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Capítulo 9°

Treva cerrada

 

Pode dizer-se que estava mestra na ciência e na arte do sofrimento e Nosso Senhor diz-lhe que "a apanhou segura no seu amor".

E é agora, em fins de 1935 e daí por diante, que principiam as grandes desolações e as grandes lutas, num crescendo que não é fácil de descrever. A treva e abandono de Nosso Senhor são quase continuados; os assaltos do demónio ininterruptos, embora não atinjam, por ora, as proporções de obsessão que hão-de atingir mais tarde. Os sofrimentos físicos, atrozes. Tem a impressão que tudo agora para ela morreu: até o contentamento que tinha de sofrer; sofre sim, com a mesma ou maior generosidade, oferecendo-se sempre para mais, mas ela tem a impressão que nada valem, nem para merecimento nem para conso­lar a Jesus, nem para acudir aos pecadores.

A 7/XI/35, escreve:

Parece que dia a dia me vai desaparecendo tudo cada vez mais. Parece que mais se escurece aquele sol divino que tanto aquecia, alumiava e dava força à minha pobre alma. Mas paciência! Quero sofrer tudo por amor do meu amado Jesus e para Lhe sal­var muitas almas. Foi esta a missão que Nosso Senhor me confiou neste mundo, não é assim? Como é bela e consoladora a oração do Padre nosso! Faça-se a Vossa Vontade assim na terra como no Céu! Seja esta a minha maior con­solação, saber que estou a fazer a vontade do meu querido Jesus, que tanto tem amado esta pobre e miserável pecadora... Para lhe ditar estas poucas palavras, tem sido aos bocadinhos, esperando ocasião de poder falar, porque são tantos, tantos os meus sofrimentos, que me deixam desalentada, sem nenhumas forças.

A 15/I/36:

O meu querido Jesus ainda se não deu por satisfeito na minha crucifixão. Atende bem aos meus pedidos de me aumentar os meus sofrimentos: além das enormes dores que me torturam, sinto de novo parecer-me que estou suspensa, como quem anda num bambuão, abaixo e acima, para um lado e para o outro, e causa-me grande aflição em todo o corpo. Também me têm aumentado muito os sofrimentos do braço esquerdo. Bendito seja Nos­so Senhor! Faça-se a sua santíssima Vontade, que é tam­bém a minha. Mas unindo os sofrimentos do corpo aos da alma, é que são elas! Só com a força divina é que eu posso resistir. Este abandono completo em que o meu amado Jesus se digna ter-me custa-me muito. Não ter um momento de luz nem de consolação espiritual!...

A 16/III/36, depois de descrever o abandono em que continua, diz:

Ontem de manhã senti uma tristeza tão profunda! Parecia-me ver-me cercada e sobrecarregada não sei de quê. Figurou-se-me que ouvia dizer: que enorme peso de pecados tens sobre ti e sobretudo a ira, a grande ira, toda a ira de Deus! O que tens que pagar!

Eu ofereci-me toda a Nosso Senhor. Dizia-lhe:

Meu Jesus, dou-me toda a Vós, para Vos pagar quanto me seja possível, até ao último alento, até que eu dê o meu último suspiro e entregue nas vossas divinas mãos a minha alma, para Vos bendizer, louvar e amar por toda a eternidade. Ó meu Jesus, sede comigo, não me abandoneis. Eu sou nada, nada, mas confio em Vós.

Fiquei por bastante tempo muito aflita: eram dúvidas e mais dúvidas e não sabia se sim ou não havia de dizer isto a V. R., parecendo que ouvia dizer: a quem queres obedecer?...

Para maior treva e desolação, deu-se nesta altura o que nas suas notas autobiográficas vem descrito sob o título de "Morte aparente."

De facto, em 1935 Nosso Senhor tinha-a prevenido que morreria antes da Festa da Santíssima Trindade de 1936.

Como não conhecia outra morte - escreve ela - pensava que era deixar o mundo e partir para a eternidade... Dois dias antes, Nosso Senhor disse-me que morreria das 3 para as 3,5 horas da manhã e que mandasse vir o meu Padre Espiritual. Ele chegou ao cair da tarde e pas­sou a noite junto de mim (e a família). Preparei-me para morrer. Sua Rev.cia fez comigo um acto de inteira resignação e conformidade com a Vontade de Deus...

A aflição ia aumentando e, à hora marcada por Nosso Senhor, não sei o que senti, deixando de ouvir o que se passava à volta de mim... Estava sempre a ver quando apa­recia diante de Nosso Senhor. Não tinha pena de deixar o mundo e os meus entes queridos.

Quando via que ia me­lhorar e não se cumpriam as palavras de Jesus, caiu sobre mim uma tristeza, que não se pode calcular e um peso esmagador.

Eram horas do meu Director Espiritual se retirar, não tendo tempo para me dizer uma palavra de conforto. Passei a Festa da Santíssima Trindade como uma moribun­da e dentro em mim tudo era morte. As lágrimas corriam-me, as dúvidas eram insuportáveis, porque não só me tinha enganado no que dizia respeito a este dia, isto é, à morte, como também em tudo quanto Nosso Senhor me dito antes deste dia. Nos dois primeiros dias a seguir parecia-me que todo o mundo estava morto… Era quase insuportável o meu viver...

Veio aliviá-la, em tanta angústia, o R.P. Oliveira Dias, S.J.:

Esclareceu-me o caso, contando-me várias passagens que se tinham dado com alguns santos e desde então fiquei a saber que se tratava da morte mística, da qual nunca ti­nha ouvido falar. O Sr. P. Oliveira Dias pareceu-me um anjo que veio do Céu a serenar a tempestade da minha alma.

Continuei a viver muito atribulada, pois Jesus pareceu morrer também, ficando alguns meses sem ouvir a sua divina voz. Quando aumentava a agonia da alma, recordava as coisas que me tinham sido contadas e animava-me com o que me dizia o meu P. Espiritual.

Na verdade, desde a Festa da Santíssima Trindade de 1936 em diante, são meses seguidos de completo abandono e treva: nem uma palavrinha do Céu, nem um alívio. Entretanto, ardia a Espanha em chamas comunistas. Até que, a fins de Agosto, volta Nosso Senhor a confortá-la:

Não temas, minha filha, Eu sei o que faço, ao deixar-te em tantas trevas. Com este teu abandono e dores salvaste-Me inúmeras almas de pecadores... Pede-me pela minha querida Espanha. Vês o castigo de que tantas vezes te tenho falado? Este incêndio estender-se-á a todo o mundo se por toda a parte não se pregar a verdade e se não se converterem os pecadores. Ou conversão ou castigo!

E insiste Nosso Senhor de novo num pedido já várias vezes feito de que se rogue ao Sumo Pontífice a consagração do mundo a Nossa Senhora; mas deste assunto falaremos em ponto à parte.

 Nestes meses os sofrimentos agravaram-se em extremo a ponto de ter sido sacramentada. E começa o ano terrível de 1937; está tão mal que já nem ditar pode as costumadas cartas para o Director; é a irmã dela, Deolinda, que durante os meses de Fevereiro a Junho escreve de vez em quando a dar notícias. Chega a estar 17 dias seguidos sem comer coisa nenhuma e ao princípio nem água pode beber.

É neste período que, pela primeira vez, é mandada examinar pela Santa Sé, como veremos adiante.

   

 

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