SITE DOS AMIGOS DA ALEXANDRINA - SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - ALEXNDRINA'S FRIENDS WEBSITE

     

ALEXANDRINA MARIA DA COSTA
 

CARTAS AO PADRE MARIANO PINHO
1933

Viva Jesus !

Balasar, 28 de Agosto de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Então como tem passado desde o dia 20 até hoje ? O grande excesso de trabalho não agravou o estado de saúde de Vossa Reverência ? Sempre tenho pedido isso a Nosso Senhor ; oxalá as minhas orações sejam ouvidas. Quanto mim, tenho passado muito mal do coração ; tenho perdido bastantes forças, e por essa razão pedi à minha irmã para me escrever esta, para não estar a fazer esforços.

      Agora tenho a agradecer a Vossa Reverência o livrinho que me mandou. Não é fácil imaginar como fiquei contente ! Havia talvez uma hora que eu tinha estado a chorar porque sentia muitas saudades ao pensar as palavras que me dizia e que tanta consolação davam à minha pobre alma ; e o carinho com que tratava esta pobre doente ! E agora pensar que estou tão distante de Vossa Reverência ! Mas bem me reconheço indigna de uma tão grande graça, de lhe poder falar mais vezes ; mas vejo que Nosso Senhor vela por mim porque fez com que o Sr. P Pinho, mesmo no meio de tantos trabalhos, me não pudesse esquecer.

      Recebi a carta de Vossa Reverência, li-a muitas vezes, em a ler me sentia mais forte para amar a Nosso Senhor e por Ele sofrer tudo quanto fossa da sua santíssima Vontade. Não me tenho esquecido, nem nunca mais me posso esquecer de tudo quanto me pediu. E peço que continue a fazer a caridade de pedir por mim.

      Então terei a consolação de no dia 16 me vir visitar ? Quanto ao carro, espero que se arranje, mas queria que Vossa Reverência fizesse o favor de mandar dizer ao certo se vem, e a hora, para se poder prevenir, porque pode haver dificuldades nesse dia devido à festa de Nossa Senhora das Dores, na Póvoa ; mas no caso de não conseguir o carro, um sobrinho do Sr. Abade de Cavalões, que é nosso primo, tem uma mota muito boa que pode transportar algumas pessoas, e penso que se prontificará a isso, no caso de ser preciso : à não ser que Vossa Reverência não possa vir nela, atendendo ao estado de saúde em que se encontra ; mas se não puder, sempre de há-de conseguir um carro. Eu sem a vizitinha é que não posso ficar ! A hora ? Marcará a que melhor lhe convier: se for de manhã, fazemos gosto que Vossa Reverência jante aqui.

      Peço perdão de todas as minhas faltas.

      Muitas lembranças de minha mãe e irmã, que Vossa Reverência não se enganou que ela tem passado parte do tempo na cama. Sou esta que pede que a abençoe

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Viva Jesus !

Balasar, 1° de Setembro de 1933
De consciência

      Senhor Padre Pinho :

      Hoje mesmo, que tive a dita de receber o meu querido Jesus pela primeira vez desde que daqui saiu, não pude passar sem lhe contar o que tanta tristeza causou à minha pobre alma, pois já eram passados 13 dias sem receber o perdão dos meus pecados, apareceu aqui [o Sr Abade] com Nosso Senhor sem dizer nada. Foi tudo à pressa. Não me falou em confessar-me ; eu também não lhe disse nada. Por essa razão é que escrevo a Vossa Reverência para aliviar a minha alma dizendo-lhe as minhas faltas.

      Principio por dizer-lhe : “as minhas orações são poucas e mal ; não posso melhor. O meu pensamento anda por toda a parte. Se eu o pudesse prender, seria melhor para mim. E com minha mãe e mana sempre há algumas faltas de impaciência. Tenho feito tanto quanta tenho podido para me não impacientar e para ver se modifico este meu mau costume, mas o demónio consome-se comigo para ver se arranja alguma coisa com ele. Com o próximo há também alguma coisa : faço todo o possível para não falar, mas sou muito fraca, sempre caio algumas vezes. Enfim, sou muito pecadora, não me emendo dos meus pecados. Nosso Senhor se compadeça de mim”.

      Senhor Padre Pinho, parece que já sinto a minha alma mais aliviada ao pensar que falo com quem tenho toda a confiança. Como Nosso Senhor é bom, que me concedeu a graça que eu Lhe não merecia. Tive a dita de o conhecer pessoalmente e de se interessar a valer da minha pobre alma. Peço que continue a pedir por mim, que de tudo preciso, e tudo é pouco. Eu, da minha parte, enquanto viver, farei o que poder por Vossa Reverência, que ainda hoje, quando comunguei, pedi muito ao meu bom Jesus para que fossem muitos dos meus sofrimentos para a saúde de Vossa Reverência e para o fim que tanto os quer, que é para salvar almas. Mas quando for para o Céu, farei tudo para que vá para junto de mim. Peço, por amor de Jesus e de Maria, que me abençoe com uma bênção que me santifique.

Alexandrina Maria da Costa

      Sr. Padre Pinho vem cá no dia 16 ? Ou já se arrependeu ? Conto que não me faltará : nessa ocasião o Sr Abade está nos banhos, até calha bem.

* * *

Balasar, 18 de Setembro de 1933

Senhor Padre Pinho :

Como passou desde sábado ? Não lhe fez mal o grande sacrifício que veio fazer em vir visitar esta pobre doente ? Oh ! Creio que não, porque Nosso Senhor nunca pagou o bem com o mal.

      Não é fácil imaginar como fiquei alegre quando minha irmã me entregou uma carta de Vossa Reverência ! Que Nosso Senhor lhe pague, que a mim não me é possível fazê-lo. Não fui a Grimancelos [1] ; tive muita pena, mas conformei-me com a vontade do meu amorosíssimo Redentor. Mas, apesar de lá não ir, o meu pensamento não deixou de lá estar várias vezes durante o dia ; e para mais me reanimar e passar o tempo, fui lendo as cartas que tanta doçura e consolo vão dando à minha pobre alma.

      Senhor Padre Pinho, esqueceu-me de lhe dizer — e grande pena tenho com isso — que, por amor de Deus, me não torne a pedir perdão, como o fez na última carta que me tinha escrito. Havia de ser o contrário : ser eu quem pedia perdão a Vossa Reverência e não Vossa Reverência a mim, porque tudo quanto for da vontade do Senhor Padre Pinho, é da vontade de Deus, e portanto também é da minha.

      E agora, adeus. Termino, que estou muito doente e muito cansada. Peço perdão por todas as minhas faltas, que são muitas. Peço que nunca se esqueça de mim, que muito necessito das orações de Vossa Reverência. Quanto a mim, pode contar que eu, no meio dos meus grandes sofrimentos, nunca mais o poderei esquecer.

      Muitas lembranças da minha mãe e irmã.

      Sou esta que, por amor de Jesus, pede que a abençoe.

Alexandrina Maria da Costa

P. S. Agora mesmo acabo de receber a visita do médico. Não me deu remédios, nem me faz nada. Disse-me que tinha medo de mim ; acha-me forte demais. O remédio é sofrer enquanto Nosso Senhor quiser.

* * *

Balasar, 29 de Setembro de 1933

Senhor Padre Pinho :

Mais uma vez passo a escrever-lhe, para lhe dizer que tenho passado uns dias muito tristes por várias razões. Pensei em não lhe escrever, mas não pude resistir mais. Sentia necessidade de desabafar com quem deposito toda a confiança.

      A primeira causa da minha tristeza, é que ainda não tornei a receber Nosso Senhor dia nenhum. Lá se foi o Tríduo de Fátima sem eu comungar. Muita pena tive com isso, mas o remédio foi resignar-me com a vontade do meu querido Jesus. Ah ! Se eu vivesse mais pertinho de Vossa Reverência, eu seria melhor porque comungaria mais vezes.

      Senhor Padre Pinho, sabe a segunda razão , e a principal, que me tem feito chorar muitas vezes ? É que me persuadi que Vossa Reverência estava doente e, se assim for, foi por causa de mim, pelo grande sacrifício que veio fazer. Será impressão minha ? Não sei. O que sei é que até quase me parecia ter a certeza que já tivesse morrido. A causa disto é que não sei. Agora, se isto for susto em mim, pedia-lhe para me escrever duas linhas para meu sossego. Bem sei que, devido ao muito trabalho, exige de Vossa Reverência um grande sacrifício, mas juntará mais esse aos muitos que por mim já tem feito. E agora, já é tempo de acabar com as tristezas ; portanto, vamos mudar de assunto

      Já acabei de fazer a novena a Nossa Senhora de Fátima e bebi-lhe a água, satisfeita da mesma foram, porque Nosso Senhor, que tudo conhece, veria eu que não cumpriria como prometia, ou porque seja essa a sua divina Vontade.

      Adeus, por hoje, que já estou cansada. Muitas lembranças da minha irmã, que a minha mãe não estava em casa.

      Peço que me abençoe por amor de Nosso Senhor.

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Balasar, 2 de Outubro de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Esta tem por fim dizer-lhe que cá recebi une carta de Vossa Reverência, que tanto consolo e paz me veio trazer, pois não lhe posso explicar a grande tristeza que em mim sentia, como já lhe expliquei numa carta que já deve ter aí chagado. Graças a Deus, o que eu pensava ser morto, já é ressuscitado. Que engano o meu ! Mas fico satisfeita por me ter enganado.

      Senhor Padre Pinho, dizia-me na última carta que queria que lhe mandasse dizer muitas coisas, na impossibilidade de eu ir pessoalmente. Pois muito tinha que lhe dizer, mas o meu estado de saúde tem-se agravado muito. Caminha para quinze dias que tenho tido grande sofrimento na espinha, mas principalmente estes três últimos que não encontro posição para estar. Não sei se tornarei a melhorar, porque se assim continuo, é-me totalmente impossível de continuar a escrever-lhe. É isso que me causa maior tristeza ; mas seja feita a vontade de Nosso Senhor. Mas está bem, porque assim mais tenho que Lhe oferecer pelos pecadores e pelas pessoas que me são mais queridas e por mim que tanto preciso.

      Senhor Padre Pinho, nessa carta que aí deve ter encontrado pedia-lhe para me escrever ; mas agora que já estou sossegada pela carta que recebi — o que muito lhe agradeço e só Nosso Senhor lhe pode pagar — basta escrever-me quando tiver mais vagar. Não é porque não sinta grande consolação, mas sim para me não tornar tão enfadonha.

      Envio-lhe muitas lembranças de minha mãe e irmã.

      Adeus, até não sei quando.

      Peço que me abençoe.

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Balasar, 11 de Outubro de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Hoje de manhã recebi uma carta de Vossa Reverência que minha irmã me trouxe da igreja, que lhe entregou a Sr Teresa Matias. Agradeço-lhe muito, porque me veio dar muita alegria. Só fiquei um pouco mais triste por ainda faltar muito tempo para me vir visitar, a não ser que eu continue a piorar como até aqui, porque então, qualquer dia lhe mando bater à porta, se for ocasião de me poder vir fazer a última visita.

      Têm sido muito grandes os meus sofrimentos nestes últimos dias. Tenho sofrido muitas dores e tenho tido muita febre, (mas hoje de tarde era menos), mas sinto-me sem forças nenhumas para nada. Não sei, portanto, se as melhoras virão ou não ; mas seja tudo como Nosso Senhor quiser. Por essa razão, vejo-me impossibilitada de poder escrever, e pedi à minha irmã para o fazer em meu lugar : é ela quem escreve, mas sou eu quem falo.

      O Sr. Abade trouxe-me Nosso Senhor pela primeira vez sexta-feira; sábado e domingo. Estava muito doente, fazia grande gemido.

      Amanhã a minha irmã vai-lhe pedir para ele me trazer Nosso Senhor no dia 13 e para me vir reconciliar, porque ainda o não tornei a fazer desde que Vossa Reverência aqui veio.

      Senhor Padre Pinho, dizia-me que teve pena da Deolinda não ir aí ; pois ela não teve menos, mas foi o dia em que eu tive mais febre. Foi bom ela não ter ido. Nosso Senhor tudo faz por bem feito. Ela queria ir aí no dia 21 — calha ao sábado — se eu tiver melhorado. E eu pedia, caso o Sr. Padre Pinho não esteja, o favor de avisar.

      Por hoje termino enviando-lhe muitas lembranças de Deolinda e de minha mãe.

      Peço-lhe para pedir muito por mim, que eu da minha parte nunca mais o esquecerei enquanto estiver neste mundo, e mais ainda quando for para o Céu.

Sou esta que pede que a abençoe

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Balasar, 27 de Outubro de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Não podia deixá-lo ausentar-se de Braga sem lhe dizer alguma coisa de mim, e agradecer-lhe as duas cartinhas que me mandou e um rico santinho de Nossa Senhora de Fátima assim como as lembranças que recebi pela Senhora Teresa. Oh ! Como tudo isto vem consolar a minha pobre alma, e quanto preciso me é para mais e mais amar a Nosso Senhor, e espero que sempre me ajude na satisfação da minha alma, assim como tem feito até aqui. Já que não tenho a infelicidade de não ter ao meu lado quem me diga uma palavra que me console, mas graças ao meu querido Jesus que tenho lá de longe quem me faça por mim tantas coisas. Mas que seria de mim, sem remédio para o corpo e para a alma ?

      Senhor Padre Pinho, queria-lhe dizer muita coisa, mas não posso. O que me faz escrever é muita força de vontade, pois continuo com todos os meus sofrimentos e este mal-estar na espinha ; mas como a febre desceu, vou resistindo melhor.

      Senhor Padre Pinho, quer saber quando entrei para Filha de Maria ? Foi no dia 18. O manquinho [2] estava quase a arranjar de não ser, mas Nosso Senhor venceu. Aí lhe envio uma pequenina lembrança desse dia.

      Adeus, por hoje ; fico esperando, ansiosa, o dia que me possa vir fazer uma visita. Muitas lembranças da minha mãe e da Deolinda. Peço que me mande daí uma benção muito especial para os meus pecados.

      Esta que continua sempre a pedir por Vossa Reverência.

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Balasar, 6 de Novembro de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Principio por lhe dizer que estou de posse de uma carta de Vossa Reverência. Escusado era dizer-lhe que com isso sinto grande alegria. Leio-a e torno a lê-la, e com isso me sinto muito bem. Naquelas palavras eu vejo como que uma luz a guiar a minha pobre alma que tanto precisa de quem lhe infunda muito amor por o meu querido Jesus a quem tão pouco sei amar.

      Senhor Padre Pinho, regressou bem de Fontão para Braga ? Foi feliz na viagem ? Desejava saber, assim como do estado de saúde. Por saber de mim, bem que Vossa Reverência toma cuidado ; mas em me mandar dizer como vai, esquece-se, a não ser uma excepção.

      Senhor Padre Pinho, perguntava-me na última carta se eu era Maria dos Sacrários-Calvários. Sim, sou. Se queria a Missa... Já há muito que tenho grandes saudades disso. Quando soube que era Vossa Reverência que vinha fazer o tríduo, apesar de ainda o não conhecer pessoalmente, falei à minha irmã para lhe fazer esse pedido, mas por acanhamento e para lhe não exigir o sacrifício de pregar em jejum, não o fizemos. Quando soube que sempre pregava em jejum, fiquei com pena. Agora se isso se puder conseguir, para mim era uma grande alegria, que me não é possível explicar-lhe. Mas apesar dessa alegria, custa-me imenso o grande sacrifício que vai fazer em ter de vir em jejum, estando umas manhãs tão frias.

      Agradeço-lhe o santinho que me enviou para eu oferecer a minha mãe. Ela ficou muito contente, e envia-lha muitas lembranças, assim como a Deolinda que espera ansiosa o tríduo de Outiz.

      Senhor Padre Pinho, cá estou eu a dizer-lhe duas palavrinhas apenas, porque não me sinto com forças para mais. Esta noite passei-a mal ; não encontrava posição para estar, mas assim vou passando dia melhor, dia pior, com esta cruz que Nosso Senhor me dá.

      Amanhã acabo a novena [3], como me mandou dizer pela Deolinda. Parece-me que Nosso Senhor daqui só me levará para o Céu. Vejo que continua pedindo por mim, mas eu também nunca o esqueço.

      Peço que me abençoe. A

A. M. Costa

* * *

Viva Jesus !

Balasar, 28 de Novembro de 1933

      Senhor Padre Pinho :

      Não pude passar de hoje sem lhe escrever alguma coisa de mim, e ao mesmo tempo procurar saber que tal foi o regresso de Balasar para Braga. Chegou bem ? Ainda não tinha a porta fechada ? Não lhe fez mal o jantar que estaria pouco a jeito da saúde de Vossa Reverência ? Sempre o receio que por minha causa se lhe agravem os sofrimentos e, de sábado para o domingo deu-me pela cabeça, não sei explicar o quê. Estava a dormir e fez-me acordar ; parece que deixo de viver. Dura pouco tempo, mas repete-me várias vezes. Penso ser resultado da espinha. Eu muito não queria vir a perder o juízo ; espero que Nosso Senhor me há-de atender, mas seja feita a sua santíssima Vontade.

      Senhor Padre Pinho, são passados nove dias que aqui veio. Oh ! como fiquei com saudades ! Já me tem feito pensar se seria a última vez que nos vimos, mas não seria, porque Nosso Senhor, que tudo conhece, sabe bem a necessidade que tenho de o ver mais vezes, para me ajudar a ser o que tanto desejo, que era ser santa, e conheço que estou bem longe de o ser.

      Agora pedia a Vossa Reverência para, na próxima ocasião que possa, não se esquecer de me fazer o grande favor de mandar o santinho que lhe pedi.

      Esqueci-me de perguntar se podia escrever nas minhas cartas — como nas de Vossa Reverência — “Viva Jesus”, mas mesmo sem perguntar, desta vez sempre vai. Mesmo um ceguinho precisa que o guie ; pois a mim assim me aconteceu. Agora para esta escrevente não é mais nada ; ela envia-lhe muitas lembranças, assim como a minha mãe.

      (Agora escreve a Alexandrina) : Senhor Padre Pinho, desta vez não assino só o nome. É pouco, porque não posso, mas queria-lhe pedir explicação destas palavras que lhe vou dizer, porque não me lembrei quando me perguntava o que Nosso Senhor me dizia. Muitas vezes me lembro de dizer assim : “Ó meu Jesus, que quereis que eu faça ?” — e sempre que digo isto, não ouço senão estas palavras : “Sofrer, amar e reparar”. Creio que me entende.

      Faça a grande caridade de abençoar esta grande pecadora

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Viva Jesus !

Data incerta
(13-20 de Dezembro de 1933)

      Senhor Padre Pinho :

      Recebi a cartinha de Vossa Reverência no dia 13 e, como sabe estimei-a muito. Não tem nada que me pedir desculpa. É certo que me custou tanto, tanto a passar este tempo, que nem lhe posso explicar ; mas apesar de tudo isto, sei que sou indigna de tamanha graça receber de Nosso Senhor, por ter quem que tanto cuidado tomasse pela minha pobre alma. Mas, graças ao meu querido Jesus, que tão meu amiguinho é — pois não é nada todos os meus sofrimentos e desgostos, com ser muitos, à vista de tantos benefícios que dele tenho recebido — não se esqueceu que tinha aqui uma filhinha que na terra também precisava de um bom pai espiritual, e mo concedeu. Como agradecer a Nosso Senhor uma tão grande graça ? Não sei ; só apenas reconheço que sou indigna de tudo isto.

      Senhor Padre Pinho, sabe que já faz um mês no dia 20 que Vossa Reverência cá veio ? E agora, quando volta ? Eu ainda não me tornei a confessar, e estou com muito fastio. Mas vamos a ver : se para as festas do Natal o Sr. Abade me vier trazer Nosso Senhor, eu me confessarei, mas peço a grande caridade de me mandar daí uma benção muito especial para todos os meus pecados (que com pequena diferença são os mesmos). Emendar-me de uma vez para sempre não lhe vejo jeito, mas quero ser santa, e todos os dias o peço a Nosso Senhor, mas algumas vezes me vem à lembrança que nunca o chego a ser ; só se for que Nosso Senhor atenda aos pedidos de Vossa Reverência.

      Senhor Padre Pinho, aí lhe envio uma pequenina lembrança, da qual peço desculpa por ser muito pouco, mas se eu continuar a viver, para outra vez será mais e se for para o Céu antes, esse pouco será o bastante para que ao recordar-se de quem lho deu, se lembre de Nosso Senhor.

      Termino, que já estou há 6 dias a escrever ! Peço que me abençoe.

      Esta que lhe deseja umas felizes e santas Festas do Natal.

Alexandrina Maria da Costa

* * *

Viva Jesus !

Data incerta
(31 de Dezembro de 1933) ?

      Rev.mo Senhor Doutor :

      Então, como passou a viagem de Braga para a nova morada de Vossa Reverência ? Tenho pedido muito ao meu querido Jesus, para que fosse muito feliz. Sim, nova morada, não porque eu tenha quem me diga que é deveras para não voltar para Braga, mas eu, que já estou habituada em casos idênticos a estes de ser enganada, julgo que desta vez me acontecerá o mesmo. Oh ! que dias tão tristes eu tenho passado ! Parece-me que não há nada que me console ao lembrar-me a distância que me separa do meu querido paizinho espiritual. Bendito seja Nosso Senhor que me mandou a este mundo para sofrer e passar tantos desgostos, e eu acrescentei tantos e tantos pecados. São esses os que mais me afligem, por tanto desgostarem a Nosso Senhor. Os sofrimentos todos os dias os peço, e sinto uma grande consolação espiritual nas horas em que eu mais sofro, por me lembrar que tenho mais que oferecer ao meu bom Jesus. Mas há coisas que muito custam a passar ; porém, faça-se a vontade de Nosso Senhor e não a minha. Não deixa de eu chorar e desabafar.

      Senhor Doutor, agora tenho a agradecer a cartinha que me mandou pela minha irmã, e os muitos santinhos. Muito obrigada por tudo. Nosso Senhor lhe pague tudo, assim como o grande sacrifício que fez, porque o bom Jesus não deixará de pagar o que eu não posso fazer.

      Senhor Doutor, peço que me abençoe e peça muito por mim.

Alexandrina Maria da Costa


[1] Na minha carta dizia-lhe por graça : “Não vai a Grimancelos ?” Nota do Padre Pinho. 
[2] Nome que ela dava ao demónio.
[3] Mandei-lha fazer para alcançar um milagre de saúde... (Nota do Padre Pinho).

Para qualquer sugestão ou pedido de informações, pressione aqui :