Alexandrina de Balasar

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UMA FAMÍLIA NOBRE
EM BALASAR E ARREDORES,
NA IDADE MÉDIA

A história duma freguesia faz-se aos poucos, com as achegas que vão aparecendo. O mais significativo do que se escreveu sobre Balasar saiu no Boletim Cultural da Póvoa de Varzim. Aí escreveu o Pe. Leopoldino Mateus um extenso artigo, saído em dois números – «Santa Eulália de Balasar», vols. I e II, 1958 e 1959; escreveu também o Padre Franklim Neiva Soares sobre a anexação de Gresufes outro longo artigo, intitulado «Subsídios para a História de Santa Eulália de Balasar». No Boletim ainda se podem ler o Inquérito Paroquial de Balasar e as Memórias Paroquiais. Afora isso, há artigos de enciclopédias e dicionários corográficos, artigos de jornais e a vasta literatura relativa à Beata Alexandrina.

Vejamos então o que se pode reunir a respeito do tema do nosso título.

As Inquirições de Afonso III sobre Gresufes declaram que:

«El-Rei não é padroeiro (porque era o Arcebispo), nem há aí reguengo, nem herdadores que dêem fossadeira porque é honra antiga de D. Paio Correia, o Velho, e nada aí possui El-Rei».

Este D. Paio Correia, o Velho, como a sua família, é um nobre conhecido das genealogias e mesmo do Nobiliário do Conde D. Pedro. Foi certamente companheiro de armas de Sancho I, mas seria bastante mais velho que este rei, pelo que já teria acompanhado Afonso Henriques.

Em Balasar, na Vila do Casal, um filho de D. Paio Correria, o Velho, protagonizou um amádigo. Diz o texto das mesmas inquirições: «a Vila do Casal (…) foi toda honrada por D. Pêro Pais Correia, que aí foi criado, e muitos aí se defendem por ele».

Pais significa «filho de Paio»: era portanto este homem – Pêro, filho de Paio Correia.

Quem tornou verdadeiramente notáveis os Correias foi um filho deste Pêro Pais Correia, de nome Paio Peres Correia (Peres significa «filho de Pêro», portanto – Paio, filho de Pêro Correia). Sobre ele falarei mais adiante.

Havia também membros da família Correias na vizinha S. Vicente, anexada depois a Gondifelos, que «é honra antiga dos Correias desde antigamente» e foi aí criada Sancha Pais Correia, filha de D. Paio Correia, o Velho. Ocorre aí o nome do marido desta mulher, Reimão Peres, e referem-se filhos. Também aí viveu D. Maria Pais Correia, de Fiães; o texto menciona os seus filhos, os cavaleiros Rui Vasques Quaresma e Martinho Vasques.

Em Arcos, outra freguesia vinha, também aparecem homens ligados proximamente aos Correias. Veja-se:

«Disse que não há aí amas de cavaleiros, excepto Lourenço Pais de Molnes que criou aí o filho de Estêvão Vasques, e Pêro Lourenço que criou uma filha de Martinho Lourenço, e a dita Mor que criou um filho de Martinho Peres do Casal, e Pêro Peres de Molnes que criou uma filha de Martinho Bouçó».

Molnes ficava na freguesia barcelense de Remelhe e para lá tinha casado uma filha de Pêro Pais Correia – D. Mor Pais Correia; casara com Estêvão Peres de Molnes. Estes Lourenço Peres e Pêro Peres de Molnes são sem dúvida familiares seus muito chegados.

Os Correias tinham o seu solar em Fralães, na actual freguesia barcelense de Monte de Fralães.

O Pe. Leopoldino Mateus, seguindo o Pe. Arlindo Ribeiro da Cunha, faz derivar a palavra Gresufes de um Gresulfo cujos filhos são mencionados num importante documento de 953, a «Kartula de villa comitis. In ripa maris» ou Escritura de Vila do Conde. Não é de excluir a hipótese de esse Gresulfo e algum dos filhos serem antepassados de D. Paio Correia, que tinha Gresufes em honra.

Nos primeiros séculos do segundo milénio da nossa era, havia muitas vilas rurais. Em Balasar, os documentos só assinalam a Vila Casal, que era sem dúvida uma abastada casa agrícola. Mas a toponímia conhece ainda Vila Pouca. Neste caso, «pouca» é sinónimo de pequena, o que quer dizer que nem era muito grande nem sequer «meã».

D. Paio Peres Correia

D. Paio Peres Correia, o mais famoso filho de D. Pêro Pais Correia, pode nunca ter estado em Balasar. Mas foi um homem que marcou tanto a história da Península do seu tempo que se justificam aqui algumas palavras a seu respeito.

D. Paio Peres Correia foi membro da Ordem militar de Santiago. É assinalado pela primeira vez, cerca de 1230, em Alcácer do Sal. Em breve lhe dão um posto de comando. Começa então a empurrar os Mouros para sul. Avançando pelo Guadiana, toma Mértola e segue até Ayamonte, separando-lhes as forças em dois campos. A seguir, em 1242, em Mérida, é colocado no comando supremo da sua Ordem, o que o vai pôr ao lado do príncipe de Castela, o futuro Afonso X, e do rei Fernando III. Num intervalo da guerra que conduzem na Serra de Segura, em Mula, etc., vem D. Paio Peres Correia tomar o Algarve. Depois regressa a Castela. Um dos momentos altos da sua vida foi a conquista de Sevilha, em 1249, onde teve um papel determinante.

A literatura e a lenda apoderaram-se da sua figura. Camões dedicou-lhe estrofe e meia n’Os Lusíadas, Almeida Garrett baseou a D. Branca na narrativa que conta a sua conquista do Algarve. Mas também na Espanha um autor como Lope de Veja escreveu sobre ele El Sol Parado. E é possível rastrear a sua presença noutras obras literárias.

José Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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