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ALEXANDRINA
E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Afonso Rocha

E as outras almas-vítimas?

Escusado será dizer que, neste período tão delicado da história civil e religiosa, não foi a Alexandrina a única vítima escolhida por Jesus; muitas outras, a títulos diversos e a graus diversos tinham esta mesma missão de reparação pelos pecados do mundo e missão de procurar abrandar o braço da justiça divina prestes a desabar sobre toda a humanidade o castigo que os pecados cometidos merecia.

Irmã Lúcia de Jesus

Entre outras, está a irmã Lúcia de Jesus, cujo percurso é conhecido de todos, assim como é bem conhecido este trecho das suas “Memórias” publicadas em quase todas as línguas:

— Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no Mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar [1]. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI [2] começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal [3] que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz: se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia [4], que se converterá, e será concedido ao Mundo algum tempo de paz.” [5]

Helena Aiello

Uma outra alma-vítima que talvez seja menos conhecida e cuja causa está a correr em Roma, em vista da sua beatificação e canonização é a irmã Helena Aiello (1895-1961), a “santa monja” de Cosenza, na Itália.

Esta irmã, fundadora duma comunidade religiosa que recolhia —  e recolhe ainda —  as crianças abandonadas, era muito conhecida no seu país, não só pela sua santidade evidente, mas também pelos seus carismas variados e numerosos, tais como visões, locuções interiores, bilocações e estigmas.

Em 1940, ela recebeu de Jesus a ordem de escrever a Benito Mussolini para que este não declarasse a guerra, mas a irmã Helena não obedeceu logo, pensando ser uma ilusão sua, por isso Jesus voltou a ordenar-lhe que escrevesse ao Duce, advertindo-o de que graves problemas o esperavam se ele não arrepiasse caminho.

Para ilustrar o que acaba de ser dito, aqui fica a tradução de dita carta; vários pormenores dela merecerão um comentário adequado:

 

Cosenza, 23 de Abril de 1940.

Ao Chefe do Governo Benito Mussolini, Duce:

Venho junto de si em nome de Deus para lhe dizer o que o Senhor me revelou e que quer de si. Não queria escrever, mas ontem, 22, o Senhor apareceu-me outra vez impondo-me que lhe comunique o que segue:

«O mundo está em ruínas devido ao grande número de pecados e particularmente os de impureza que chegaram ao seu cúmulo provocando a Justiça do meu Pai celestial.

Por conseguinte, deverás sofrer e ser vítima expiadora pelo mundo e particularmente pela Itália, onde se encontra a sede do meu Vigário. O meu Reino é um reino de paz; o mundo, quanto a ele, está em guerra.

Os que governam os povos, estão obnubilados pela conquista de novos territórios! Pobres cegos! … Não sabem que onde Deus é posto de lado não pode haver conquista! No seu coração há apenas maldade e nada mais fazem do que ultrajar-Me e desprezar-Me! São demónios de discórdia, destruidores de povos e procuram investir, neste terrível flagelo a Itália, onde Deus se encontra no meio de tantas almas e onde reside o seu Vigário, Pastor Angélico.

A França, muito cara ao meu Coração, devido aos seus tão numerosos pecados, cairá rapidamente em ruínas e por sua vez será devastada como Jerusalém ingrata. À Itália, porque a sede meu Vigário aí se encontra, enviei Benito Mussolini, para a salvar do abismo no qual estava prestes a precipitar-se, não fora isso, ela se encontraria nas mesmas condições que a Rússia. No meio dos maiores perigos, Eu sempre o salvei; agora ele deve manter a Itália fora da guerra, porque a Itália é pacífica e é a sede meu Vigário sobre a terra. Se faz aquilo que lhe digo, atribuir-lhe-ei favores extraordinários e farei que todas as outras Nações se juntem a ele. Infelizmente decidiu declarar a guerra, mas é necessário que saiba que se não a impede, será punido pela minha Justiça!”

Eis o que me disse o Senhor. Não pense de maneira nenhuma o Duce que me ocupe eu de política. Eu nada mais sou do que uma pobre irmã ocupada na educação das crianças abandonadas e que muito ora pela sua salvação e a salvação da nossa Pátria.

Sou, com uma sincera consideração,

Helena Aiello

Quando lemos com a devida atenção esta carta, ressalta logo aquela primeira frase pronunciada por Jesus e que é, quase palavra por palavra, a mesma que Ele disse à vítima do Calvário de Balasar:

O mundo está em ruínas devido ao grande número de pecados e particularmente os de impureza que chegaram ao seu cúmulo provocando a Justiça do meu Pai celestial.”

Depois vem aquela ameaça dirigida a Mussolini que não obedece e que portanto deverá assumir ele também as responsabilidades dos actos que causou ou vai causar; daí as palavras do Senhor: “deverás sofrer e ser vítima expiadora pelo mundo e particularmente pela Itália”.

Quanto mais se conhece o que depois aconteceu a este homem soberbo, melhor se compreende o aviso antecipado de Jesus.

A seguir, Jesus fala da França, “a filha mais velha da Igreja”, e as palavras utilizadas são aterradoras:

“A França, muito cara ao meu Coração, devido aos seus tão numerosos pecados, cairá rapidamente em ruínas e por sua vez será devastada como Jerusalém ingrata.”

A imagem não pode ser mais justa e adequada, visto que a França foi rapidamente transformada num montão de ruínas e muitos dos seus habitantes enviados para os campos de concentração, onde foram mortos pelo gás, pelo fogo e também pela fome aqueles que o não foram pelas armas.

O fim da mesma carta é do mesmo teor e a ameaça feita ao Duce não ficou letra morta: “É necessário que saiba que, se não a impede, será punido pela minha Justiça!”

E foi mesmo!...

Marta Robin

Uma outra alma-vítima bem mais conhecida é a francesa Marta Robin (1902-1981, fundadora dos “Lares de caridade” implantados no mundo inteiro e cuja causa está também a seguir em Roma. Esta mística francesa tem muitos pontos comuns com a “nossa” Alexandrina, a mais de serem contemporâneas.

Marta viveu quarenta e oito anos da sua vida alimentado-se só da Eucaristia. Como Alexandrina ela viveu a Paixão de Jesus todas as sextas-feiras e tinha diversos outros carismas como a possibilidade de “ler nos corações” daqueles que a visitavam.

Durante um êxtase, Jesus disse a Marta, como o disse de igual modo à Alexandrina:

“Os meus sacerdotes, os meus sacerdotes, dá-me tudo por eles! Minha Mãe e Eu os amamos tanto. Dá-me todos os teus sofrimentos, tudo o que sofres neste momento, todos aqueles com os quais tu queres mergulhar no meu Amor, dá-me o teu isolamento e a tua solidão e a solidão na que Eu te coloquei, tudo sem descanso pelos meus sacerdotes. Oferece-te ao Pai comigo por eles e não temas sofrer muito pelos meus sacerdotes, eles necessitam realmente de tudo isso que estou para realizar em ti em favor deles”

Em 1940, em plena guerra, ela ofereceu os seus olhos para a salvação do mundo e o Senhor aceitou esta oferta. Não podendo ela depois escrever, ditava, a duas das suas amigas, diversas orações que ainda hoje se recitam não só nos Lares de Caridade, mas também em muitas igrejas do mundo.

Luíza Piccarretta

Uma outra alma extraordinária do século passado foi a Serva de Deus Luíza Piccarretta (1865-1947) cuja causa está igualmente a correr em Roma.

Dos seus numerosos escritos — aprovados pela Igreja — extraímos este curto texto referente ao período que precedeu a segunda guerra mundial.

“De manhãzinha, depois da comunhão, o meu amável Jesus disse-me: ‘Minha filha, as iniquidades dos homens são tais e tão numerosas que o equilíbrio entre o meu Amor e a minha Justiça está alterado. A preponderância das forças do mal obrigam-me a fazer cair sobre os homens uma guerra violenta pela qual infligirei uma destruição sem precedente ao género humano’.

Depois, chorando, acrescentou: ‘Oh! sim! dei-lhes corpos para serem santuários nos quais contava alegrar-Me! Bem pelo contrário, fizeram deles pútridas fossas sépticas; e o odor pestilencial que deles sai é tão grande que fui forçado afastar-Me deles. Ei-los, minha filha, os agradecimentos que recebo por tanto Amor e tantos sofrimentos suportados por eles. Quem como Eu tão abundantemente os abençoou e tanto atrasou a sua justa punição? Ninguém o fez como Eu! E qual é a causa da sua tão grande perversão? Nada mais, minha filha, que os bens excessivos que Eu mesmo lhes dei. Agora vou ensinar-lhes a maneira de retornar ao seu dever utilizando as mais duras punições’.

Ao ouvir estas palavras de Jesus, o meu coração ficou inundado de amargura ao pensar que um Deus tão bom podia ser tão desprezado pelos homens. E quem poderia também dizer quão grande era o meu sofrimento quando pensava nos que iam ser punidos pela calamidade da guerra. Por eles sentia um grande desejo de sofrer para lhes evitar estas terríveis punições.” (O Livro do Céu, Tomo 1)

Teresa Neumann

Uma outra alma-vítima desta mesma época foi a bem conhecida Teresa Neumann, alma extraordinária que, como Alexandrina viveu a Paixão de Jesus e beneficiou também de muitos carismas.

Teve «instruções divinas» sobre o trajecto belicoso que iria tomar o chanceler alemão de triste memória, mas viveu sobretudo no país mesmo que provocou a segunda guerra mundial, como já vimos.

Damos aqui alguns elementos sobre a vida de Teresa, elementos que traduzimos de um longo artigo de Paulette Leblanc, que muito tem escrito sobre os grandes místicos da Igreja católica, e também sobre a nossa Alexandrina.

“Teresa Neumann, que as autoridades religiosas visitaram ou fizeram observar durante longos anos foi uma grande mística. Após os seus anos de infância pobre mas feliz, viveu uma juventude entregue aos duros trabalhos dos campos e de serviço num cabaré. Conheceu seguidamente, e durante seis anos, pesadas enfermidades: cegueira, paralisia, e doenças dolorosas. Seguidamente, foram, em alguns meses, as curas súbitas e totais. Por último vieram a inédia e a estigmatização. Durante mais de trinta anos Teresa Neumann não comeu mais nada, nem nada mais bebeu. Foi durante este período que reviveu, todas as semanas, a Paixão de Jesus cujos estigmas conservava.

União íntima com Jesus

Teresa Neumann vivia em íntima união com o Salvador. Durante trinta e cinco anos, para além das terríveis visões da Paixão de Jesus Cristo, teve a graça de contemplar a vida de Jesus sobre a terra, e os Seus milagres. Viu o país onde Ele viveu, trabalhou e viajou, bem como as pessoas que O cercavam; conheceu os Seus costumes e ouviu-O falar na sua língua: o aramaico. Viveu cenas da viagem dos Reis Magos, o massacre dos Inocentes, a fuga para o Egipto, a vida em Nazaré e a maior parte dos episódios da vida pública. Teresa contemplou também numerosas cenas da vida de Maria após a ressurreição de Seu Filho, nomeadamente em Éfeso, com S. João, seguidamente em Jerusalém, donde foi elevada ao Céu. Assistiu ainda à lapidação de Santo Estêvão e foi testemunha da pregação e do martírio dos Apóstolos e de numerosos Santos..

A estigmatização

O que se segue passou-se em 1926, durante as festas de Carnaval, isto é, em vésperas do início da Quaresma. Teresa começou, subitamente, a sofrer violentas dores de cabeça. Como era seu hábito, ofereceu todos os sofrimentos em expiação pelos pecados cometidos nesses dias. Durante a noite da quinta para sexta-feira, de repente, contemplou o Salvador no Jardim das Oliveiras… Jesus fixou sobre ela o Seu olhar e Teresa sentiu uma imensa dor no coração. Ao mesmo tempo sentiu algo de quente que lhe corria do peito: era sangue que se derramava duma ferida situada perto do coração. No sábado a ferida estava de novo fechada.

Teresa Neumann e Hítler

A chegada de Hitler ao poder desencadeou a perseguição contra a Igreja, e as obras católicas de juventude foram proibidas. Quanto a Teresa Neumann, o Führer odiava-a particularmente, porque, inspirando a fé aos católicos alemães, tinha-se tornado uma ameaça para o regime do Nacional-Socialismo. Hitler teria podido fazer desaparecer Teresa, mas, demasiado supersticioso, nunca ousou atacá-la directamente; preferia mandar fazer o trabalho pelas suas milícias. Ora, curiosamente, todas as tentativas efectuadas encalharam… Escapou mesmo a um ataque de tanques levado a acabo contra a sua aldeia de Konnersreuth.

Como foi dito acima, a chegada de Hitler ao poder desencadeou a luta contra a Igreja: as suas obras foram proibidas; um jovem líder da Acção Católica de Erchstätt foi internado em Dachau; as faculdades de Teologia foram fechadas; o Cura da catedral caiu vítima de um atentado; muitos estudantes foram chamados a servir no exército: poucos voltaram. Em Erchstät, como em numerosos outros lugares, a resistência organizou-se, clandestina, mas geralmente eficaz apesar dos perigos. Também Teresa usou de toda a sua influência para combater a propaganda hitleriana. Desde a instauração do nacional-socialismo, ela predisse a sua queda como certa, recomendando ao mesmo tempo, aos que o recusavam ou temiam, que deviam ter muita paciência… Não é admirar do ódio que o regime votava.

Os amigos de Teresa e a sua família foram frequentemente expostos às represálias por parte do III Reich. Quanto a ela, teve relativamente poucos aborrecimentos; tinha renunciado ao seu cartão de alimentação e pedido em troca uma duplo ração de sabão. Cedo a imprensa não falou mais dela: Teresa parecia tranquila.”

Poderíamos multiplicar muito mais os exemplos da intervenção divina junto das almas-vítimas deste período, pedindo orações e penitência para evitar o caos que a largos passos se avizinhava. Todavia, pensamos que estes exemplos bastarão para exemplificar esta “via láctea” de almas generosas que Jesus criou em período tão crucial da história da humanidade; à frente delas podemos colocar, sem qualquer hesitação, aquela que nos honra por ter nascido em Portugal e pela qual temos —  cada português assim deve pensar!  —  uma verdadeira e sincera devoção.

*****

Aqui ficam pois estes apontamentos sobre a nossa Alexandrina e a Segunda Guerra Mundial.

Haveria mais a dizer, mas o leitor terá o cuidado, se desejar mais informações, de ler a história — religiosa e profana — deste período tão delicado para a Europa e para o mundo inteiro.

Esperemos, invocando a protecção da Bem-aventurada Alexandrina, que a história de meados do século passado não volte a repetir-se neste, mas... só Deus sabe aquilo que na verdade merecemos.

Para que isso não aconteça, os pedidos de Jesus e de Maria são igualmente válidos para os nossos tempos tão enevoados, tão cheios de negras nuvens: Oração e penitência.

Afonso Rocha


Bibliografia

Alexandrina Maria da Costa :

            Cartas ao Padre Mariano Pinho, sj
            Sentimentos da Alma
            Autobiografia

Padre Humberto Maria Pasquale, sdb:

            Alexandrina
            Eis a Alexandrina
            Sob o Céu de Balasar
            Cristo Gesù in Alexandrina

Irmã Lúcia de Jesus:

Memórias

Bíblia Sagrada

            Difusora Bíblica – Lisboa

S. João Crisóstomo:

            Homilias sobre a conversão.
            Homilias sobre S. João

Papa Paulo VI:

            Documentos

Adolphe Tanquerey:

            Précis de Théologie Ascétique et Mysti-que

Padre Mariano Pinho, sj:

            Uma vítima da Eucaristia
            No Calvário de Balasar

Prof. José Ferreira:

            Artigos no Site oficial:
http://alexandrinabalasar.free.fr

Chiaffredo e Eugénia Signorile:

Só por amor
           Figlia del dolore, Madre di amore
           Mio Signore, Mio Dio

Santo António de Lisboa:

            Sermões para os domingos e dias santos

S. Bernardo de Claraval

            Homilias sobre o Cântico dos Cânticos

Santa Teresa de Ávila:

            Caminho de Perfeição

S. João da Cruz:

            Cântico espiritual

Paulette Leblanc

Les Grands mystiques de l’Église Catho-lique


[1] Trata-se aqui, claro está, da primeira Guerra Mundial (1914-1918).
[2] Interrogada sobre esta data e, sabendo-se que oficialmente a segunda guerra mundial começou em 1939, a irmã Lúcia dizia que o primeiro acto que desencadeou esta segunda guerra foi a anexação da Áustria pelo líder alemão em 1938, o que de certa maneira é exacto.
[3] Este sinal terá sido, segundo a irmã Lúcia a extraordinária aurora boreal que na noite de 25 para 26 de Janeiro de 1938 iluminou toda a abóbada celeste e que foi vista por milhões de pessoas.
[4] Há quem pense que esta consagração foi feita conforme os desejos de Nossa Senhora; outros há ainda que pensam que não. Não nos cabe aqui tomar qualquer posição, pois isso seria fora do assunto que nos fixámos.
[5] Irmã Lúcia de Jesus : “Memórias. Terceira memória”. Postulação. Fátima. Portugal.

   

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