Escusado será dizer
que, neste período tão delicado da história civil e religiosa, não foi a
Alexandrina a única vítima escolhida por Jesus; muitas outras, a títulos
diversos e a graus diversos tinham esta mesma missão de reparação pelos pecados
do mundo e missão de procurar abrandar o braço da justiça divina prestes a
desabar sobre toda a humanidade o castigo que os pecados cometidos merecia.
Entre
outras, está a irmã Lúcia de Jesus, cujo percurso é conhecido de todos, assim
como é bem conhecido este trecho das suas “Memórias” publicadas em quase todas
as línguas:
— Vistes o inferno, para onde
vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus
quer estabelecer no Mundo a devoção a Meu
Imaculado Coração. Se fizerem o que
Eu vos disser, salvar-se-ão muitas
almas e terão paz. A guerra vai acabar
. Mas, se
não deixarem de ofender a Deus, no
reinado de Pio XI
começará outra pior. Quando virdes uma noite,
alumiada por uma luz desconhecida, sabei que
é o grande sinal
que Deus vos dá de que vai a punir o mundo
de seus crimes, por meio da guerra, da fome
e de perseguições à Igreja e ao Santo
Padre. Para a impedir, virei pedir
a consagração da
Rússia a Meu Imaculado Coração e a comunhão
reparadora nos primeiros sábados.
Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia
se converterá e terão paz:
se não, espalhará seus erros pelo mundo,
promovendo guerras e perseguições à
Igreja; os bons serão martirizados, o Santo
Padre terá muito que sofrer, várias nações
serão aniquiladas, por fim o Meu
Imaculado Coração triunfará. O Santo
Padre consagrar-Me-á a Rússia
, que se converterá,
e será concedido ao Mundo algum tempo de paz.”
Uma outra alma-vítima
que talvez seja menos conhecida e cuja causa está a correr em Roma, em vista da
sua beatificação
e
canonização é a irmã Helena Aiello (1895-1961), a “santa monja” de Cosenza, na
Itália.
Esta irmã, fundadora
duma comunidade religiosa que recolhia — e recolhe ainda — as crianças
abandonadas, era muito conhecida no seu país, não só pela sua santidade
evidente, mas também pelos seus carismas variados e numerosos, tais como visões,
locuções interiores, bilocações e estigmas.
Em 1940, ela recebeu
de Jesus a ordem de escrever a Benito Mussolini para que este não declarasse a
guerra, mas a irmã Helena não obedeceu logo, pensando ser uma ilusão sua, por
isso Jesus voltou a ordenar-lhe que escrevesse ao Duce, advertindo-o de que
graves problemas o esperavam se ele não arrepiasse caminho.
Para ilustrar o que
acaba de ser dito, aqui fica a tradução de dita carta; vários pormenores dela
merecerão um comentário adequado:
“Cosenza, 23 de Abril de 1940.
Ao Chefe do Governo Benito Mussolini, Duce:
Venho junto de si em nome de Deus para lhe dizer o que o
Senhor me revelou e que quer de si. Não queria escrever, mas ontem, 22, o Senhor
apareceu-me outra vez impondo-me que lhe comunique o que segue:
«O mundo está em ruínas devido ao grande número de pecados e
particularmente os de impureza que chegaram ao seu cúmulo provocando a Justiça
do meu Pai celestial.
Por conseguinte, deverás sofrer e ser vítima expiadora pelo
mundo e particularmente pela Itália, onde se encontra a sede do meu Vigário. O
meu Reino é um reino de paz; o mundo, quanto a ele, está em guerra.
Os que governam os povos, estão obnubilados pela conquista de
novos territórios! Pobres cegos! … Não sabem que onde Deus é posto de lado não
pode haver conquista! No seu coração há apenas maldade e nada mais fazem do que
ultrajar-Me e desprezar-Me! São demónios de discórdia, destruidores de povos e
procuram investir, neste terrível flagelo a Itália, onde Deus se encontra no
meio de tantas almas e onde reside o seu Vigário, Pastor Angélico.
A França, muito cara ao meu Coração, devido aos seus tão
numerosos pecados, cairá rapidamente em ruínas e por sua vez será devastada como
Jerusalém ingrata. À Itália, porque a sede meu Vigário aí se encontra, enviei
Benito Mussolini, para a salvar do abismo no qual estava prestes a
precipitar-se, não fora isso, ela se encontraria nas mesmas condições que a
Rússia. No meio dos maiores perigos, Eu sempre o salvei; agora ele deve manter a
Itália fora da guerra, porque a Itália é pacífica e é a sede meu Vigário sobre a
terra. Se faz aquilo que lhe digo, atribuir-lhe-ei favores extraordinários e
farei que todas as outras Nações se juntem a ele. Infelizmente decidiu declarar
a guerra, mas é necessário que saiba que se não a impede, será punido pela minha
Justiça!”
Eis o que me disse o Senhor. Não pense de maneira nenhuma o
Duce que me ocupe eu de política. Eu nada mais sou do que uma pobre irmã ocupada
na educação das crianças abandonadas e que muito ora pela sua salvação e a
salvação da nossa Pátria.
Sou, com uma sincera consideração,
Helena Aiello
Quando lemos com a
devida atenção esta carta, ressalta logo aquela primeira frase pronunciada por
Jesus e que é, quase palavra por palavra, a mesma que Ele disse à vítima do
Calvário de Balasar:
“O mundo está em ruínas devido ao grande número de pecados e
particularmente os de impureza que chegaram ao seu cúmulo provocando a Justiça
do meu Pai celestial.”
Depois vem aquela
ameaça dirigida a Mussolini que não obedece e que portanto deverá assumir ele
também as responsabilidades dos actos que causou ou vai causar; daí as palavras
do Senhor: “deverás sofrer e ser vítima expiadora pelo mundo e
particularmente pela Itália”.
Quanto mais se conhece
o que depois aconteceu a este homem soberbo, melhor se compreende o aviso
antecipado de Jesus.
A seguir, Jesus fala
da França, “a filha mais velha da Igreja”, e as palavras utilizadas são
aterradoras:
“A França, muito cara ao meu Coração, devido aos seus tão
numerosos pecados, cairá rapidamente em ruínas e por sua vez será devastada como
Jerusalém ingrata.”
A imagem não pode ser
mais justa e adequada, visto que a França foi rapidamente transformada num
montão de ruínas e muitos dos seus habitantes enviados para os campos de
concentração, onde foram mortos pelo gás, pelo fogo e também pela fome aqueles
que o não foram pelas armas.
O fim da mesma carta é
do mesmo teor e a ameaça feita ao Duce não ficou letra morta: “É necessário que
saiba que, se não a impede, será punido pela minha Justiça!”
E foi mesmo!...
Uma outra alma-vítima
bem mais conhecida é a francesa Marta Robin (1902-1981, fundadora dos “Lares de
caridade”
implantados
no mundo inteiro e cuja causa está também a seguir em Roma. Esta mística
francesa tem muitos pontos comuns com a “nossa” Alexandrina, a mais de serem
contemporâneas.
Marta viveu quarenta e
oito anos da sua vida alimentado-se só da Eucaristia. Como Alexandrina ela viveu
a Paixão de Jesus todas as sextas-feiras e tinha diversos outros carismas como a
possibilidade de “ler nos corações” daqueles que a visitavam.
Durante um êxtase,
Jesus disse a Marta, como o disse de igual modo à Alexandrina:
“Os meus
sacerdotes, os meus sacerdotes, dá-me tudo por eles! Minha Mãe e Eu os amamos
tanto. Dá-me todos os teus sofrimentos, tudo o que sofres neste momento, todos
aqueles com os quais tu queres mergulhar no meu Amor, dá-me o teu isolamento e a
tua solidão e a solidão na que Eu te coloquei, tudo sem descanso pelos meus
sacerdotes. Oferece-te ao Pai comigo por eles e não temas sofrer muito pelos
meus sacerdotes, eles necessitam realmente de tudo isso que estou para realizar
em ti em favor deles”
Em 1940, em plena
guerra, ela ofereceu os seus olhos para a salvação do mundo e o Senhor aceitou
esta oferta. Não podendo ela depois escrever, ditava, a duas das suas amigas,
diversas orações que ainda hoje se recitam não só nos Lares de Caridade, mas
também em muitas igrejas do mundo.
Uma outra alma
extraordinária do século passado foi a Serva de Deus Luíza Piccarretta
(1865-1947) cuja causa está
igualmente
a correr em Roma.
Dos seus numerosos
escritos — aprovados pela Igreja — extraímos este curto texto referente ao
período que precedeu a segunda guerra mundial.
“De manhãzinha, depois da comunhão, o meu amável Jesus
disse-me: ‘Minha filha, as iniquidades dos homens são tais e tão numerosas que o
equilíbrio entre o meu Amor e a minha Justiça está alterado. A preponderância
das forças do mal obrigam-me a fazer cair sobre os homens uma guerra violenta
pela qual infligirei uma destruição sem precedente ao género humano’.
Depois, chorando, acrescentou: ‘Oh! sim! dei-lhes corpos para
serem santuários nos quais contava alegrar-Me! Bem pelo contrário, fizeram deles
pútridas fossas sépticas; e o odor pestilencial que deles sai é tão grande que
fui forçado afastar-Me deles. Ei-los, minha filha, os agradecimentos que recebo
por tanto Amor e tantos sofrimentos suportados por eles. Quem como Eu tão
abundantemente os abençoou e tanto atrasou a sua justa punição? Ninguém o fez
como Eu! E qual é a causa da sua tão grande perversão? Nada mais, minha filha,
que os bens excessivos que Eu mesmo lhes dei. Agora vou ensinar-lhes a maneira
de retornar ao seu dever utilizando as mais duras punições’.
Ao ouvir estas palavras de Jesus, o meu coração ficou
inundado de amargura ao pensar que um Deus tão bom podia ser tão desprezado
pelos homens. E quem poderia também dizer quão grande era o meu sofrimento
quando pensava nos que iam ser punidos pela calamidade da guerra. Por eles
sentia um grande desejo de sofrer para lhes evitar estas terríveis punições.”
(O Livro do Céu, Tomo 1)
Uma outra alma-vítima
desta mesma época foi a bem conhecida Teresa Neumann, alma extraordinária que,
como
Alexandrina
viveu a Paixão de Jesus e beneficiou também de muitos carismas.
Teve «instruções
divinas» sobre o trajecto belicoso que iria tomar o chanceler alemão de triste
memória, mas viveu sobretudo no país mesmo que provocou a segunda guerra
mundial, como já vimos.
Damos aqui alguns
elementos sobre a vida de Teresa, elementos que traduzimos de um longo artigo de
Paulette Leblanc, que muito tem escrito sobre os grandes místicos da Igreja
católica, e também sobre a nossa Alexandrina.
“Teresa Neumann, que as autoridades religiosas visitaram ou
fizeram observar durante longos anos foi uma grande mística. Após os seus anos
de infância pobre mas feliz, viveu uma juventude entregue aos duros trabalhos
dos campos e de serviço num cabaré. Conheceu seguidamente, e durante seis anos,
pesadas enfermidades: cegueira, paralisia, e doenças dolorosas. Seguidamente,
foram, em alguns meses, as curas súbitas e totais. Por último vieram a inédia e
a estigmatização. Durante mais de trinta anos Teresa Neumann não comeu mais
nada, nem nada mais bebeu. Foi durante este período que reviveu, todas as
semanas, a Paixão de Jesus cujos estigmas conservava.
União íntima com Jesus
Teresa
Neumann vivia em íntima união com o Salvador. Durante trinta e cinco anos, para
além das terríveis visões da Paixão de Jesus Cristo, teve a graça de contemplar
a vida de Jesus sobre a terra, e os Seus milagres. Viu o país onde Ele viveu,
trabalhou e viajou, bem como as pessoas que O cercavam; conheceu os Seus
costumes e ouviu-O falar na sua língua: o aramaico. Viveu cenas da viagem dos
Reis Magos, o massacre dos Inocentes, a fuga para o Egipto, a vida em Nazaré e a
maior parte dos episódios da vida pública. Teresa contemplou também numerosas
cenas da vida de Maria após a ressurreição de Seu Filho, nomeadamente em Éfeso,
com S. João, seguidamente em Jerusalém, donde foi elevada ao Céu. Assistiu ainda
à lapidação de Santo Estêvão e foi testemunha da pregação e do martírio dos
Apóstolos e de numerosos Santos..
A estigmatização
O que se
segue passou-se em 1926, durante as festas de Carnaval, isto é, em vésperas do
início da Quaresma. Teresa começou, subitamente, a sofrer violentas dores de
cabeça. Como era seu hábito, ofereceu todos os sofrimentos em expiação pelos
pecados cometidos nesses dias. Durante a noite da quinta para sexta-feira, de
repente, contemplou o Salvador no Jardim das Oliveiras… Jesus fixou sobre ela o
Seu olhar e Teresa sentiu uma imensa dor no coração. Ao mesmo tempo sentiu algo
de quente que lhe corria do peito: era sangue que se derramava duma ferida
situada perto do coração. No sábado a ferida estava de novo fechada.
Teresa Neumann e Hítler
A chegada de
Hitler ao poder desencadeou a perseguição contra a Igreja, e as obras católicas
de juventude foram proibidas. Quanto a Teresa Neumann, o Führer odiava-a
particularmente, porque, inspirando a fé aos católicos alemães, tinha-se tornado
uma ameaça para o regime do Nacional-Socialismo. Hitler teria podido fazer
desaparecer Teresa, mas, demasiado supersticioso, nunca ousou atacá-la
directamente; preferia mandar fazer o trabalho pelas suas milícias. Ora,
curiosamente, todas as tentativas efectuadas encalharam… Escapou mesmo a um
ataque de tanques levado a acabo contra a sua aldeia de Konnersreuth.
Como foi dito
acima, a chegada de Hitler ao poder desencadeou a luta contra a Igreja: as suas
obras foram proibidas; um jovem líder da Acção Católica de Erchstätt foi
internado em Dachau; as faculdades de Teologia foram fechadas; o Cura da
catedral caiu vítima de um atentado; muitos estudantes foram chamados a servir
no exército: poucos voltaram. Em Erchstät, como em numerosos outros lugares, a
resistência organizou-se, clandestina, mas geralmente eficaz apesar dos perigos.
Também Teresa usou de toda a sua influência para combater a propaganda
hitleriana. Desde a instauração do nacional-socialismo, ela predisse a sua queda
como certa, recomendando ao mesmo tempo, aos que o recusavam ou temiam, que
deviam ter muita paciência… Não é admirar do ódio que o regime votava.
Os amigos de Teresa e a sua família foram frequentemente
expostos às represálias por parte do III Reich. Quanto a ela, teve relativamente
poucos aborrecimentos; tinha renunciado ao seu cartão de alimentação e pedido em
troca uma duplo ração de sabão. Cedo a imprensa não falou mais dela: Teresa
parecia tranquila.”
Poderíamos multiplicar
muito mais os exemplos da intervenção divina junto das almas-vítimas deste
período, pedindo orações e penitência para evitar o caos que a largos passos se
avizinhava. Todavia, pensamos que estes exemplos bastarão para exemplificar esta
“via láctea” de almas generosas que Jesus criou em período tão crucial da
história da humanidade; à frente delas podemos colocar, sem qualquer hesitação,
aquela que nos honra por ter nascido em Portugal e pela qual temos — cada
português assim deve pensar! — uma verdadeira e sincera devoção.
*****
Aqui ficam pois estes
apontamentos sobre a nossa Alexandrina e a Segunda Guerra Mundial.
Haveria mais a dizer,
mas o leitor terá o cuidado, se desejar mais informações, de ler a
história — religiosa e profana — deste período tão delicado para a Europa e para
o mundo inteiro.
Esperemos, invocando a
protecção da Bem-aventurada Alexandrina, que a história de meados do século
passado não volte a repetir-se neste, mas... só Deus sabe aquilo que na verdade
merecemos.
Para que isso não
aconteça, os pedidos de Jesus e de Maria são igualmente válidos para os nossos
tempos tão enevoados, tão cheios de negras nuvens: Oração e penitência.
Afonso Rocha
Alexandrina
Maria da Costa :
Cartas ao Padre Mariano Pinho, sj
Sentimentos da Alma
Autobiografia
Padre
Humberto Maria Pasquale, sdb:
Alexandrina
Eis a Alexandrina
Sob o Céu de Balasar
Cristo Gesù in Alexandrina
Irmã Lúcia
de Jesus:
Memórias
Bíblia
Sagrada
Difusora Bíblica – Lisboa
S. João
Crisóstomo:
Homilias sobre a conversão.
Homilias sobre S. João
Papa Paulo
VI:
Documentos
Adolphe Tanquerey:
Précis de
Théologie Ascétique et Mysti-que |
Padre
Mariano Pinho, sj:
Uma vítima da Eucaristia
No Calvário de Balasar
Prof. José
Ferreira:
Artigos no Site oficial:
http://alexandrinabalasar.free.fr
Chiaffredo
e Eugénia Signorile:
Só por amor
Figlia del dolore,
Madre di amore
Mio Signore, Mio Dio
Santo
António de Lisboa:
Sermões para os domingos e dias santos
S. Bernardo
de Claraval
Homilias sobre o Cântico dos Cânticos
Santa
Teresa de Ávila:
Caminho de Perfeição
S. João da
Cruz:
Cântico espiritual
Paulette Leblanc
Les
Grands mystiques de l’Église Catho-lique |
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