6 de Fevereiro – Sexta-feira
Não vivo, sinto que
não vivo. E, apesar destes sentimentos, sinto uma fome e uma sede que me mata.
Tenho fome e sede de Jesus. Vou à procura d’Ele, parece que chego a tocar o Céu,
mas sem o encontrar. Nuvens negras desfazem-se em pedaços, e eu desfaço-me com
elas e com elas caio ao lodo imundo da terra até me infundir e desaparecer.
Tenho fome e sede infinita, fome e sede insuportável. Quero dar-me, dar-me a
todos os corações, a todas as almas; quero dar-me de tal forma que aqueles
corações sejam o meu coração e as almas a minha alma. Quero viver neles, quero
possuí-los, quero que sejam uma só vida, a minha vida. Falai, anjos e santos do
Céu, falai por mim, dizei vós a dor infinita que penetra todo o meu ser; dizei a
infinidade desta fome e desta sede, porque eu não sei falar de tal grandeza, de
tais sentimentos; a minha ignorância leva-me a tudo isto. Se eu ansiasse e
amasse, se eu me desse e possuísse, se eu visse na minha cegueira, se eu visse
na minha morte, se eu fosse útil no meu Calvário! Mas nada, meu Deus, nada sou e
nada há de aproveitável em mim! Quem ama sois vós, todos os meus sentimentos são
Vossos, quem vive sois Vós. Eu sou morte, cegueira e inutilidade. Eu sou um
mundo, um mundo insuportável de vícios. Eu sou um mar imenso de ondas venenosas,
eu sou o desespero, a condenação, eu sou um inferno mundial. As lágrimas do
Coração do meu Jesus caem sobre o meu coração, sinto-me cair, sinto o meu
soluçar, sinto os punhais e espadas que o atravessam, sinto a Sua dor infinita,
dor que ultrapassa toda a dor terrestre, mas estou a tudo indiferente, nada há
que me mova ao arrependimento e ao amor e compaixão pelo meu Jesus. Celebrou-se
a Santa Missa no meu quartinho. Todo o meu ser foi um cadáver a assistir a ela.
Imolei-me com Jesus por intermédio da Mãezinha; por Ela levei junto d’Ele as
minhas preces, a Ela pedi que pedisse e merecesse por mim e com os Seus
sentimentos acompanhasse a Jesus e assistisse ao Santo Sacrifício. A inutilidade
rouba-me os desejos, não os deixa chegar aos ouvidos de quem os dirigi. Pobre de
mim! Momentos dolorosos, horas de pavor os da minha vida. Sempre a lutar, a
lutar na minha vida tremenda e duvidosa, mas sem deixar de repetir: amo-Vos,
Jesus, espero e confio em Vós, por Vós tudo aceito, ó meu Amor: sou a Vossa
vítima.
Toda a minha vida
fugi do Horto, e me atemorizou o Calvário. Sempre fugitiva e indiferente, sempre
apavorada quando os sentimentos ou o pensamento me levavam àquele solo duro, ao
Jardim das Oliveiras. Lá fiquei prostrada ontem por noite. Indizível agonia! As
veias rasgaram-se e o sangue, que delas rompeu, fervia como a panela sobre o
lume. O coração estava aberto de cima a baixo e gotejava sangue por entre
grandes labaredas de fogo. Ah! Se eu pudesse, mas não é possível; fazer conhecer
e compreender este amor! Era de Jesus o amor de que falo. Ele ansiava
infinitamente dar-nos a última prova. Ansiava o Calvário para dar a vida. Só
assim o nosso abraço era eterno. Hoje, levada por alguém, não foi por mim,
caminhei para o Calvário. Vinham ao meu encontro ondas de ódio e de crimes, as
mais agitadas, de nojenta podridão. A vencer essas ondas saíam de Jesus outras,
mas eram ondas de amor, de convite e de perdão. Eu fugi, fugi sempre delas. Sem
saber como, encontrei-me no cimo do Calvário junto de Jesus. A Sua voz dorida
feriu os meus ouvidos. Era voz de convite. No alto da Cruz, nela atravessado por
grossos cravos, mostrava-me o Seu Divino Coração, chamava-me: “Vem a mim. Amo-te
tanto. Vê quanto sofri e sofro por ti!” Ai, não posso dizer! Eu queria então
chorar lágrimas de sangue e ficar para sempre crucificada e unida a Jesus. Então
já com Ele, sofria igual dor, amava igual amor e bradava ao Pai o mesmo brado de
agonia. Foi num brado de amor que entreguei ao Pai o meu espírito. Houve
silêncio da morte em bom espaço de tempo. A seguir, veio Jesus, triste, mas com
amor. Fez-me viver e falou-me assim:
— “Real como no Céu
está aqui o Senhor que ama, o Senhor que pede, o Senhor que quer dar-Se, o
Senhor que é o Mendigo do amor. Estou aqui. E ao que venho Eu? Pedir, sempre
pedir. Estou aqui. E o que venho dizer? Cuidado! Cuidado! Convertei-vos! Evitai
o pecado; vinde ao Vosso Deus! Minha filha, minha filha, Jesus está no teu
coração, no templo da tua igreja, no sacrário, nesta celeste mansão. O teu
coração, minha filha, é o sacrário vivo, é o sacrário permanente da habitação de
Jesus. É deste sacrário, desta mansão celeste, onde eu habito, que Eu peço, peço
com todo o amor do Meu Divino coração: ama-me, ama-me, minha filha! Sofre por
Mim. Faz que Eu seja amado: nunca ofendido! Faz que muitas almas reparem este
Divino Coração tão ultrajado. O Meu Eterno Pai, o Meu Eterno Pai está ofendido,
deveras irritado contra a terra, contra o mundo culpado. Depressa, depressa,
muitas almas a prostrarem-se diante do sacrário. Depressa, depressa, depressa,
muitos corações a consolar, a reparar o Senhor no sacrário. Minha filha, minha
querida filha, ai, quantos crimes, quantos sacrilégios cometidos no sacrário
contra o Senhor, contra o Rei do sacrário. Venham almas, almas, muitas almas!
Jesus o pede. Venham aos bandos, por Maria, reparar o Senhor do sacrário. Minha
filha, minha filha, minha esposa querida, vítima predilecta deste Calvário,
nenhuma prece Me pode ser mais agradável do que aquela que vem dos lábios da
Minha Bendita Mãe. Venham as almas, venham as almas a Jesus por Maria. Por Maria
reparar, por Maria receberem graças.”
— Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, Vós estais tão triste! A Vossa tristeza entristece-me também. Sinto,
sinto uma tristeza de morte. Que eu sofra e esteja triste, está certo, Jesus;
mas ver-Vos eu triste, não posso concordar, não, não, meu Jesus. Dizei-me,
dizei-me o que posso fazer eu por Vós?
— “Minha filha,
minha filha, dá-me a tua dor, deixa que o teu coração sangre sempre, deixa que a
tua alma chore dia e noite. A onda dos vícios, dos crimes hediondos, exige esta
reparação. Sofre com alegria a heroicidade. Só assim Jesus está alegre e
consolado. Eu mostrei-Me triste e sofredor, para que toda a minha tristeza e dor
ficassem no teu coração.”
— Jesus, Jesus, que
escuridão, que negra escuridão! Que peso, que peso insuportável arranca-me de
dentro do peito a alma e o coração! Esmagam-me, esmagam-me.
— “São os pecados,
os vícios, os vícios cometidos contra o teu Senhor, contra o Pai da humanidade.
Esta noite é a noite das almas em pecado. São as trevas infernais. Arranca-as,
arranca-as a Satanás, condu-las pelos teus sofrimentos a Jesus, ao teu Esposo.
Vem receber a gota do Meu Divino Sangue. Uni, minha filha, ao teu o Meu coração.
Uni à tua a Minha sagrada face. É uma prova do Meu infinito amor. A gotinha do
Sangue passou. Novo sangue corre nas tuas veias, nova vida, novo amor do teu
Jesus.”
— Obrigada, meu
Jesus. As trevas desapareceram. Brilha a Vossa luz, queima-me o Vosso amor. Já
posso respirar. O peso é mais suave.
— “Enche-te, minha
filha, fortalece-te para o novo peso da cruz. Enche-te, fortalece-te, esposa
minha, para o teu doloroso e difícil calvário. Coragem! Coragem! Vai em paz!
Brada, brada, brada, para que o teu brado, pelo Papa, ecoe no mundo: oração,
penitência, vida nova, vida pura! Jesus o pede!”
— Obrigada, meu
Jesus. Não Vos separeis de mim e atendei, atendei às minhas intenções. Estão
todas no meu coração. Atendei-me! Confio em Vós!
— “Vai em paz,
minha filha. Confia, confia sempre!”
— Obrigada, Jesus.
Obrigada, meu Amor!
7 de Fevereiro – Primeiro Sábado
Passei a noite numa
agonia de alma. O corpo parecia desfazer-se pelo sofrimento. A alma agonizava
com ele. Unia-me a Jesus, fazia-Lhe pedidos, entregava-me a Ele. Ansiava
recebê-Lo, mas atormentava-me o pensamento do primeiro sábado. Queria
libertar-me dos seus colóquios. É sem dúvida o receio de me enganar que me leva
a tudo isto. Estava numa tristeza mortal! Veio Jesus e a sua entrada no meu
coração transformou-me por completo. Todo o meu ser se mergulhou n’Ele. A minha
vida era toda d’Ele. Fez-me grande, grande como Ele. Iluminou-me com a Sua luz,
abrasou-me em Seu amor e disse-me:
“O Céu na terra, o
Céu na terra, neste quartinho, neste calvário. Minha filha, minha filha, faço do
teu coração o Meu paraíso. Desci do Céu ao Meu céu na terra. Aqui habito, aqui
habito, aqui tenho a minha morada permanente. Venho, venho encorajar-te, venho
fortalecer-te, venho desabafar contigo as minhas mágoas. O mundo tão cruel não
deixa de ultrajar-Me. Os pecadores abismados nos seus crimes não deixam de
alancear e apunhalar o Meu coração. Ai do mundo, ai das nações se não vêem o mal
que se avizinha, que se aproxima. A mão vingadora do Meu Eterno Pai vai caindo
sobre a terra. O que será, o que será, se o mundo não se converte, se os
pecadores não arrepiam caminho?! Minha filha, minha filha, minha querida
filha, pomba bela, florinha dos meus sacrários, sofre pelos pecadores, salva os
pecadores. Sofre pelos sacerdotes, repara pelos sacerdotes. Ai, como eles me
ofendem! Que horrorosos, que horrorosos são os seus crimes! Repara, repara,
filha minha, põe aqueles que me juraram fidelidade. Ai deles, si deles! Quantos
estão prestes a cair no inferno, se não houver quem por eles se imole e
sacrifique!”
Ó Jesus, estou
pronta a sofrer. Sacrificai-me, imolai-me. Não quero que sejais ofendido e quero
que eles se salvem. Diz, minha filha, ao teu paizinho, que Jesus no Seu amor
infinito lhe pede almas, muitas almas reparadoras. E ele como mestre e guia das
almas as encaminhe, as leve ao cimo do calvário. Diz-lhe, diz-lhe que é o Meu
amor, o Meu amor, a Minha loucura de amor que lhe pede a sua imolação. Pedi-lha
e continuo a pedir-lha. Que se imole ele e faça que elas se imolem. Diz-lhe que
o Meu Divino Coração não tem outra coisa para ele senão ternura, amor, ternura,
amor. Sou todo dele. Diz que não tenho outra coisa para ele a não ser dar-me,
dar-me inteiramente a ele. É árdua, é espinhosa a sua missão. Foi o meu amor
infinito que me levou a isso. Diz-lhe que ele me foi fidelíssimo. Tudo me deu,
tudo me dará sempre. Eu não falto ao que prometi. Tudo passa, menos as minhas
palavras, as minhas promessas. Dá-lhe amor, amor sem fim. Diz, diz ao teu médico
que o Céu se abre em abundantes graças, que o Meu Divino Coração faz chover
sobre ele e o seu jardim florido chuva de bênçãos, chuva de amor, chuva que não
cessa de cair. Diz-lhe que conte coMigo e que de Mim espere toda a protecção,
todo o auxílio para todas as coisas. Diz-lhe que para ele desempenhar tão alta
missão tem de ser selado com o selo do sofrimento. Diz-lhe que o Céu é dele e de
todos os que lhe pertencem. Dá-lhe a ternura do Meu Divino Coração com o Meu
amor infinito. Diz-lhe que Jesus lhe pede: mãos à obra, mãos à obra, mãos à
obra. - Minha Bendita Mãe, Minha Bendita Mãe, vem, vem já. A nossa filhinha
necessita do Meu e Teu conforto”.
Mãezinha, Mãezinha
de Lurdes, és toda bela, és toda bela, minha querida Mãezinha. Faz-me pura,
pura. Assemelha-me a Ti, Mãezinha. Minha Mãezinha, como estou bem no Teu
amantíssimo Coração. O Vosso carinho, o Vosso conforto encheu-me tanto, tanto o
coração! Não cabe dentro do peito. Eu não sou digna de Vos beijar, mas sois Vós
digna, Mãezinha, que eu corresponda ao Vosso amor.
— “Minha filha,
minha querida filha, agora forte dos mimos celestes, vai para a tua cruz, vai
reparar o Coração divino de Jesus e o Meu. Vai fazer que sejamos amados. Fica na
tua cruz, para dares a Jesus tudo quanto Ele te pedir. Os Seus pedidos são os
Meus. O Seu amor é o Meu amor. Vai, filhinha minha, vai dizer ao mundo que a Mãe
de Jesus pede para que não ofenda, contriste mais o seu Jesus. Vai, filhinha,
vai dizer ao mundo que a Mãe de Jesus desceu do Céu à terra, falou pelos teus
lábios e pediu que amem a Jesus, que não ofendam a Jesus. Que se convertam, que
se convertam, que façam oração e penitência. Recebe novas carícias, nova efusão
de amor.”
— “Minha filha,
minha querida filha, sou Eu e a Minha Bendita Mãe a acariciar-te, a encher-te do
amor infinito dos Nossos amantíssimos Corações. Vai, dá tudo o que recebeste aos
que amas, aos que te rodeiam e te pertencem. Felizes, felizes de quantos se
aproximam de ti. Quanto mais de ti se aproximarem, mais graças, mais vida divina
recebem. Vai em paz! Fica na tua cruz! Coragem na tua cruz! Coragem no teu
calvário!”
— Não Vos deixo,
não Vos largo dos meus braços, Jesus, Mãezinha, sem Vos pedir: atendei às minhas
preces. Atendei às minhas preces. Atendei, atendei, Jesus. Atendei, Mãezinha.
Perdoai, perdoai ao mundo inteiro!...
13 de Fevereiro – Sexta-feira
Vou dizer pouco,
muito pouco, porque não posso. Mas quero tornar doce o meu Calvário por meio da
obediência. Eu queria refugiar-me, viver só para Jesus, unida a Ele; fugir do
convívio das pessoas, de tudo quanto é do mundo, e nada dizer, apesar da
necessidade imensa, ou até infinita de dizer o muito que me vai na alma. Não
posso ter querer, quero o que quer o meu Senhor, submeto-me em tudo à Sua divina
vontade. É por isso que o amargo é doce e eu obedeço, à custa de todo o
sacrifício, à voz de quem manda. A minha ignorância não me permite exprimir-me;
a inutilidade presta-se a roubar-me para ela tudo. Mas o coração e a alma, a
transbordar de dor e agonia, deixam que os lábios vão balbuciando alguma coisa
daquilo que lhes sobra. Dor, dor, ó meu Deus, tanta dor e agonia. Se não fosse
Jesus a viver na minha morte e a sofrer no meu calvário, o que seria de mim? A
minha vida era um contínuo desespero. As quatro paredes do meu quartinho são as
testemunhas dos meus desabafos. Ouvem o que eu digo a Jesus: nasci para a dor,
nasci para a prisão no meu leito; todos me deixaram, sinto que o abandono é de
toda a criatura humana. Não me deixeis, não me abandoneis, Vós, meu Jesus;
valei-me, querida Mãezinha. A tempestade furiosa, as ondas agitadíssimas do mar
não cessam, eu desfaço-me toda em podridão. Tenho que me ver a mim mesma e
causa-me horror ver-me assim. Que mundo de vícios, de crimes e veneno eu sou.
Ai, que pavor, ai, que pavor! A justiça do Senhor esmaga-me, aniquila-me. E todo
o inferno está revoltado contra mim. Não posso virar-me para parte alguma; estou
sem socorro do Céu e da terra. Parece que só tenho presente a maldade e que são
os demónios a ensinarem-me, a mostrarem-me em formas horrorosas como são
praticados os crimes. Meu Deus, ó meu Deus! Já diviso ao longe, muito ao longe,
aquela morte que vem sobre a morte de cada momento que sempre sinto. Assim de
longe ela já me fere o coração com punhais e lanças que com ela traz. Que dor,
que dor infinita! Ontem durante a tarde, sentia que o meu corpo era a humanidade
inteira apodrecida. E a mesma humanidade pesava sobre mim a esmagar-me, a
reduzir-me ao nada. Já de noite, com estes sentimentos, fiquei prostrada com o
rosto em terra no Jardim das Oliveiras. O Céu desceu sobre o mundo do meu corpo;
esmagou-me tanto, levou-me aos abismos. Pareceu-me que as entranhas se
espalharam no solo duro e as veias rasgadas regaram de sangue a terra sob o peso
da justiça infinita do Pai. Que agonia mortal! Hoje recordei o Calvário,
recordei-o e não o conhecia; recordei-o e não me utilizei dele, caminhei sempre
fugitiva, pareceu-me ter levado a vida num desespero e revolta. Sem saber quem
me conduziu, cheguei ao cimo da montanha e ali todo o meu corpo se revestiu do
de Jesus e ficou a sentir todas as chagas e feridas que tinha o Sem santíssimo
Corpo. O coração bradava e a alma, numa verdadeira agonia, queria desprender-se,
soltar-se e voar para o Pai. Lágrimas de sangue saíram dos olhos de Jesus,
vieram cair no meu coração que em união o d’Ele sentia as mesmas afrontas e a
mesma dor infinita. Ânsias infinitas de me unir ao Pai e de reconciliar o Céu
com a terra, dando a esta o mesmo Céu, levaram-me a expirar na mais dolorosa
agonia. Pouco tempo depois desta separação da alma do corpo, veio Jesus, deu-me
de novo a vida e, com voz triste e dolorida, falou-me assim:
— “Está aqui Jesus,
está aqui o Amor. Está aqui Jesus, está aqui o Céu, está aqui o Mendigo. Está
aqui Jesus com todo o poder, com toda a glória. O Mendigo vem pedir, pedir,
pedir. Quem pede é Jesus. Quem dá é Jesus. Peço amor, peço amor, peço amor. Eu
quero receber e prometo dar. Peço amor e dou amor. Peço penitência, peço oração,
peço emenda de vida. Dou as minhas graças, dou as minhas riquezas, dou o meu
perdão com todo o meu amor. Vinde a Mim, vinde a Mim! Ah! Se vós ouvísseis a voz
e o chamamento do Senhor!... Minha filha, minha filha, se o mundo, se os
pecadores não resistissem tanto à voz e aos pedidos do seu Deus. Onde está o Pai
que ama como Jesus? Que Pai podeis apresentar que perdoe como Jesus? Como Eu não
posso ser igualado a nenhum outro pai, sofro como nenhum pai da terra sofre.
Sofro, sofro e sangra o meu Divino Coração.”
Que enxurradas de
sangue, meu Jesus. Que mar de sangue eu vejo no Vosso Divino Coração. Essas
enxurradas vêm de encontro ao meu pobre coração. Estou toda, toda a nadar neste
mar infinito de sangue. Lanço-me ao Vosso santíssimo pescoço. Agarro-me a Vós,
Jesus, agarro-me a Vós, Jesus. Se o não faço, vou ao fundo. Afogo-me neste
sangue divino. Que dor, que dor que me mata! Tira-me a vida. Sinto-me a fugir.
Morro, morro, Jesus. Eu não posso ver-Vos assim a sangrar. Eu não posso sentir
desta forma a Vossa dor. Quero acariciar-Vos, Jesus. Quero acariciar-Vos, Jesus.
O Vosso santíssimo rosto está sobre o meu peito. Não sou digna, bem o sei, mas
quero acariciar-Vos com a Vossa ternura, com o Vosso amor. Sei que, só com o que
é Vosso, a chaga do Vosso Divino Coração cicatriza. Jesus, Jesus, é o Vosso
divino amor que eu Vos dou. É o amor do Pai e do Espírito Santo e o da querida
Mãezinha, o amor de todos os bem-aventurados do Céu que eu Vos ofereço. Aceitai
por mim, por todos, todos os que me são queridos, aceitai-o pelos pecadores,
aceitai-o pela humanidade inteira. Não sofrais mais, meu Jesus, e à vista deste
amor esquecei os crimes de toda a humanidade. Já sois outro, meu Jesus. Todo Vós
sois luz, e foi a Vossa luz que iluminou a minha alma, e o Vosso fogo de amor
que aqueceu e abrasou o meu coração.
— “Minha filha,
minha filha, vítima reparadora, vítima de amor, florinha eucarística, os teus
desejos, as tuas ânsias sararam as minhas chagas. Fizeram sangrar o sangue que
derramava o meu Coração divino, o meu Coração de Pai. Os teus desejos, as tuas
ânsias levam-me mais e mais à compaixão pelos pecadores, pela pobre humanidade.
Sofre, sofre, minha filha, minha pomba bela. Sofre, sofre; acode às almas, acode
às almas. Sofre, sofre. Sustenta o braço da justiça de meu Pai. Repara, repara o
meu Eterno Pai.
A Sua justiça, a
Sua justiça quer continuar a punir o mundo culpado. Acode às almas. Acode às
almas, não deixes que elas se percam. A tua missão árdua, a tua missão, a mais
espinhosa, leva-te ao mais doloroso martírio, à mais tremenda crucifixão. Se
pudesses ver a glória que te espera!... Se pudesse ver e ouvir o triunfo da tua
entrada no Céu!... Não morrias de dor, morrias, morrias de amor!...”
— Morrer de dor ou
morrer de amor, Jesus, não me importa. O que eu quero é morrer conforme a Vossa
divina vontade.
— “Vem receber a
gota do meu Divino Sangue. Desceram os anjos, desceram os anjos, vieram unir o
tubo doirado ao teu e ao meu Divino Coração. Pelo mesmo tubo passou a gotinha de
sangue, o alimento prodigioso que te faz viver, a vida divina que te faz ser
forte e heroína no teu calvário. Desligaram o tubo os anjos e voaram para o Céu.
Ficaram os nossos corações num só coração. Confia, confia, minha filha, confia,
louquinha da Eucaristia. Eu vou e fico contigo. A tua vida é a vida de Cristo
crucificado. O teu corpo é outro corpo de Cristo chagado, despedaçado, todo em
sangue. Coragem, coragem, minha filha; fica na tua cruz. É cruz de triunfo, é
cruz de salvação. Pede ao mundo que se apresse a deixar o pecado, a deixar o
pecado e ir junto do seu Deus. Pede, pede emenda de vida, oração, penitência.
Sofre, minha filha, acode às almas, acode às almas. Não as deixes cair no
inferno eternamente.”
— Jesus, sou a
Vossa vítima, sou a Vossa vítima. Jesus, estou pronta para tudo. Não me deixeis
ofender-Vos, não me deixeis sozinha. Dou-Vos o meu coração para Vos servir e
amar, repara o Vosso Divino coração. Dou-Vo-lo com todas as minhas intenções.
Vede-as e despachai tudo em meu favor.
— “Confia, minha
filha, e vai em paz. Enche-te, mais uma vez, do meu amor. Enche-te e incendeia o
mundo.”
— Obrigada, Jesus.
Obrigada, meu Amor. O meu eterno obrigada!
20 de Fevereiro – Sexta-feira
Que pavor, que
pavor a minha vida, a minha vida que é uma noite tenebrosa, a minha vida que é
uma morte contínua. As nuvens rasgam-se, o Céu com toda Sua justiça divina cai
sobre mim e descarrega todo o Seu peso. A foice do Senhor ceifa-me mortalmente.
A terra abre-se com todo o inferno para me engolir. Não posso bradar, porque a
prensa do sofrimento moeu-me, transformou-me em farinha que os ventos furiosos
espalharam e fizeram desaparecer como fumo. Não posso bradar; o meu brado
moribundo não chega até ao Senhor. Só d’Ele me poderia vir o auxílio, se eu
soubesse, se eu pudesse pedir e tivesse vida para invocar o Seu santo nome. O
que eu sou, o que eu sofro não o sabe dizer a minha ignorância. O mérito do meu
sofrimento roubou-mo a inutilidade. Nada ambiciono para mim, mas sim para
oferecer a Jesus. Tanto queria consolá-Lo, dando-Lhe todas as almas. Tanto
queria consolá-Lo, evitando todo o pecado! Tanto queria amá-Lo e fazer que nem
um só coração da humanidade inteira deixasse de O amar. Pobre de mim, pobre de
mim! Não passo além dos desejos, tudo se reduz ao nada. As minhas ânsias, a
minha fome são infinitas; são tão grandes, tão grandes, só a humanidade inteira
as satisfaria. Mas como, meu Deus?! A humanidade sou eu, a humanidade perdida!
Valei-me, ó Jesus, valei-me, ó Mãezinha. Na terra não há luz nem vida, na terra
não há conforto, tudo perdi. Sinto que todos me deixaram e que não há um fôlego
vivo em meu favor. Sobre a minha morte vem a outra morte, que só a visão dela me
despedaça o coração e a alma. Ela vem sobre mim com todo o ódio e rancor. Ontem,
tive a minha alma sempre apavorada, sempre em agonia com a aproximação do Horto.
Eu fugia-lhe, mas a agonia não cessava. Ia já alta a noite, e eu prostrada sobre
aquele solo duro era tão grande como Deus e como Deus amava. Principiei a
misturar-me com a terra, fiquei toda manchada, abandonada pelo Eterno Pai e sob
o peso da Sua justiça tive a visão do Calvário. Chegou ao extremo a agonia.
Senti um fortíssimo suor de sangue. Todos os cabelos nele se ensoparam; por eles
caíam repetidas gotas que me banhavam o corpo e regavam a terra. Talvez uma hora
depois deste sofrimento sobreveio-me outro não menos doloroso. Fui vítima dos
maiores crimes, dos maiores vícios. Eu tinha uma fome imensa das paixões.
Parecia-me que não havia maldade que eu não soubesse nem praticasse. Nesta fome
insaciável, entreguei-me a todo o vício. Horror, horror, pavoroso horror. O que
eu vi, o que me pareceu fazer! era toda pecado, podridão e miséria. A minha
maldade era grande, grande como o mundo. Foi tremenda a luta. Chamei por Jesus e
pela Mãezinha, pedi-Lhes que viessem em meu auxílio, que eu era a Sua vítima.
Parecia-me que não era do coração o meu chamamento. Quando eu assim lutava e
sofria, ouvi a voz de Jesus, mas uma voz muito dorida que dizia: Ai, ai, ai! Vi
que Ele passava ao meu lado espavorido. O Seu santíssimo Coração eram
fontanários de sangue que se espalhavam ao longe como chafarizes. Por entre o
sangue saíam raios de fogo penetradores; chegaram até mim. Com esta passagem, a
luta cessou; uma grande paz me inundou a alma: já não era a mesma. Senti e
compreendi que não era nada do que até ali sentia e compreendia. Estes
sentimentos e tranquilidade foram pouco duradouros. Tremendas dúvidas me levaram
ao abismo de dúvidas e receios. Aqueles sentimentos foram depois de eu me ter
saciado de prazeres e de vícios. Ai, meu Deus, quanto eu sofri! Temia comungar;
mas, como não tive nenhuma luz, nenhum guia, à hora da visita do meu Jesus,
recebi-O em meu coração, tímida, muito tímida. E assim segui para o Calvário, a
sentir no coração os gemidos e ais doridos da Sua passagem por mim durante a
noite, quando Ele fugia dos maus-tratos e me pareceu ser eu a dar-Lhos com os
meus crimes. Fui seguindo a montanha com o coração a sangrar de dor. A cada
passo parecia-me agonizar. No cimo do Calvário fui crucificada com Jesus. O
sangue corria das Suas chagas e das minhas, porque estávamos num corpo só:
regava a cruz, regava a terra. O nosso brado atravessava as nuvens, chegava ao
Céu. Mas este, fechado, fazia que o brado recuasse e de lá nenhum conforto
viesse. A agonia aumentava, a morte avizinhava-se. Jesus fitava os olhos no Céu
e ao mundo abria o Seu divino Coração. Entregou ao Pai o Seu espírito e eu com
Ele. Por um pouco de tempo houve o silêncio da morte que reinou em todo o
Calvário. Veio Jesus com a Sua vida, fez-me viver e falou-me assim:
— “Está
tristíssimo, tristíssimo, tristíssimo o meu Divino Coração. Os pecadores, os
pescadores obstinados em seu pecado renovam a minha sagrada paixão e morte,
desafiam a justiça do Senhor. Estou triste, triste, tristíssimo. Peço, peço às
almas vítimas. Peço, peço sobretudo neste calvário a esta vítima continuamente
imolada, para que peça ao mundo, aos pecadores, aos filhos meus, que se
convertam, que arrepiem caminho, que venham todos, todos, ao meu divino Coração.
Não sou ouvido, não atendem aos meus pedidos. Pecam dia e noite. Crucificam-me a
cada momento. Eu falo pelos lábios da minha vítima. É de dentro do seu coração,
do meu tabernáculo, do meu sacrário permanente que Eu peço, que Eu suplico: haja
emenda de vida! Faça-se oração, faça-se penitência! Vinde a Mim, vinde a Mim,
filhos meus. Vinde a Mim, vinde a Mim, filhinhos do meu sangue divino.
Filhinhos, filhinhos, palavra terna, filhinhos, filhinhos, palavra amorosa saída
do Coração de Deus, pelos lábios da grande vítima deste Calvário, da maior
vítima que Jesus escolheu na terra para ser imolada neste século com os maiores
vícios, os maiores crimes na maior inundação de iniquidades. Estou triste,
tristíssimo. Estou triste e choro, minha filha, minha querida filha, pomba
branca que esvoaças sobre os meus sacrários, flor perfumada que os adornas com a
variedade das tuas virtudes.”
— Ó meu Jesus,
quero alegrar-Vos, quero consolar-Vos. Não quero que choreis. Dou-Vos o meu
pobre coração com o meu frio amor. Dou-Vos todo o meu corpo para toda a
imolação. Seja tudo isto, que não é nada, o estanque das Vossa lágrimas.
Consolar-Vos, Jesus, consolar-Vos, Jesus, com todas as almas vítimas que Vos
amam mais do que eu Vos amo e sabem sofrer melhor do que eu sofro. Consolai-Vos
com os meus desejos que tenho de Vos amar e evitar todo o pecado. Consolai-Vos
com as minhas ânsias consumidoras de reparar todas as ofensas feitas ao Vosso
Divino Coração, cometidas contra a majestade divina. Não choreis, não choreis,
Jesus. Eu sou a Vossa vítima. De boa vontade eu sofria até ao fim dos séculos
para Vós não sofrerdes nem um só momento e para Vos salvar as almas.
— “Ó louquinha de
Jesus, faço tudo isto para que seja bem compreendido e esclarecido o teu amor
heróico, o teu amor louquinho a Jesus e às almas. Tu és luz, tu és farol de toda
a humanidade. Tu és o porta-voz de Jesus. Tu és a cópia fiel de Cristo
crucificado. Já não choro. Foste tu, esposa querida, que estancaste as minhas
lágrimas. Sofre, sofre com fortaleza, com alegria. Repara-me por todos os
crimes. Dá-me a reparação que te exijo, quantas vezes te exigir. Exijo-a de ti,
porque o mundo de Mim a exige. Exijo-a de ti para a salvação das almas da pobre
humanidade. Muitas, muitas são ingratas para contigo, mas tem coragem! Muitas
mais são-no para comigo! Vem receber a gota do meu Divino sangue. Ó alimento
celeste, ó alimento divino, ó sangue que gerou e gera as virgens, ó prodígio, ó
prodígio do senhor!... Levou-te vida, minha filha, levou-te conforto, levou-te
amor esta gotinha de sangue. Tudo quanto de mim recebes faz que reverta em favor
do mundo, em favor de todos quantos de ti se aproximem. Fica na tua cruz, nesta
cruz dolorosa. Fica neste calvário, neste calvário de salvação para as almas.
Tem coragem! Tem coragem! Jesus é contigo. O Céu que te espera para bem breve
assiste-te. Confia, confia!”
— Ó Jesus, ó Jesus,
estou a nadar no Vosso amor, mas já vejo o mar da minha dor. Lanço-me a ele por
Vosso amor. Antes da Vossa ausência, ouvi-me mais uma vez. Atendei às minhas
preces, atendei aos meus rogos. Vede o que anseia o meu coração. Perdoai e
compadecei-Vos do mundo inteiro.
— “Vai em paz. Fica
na tua paz, minha filha. Coragem e confia!”
— Obrigada,
obrigada, Jesus!
27 de Fevereiro de
1953 – Sexta-feira
Não posso falar,
não posso mesmo, não posso, tal é o tormento que sinto no meu corpo. Não posso
falar e sinto a necessidade de nem um só momento deixar de dizer a Jesus que O
amo. Mas queria poder fazer que todos os lábios humanos repetissem a mesma
coisa, com a mesma ansiedade e ardores do coração. A mar a Jesus, fazê-Lo amado
e evitar o pecado. Ó meu Deus, ó meu Deus, aceitai estas ânsias que me consomem
e me matam. São ânsias que formam um livro que só o Céu sabe ler, que nunca terá
fim. Aceitai, Jesus, o que eu queria dizer, aceitai tudo o que está no meu
coração. Eu não sei e não posso dizer mais. O meu horto de ontem, o meu calvário
de hoje foram duma agonia indizível, infinita. Para mim, de uma agonia cega,
muda e morta, agonia pavorosa, que só a força do céu podia vencer. Todo o meu
ser misturado com a terra foi retalhado, cruelmente alanceado. Tudo se
transformou numa massa de sangue. Era uma bola que todas as mãos humanas jogavam
e a prensa da dor esmagava-a, reduzia-a a nada. Agonia que só o Céu via e
compreendia. Hoje a viagem para o Calvário foi o mesmo doloroso martírio. Foi um
ser humano que sofreu, uma vida divina que venceu. Em toda a viagem dolorosa
perdi quase todo o meu sangue. O amor levou-me à cruz. E nessas horas de agonia
foi a mesma vida divina que venceu no meu corpo chagado, cadavérico. O amor
unido à graça e à vida divina triunfou na dor, triunfou na morte.
Jesus expirou e eu
senti como se o meu espírito se separasse também. Reinou o silêncio mortal. Veio
Jesus ressuscitado. A Sua vida fez-me ressuscitar também a mim, e logo a Sua
divina voz me fez ouvir assim:
— “Estou frio,
estou gelado. Caiu sobre mim o gelo dos corações tíbios. Caíram sobre mim as
ondas das paixões e dos vícios. Que revolta, que revolta contra o Céu. A maldade
contra Deus. Os filhos contra o Seu Pai. É necessário, é urgente pôr termo às
tempestades dos vícios. Pobre mundo! Pobre mundo! Não ouve a voz do seu Deus.
Não atende aos pedidos de Jesus.”
— Ó Jesus, que
noite tão pavorosa! Que ondas infinitas caem sobre mim e me precipitam nos
abismos. Temo, tremo e morro de pavor. Ó Jesus, ó Jesus, vinde em meu auxílio!
— “Coragem,
coragem, minha filha. Sofres, porque és vítima, mas o Senhor está contigo. Jesus
guia a tua nau na tremenda tempestade. O que é o mundo, o que é o mundo nos
crimes e vícios hediondos! Como está o mundo, e pobre do mundo! Minha filha,
minha filha, ó flor mimosa! Minha filha, minha filha, ó florinha eucarística, o
Senhor convida-te a mais e mais dor. O teu Jesus, o teu Esposo pede-te mais e
mais cruz. A tua dor, a tua dor, minha filha!... Como é valiosa a tua dor!
Acode, acode às almas. Só a dor, só a dor, só o calvário e a cruz as podem
salvar. Minha filha, minha pomba bela, entrega-te, entrega-te sempre mais e mais
ao teu Jesus para a imolação, para o sacrifício.”
— Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, vou para os Vossos divinos braços como a avezinha para o ninho. Vou e
a Vós me entrego, a Vós me abandono, como sempre, pelas mãos, pelos lábios, pelo
coração da Mãezinha. Abandono-me, sim, Jesus, para a dor. Entrego-me a todo o
martírio. Abandono-me à Vossa divina vontade. Ó Jesus, Vós não sois já aquele
pobrezinho que eu vi no princípio. Já Vos vejo todo amor, todo luz. Todo o meu
ser é fogo. O meu coração sorri para Vós e Vós, meu Jesus, sorris-Vos para mim.
Como é terno e doce o Vosso sorriso! Sinto necessidade e repousar em Vós.
— “Vem, vem, pomba
bela, esposa querida. Inclina-te sobre o meu Divino Coração. Descansa, descansa
aqui. Alerta, alerta, minha filha, tens nova força para novos sofrimentos.”
— Sim, Jesus, já
estou mais forte. Já vejo, já vejo de novo a noite tormentosa, a noite cheia de
agonia, os espinhos que vêm ferir-me. Bem vindo, bem vindo seja tudo o que Vos
apraz.
— “Vem, guia das
almas, vem farol do mundo, vem receber a gota do meu Divino Sangue. Uniram-se os
dois corações: o divino ao humano. E a gotinha de sangue passou, e uma grande
efusão de amor. Passou a vida divina, passou o amor que é força na dor. Vive de
Mim, minha filha, e faz que as almas vivam a mesma vida. Vive de Mim e espalha
pela humanidade o Meu amor. As almas!... As almas! Felizes das que mais de ti se
aproximam! Quem mais se aproximar de ti, mais graça e amor recebe. Coragem,
coragem, para salvares as almas. Toda a humanidade aproveita do teu calvário.
Coragem, minha filha. Criei-te para a missão mais sublime e mais difícil de
desempenhar. Coragem, coragem, e fica na tua cruz. Vêm os anjos apertarem-te
mais e mais os cravos. Sofre, sofre neste tempo quaresmal. Que chuva, que chuva
de sacrilégios!... Repara, repara o teu Jesus! Repara, aplaca a justiça do meu
Pai. Repete, repete muitas vezes: oração, penitência, penitência, emenda de
vida, emenda de vida, emenda de vida. São palavras de Jesus.”
— Obrigada, Jesus.
Trabalham bem os Vossos anjos. Estou bem presa, bem presa à cruz. Lembro-Vos as
minas intenções, tão grandes, tão grandes, Jesus. Lembro-Vos os que me são
queridos, os que pedem as minhas orações e a humanidade inteira.
— “Vai em paz,
minha filha! Vai em paz! Coragem, minha filha, e confiança!”
— Obrigada, meu
Jesus! Obrigada, meu doce Amor!
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