Parece que estou
sem consciência de que vivo eu, sem consciência de que sou filha de Deus, sem
consciência de que a minha vida tem proveito para a eternidade. Estou abraçada à
minha cruz. Amo o que Ele ama, quero o que Ele quer, custe o que custar. Eu
repetirei sempre:
― Creio, Jesus,
creio! Sou a Vossa vítima! Custa tanto, tanto sofrer!... Ai, meu Deus, ai, meu
Jesus, só Vós sabeis quanto eu tenho sofrido pelo Vosso amor e por amor às
almas. A vida foge, a vida sem vida foge, e que ela fuja para Vós, só para Vós.
O meu coração
rega com o seu sangue toda a humanidade. É infinita a sua dor e infinitas são as
suas ânsias. Não posso falar dos sentimentos da minha alma. Seria um nunca
acabar. A minha crise continua, não posso falar. Vou ver se consigo dizer as
palavras de Jesus, o Seu colóquio comigo.
A minha viagem
para o Calvário foi muito dolorosa. O coração rasgado pela dor; sofri
infinitamente. Todo o meu ser era um mundo de podridão e de crimes, todo o meu
ser era morte e esta morte parecia ser mexida, transportada pela própria terra
ao cimo do calvário. Oh, segredo de Jesus, como eu sofri, como eu sofri! Com
todo o custo, repeti o meu “creio”, os meus actos de fé e de confiança sem nada
sentir de verdadeiro em mim. Veio Jesus. Chamou-me:
― “Minha filha,
minha filha, tem coragem. Tu és podridão e miséria, porque és vítima. És mundo,
porque é pelo mundo que te imolas. Sentes a dor infinita, porque a tua vida está
ligada à minha. Estás sobre a terra e nada sentes senão a dor. Diz-me, minha
filha, que mais hás-de sentir, se tu não vives do mundo, mas de Deus, só de
Deus. Sentes a dor, porque és vítima, sentes da dor, porque a dor foi e é obra
de resgate e de salvação. A panelinha que está sobre o lume, ora a ferver com
água escacholante, ora fria e gelada, sem fogo, não se importa ferver, não se
importa estar fria. Ela nada sente. Está na sua missão ao serviço do homem. À
semelhança dela, estás tu sobre a fornalha divina ao serviço de Deus e das
almas. Oh maravilha! Oh mistérios insondáveis de Deus!”
Nesta ocasião,
Jesus abriu o Seu Coração e o meu como se fossem umas saquinhas. Com a Sua mão
divina tirava do seu coração para o meu os Seus tesouros, a Sua graça, tudo o
que era d’Ele. Desde que me deu tudo, fechou-os. Deixou no centro do meu umas
chamas doiradas como se fossem muitas velas juntas. Mais acima cercava essas
chamas uma coroa resplendorosa. Mais acima ainda, um diadema doirado também.
― “Minha filha,
esposa querida do meu Divino coração, enchi-te o teu coração com as riquezas do
meu. Deixei nele o fogo de todo o meu amor, a coroa que te há-de cingir, o
diadema que te há-de adornar no Céu. Enriqueço-te para as almas, premeio-te já
na terra o teu sofrer. Coragem! Dá-te, imola-te! Dor e amor, dor e amor. És a
louquinha das almas que nas chamas do purgatório se purificam. Alivia-as,
alivia-as, para que depressa subam ao Céu a louvar-me eternamente. És toda
Cristo, és toda amor. Coragem, coragem! Repete o teu “creio”.”
Escondeu-se
Jesus.
― Onde estais?
Para onde fostes, meu Jesus? Compadecei-Vos de mim. O meu desfalecimento é
grande, o meu brado é doloroso. Creio, Jesus, creio! Amo-Vos, espero e confio.
Apareceu-me de
novo o meu Jesus e disse-me:
― Coragem! Eu te
afirmo que o teu Céu está perto. Confia. Vou dar-te a gota do meu Divino Sangue.
Tu já vives por um fio, ligada à vida divina. Recebe este sangue que te faz
viver e dá às almas esta vida que por esta união te comunico. Fala-lhes,
acode-lhes. Oh, como está o mundo! Fala-lhes das minhas ameaças que são da
justiça do meu Pai, se ele não se converte e volta para Mim. Dá vida e dá amor.
Repete o teu “creio”. Vive da fé. Coragem! O teu martírio, o teu martírio tão
indizível é urgente para as almas filhas do meu sangue.”
Desapareceu como
um fugitivo e eu fiquei a fazer-Lhe os meus pedidos na incerteza de todo o meu
viver.
― Creio, Jesus,
creio! Bendita sejas, ó minha cruz bem amada!
Os meus males
continuam a agravarem-se, e eu não posso falar. Limito-me a pouco dizer. A minha
alma tinha necessidade de se abrir e falar infinitamente. As minhas poucas
palavras têm o fim de obedecer e fazer sempre a vontade de Jesus. Com a perda de
Jesus e da Mãezinha, perdi tudo quanto se pode imaginar. Perdi tudo da terra e
do céu. Ai de mim, ai de mim, perdi a fé! Eu sinto que a perdi. Não tenho na
minha vida uns raiozinhos de luz. Tudo são trevas, morte e podridão. Tudo é
inutilidade, tristeza e amargura. Ai, quanto custa uma vida morta, inútil e sem
fé! Ai, quanto custa uma vida mentirosa, quando só aspiro à verdade! Meu Deus,
compadecei-Vos de mim!
Ouvi através do
alto-falante tudo quanto se passou na nossa igreja durante 15 dias da nossa
missão. Tudo ouvi sem fé e sem proveito. O que pode aproveitar uma vida morta?
No meio de angústias, lágrimas e espinhos penetrantes, tudo ofereci ao Senhor.
― É por Vosso
amor, Jesus, e pelas almas. Nada mais tenho em conta, bem o sabeis, mas oh,
pobre oferta mentirosa que ficava a nadar neste mundo imenso de podridão e
vício.
Mesmo sem fé fixo
os olhos no Céu, sem os baixar à terra; não perco a paz e sorrio em tudo à
vontade do Senhor. Segui para o Calvário sem firmeza, morta para todas as coisas
do Céu, viva só para a dor. Sentia que o meu corpo e vida morta eram sustentados
por uns fiozinhos que vinham do Alto e eram uma outra vida sem ser deste mundo.
Nesta morte e inutilidade terrenas, a almas agonizava. A todo o custo ia lutar
sempre e fui repetindo o meu “creio” que no meu sentir é um “creio” mentiroso e
sem fé. Veio Jesus, falou-me alto, mas com doçura e bondade.
― “Coragem, minha
filha! Vem cá. Eu sou o teu Jesus, a Verdade e a vida que tu vives; a tua vida é
a vida da sabedoria de Deus, a vida das maravilhas de Deus, a vida dos prodígios
de Deus operados em tua alma.
Ó encantos de
Deus, ó sabedoria de Deus! Ó poder de Deus! Ó chamamento de Deus! É por ti, sim,
minha filha, que eu chamo as almas, lhes mostro e dou as minhas graças, os meus
tesouros. Tem coragem! Confia! Todo este teu sofrimento, toda esta inutilidade e
vida morta são de utilidade e dão vida a tantas, tantas almas. No Céu verás
quanto as almas de Balasar aproveitaram nesta santa missão. Quantas
ressurreições! Quantas vidas para Mim. Dá aos meus queridos missionários toda a
minha graça e amor com abundância pelo seu esforço, pela sua canseira incessante
a favor de tantas almas. Diz-lhes o meu grande obrigado, o obrigado de Deus.
Coragem, minha filha! O mundo peca, não se corrige. Desafia a justiça de meu
Pai. É Ele que exige martírio tão doloroso, o teu indizível sofrimento.”
Apareceu ao lado
de Jesus a Mãezinha querida, a Mãezinha das Dores. Jesus deu-Lhe o lugar e
desapareceu.
― “Minha filha,
minha querida filha, sofro infinitamente com Jesus, com os males do mundo.
Aceita as minhas setas, sofre, deixa-mas colocar no teu coração e assim consolas
o Coração da Mãe e o Coração do Filho.”
― Aceito tudo,
Mãezinha, para Vos alegrar.
Num rápido
momento, a Mãezinha das Dores transformou-se em Nossa Senhora do Carmo, com
Jesus pequenino no colo e então continuou Ela:
― “Minha filha,
fala às almas e diz-lhes que todas as coisas que sejam pedidas a Jesus em meu
nome e em nome das almas do Purgatório, todas, todas as coisas mesmo a conversão
dos pecadores, serão concedidas.”
O Menino Jesus
estava inquieto nos braços da Mãezinha. Queria vir para mim. A Mãezinha fez-Lhe
a vontade. Passou para os meus braços. Ele, muito pequenino, beijou-me,
acariciou-me e, deitando-se sobre o meu peito, disse-me:
― “Deixas-me
ficar aqui?”
― Ó Jesus, no
exterior, não, mas sim dentro do coração, sempre, sempre. Nunca Vos ausenteis de
mim.
Fiquei sozinha.
Ele desapareceu-me com a Mãezinha e eu bradei-Lhes:
― Amo Jesus, amo
a Mãezinha. Creio, creio, creio eternamente.
Neste colóquio
sem nenhuma consolação, o meu “creio” era cada vez mais mentiroso. Jesus voltou
novamente, em tamanho natural, uniu o Seu Coração ao meu, fez passar a gota do
Seu Sangue Divino e disse-me:
― “É abundante a
gota do Meu Sangue, porque a dor muita vida em ti consumiu. Dá esta vida às
almas, tu, que és a vida das almas. Dá o meu amor às almas, tu, que és o meu
amor. Dá a minha luz às almas, tu, que foste criada para luz e guia das almas.
Coragem, coragem! Imola-te, sacrifica-te!”
Assim desapareceu
o meu Jesus. Fiquei na minha prece a fazer-Lhe os meus pedidos sem fé e sem luz,
mas com mais fortaleza e em paz.
Não me saíram do
coração as setas do Coração Imaculado da Mãezinha. Como elas estão gravadas
profundamente e como sinto as Suas lágrimas que das Suas faces santíssimas
desenrolaram como pétalas de flores que deixam a árvore de quem são filhas!
Estas lágrimas ferem-me também o coração e a alma.
― Meu
Deus – exclamo eu – como se sofre!... Como se pode sofrer!... Tanta variedade de
sofrimentos!... e sem ter a mínima coisinha para Vós, quando tudo é por Vós e
para Vós. Compreendei, Jesus, compreendei, meu Amor, porque só na Vossa ciência
divina cabe tal sofrimento.
Não posso dizer
os sofrimentos da minha alma, não posso, porque me sinto sem vida. O dever da
obediência leva-me a obedecer ao extremo. Por mais que eu pudesse dizer e pelo
muito que já tenho dito, nunca diria, nem nunca disse nada. Não posso pensar no
esquecimento do Horto e do Calvário. Não posso sentir o peso de tal desprezo por
eles. Não posso com o sentimento da minha vida sem Deus e na minha vida
mentirosa.
― Ó Céu, ó
Céu – repeti eu na minha dolorosa viagem. – Vinde em meu auxílio, ó Jesus, ó
Mãezinha. Eu creio que existis, eu creio que sou Vossa. Sim, creio em tudo. Sou
a Vossa vítima. Ó Céu, ó Céu! Creio em ti, espero em ti, confio em ti.
Na minha prece
sem sentimento, mentirosa e revoltosa, com ódio a todo o sofrimento, veio Jesus,
chamou-me.
― “Minha filha,
minha filha, minha querida e amada filha, crê em Mim. A tua vida é a vida que
mais se pode assemelhar à minha sagrada Paixão e Morte. Em todos os pontos
toquei, em todas coisas te assemelhei a Mim. É a crucifixão oculta, é a
crucifixão mística. O teu coração e alma em sangue são sofrimentos meus, o teu
coração e alma em sangue revelam a nossa união inseparável. Só para o sublime,
só para coisas grandes foste escolhida. Tu não terás outro viver. Para ti
acabaram todas as consolações e alegrias e luz. Repete o teu “creio”. Tens de
viver de fé sem fé, do amor, sem nenhum sentimento de amor. Só quero de ti o teu
“creio”, a tua firmeza na cruz, a tua generosidade heróica, sempre heróica. Vem
repousar sobre o meu Divino Coração. É repouso divino, é repouso confortante, é
repouso de vida.”
Jesus sentou-se.
Fez que eu me sentasse também sobre os Seus joelhos e o Seu Divino Coração. Caía
sobre mim, vinda de Jesus, uma água caída de levada, mas esta água escacholante
era dourada. Caiu por um bom pedaço de tempo. Vinha de Jesus e confortou-me. O
que era, só Ele o sabe. De repente, Ele desapareceu, e a levada terminou.
Bradei-Lhe com fortaleza:
― Fugistes-me,
meu Jesus, mas eu creio, eu creio! Por Vós tudo aceito; sou sempre a Vossa
vítima.
As minhas
palavras foram repetidas na escuridão mais tremenda. Jesus voltou. Trouxe
consigo nova luz.
― “Minha filha,
minha filha, escuta o meu desabafo. O mundo peca loucamente, dia e noite. Não
cessa de desafiar a justiça de meu Pai, mas os sacerdotes, tantos sacerdotes,
aquelas almas a Mim consagradas, tomam-me nas suas mãos, esmagam-me, põem-me
todo em sangue com os seus sacrilégios, vida de vícios. Os seus maus exemplos
abrem abismos para a perda de tantas, tantas, tantas almas. Vigilância à Igreja,
principie a Igreja. Haja uma renovação de vida!”
Não posso dizer,
não sei dizer em que estado vi o meu Jesus. Todo o Seu ser era uma massa de
sangue. Não tinha forma humana. Ai, como eu vi o meu Jesus!... E como aquela
massa dava sangue, só sangue!
― Sou a Vossa
vítima, sou a Vossa vítima. Sede Jesus, transformai-Vos na beleza de Jesus.
Assim sucedeu.
Jesus voltou a ser Jesus. Uniu o Seu Divino Coração ao meu. Fez passar a gota do
Seu Sangue pelo meio de luz e raios de amor.
― “Minha filha,
minha louquinha, louquinha das almas, recebe o meu Sangue para viveres, recebe
vida para fazeres viver. Fala às almas, fala às almas. Toda a tua vida lhes
fala, lhes dá exemplo. Todo o teu viver lhes comunica o meu viver. O teu Céu
está perto. E como prémio da tua vida sofredora na terra vou dar-te todas as
minhas bênçãos, graças, amor com meios de salvação, para que toda a terra por ti
seja favorecida até ao fim dos séculos. Confia, confia! Jesus é justo. Jesus não
falta às Suas promessas.”
Deixou-me o meu
Jesus. Fiquei na minha cruz, entregue aos meus sofrimentos. Repeti-Lhe com
frequência:
― Creio, creio e
espero sempre em Vós. Ó meu Jesus, não esqueçais os meus pedidos. Perdoai à
humanidade.
A não ser que eu
melhore, tenho de desistir da minha obediência, o que então não representa
desobediência, mas sim não poder. Terei de abafar tudo dentro de mim, ficando só
para Jesus o meu desabafo. Só Ele sabe o meu sacrifício em falar, porque não
posso, e em estar calada. O coração está cheio, cheio a transbordar. Apenas vou
dar uma pálida ideia das minhas tentações contra a fé. É inaudito o meu
martírio. Atingiu o auge tal sofrimento. Estou no cimo do monte, onde toda a
tempestade pega. Eu tenho de pender para um dos lados. Com a minha perda de
Jesus e da Mãezinha, pendia a cair no desespero. Na agonia nunca exprimida da
minha alma, quase me convenci de que não havia Deus, nem a eternidade, a não ser
a eternidade morta que há tanto tempo já vivo. Que luta, meu Deus, que luta!...
Não querer cair só para não Vos ofender! Parecia ser inútil toda a minha
repetição do meu “creio” e actos de fé. Foi tremendo o horto. Com este martírio
foi tremendo também o calvário. Logo de manhã sem raiar o dia, a noite da alma
foi pavorosa. Fraquejei. Não resisti. Depois de muito bradar ao Céu e no
sentimento de nada conseguir, chorei, chorei amargamente. Apesar de não ter fé,
sempre fui oferecendo as minhas lágrimas a Jesus. Não podia e não queria
convencer-me de que havia de separar-me dos meus para nunca mais ver-nos. Queria
tentar com o fim da minha vida: sofrer tanto para nada valer, para nunca mais,
nunca mais ver aqueles a quem tanto amo. Acto de fé, meu Deus, creio, creio…
Rezei o Credo. Como não o podia repetir com os lábios, dizia-o com o coração.
“Creio no Espírito Santo…” e tudo o mais até ao fim. Assim lutei até à vinda de
Jesus. Ele veio, chamou-me:
― “Minha filha,
alerta, alerta. Repete o teu “creio”. Tenho sempre presentes aquelas palavras
com que Eu te preparei para o maior martírio da tua vida e inigualável martírio.
Colóquio de dor, colóquio de fé, colóquio de amor. Dor e sangue, dor e sangue.
Repete, repete sempre o teu “creio”. De vez para vez, omitirei as minhas
palavras e não falto àquilo que prometi. É o mundo, luxurioso, odiento, vaidoso,
é o mundo com todos os seus crimes hediondos a exigir de ti tal agonia,
incomparável agonia. Coragem, minha filha! Olha para as almas, preço do meu
Sangue divino. Coragem, minha filha! Os teus dias são breves. Eu velo, velo por
ti.”
Logo a seguir a
estas palavras, Jesus apareceu-me dentro do sacrário com a porta do sacrário
aberta.
― “Escuta,
louquinha das almas, escuta, louquinha da Eucaristia. Estou aqui só por amor. Os
homens não compreendem este amor. Estou aqui para ser alimento e vida. Os homens
não querem alimentar-se e viver a minha vida. Fala-lhes do meu amor.
Comunica-lhes o meu amor. Tu que foste criada para distribuidora de tudo o que é
meu; fala, minha louquinha, fala, esposa minha, da minha Eucaristia. Pede às
almas para virem ao sacrário e viverem do sacrário.”
Mostrando-me o
rosário, fez-me sentir como se nas minhas mãos o enleasse muito e continuou:
― “Fala do
rosário da minha bendita Mãe. Fala às almas dos grandes meios de salvação.”
Eu vi que Jesus
irradiava amor. Eu senti que todo Ele era doçura e caridade e vi que as Suas
chagas derramavam sangue vermelhinho, muito vermelhinho.
― Ó Jesus, eu não
tenho fé. Eu sou miserável. Eu sou nada para falar do sublime, para falar de
coisas tão belas e grandes, falar do Omnipotente! Estando Vós no sacrário, que
representa este Sangue?
― “Tens fé, minha
filha, tens amor e tens tudo. És a maior vítima de expiação. Fala ao mundo,
lembra-lhe as ameaças e justiças de meu Pai. Se ele não se converte e vive a
vida nova, vida pura e santa. Este sangue é sangue derramado por amor. São
chagas avivadas dia e noite por tantas, tantas almas que me recebem na
Eucaristia sacrilegamente. Vinde ao sacrário, vinde em graça e abrasados em
amor.”
Fiquei em trevas
a chamar por Jesus, a repetir o meu “creio”. Ele não se demorou. Veio unir o Seu
Divino coração ao meu e disse-me:
― “Aqui estou,
minha filha, a dar-te o meu Sangue, a dar-te a minha vida para poderes viver.
Criei-te para dares vida. Dá esta vida. Criei-te para dares amor. Incendeia este
amor. Criei-te para a salvação das almas: sofre, sofre tudo por meu amor e para
as salvar. Repete o teu “creio”, os teus actos de fé. Vive da fé, sem fé. Vive
de amor, sem amor. Vive a vida de dor, sem utilidade. Vive a eternidade morta,
porque em breve passas ao Paraíso. Tudo hás-de possuir, e toda a terra por ti
será enriquecida.”
― Creio, Jesus,
creio! Espero em Vós! Creio sem Vos ver e sentir, mas confio cegamente no Vosso
amor, na Vossa protecção. Atendei aos meus pedidos. Perdoai à humanidade.
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