Venâncio Honório Clemente Fortunato: um nome grande, de uma grande
figura da cristandade de todos os tempos. Era italiano, nasceu numa
família pagã, em Treviso, no ano 530. Estudou em Ravena, importante
pólo cultural da época, onde se formou em gramática e retórica e se
converteu. Porém Venâncio sofria de uma doença crónica nos olhos e
estava quase cego. Devoto extremado de são Martinho de Tours, rezou
muito para a cura por sua intercessão. Que ocorreu depois de tocar
os olhos com o óleo da lamparina que iluminava a capela dedicada ao
santo. Decidiu peregrinar, louvando o milagre que Deus lhe
concedera, e agradecer pela intercessão do santo junto ao seu
túmulo, na Gália, hoje França.
Dessa
longa peregrinação não mais retornou. No extenso percurso, exercitou
um de seus dons, o da poesia, talvez o melhor. Entre camponeses
analfa-betos e curiosos, através dela conquistava todos os cristãos,
e convertia os pagãos. As suas palavras e versos sublimes se
transformavam logo em música criando um ambiente cristão, fraterno e
alegre, sen-do por isso muito bem acolhido por onde passava.
Ao
chegar à sepultura de são Martinho em Tours, declamou o belíssimo
poema que lhe dedicara pela graça obtida. Depois, seguiu para
Poitiers, onde conheceu a futura santa Radegunda, rainha da França.
O encontro mudou o rumo de sua vida. Por motivos políticos, ela
tivera de casar-se com o rei Clotário I, pagão, pouco letrado e dado
às conquistas violentas. Mais tarde, depois de tê-lo convertido,
conseguiu sua autorização para seguir a vida religiosa e fundar um
convento. Muito grato e respeitoso, Clotário I fez ainda mais,
doou-lhe o castelo de Poitiers, que ela transformou no Convento de
Santa Cruz, do qual se tornou abadessa.
Foi o
estilo de vida monástico da abadessa que fez com que o poeta
Venâncio Fortunato se tornasse sacerdote. Radegunda, então, entregou
a direcção espiritual do convento a ele, com autorização do bispo.
Assim, numa Corte composta por nobres pouco instruídos, ela tomou
este brilhante poeta e literato como seu particular secretário,
confessor e conselheiro espiritual.
Venâncio Fortunato atingiu, ali, o seu melhor momento literário,
época de intensa inspiração e produção. Escreveu diversas biografias
de santos, entre eles Martinho de Tours, Germano de Paris, Hilário
de Poitiers e muitos outros. Também a sua notória obra poética se
perpetuou através da inclusão no breviário da missa, sob a forma de
hinos e cânticos, especialmente notados na Semana Santa.
Em 600,
foi eleito e consagrado bispo de Poitiers, tornando-se uma figura
muito proeminente na história da Gália. Morreu em 14 de dezembro de
607, na sua diocese. Logo passou a ser cultuado pelo povo como
santo. A obra que deixou nos leva a uma piedade verdadeira e terna,
como a sua, testemunho de humanidade e fé numa época primitiva de
barbáries. Por isso, na Catedral de Poitiers, na França, onde suas
relíquias são veneradas no dia de sua morte, foi-lhe dedicado um
vitral que reflecte e enaltece a sua figura de humilde peregrino,
laureado poeta, músico e bispo, que foi, em vida, santificada e
brilhante no seguimento de Cristo.
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