Úrsula
Giuliani nasceu em Mercatello, perto de Urbano, no ano de 1660. Foi
a sétima filha do casal Francisco e Benta,
profundamente
católico. Quatro de suas filhas já eram clarissas quando apoiaram a
sua caçula, que, aos dezassete anos, desejou ingressar no mosteiro
da Ordem na cidade de Castello. Lá ela vestiu o hábito e tomou o
nome de Verónica.
No
convento, ela trabalhou muito, sem distinção de cargos: foi
camareira, cozinheira, encarregada da despensa, enfermeira,
professora das noviças e, finalmente, abadessa. Transformou o
mosteiro numa verdadeira e especial escola de perfeição com o seu
próprio exemplo de amor ao Redentor, à sua Paixão na cruz e à Virgem
Maria, deixando para a posteridade um legado instigador de sua
prolongada e rica experiência mística.
Os
registros de manifestações místicas na vida dos santos da Igreja não
são poucos. E consideram-se místicos os fenómenos extraordinários
que vivem algumas pessoas escolhidas por Deus para mostrar sua
intervenção na existência terrena de seus filhos. São eles os
milagres, as profecias, o domínio sobre fenómenos da natureza, as
visões, os êxtases e as aparições dos estigmas de Cristo no corpo.
Entretanto o que ocorreu com Verónica não teria chegado até nós se
não fosse a inspiração de seu director espiritual.
Tudo
começou a partir de 1697, quando lhe apareceram no corpo os estigmas
de Jesus, ou seja, passou a conviver com as mesmas chagas que
martirizaram o Cristo. Na ocasião, Verónica pediu a Jesus que os
escondesse aos olhos de todos, não desejava que absolutamente
ninguém soubesse o que lhe ocorria. Também não queria ser vista como
uma escolhida, preferia viver na humildade. Ela conseguiu,
mantendo-se reclusa em sua cela e sem contacto com nenhuma pessoa
fora do convento, pelo resto da vida.
E teria
permanecido assim, sem que ninguém soubesse de sua história, não
fosse uma ordem que lhe impôs seu confessor e director espiritual.
Verónica teria de escrever todas as experiências místicas que
vivenciava e sentia nos seus contactos com Jesus. Porém, depois, não
poderia reler o que havia registrado. Desse modo, ficaram para a
posteridade quarenta e quatro volumes de uma fantástica vivência de
trinta anos com o extraordinário.
Um dos
relatos mais impressionantes trata-se da descrição que ela fez de
como lhe surgiram os estigmas. "Vi sair das santas chagas do Cristo
cinco raios resplandecentes e todos vieram perto de mim. Em quatro
estavam os pregos, e no quinto a lança que, candente, me trespassou
o coração de fora a fora", descreveu ela. Era uma Sexta-Feira Santa,
de madrugada.
Foi
numa sexta-feira também que Verónica Giuliani morreu, em 1727,
depois de trinta e três dias de doença e agonia em seu corpo, onde
se viam, ainda, as chagas da Paixão. Para corroborar seus escritos,
a autópsia constatou que, realmente, seu coração estava vazado de
lado a lado. |