1ª aos Tessalonicenses

2ª Ts: 2ª aos Tessalonicenses

1ª Tm: 1ª a Timóteo

2ª Tm: 2ª a Timóteo

Tt: a Tito

Fm: a Filémon

Eb: aos Hebreus

Cartas católicas

Tg: de Tiago

1ª Pd: 1ª de Pedro

2ª Pd: 2ª de Pedro

1ª Jo: 1ª de João

2ª Jo: 2ª de João

3ª Jo: 3ª de João

Jd: Judas

Ap: Apocalipse
 

 


 

Nota – Apesar de estar a ser preparada a segunda edição deste livro, a presente tradução é feita a partir da edição original. Se entretanto recebermos a segunda, passaremos a segui-la e poderemos até acertar por ela a parte do trabalho já feita.

Esboço de uma biografia da serva de Deus Alexandrina Maria da Costa, feito com excertos dos seus escritos, seleccionados pelo casal Chiaffredo e Eugénia Signorile.

 

Queremos aqui recordar com a alma cheia de como-vido reconhecimento os dois directores espirituais da Alexandrina, o P.e Mariano Pinho (jesuíta) e o P.e Humberto Pascoal (salesiano), fontes principais a que recorremos; em particular o segundo director que, conhecido pessoalmente, nos forneceu preciosas infor-mações que não encontraríamos noutro lugar.

O nosso reconhecimento também aos padres Máximo Astrua e Alexandre Gali pela sua preciosa, competente e amável ajuda.

Um agradecimento também ao Prof. Humberto Calegaro pela colaboração fotográfica e a Fr. Dâmaso, capuchinho, pela excelente capa.

Agradecimentos depois ao P.e Vittorio de Bernardi, S.J., pela gentil permissão de citar alguns extractos dos seus artigos do periódico «Spiritualità».

Não nos esquecemos de recordar e de apreciar a obra paciente das irmãs, sorridentes, que trabalham silen-ciosas e incessantemente como abelhas.

“Quero ser filha da dor e mãe de amor: filha da dor, para não deixar de sofrer enquanto viver sobre a Terra: mãe de amor, para amar e fazer amar sobre a Terra e no Céu. […]

Ó amor, ó amor, que tudo vences!”*

 

Também nós nos sentimos “filhos da dor”, porque tudo quanto há em nós de mais profundamente belo e elevado, as vibrações mais deliciosas do nosso ser, a sua maturidade, nasceram da dor.

Não devemos pois querer deixar de sofrer, porque “convém que não nos falte a cruz, como ao nosso Amado, até à morte de amor”.**

E empenhemo-nos em nos tornarmos “mães de amor”!


* Da carta escrita pela Alexandrina ao seu primeiro director espiritual, P.e Mariano Pinho, S.J., em 19-12-1939.
** S. João da Cruz, Cartas, 10.

 

Às vezes, de visita a lugares célebres, trago entre as folhas do canhenho a pétala duma flor; ela seca, perde o aroma, e só fica a valorizá-la a data que se lhe inscreve.

Fui a Balasar um dia. Voltei uma segunda vez. E também trouxe de lá, entre as folhas do Livro de Horas de minha pobre vida, uma pétala de lembrança. Mas essa ainda não murchou, ainda não perdeu o aroma: a visão duma alma angelical, através duns olhos de pureza, como nesta derrancada terra se não encontram. E, do Calvá­rio da Alexandrina Costa, foi esta a dolorosa e ima­culada lembrança que me ficou.

 

Gabriel de Sousa, O.S.B. Abade de Singeverga.[2]

 


 

SACRADA CONGREGAÇÃO
PARA OS RELIGIOSOS E OS INSTITUTOS SECULARES

 

APRESENTAÇÃO

 

Vibrantes e sublimes expressões de vida mística e simplicidade cativante de «infância espiritual» recolhem já em redor do nome de Alexandrina da Costa numerosíssimos devotos de todos os países do mundo. A sua mensagem é arrojada: fazermo-nos vítimas crucificadas em união com Jesus crucificado para a salvação dos homens. Mas a humildade alegre com que ela viveu a sua missão torna-a aceitável e exaltante. É uma sinfonia de amor que faz sentir a bondade de Deus para connosco e dá um sentido que eleva para Deus a nossa vida.

O segredo desta lição de Alexandrina tornou-se para nós devoto e atento objecto das reflexões dos professores Eugénia e Chiaffredo Signorile, que apresentam agora neste volume o resultado do seu estudo.

É uma obra preciosa, divida em duas partes: a primeira, uma recon­strução biográfica feita com louvável precisão histórica, e, depois, uma sucessão de flashes, tirados dos escritos da Serva de Deus, sobre a sua espiritualidade. O enquadramento das vivências exteriores da Serva de Deus vem assim animado pela riqueza da sua vida interior e nós podemos descobrir a complexidade, a grandeza e a actualidade da sua missão.

À Postulação têm sido pedidas frequentemente fontes autorizadas para um conhecimento directo e aprofundado de Alexandrina: propõe-se sem hesitação esta publicação, onde cada um, qualquer que seja o grau da sua maturação espiritual, encontrará páginas que despertam profícuas ressonâncias a convidar à santidade.

 

O volume junta-se neste momento à prepa­ração da Positio super virtutibus da Causa de Alexan­drina, que já obteve o primeiro reconhecimento oficial e positivo da Congregação das Causas dos Santos.

Acolhemos a coincidência como um sinal augural para um não distante mas alto reconhecimento das virtudes heróicas da Serva de Deus da parte da Igreja.

 

Padre Luigi Fiora

     Postulador

 

PREÂMBULO

 

“Depois de uns momentos de oração, a implorar auxílios do Céu e a luz do Divino Espírito Santo para poder fazer o que o meu Padre espiritual me determinou, principio a descrever a minha vida, tal qual como Nosso Senhor ma for recordando, embora com grande sacrifício”.

 

Assim inicia a Alexandrina a sua Autobiografia em 20 Outubro de 1940, obedecendo a uma ordem do seu primeiro director espiritual, o P.e Mariano Pinho, jesuíta.

Alexandrina dispõe-se, pois, com grande sacrifício, a di­tar a sua Autobiografia.

Mas depois, de 1942 a 1944, antes de receber do segundo director espiritual a ordem de redigir um Diário com os sentimentos da sua alma, sente a necessidade de ditar quanto ouve ao reviver a Paixão. Donde lhe vem essa necessidade? Do seu amor a Jesus, princípio e fim de todo a sua acção (como veremos no decurso desta biografia). De facto no Diário de 27 Março de 1942 lê-se, na parte ditada depois de ter revivido a Paixão:

 

— Jesus, não me falteis com as vos­sas forças, para que eu possa descrever o melhor possível o que Vós sofrestes na vossa santa Paixão e a vossa protecção e amor para com esta pobrezinha. É para vossa maior glória e proveito de todas as almas. —

 

Também nós por obediência - quer a uma voz interna, quer a algumas solicitações externas - devemos preparar-nos para redigir ao menos um traçado da biografia da Alexandrina.

Pomo-nos de joelhos e invocamos a ajuda do divino Espírito Santo, bem conscientes que muito maior é a despro­porção entre as nossas exíguas capacidades e a tarefa que somos chamados a executar do que era para a Alexandrina.

Conforta-nos e estimula-nos todavia a afirmação:

«Quando conheceis os vossos limites, é então que tendes a ajuda do Altíssimo[3]

O mesmo amor a Jesus que empurrou a Alexandrina moveu-nos também nós.

Tendo tido a graça de tomar conhecimento com os seus escritos e tendo descoberto neles maravilhosos tesouros de riqueza espiritual, de elevação a Deus, sentimos o dever impelente de dá-los a conhecer aos irmãos, para que crescesse neles o amor a Jesus: quem chega a conhecer o seu infinito amor, com a consequente infinita dor não pode continuar a viver como antes, mas é necessariamente arrastado a prosseguir na estrada de sempre mais amor, à custa de toda a dor.

Conhecer um pouco a vida e a espiritualidade da Alexandrina quer dizer aumentar a nosso conhecimento também de Jesus, porque a Alexandrina é «uma das cópias mais perfeitas de Cristo crucificado», como em vários êxtases ouviu Jesus a afirmar.

E, aumentando o conhecimento, aumenta também o amor. Nenhum outro fim nos move!

Impelidos pois a trazer à luz os preciosos tesouros escavados na profunda, riquíssima mina dos escritos de Alexandrina, fomos à procura, durante um bom período de tempo, de um “grande” escritor que utilizasse o material por nós preparado para fazer com ele uma bio­grafia “bela”, digna da elevação da Alexandrina... Mas, não tendo podido concretizar este sonho, e sempre impelidos pela necessidade de incrementar o amor a Jesus, decidimo-nos a tentá-lo nós.

O empreendimento foi muito difícil.

A vida da Alexandrina não é daquelas que se prestam a uma biografia romanceada: os acontecimentos são poucos; a complexa riqueza da sua pessoalidade é toda espiritual, por isso o biógrafo deveria ser muito hábil e de grande profundidade espiritual para poder descrever de modo adequado a figura da Alexandrina. Mesmo o seu primeiro director espiritual, na Introdução à sua Biografia “No Calvário de Balasar”, escreve: “Não é fácil escrever sobre a Alexandrina de modo a esgotar o assunto.”

Eis que pensámos fazer falar a Alexandrina, recorrendo aos seus escritos, ou seja, fazer quase uma autobiografia: estamos convencidos que ninguém saberia retratá-la com maior viveza, imediatez, profundidade e, às vezes, força dramática, do que ela própria.

Mas isto comportou o grave problema da escolha dos fragmentos! Ter de escolher entre o imenso material à nossa disposi­ção (chegam a milhares e milhares as páginas dos seus escritos) só algumas partes para compor feições de uma figura que se assemelhe o mais possível à verdadeira Alexandrina!

Escolhas diversas esboçam feições um pouco diversas. Ter depois rejeitar tantos fragmentos belos e significativos como os escolhidos!

É com o coração tremer pelo temor de deformar a realidade e com a alma de joelhos que invocámos a ajuda do Céu, inspiração para cada escolha, para conseguir a compor uma figura o mais possível próxima da da verdadeira Alexandrina, que só por Deus pode ser conhecida na sua totalidade.

Desejamos que outros, mais capazes que nós, façam um dia uma obra melhor.

«Um dia virá a ser publicado todo este manancial de luz, calor e beleza», escreve P.e Pinho na sua biografia.

Assim seja!

 

Para um leitor não habituado a considerar fenómenos místicos, e na preocupação de lhe permitir uma melhor compreensão da vida espiritual da Alexandrina, acrescentamos nesta Premissa alguns esclarecimentos.

Antes de mais consideramos o fenómeno de condição mística em geral. Não conseguimos encontrar melhor que as seguintes claríssimas e profundas explicações do P.e Vittorio de Bernardi S.J. (veja “Spiritualità”, Setembro de 1974, n.º 8):

«A condição mística é um fenómeno conhecido na Igreja. Ela comporta uma dilatação de percetividade que, diferentemente das experiencias parapsíquicas, sempre contidas na esfera do humano, se imerge mais ou menos profundamente no mundo sobrenatural, com manifestações externas inconfundíveis, sempre marcadas por santidade.

Ao contrário das manifestações pseudomísticas provocadas pela arte com várias técnicas de tipo oriental, e das manifestações provocadas por vários estados de psicose, as experiencias místicas autênticas não dependem da iniciativa de quem delas é sujeito, o qual permanece puramente receptivo, passivo. O panorama divino que se entreabre ao místico, abstraindo-o mesmo do mundo sensível, provoca nele uma dilatação das faculdades espirituais, isto é, de personalidade e, por reflexo, um acréscimo sobre-humano de alegria ou de dor».

No que respeita à experiência mística, alguém poderia pensar: felizes os místicos, que têm comunicações directas com as realidade celestes! Mudaria porém de parecer apenas lida esta bio­grafia, onde aparece toda a tragicidade do drama que se desenvolve nas profundezas da Alexandrina. Ouçamos como prossegue P.e de Bernardi, ocupando-se em particular da Alexandrina:

«Ao dissiparem-se estas impressões místicas, todavia, a capacidade de sofrer regressa em toda a sua amplidão, e a Alexandrina embrenha-se aquele incessante alternar-se de alegrias indizíveis e de dores sobre-humanas que são características de um estado místico prolongado: para ela até ao tempo da vida, segundo uma espiral sem­pre mais envolvente. Não é mais um normal caminho de fé, o da Alexandrina: é um mover-se sobre os abismos.

Ora o Esposo divino a envolve com deslumbrantes apelos de amor, que a fazem gemer pelo espasmo de estar toda nele; ora a imerge na desolação e nas trevas, com a dúvida de que todo seja uma ilusão, um engano satânico.»

 

A propósito do cúmulo de variados sofrimentos em todas as esferas, física, moral, espiritual, através das quais é chamada a passar per atingir a máxima união possível com Deus, leiamos o que P.e Pinho escreve em “No Calvário de Balasar”:

«Quem conhece, por exemplo, a doutrina de São João da Cruz, fica efectivamente impressionado ao ler esses escritos da Alexandrina, sobretudo os dos últimos quatro lustros de sua existência.

Dir­-se-ia que neles encontramos a exemplificação vivida, num superlativo por vezes misterioso, dos ensinamentos do grande Doutor Místico, particularmente no que se refere à Noite passiva do sentido e muito mais ainda à do espírito e à União consumada... »

No Capítulo 30 intitulado “Dor e amor” o P.e Pinho tenta de “pôr ainda mais em foco até que culminâncias atingiu essa puri­ficação maravilhosa que, “despojando-a de tudo, lhe dá tudo”, levando-a até à consumação da união de amor com Deus, aurora da união beatífica.” (p. 256)

Notemos que uma das note fundamentais da espiritualidade da Alexandrina, comuns às de todos os santos, é o amor ao sofrimento: o lançar-se na fogueira dele por amor, com o duplo fim de se purificar até se tornar digna da identificação com Jesus e de salvar almas.

Daqui nasce a sua alegria na dor, experimentada, per exemplo, pelos mártires. É verdadeiramente “mártir pela pureza” se pode considerar também a Alexandrina, como veremos.

É muito difícil para a mente humana conceber este estado de alegria na dor! O nosso desejo, mais ainda nossa esperança, é de levar ao menos algum leitor a uma convicção à qual chegámos nós depois de muito fatigante meditação: a dor não se pode eliminar da Terra, mas pode-se transformá-la com o amor, tornando-a fonte de bem.

Daqui a alegria na dor. Um fúlgido exemplo, o mais conhecido, é-nos dado pelo seráfico S. Francisco de Assis, como é esboçado mais à frente na Introdução de Fr. Franco Fusar.

Mas advirtamos já aqui que todo o trabalho que desenrola nas profundezas da Alexandrina não aparecia à superfície: quem se aproximava dela recebia só sorrisos, conforto e paz. Como qu­ando contemplamos um belo mar calmo, a sua superfície irisada de várias tonalidades de azul e animada por alegres cintilações, que inspira tanta serenidade e paz com a sua grande extensão, não pensamos nas espantosas tragédias que se desenvolvem nas profundidades dos abismos onde se agudiza a luta pelo domínio.

Os autores
Festa do Pentecostes de 1989.

 

ESTRUTUTARA
DESTE TRABALHO E ALGUNS ESCLARECIMENTOS

 

Esta «quase autobiografia» é constituída na maior parte por escritos da Alexandrina; mas entre estes são intercalados excertos de testemunhos seguros e autorizados[4].

Todo o excerto é marcado com um expoente que indica o seu número de ordem no parágrafo a que pertence; no Índice das fontes são reunidos todos os expoente juntamente com a fonte donde foi extraído. Isto foi feito para satisfazer o desejo do investigador sem influenciar a fluência da leitura.

Os vários excertos são agrupados em conjuntos ligados entre eles por comentários, esclarecimentos, que são impressos com margem esquerda mais restrita.

 

Cada capítulo – precedido de uma página que lhe exprime com poucas frases a síntese – se apresenta assim como um conjunto de grupos de esplêndidas pedras preciosas encastoadas num material não perfeito.

 

O leitor seja indulgente com os medíocres artesãos que fizeram o trabalho; passe isso à frente e ponha-se a apreciar a deliciosa substância que refulge de divino: contemple-a com intelecto de amor e deixe-se possuir por ela.

Este é o nosso desejoso

 

ADVERTÊNCIA SOBRE ALGUMAS EXPRESSÕES
DA LINGUAGEM DA ALEXANDRINA

 

A experiência mística é intraduzível na linguagem humana: os modos convencionais de comunicar entre os homens são absolutamente inadequados para traduzir o inefável que se desenvolve nas profundezas da alma arrebatada por visões místicas a contacto com o sobrenatural; talvez a música pudesse exprimir com maior verosimilhança o estado que o místico experimenta, os «sentimentos» que é obrigado a expor. Dizemos «obrigado» porque cremos que nenhum místico teria vontade de se dispor a traduzir na linguagem comum aquilo que experimenta, consciente de deturpá-lo pela inadequação do instrumento à sua disposição. As páginas que os místicos nos deixaram são fruto de uma «obediência», ou ao director espiritual ou a uma voz do alto.

Nos escritos da Alexandrina encontramos repetidamente afirmado que é um sacrifício grande, feito só por obediência, este seu ditar. A Alexandrina põe toda a sua boa vontade neste gravoso dever, empenha todas as suas capacidades de expressão para traduzir na linguagem humana, servindo-se de imagens tiradas das experiências da vida concreta comum, quanto vive no íntimo.

O leitor não habituado à linguagem dos místicos tenha presente que as expressões que encontrará frequentemente, do tipo «Jesus (ou Maria) acaricia-me, aperta-me a si, beija-me, envolve-me, bafeja-me, dilata-me o coração», etc. não são tomadas à letra, mas entendidas como descrições de estados de espírito, como simbolismos de quanto acontece no campo espiritual.


[1] Quando nas citações se encontra escrito Carta com L. maiúsculo, deve-se entender uma destas.
[2] Abadia beneditina, em Roriz, S. Tirso.
[3] Missal Romano.
[4] Excertos de deposições feitas no Processo Informativo Diocesano, extractos de testemunhos de sacerdotes autorizados, de relatórios médicos, de cartas de pessoas credíveis. Só estes fragmentos vão impressos entre aspas.

   

 

Para qualquer sugestão ou pedido de informações, pressione aqui :