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Alexandrina Maria da Costa

SENTIMENTOS DA ALMA

feverEIRO 1953

6 de Fevereiro – Sexta-feira

Não vivo, sinto que não vivo. E, apesar destes sentimentos, sinto uma fome e uma sede que me mata. Tenho fome e sede de Jesus. Vou à procura d’Ele, parece que chego a tocar o Céu, mas sem o encontrar. Nuvens negras desfazem-se em pedaços, e eu desfaço-me com elas e com elas caio ao lodo imundo da terra até me infundir e desaparecer. Tenho fome e sede infinita, fome e sede insuportável. Quero dar-me, dar-me a todos os corações, a todas as almas; quero dar-me de tal forma que aqueles corações sejam o meu coração e as almas a minha alma. Quero viver neles, quero possuí-los, quero que sejam uma só vida, a minha vida. Falai, anjos e santos do Céu, falai por mim, dizei vós a dor infinita que penetra todo o meu ser; dizei a infinidade desta fome e desta sede, porque eu não sei falar de tal grandeza, de tais sentimentos; a minha ignorância leva-me a tudo isto. Se eu ansiasse e amasse, se eu me desse e possuísse, se eu visse na minha cegueira, se eu visse na minha morte, se eu fosse útil no meu Calvário! Mas nada, meu Deus, nada sou e nada há de aproveitável em mim! Quem ama sois vós, todos os meus sentimentos são Vossos, quem vive sois Vós. Eu sou morte, cegueira e inutilidade. Eu sou um mundo, um mundo insuportável de vícios. Eu sou um mar imenso de ondas venenosas, eu sou o desespero, a condenação, eu sou um inferno mundial. As lágrimas do Coração do meu Jesus caem sobre o meu coração, sinto-me cair, sinto o meu soluçar, sinto os punhais e espadas que o atravessam, sinto a Sua dor infinita, dor que ultrapassa toda a dor terrestre, mas estou a tudo indiferente, nada há que me mova ao arrependimento e ao amor e compaixão pelo meu Jesus. Celebrou-se a Santa Missa no meu quartinho. Todo o meu ser foi um cadáver a assistir a ela. Imolei-me com Jesus por intermédio da Mãezinha; por Ela levei junto d’Ele as minhas preces, a Ela pedi que pedisse e merecesse por mim e com os Seus sentimentos acompanhasse a Jesus e assistisse ao Santo Sacrifício. A inutilidade rouba-me os desejos, não os deixa chegar aos ouvidos de quem os dirigi. Pobre de mim! Momentos dolorosos, horas de pavor os da minha vida. Sempre a lutar, a lutar na minha vida tremenda e duvidosa, mas sem deixar de repetir: amo-Vos, Jesus, espero e confio em Vós, por Vós tudo aceito, ó meu Amor: sou a Vossa vítima.

Toda a minha vida fugi do Horto, e me atemorizou o Calvário. Sempre fugitiva e indiferente, sempre apavorada quando os sentimentos ou o pensamento me levavam àquele solo duro, ao Jardim das Oliveiras. Lá fiquei prostrada ontem por noite. Indizível agonia! As veias rasgaram-se e o sangue, que delas rompeu, fervia como a panela sobre o lume. O coração estava aberto de cima a baixo e gotejava sangue por entre grandes labaredas de fogo. Ah! Se eu pudesse, mas não é possível; fazer conhecer e compreender este amor! Era de Jesus o amor de que falo. Ele ansiava infinitamente dar-nos a última prova. Ansiava o Calvário para dar a vida. Só assim o nosso abraço era eterno. Hoje, levada por alguém, não foi por mim, caminhei para o Calvário. Vinham ao meu encontro ondas de ódio e de crimes, as mais agitadas, de nojenta podridão. A vencer essas ondas saíam de Jesus outras, mas eram ondas de amor, de convite e de perdão. Eu fugi, fugi sempre delas. Sem saber como, encontrei-me no cimo do Calvário junto de Jesus. A Sua voz dorida feriu os meus ouvidos. Era voz de convite. No alto da Cruz, nela atravessado por grossos cravos, mostrava-me o Seu Divino Coração, chamava-me: “Vem a mim. Amo-te tanto. Vê quanto sofri e sofro por ti!” Ai, não posso dizer! Eu queria então chorar lágrimas de sangue e ficar para sempre crucificada e unida a Jesus. Então já com Ele, sofria igual dor, amava igual amor e bradava ao Pai o mesmo brado de agonia. Foi num brado de amor que entreguei ao Pai o meu espírito. Houve silêncio da morte em bom espaço de tempo. A seguir, veio Jesus, triste, mas com amor. Fez-me viver e falou-me assim:

— “Real como no Céu está aqui o Senhor que ama, o Senhor que pede, o Senhor que quer dar-Se, o Senhor que é o Mendigo do amor. Estou aqui. E ao que venho Eu? Pedir, sempre pedir. Estou aqui. E o que venho dizer? Cuidado! Cuidado! Convertei-vos! Evitai o pecado; vinde ao Vosso Deus! Minha filha, minha filha, Jesus está no teu coração, no templo da tua igreja, no sacrário, nesta celeste mansão. O teu coração, minha filha, é o sacrário vivo, é o sacrário permanente da habitação de Jesus. É deste sacrário, desta mansão celeste, onde eu habito, que Eu peço, peço com todo o amor do Meu Divino coração: ama-me, ama-me, minha filha! Sofre por Mim. Faz que Eu seja amado: nunca ofendido! Faz que muitas almas reparem este Divino Coração tão ultrajado. O Meu Eterno Pai, o Meu Eterno Pai está ofendido, deveras irritado contra a terra, contra o mundo culpado. Depressa, depressa, muitas almas a prostrarem-se diante do sacrário. Depressa, depressa, depressa, muitos corações a consolar, a reparar o Senhor no sacrário. Minha filha, minha querida filha, ai, quantos crimes, quantos sacrilégios cometidos no sacrário contra o Senhor, contra o Rei do sacrário. Venham almas, almas, muitas almas! Jesus o pede. Venham aos bandos, por Maria, reparar o Senhor do sacrário. Minha filha, minha filha, minha esposa querida, vítima predilecta deste Calvário, nenhuma prece Me pode ser mais agradável do que aquela que vem dos lábios da Minha Bendita Mãe. Venham as almas, venham as almas a Jesus por Maria. Por Maria reparar, por Maria receberem graças.”

— Ó meu Jesus, ó meu Jesus, Vós estais tão triste! A Vossa tristeza entristece-me também. Sinto, sinto uma tristeza de morte. Que eu sofra e esteja triste, está certo, Jesus; mas ver-Vos eu triste, não posso concordar, não, não, meu Jesus. Dizei-me, dizei-me o que posso fazer eu por Vós?

— “Minha filha, minha filha, dá-me a tua dor, deixa que o teu coração sangre sempre, deixa que a tua alma chore dia e noite. A onda dos vícios, dos crimes hediondos, exige esta reparação. Sofre com alegria a heroicidade. Só assim Jesus está alegre e consolado. Eu mostrei-Me triste e sofredor, para que toda a minha tristeza e dor ficassem no teu coração.”

— Jesus, Jesus, que escuridão, que negra escuridão! Que peso, que peso insuportável arranca-me de dentro do peito a alma e o coração! Esmagam-me, esmagam-me.

— “São os pecados, os vícios, os vícios cometidos contra o teu Senhor, contra o Pai da humanidade. Esta noite é a noite das almas em pecado. São as trevas infernais. Arranca-as, arranca-as a Satanás, condu-las pelos teus sofrimentos a Jesus, ao teu Esposo. Vem receber a gota do Meu Divino Sangue. Uni, minha filha, ao teu o Meu coração. Uni à tua a Minha sagrada face. É uma prova do Meu infinito amor. A gotinha do Sangue passou. Novo sangue corre nas tuas veias, nova vida, novo amor do teu Jesus.”

— Obrigada, meu Jesus. As trevas desapareceram. Brilha a Vossa luz, queima-me o Vosso amor. Já posso respirar. O peso é mais suave.

— “Enche-te, minha filha, fortalece-te para o novo peso da cruz. Enche-te, fortalece-te, esposa minha, para o teu doloroso e difícil calvário. Coragem! Coragem! Vai em paz! Brada, brada, brada, para que o teu brado, pelo Papa, ecoe no mundo: oração, penitência, vida nova, vida pura! Jesus o pede!”

— Obrigada, meu Jesus. Não Vos separeis de mim e atendei, atendei às minhas intenções. Estão todas no meu coração. Atendei-me! Confio em Vós!

— “Vai em paz, minha filha. Confia, confia sempre!”

— Obrigada, Jesus. Obrigada, meu Amor!

7 de Fevereiro – Primeiro Sábado

Passei a noite numa agonia de alma. O corpo parecia desfazer-se pelo sofrimento. A alma agonizava com ele. Unia-me a Jesus, fazia-Lhe pedidos, entregava-me a Ele. Ansiava recebê-Lo, mas atormentava-me o pensamento do primeiro sábado. Queria libertar-me dos seus colóquios. É sem dúvida o receio de me enganar que me leva a tudo isto. Estava numa tristeza mortal! Veio Jesus e a sua entrada no meu coração transformou-me por completo. Todo o meu ser se mergulhou n’Ele. A minha vida era toda d’Ele. Fez-me grande, grande como Ele. Iluminou-me com a Sua luz, abrasou-me em Seu amor e disse-me:

“O Céu na terra, o Céu na terra, neste quartinho, neste calvário. Minha filha, minha filha, faço do teu coração o Meu paraíso. Desci do Céu ao Meu céu na terra. Aqui habito, aqui habito, aqui tenho a minha morada permanente. Venho, venho encorajar-te, venho fortalecer-te, venho desabafar contigo as minhas mágoas. O mundo tão cruel não deixa de ultrajar-Me. Os pecadores abismados nos seus crimes não deixam de alancear e apunhalar o Meu coração. Ai do mundo, ai das nações se não vêem o mal que se avizinha, que se aproxima. A mão vingadora do Meu Eterno Pai vai caindo sobre a terra. O que será, o que será, se o mundo não se converte, se os pecadores não arrepiam caminho?! Minha filha, minha filha, minha querida filha, pomba bela, florinha dos meus sacrários, sofre pelos pecadores, salva os pecadores. Sofre pelos sacerdotes, repara pelos sacerdotes. Ai, como eles me ofendem! Que horrorosos, que horrorosos são os seus crimes! Repara, repara, filha minha, põe aqueles que me juraram fidelidade. Ai deles, si deles! Quantos estão prestes a cair no inferno, se não houver quem por eles se imole e sacrifique!”

Ó Jesus, estou pronta a sofrer. Sacrificai-me, imolai-me. Não quero que sejais ofendido e quero que eles se salvem. Diz, minha filha, ao teu paizinho, que Jesus no Seu amor infinito lhe pede almas, muitas almas reparadoras. E ele como mestre e guia das almas as encaminhe, as leve ao cimo do calvário. Diz-lhe, diz-lhe que é o Meu amor, o Meu amor, a Minha loucura de amor que lhe pede a sua imolação. Pedi-lha e continuo a pedir-lha. Que se imole ele e faça que elas se imolem. Diz-lhe que o Meu Divino Coração não tem outra coisa para ele senão ternura, amor, ternura, amor. Sou todo dele. Diz que não tenho outra coisa para ele a não ser dar-me, dar-me inteiramente a ele. É árdua, é espinhosa a sua missão. Foi o meu amor infinito que me levou a isso. Diz-lhe que ele me foi fidelíssimo. Tudo me deu, tudo me dará sempre. Eu não falto ao que prometi. Tudo passa, menos as minhas palavras, as minhas promessas. Dá-lhe amor, amor sem fim. Diz, diz ao teu médico que o Céu se abre em abundantes graças, que o Meu Divino Coração faz chover sobre ele e o seu jardim florido chuva de bênçãos, chuva de amor, chuva que não cessa de cair. Diz-lhe que conte coMigo e que de Mim espere toda a protecção, todo o auxílio para todas as coisas. Diz-lhe que para ele desempenhar tão alta missão tem de ser selado com o selo do sofrimento. Diz-lhe que o Céu é dele e de todos os que lhe pertencem. Dá-lhe a ternura do Meu Divino Coração com o Meu amor infinito. Diz-lhe que Jesus lhe pede: mãos à obra, mãos à obra, mãos à obra. - Minha Bendita Mãe, Minha Bendita Mãe, vem, vem já. A nossa filhinha necessita do Meu e Teu conforto”.

Mãezinha, Mãezinha de Lurdes, és toda bela, és toda bela, minha querida Mãezinha. Faz-me pura, pura. Assemelha-me a Ti, Mãezinha. Minha Mãezinha, como estou bem no Teu amantíssimo Coração. O Vosso carinho, o Vosso conforto encheu-me tanto, tanto o coração! Não cabe dentro do peito. Eu não sou digna de Vos beijar, mas sois Vós digna, Mãezinha, que eu corresponda ao Vosso amor.

— “Minha filha, minha querida filha, agora forte dos mimos celestes, vai para a tua cruz, vai reparar o Coração divino de Jesus e o Meu. Vai fazer que sejamos amados. Fica na tua cruz, para dares a Jesus tudo quanto Ele te pedir. Os Seus pedidos são os Meus. O Seu amor é o Meu amor. Vai, filhinha minha, vai dizer ao mundo que a Mãe de Jesus pede para que não ofenda, contriste mais o seu Jesus. Vai, filhinha, vai dizer ao mundo que a Mãe de Jesus desceu do Céu à terra, falou pelos teus lábios e pediu que amem a Jesus, que não ofendam a Jesus. Que se convertam, que se convertam, que façam oração e penitência. Recebe novas carícias, nova efusão de amor.”

— “Minha filha, minha querida filha, sou Eu e a Minha Bendita Mãe a acariciar-te, a encher-te do amor infinito dos Nossos amantíssimos Corações. Vai, dá tudo o que recebeste aos que amas, aos que te rodeiam e te pertencem. Felizes, felizes de quantos se aproximam de ti. Quanto mais de ti se aproximarem, mais graças, mais vida divina recebem. Vai em paz! Fica na tua cruz! Coragem na tua cruz! Coragem no teu calvário!”

— Não Vos deixo, não Vos largo dos meus braços, Jesus, Mãezinha, sem Vos pedir: atendei às minhas preces. Atendei às minhas preces. Atendei, atendei, Jesus. Atendei, Mãezinha. Perdoai, perdoai ao mundo inteiro!...

13 de Fevereiro – Sexta-feira

Vou dizer pouco, muito pouco, porque não posso. Mas quero tornar doce o meu Calvário por meio da obediência. Eu queria refugiar-me, viver só para Jesus, unida a Ele; fugir do convívio das pessoas, de tudo quanto é do mundo, e nada dizer, apesar da necessidade imensa, ou até infinita de dizer o muito que me vai na alma. Não posso ter querer, quero o que quer o meu Senhor, submeto-me em tudo à Sua divina vontade. É por isso que o amargo é doce e eu obedeço, à custa de todo o sacrifício, à voz de quem manda. A minha ignorância não me permite exprimir-me; a inutilidade presta-se a roubar-me para ela tudo. Mas o coração e a alma, a transbordar de dor e agonia, deixam que os lábios vão balbuciando alguma coisa daquilo que lhes sobra. Dor, dor, ó meu Deus, tanta dor e agonia. Se não fosse Jesus a viver na minha morte e a sofrer no meu calvário, o que seria de mim? A minha vida era um contínuo desespero. As quatro paredes do meu quartinho são as testemunhas dos meus desabafos. Ouvem o que eu digo a Jesus: nasci para a dor, nasci para a prisão no meu leito; todos me deixaram, sinto que o abandono é de toda a criatura humana. Não me deixeis, não me abandoneis, Vós, meu Jesus; valei-me, querida Mãezinha. A tempestade furiosa, as ondas agitadíssimas do mar não cessam, eu desfaço-me toda em podridão. Tenho que me ver a mim mesma e causa-me horror ver-me assim. Que mundo de vícios, de crimes e veneno eu sou. Ai, que pavor, ai, que pavor! A justiça do Senhor esmaga-me, aniquila-me. E todo o inferno está revoltado contra mim. Não posso virar-me para parte alguma; estou sem socorro do Céu e da terra. Parece que só tenho presente a maldade e que são os demónios a ensinarem-me, a mostrarem-me em formas horrorosas como são praticados os crimes. Meu Deus, ó meu Deus! Já diviso ao longe, muito ao longe, aquela morte que vem sobre a morte de cada momento que sempre sinto. Assim de longe ela já me fere o coração com punhais e lanças que com ela traz. Que dor, que dor infinita! Ontem durante a tarde, sentia que o meu corpo era a humanidade inteira apodrecida. E a mesma humanidade pesava sobre mim a esmagar-me, a reduzir-me ao nada. Já de noite, com estes sentimentos, fiquei prostrada com o rosto em terra no Jardim das Oliveiras. O Céu desceu sobre o mundo do meu corpo; esmagou-me tanto, levou-me aos abismos. Pareceu-me que as entranhas se espalharam no solo duro e as veias rasgadas regaram de sangue a terra sob o peso da justiça infinita do Pai. Que agonia mortal! Hoje recordei o Calvário, recordei-o e não o conhecia; recordei-o e não me utilizei dele, caminhei sempre fugitiva, pareceu-me ter levado a vida num desespero e revolta. Sem saber quem me conduziu, cheguei ao cimo da montanha e ali todo o meu corpo se revestiu do de Jesus e ficou a sentir todas as chagas e feridas que tinha o Sem santíssimo Corpo. O coração bradava e a alma, numa verdadeira agonia, queria desprender-se, soltar-se e voar para o Pai. Lágrimas de sangue saíram dos olhos de Jesus, vieram cair no meu coração que em união o d’Ele sentia as mesmas afrontas e a mesma dor infinita. Ânsias infinitas de me unir ao Pai e de reconciliar o Céu com a terra, dando a esta o mesmo Céu, levaram-me a expirar na mais dolorosa agonia. Pouco tempo depois desta separação da alma do corpo, veio Jesus, deu-me de novo a vida e, com voz triste e dolorida, falou-me assim:

— “Está aqui Jesus, está aqui o Amor. Está aqui Jesus, está aqui o Céu, está aqui o Mendigo. Está aqui Jesus com todo o poder, com toda a glória. O Mendigo vem pedir, pedir, pedir. Quem pede é Jesus. Quem dá é Jesus. Peço amor, peço amor, peço amor. Eu quero receber e prometo dar. Peço amor e dou amor. Peço penitência, peço oração, peço emenda de vida. Dou as minhas graças, dou as minhas riquezas, dou o meu perdão com todo o meu amor. Vinde a Mim, vinde a Mim! Ah! Se vós ouvísseis a voz e o chamamento do Senhor!... Minha filha, minha filha, se o mundo, se os pecadores não resistissem tanto à voz e aos pedidos do seu Deus. Onde está o Pai que ama como Jesus? Que Pai podeis apresentar que perdoe como Jesus? Como Eu não posso ser igualado a nenhum outro pai, sofro como nenhum pai da terra sofre. Sofro, sofro e sangra o meu Divino Coração.”

Que enxurradas de sangue, meu Jesus. Que mar de sangue eu vejo no Vosso Divino Coração. Essas enxurradas vêm de encontro ao meu pobre coração. Estou toda, toda a nadar neste mar infinito de sangue. Lanço-me ao Vosso santíssimo pescoço. Agarro-me a Vós, Jesus, agarro-me a Vós, Jesus. Se o não faço, vou ao fundo. Afogo-me neste sangue divino. Que dor, que dor que me mata! Tira-me a vida. Sinto-me a fugir. Morro, morro, Jesus. Eu não posso ver-Vos assim a sangrar. Eu não posso sentir desta forma a Vossa dor. Quero acariciar-Vos, Jesus. Quero acariciar-Vos, Jesus. O Vosso santíssimo rosto está sobre o meu peito. Não sou digna, bem o sei, mas quero acariciar-Vos com a Vossa ternura, com o Vosso amor. Sei que, só com o que é Vosso, a chaga do Vosso Divino Coração cicatriza. Jesus, Jesus, é o Vosso divino amor que eu Vos dou. É o amor do Pai e do Espírito Santo e o da querida Mãezinha, o amor de todos os bem-aventurados do Céu que eu Vos ofereço. Aceitai por mim, por todos, todos os que me são queridos, aceitai-o pelos pecadores, aceitai-o pela humanidade inteira. Não sofrais mais, meu Jesus, e à vista deste amor esquecei os crimes de toda a humanidade. Já sois outro, meu Jesus. Todo Vós sois luz, e foi a Vossa luz que iluminou a minha alma, e o Vosso fogo de amor que aqueceu e abrasou o meu coração.

— “Minha filha, minha filha, vítima reparadora, vítima de amor, florinha eucarística, os teus desejos, as tuas ânsias sararam as minhas chagas. Fizeram sangrar o sangue que derramava o meu Coração divino, o meu Coração de Pai. Os teus desejos, as tuas ânsias levam-me mais e mais à compaixão pelos pecadores, pela pobre humanidade. Sofre, sofre, minha filha, minha pomba bela. Sofre, sofre; acode às almas, acode às almas. Sofre, sofre. Sustenta o braço da justiça de meu Pai. Repara, repara o meu Eterno Pai.

A Sua justiça, a Sua justiça quer continuar a punir o mundo culpado. Acode às almas. Acode às almas, não deixes que elas se percam. A tua missão árdua, a tua missão, a mais espinhosa, leva-te ao mais doloroso martírio, à mais tremenda crucifixão. Se pudesses ver a glória que te espera!... Se pudesse ver e ouvir o triunfo da tua entrada no Céu!... Não morrias de dor, morrias, morrias de amor!...”

— Morrer de dor ou morrer de amor, Jesus, não me importa. O que eu quero é morrer conforme a Vossa divina vontade.

— “Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Desceram os anjos, desceram os anjos, vieram unir o tubo doirado ao teu e ao meu Divino Coração. Pelo mesmo tubo passou a gotinha de sangue, o alimento prodigioso que te faz viver, a vida divina que te faz ser forte e heroína no teu calvário. Desligaram o tubo os anjos e voaram para o Céu. Ficaram os nossos corações num só coração. Confia, confia, minha filha, confia, louquinha da Eucaristia. Eu vou e fico contigo. A tua vida é a vida de Cristo crucificado. O teu corpo é outro corpo de Cristo chagado, despedaçado, todo em sangue. Coragem, coragem, minha filha; fica na tua cruz. É cruz de triunfo, é cruz de salvação. Pede ao mundo que se apresse a deixar o pecado, a deixar o pecado e ir junto do seu Deus. Pede, pede emenda de vida, oração, penitência. Sofre, minha filha, acode às almas, acode às almas. Não as deixes cair no inferno eternamente.”

— Jesus, sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima. Jesus, estou pronta para tudo. Não me deixeis ofender-Vos, não me deixeis sozinha. Dou-Vos o meu coração para Vos servir e amar, repara o Vosso Divino coração. Dou-Vo-lo com todas as minhas intenções. Vede-as e despachai tudo em meu favor.

— “Confia, minha filha, e vai em paz. Enche-te, mais uma vez, do meu amor. Enche-te e incendeia o mundo.”

— Obrigada, Jesus. Obrigada, meu Amor. O meu eterno obrigada!

20 de Fevereiro – Sexta-feira

Que pavor, que pavor a minha vida, a minha vida que é uma noite tenebrosa, a minha vida que é uma morte contínua. As nuvens rasgam-se, o Céu com toda Sua justiça divina cai sobre mim e descarrega todo o Seu peso. A foice do Senhor ceifa-me mortalmente. A terra abre-se com todo o inferno para me engolir. Não posso bradar, porque a prensa do sofrimento moeu-me, transformou-me em farinha que os ventos furiosos espalharam e fizeram desaparecer como fumo. Não posso bradar; o meu brado moribundo não chega até ao Senhor. Só d’Ele me poderia vir o auxílio, se eu soubesse, se eu pudesse pedir e tivesse vida para invocar o Seu santo nome. O que eu sou, o que eu sofro não o sabe dizer a minha ignorância. O mérito do meu sofrimento roubou-mo a inutilidade. Nada ambiciono para mim, mas sim para oferecer a Jesus. Tanto queria consolá-Lo, dando-Lhe todas as almas. Tanto queria consolá-Lo, evitando todo o pecado! Tanto queria amá-Lo e fazer que nem um só coração da humanidade inteira deixasse de O amar. Pobre de mim, pobre de mim! Não passo além dos desejos, tudo se reduz ao nada. As minhas ânsias, a minha fome são infinitas; são tão grandes, tão grandes, só a humanidade inteira as satisfaria. Mas como, meu Deus?! A humanidade sou eu, a humanidade perdida! Valei-me, ó Jesus, valei-me, ó Mãezinha. Na terra não há luz nem vida, na terra não há conforto, tudo perdi. Sinto que todos me deixaram e que não há um fôlego vivo em meu favor. Sobre a minha morte vem a outra morte, que só a visão dela me despedaça o coração e a alma. Ela vem sobre mim com todo o ódio e rancor. Ontem, tive a minha alma sempre apavorada, sempre em agonia com a aproximação do Horto. Eu fugia-lhe, mas a agonia não cessava. Ia já alta a noite, e eu prostrada sobre aquele solo duro era tão grande como Deus e como Deus amava. Principiei a misturar-me com a terra, fiquei toda manchada, abandonada pelo Eterno Pai e sob o peso da Sua justiça tive a visão do Calvário. Chegou ao extremo a agonia. Senti um fortíssimo suor de sangue. Todos os cabelos nele se ensoparam; por eles caíam repetidas gotas que me banhavam o corpo e regavam a terra. Talvez uma hora depois deste sofrimento sobreveio-me outro não menos doloroso. Fui vítima dos maiores crimes, dos maiores vícios. Eu tinha uma fome imensa das paixões. Parecia-me que não havia maldade que eu não soubesse nem praticasse. Nesta fome insaciável, entreguei-me a todo o vício. Horror, horror, pavoroso horror. O que eu vi, o que me pareceu fazer! era toda pecado, podridão e miséria. A minha maldade era grande, grande como o mundo. Foi tremenda a luta. Chamei por Jesus e pela Mãezinha, pedi-Lhes que viessem em meu auxílio, que eu era a Sua vítima. Parecia-me que não era do coração o meu chamamento. Quando eu assim lutava e sofria, ouvi a voz de Jesus, mas uma voz muito dorida que dizia: Ai, ai, ai! Vi que Ele passava ao meu lado espavorido. O Seu santíssimo Coração eram fontanários de sangue que se espalhavam ao longe como chafarizes. Por entre o sangue saíam raios de fogo penetradores; chegaram até mim. Com esta passagem, a luta cessou; uma grande paz me inundou a alma: já não era a mesma. Senti e compreendi que não era nada do que até ali sentia e compreendia. Estes sentimentos e tranquilidade foram pouco duradouros. Tremendas dúvidas me levaram ao abismo de dúvidas e receios. Aqueles sentimentos foram depois de eu me ter saciado de prazeres e de vícios. Ai, meu Deus, quanto eu sofri! Temia comungar; mas, como não tive nenhuma luz, nenhum guia, à hora da visita do meu Jesus, recebi-O em meu coração, tímida, muito tímida. E assim segui para o Calvário, a sentir no coração os gemidos e ais doridos da Sua passagem por mim durante a noite, quando Ele fugia dos maus-tratos e me pareceu ser eu a dar-Lhos com os meus crimes. Fui seguindo a montanha com o coração a sangrar de dor. A cada passo parecia-me agonizar. No cimo do Calvário fui crucificada com Jesus. O sangue corria das Suas chagas e das minhas, porque estávamos num corpo só: regava a cruz, regava a terra. O nosso brado atravessava as nuvens, chegava ao Céu. Mas este, fechado, fazia que o brado recuasse e de lá nenhum conforto viesse. A agonia aumentava, a morte avizinhava-se. Jesus fitava os olhos no Céu e ao mundo abria o Seu divino Coração. Entregou ao Pai o Seu espírito e eu com Ele. Por um pouco de tempo houve o silêncio da morte que reinou em todo o Calvário. Veio Jesus com a Sua vida, fez-me viver e falou-me assim:

— “Está tristíssimo, tristíssimo, tristíssimo o meu Divino Coração. Os pecadores, os pescadores obstinados em seu pecado renovam a minha sagrada paixão e morte, desafiam a justiça do Senhor. Estou triste, triste, tristíssimo. Peço, peço às almas vítimas. Peço, peço sobretudo neste calvário a esta vítima continuamente imolada, para que peça ao mundo, aos pecadores, aos filhos meus, que se convertam, que arrepiem caminho, que venham todos, todos, ao meu divino Coração. Não sou ouvido, não atendem aos meus pedidos. Pecam dia e noite. Crucificam-me a cada momento. Eu falo pelos lábios da minha vítima. É de dentro do seu coração, do meu tabernáculo, do meu sacrário permanente que Eu peço, que Eu suplico: haja emenda de vida! Faça-se oração, faça-se penitência! Vinde a Mim, vinde a Mim, filhos meus. Vinde a Mim, vinde a Mim, filhinhos do meu sangue divino. Filhinhos, filhinhos, palavra terna, filhinhos, filhinhos, palavra amorosa saída do Coração de Deus, pelos lábios da grande vítima deste Calvário, da maior vítima que Jesus escolheu na terra para ser imolada neste século com os maiores vícios, os maiores crimes na maior inundação de iniquidades. Estou triste, tristíssimo. Estou triste e choro, minha filha, minha querida filha, pomba branca que esvoaças sobre os meus sacrários, flor perfumada que os adornas com a variedade das tuas virtudes.”

— Ó meu Jesus, quero alegrar-Vos, quero consolar-Vos. Não quero que choreis. Dou-Vos o meu pobre coração com o meu frio amor. Dou-Vos todo o meu corpo para toda a imolação. Seja tudo isto, que não é nada, o estanque das Vossa lágrimas. Consolar-Vos, Jesus, consolar-Vos, Jesus, com todas as almas vítimas que Vos amam mais do que eu Vos amo e sabem sofrer melhor do que eu sofro. Consolai-Vos com os meus desejos que tenho de Vos amar e evitar todo o pecado. Consolai-Vos com as minhas ânsias consumidoras de reparar todas as ofensas feitas ao Vosso Divino Coração, cometidas contra a majestade divina. Não choreis, não choreis, Jesus. Eu sou a Vossa vítima. De boa vontade eu sofria até ao fim dos séculos para Vós não sofrerdes nem um só momento e para Vos salvar as almas.

— “Ó louquinha de Jesus, faço tudo isto para que seja bem compreendido e esclarecido o teu amor heróico, o teu amor louquinho a Jesus e às almas. Tu és luz, tu és farol de toda a humanidade. Tu és o porta-voz de Jesus. Tu és a cópia fiel de Cristo crucificado. Já não choro. Foste tu, esposa querida, que estancaste as minhas lágrimas. Sofre, sofre com fortaleza, com alegria. Repara-me por todos os crimes. Dá-me a reparação que te exijo, quantas vezes te exigir. Exijo-a de ti, porque o mundo de Mim a exige. Exijo-a de ti para a salvação das almas da pobre humanidade. Muitas, muitas são ingratas para contigo, mas tem coragem! Muitas mais são-no para comigo! Vem receber a gota do meu Divino sangue. Ó alimento celeste, ó alimento divino, ó sangue que gerou e gera as virgens, ó prodígio, ó prodígio do senhor!... Levou-te vida, minha filha, levou-te conforto, levou-te amor esta gotinha de sangue. Tudo quanto de mim recebes faz que reverta em favor do mundo, em favor de todos quantos de ti se aproximem. Fica na tua cruz, nesta cruz dolorosa. Fica neste calvário, neste calvário de salvação para as almas. Tem coragem! Tem coragem! Jesus é contigo. O Céu que te espera para bem breve assiste-te. Confia, confia!”

— Ó Jesus, ó Jesus, estou a nadar no Vosso amor, mas já vejo o mar da minha dor. Lanço-me a ele por Vosso amor. Antes da Vossa ausência, ouvi-me mais uma vez. Atendei às minhas preces, atendei aos meus rogos. Vede o que anseia o meu coração. Perdoai e compadecei-Vos do mundo inteiro.

— “Vai em paz. Fica na tua paz, minha filha. Coragem e confia!”

— Obrigada, obrigada, Jesus!

27 de Fevereiro de 1953 – Sexta-feira

Não posso falar, não posso mesmo, não posso, tal é o tormento que sinto no meu corpo. Não posso falar e sinto a necessidade de nem um só momento deixar de dizer a Jesus que O amo. Mas queria poder fazer que todos os lábios humanos repetissem a mesma coisa, com a mesma ansiedade e ardores do coração. A mar a Jesus, fazê-Lo amado e evitar o pecado. Ó meu Deus, ó meu Deus, aceitai estas ânsias que me consomem e me matam. São ânsias que formam um livro que só o Céu sabe ler, que nunca terá fim. Aceitai, Jesus, o que eu queria dizer, aceitai tudo o que está no meu coração. Eu não sei e não posso dizer mais. O meu horto de ontem, o meu calvário de hoje foram duma agonia indizível, infinita. Para mim, de uma agonia cega, muda e morta, agonia pavorosa, que só a força do céu podia vencer. Todo o meu ser misturado com a terra foi retalhado, cruelmente alanceado. Tudo se transformou numa massa de sangue. Era uma bola que todas as mãos humanas jogavam e a prensa da dor esmagava-a, reduzia-a a nada. Agonia que só o Céu via e compreendia. Hoje a viagem para o Calvário foi o mesmo doloroso martírio. Foi um ser humano que sofreu, uma vida divina que venceu. Em toda a viagem dolorosa perdi quase todo o meu sangue. O amor levou-me à cruz. E nessas horas de agonia foi a mesma vida divina que venceu no meu corpo chagado, cadavérico. O amor unido à graça e à vida divina triunfou na dor, triunfou na morte.

Jesus expirou e eu senti como se o meu espírito se separasse também. Reinou o silêncio mortal. Veio Jesus ressuscitado. A Sua vida fez-me ressuscitar também a mim, e logo a Sua divina voz me fez ouvir assim:

— “Estou frio, estou gelado. Caiu sobre mim o gelo dos corações tíbios. Caíram sobre mim as ondas das paixões e dos vícios. Que revolta, que revolta contra o Céu. A maldade contra Deus. Os filhos contra o Seu Pai. É necessário, é urgente pôr termo às tempestades dos vícios. Pobre mundo! Pobre mundo! Não ouve a voz do seu Deus. Não atende aos pedidos de Jesus.”

— Ó Jesus, que noite tão pavorosa! Que ondas infinitas caem sobre mim e me precipitam nos abismos. Temo, tremo e morro de pavor. Ó Jesus, ó Jesus, vinde em meu auxílio!

— “Coragem, coragem, minha filha. Sofres, porque és vítima, mas o Senhor está contigo. Jesus guia a tua nau na tremenda tempestade. O que é o mundo, o que é o mundo nos crimes e vícios hediondos! Como está o mundo, e pobre do mundo! Minha filha, minha filha, ó flor mimosa! Minha filha, minha filha, ó florinha eucarística, o Senhor convida-te a mais e mais dor. O teu Jesus, o teu Esposo pede-te mais e mais cruz. A tua dor, a tua dor, minha filha!... Como é valiosa a tua dor! Acode, acode às almas. Só a dor, só a dor, só o calvário e a cruz as podem salvar. Minha filha, minha pomba bela, entrega-te, entrega-te sempre mais e mais ao teu Jesus para a imolação, para o sacrifício.”

— Ó meu Jesus, ó meu Jesus, vou para os Vossos divinos braços como a avezinha para o ninho. Vou e a Vós me entrego, a Vós me abandono, como sempre, pelas mãos, pelos lábios, pelo coração da Mãezinha. Abandono-me, sim, Jesus, para a dor. Entrego-me a todo o martírio. Abandono-me à Vossa divina vontade. Ó Jesus, Vós não sois já aquele pobrezinho que eu vi no princípio. Já Vos vejo todo amor, todo luz. Todo o meu ser é fogo. O meu coração sorri para Vós e Vós, meu Jesus, sorris-Vos para mim. Como é terno e doce o Vosso sorriso! Sinto necessidade e repousar em Vós.

— “Vem, vem, pomba bela, esposa querida. Inclina-te sobre o meu Divino Coração. Descansa, descansa aqui. Alerta, alerta, minha filha, tens nova força para novos sofrimentos.”

— Sim, Jesus, já estou mais forte. Já vejo, já vejo de novo a noite tormentosa, a noite cheia de agonia, os espinhos que vêm ferir-me. Bem vindo, bem vindo seja tudo o que Vos apraz.

— “Vem, guia das almas, vem farol do mundo, vem receber a gota do meu Divino Sangue. Uniram-se os dois corações: o divino ao humano. E a gotinha de sangue passou, e uma grande efusão de amor. Passou a vida divina, passou o amor que é força na dor. Vive de Mim, minha filha, e faz que as almas vivam a mesma vida. Vive de Mim e espalha pela humanidade o Meu amor. As almas!... As almas! Felizes das que mais de ti se aproximam! Quem mais se aproximar de ti, mais graça e amor recebe. Coragem, coragem, para salvares as almas. Toda a humanidade aproveita do teu calvário. Coragem, minha filha. Criei-te para a missão mais sublime e mais difícil de desempenhar. Coragem, coragem, e fica na tua cruz. Vêm os anjos apertarem-te mais e mais os cravos. Sofre, sofre neste tempo quaresmal. Que chuva, que chuva de sacrilégios!... Repara, repara o teu Jesus! Repara, aplaca a justiça do meu Pai. Repete, repete muitas vezes: oração, penitência, penitência, emenda de vida, emenda de vida, emenda de vida. São palavras de Jesus.”

— Obrigada, Jesus. Trabalham bem os Vossos anjos. Estou bem presa, bem presa à cruz. Lembro-Vos as minas intenções, tão grandes, tão grandes, Jesus. Lembro-Vos os que me são queridos, os que pedem as minhas orações e a humanidade inteira.

— “Vai em paz, minha filha! Vai em paz! Coragem, minha filha, e confiança!”

— Obrigada, meu Jesus! Obrigada, meu doce Amor!

   

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