Alexandrina de Balasar

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A BEATA ALEXANDRINA
« UMA DAS MAIORES SANTAS DA IGREJA »

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Estava-se em 1944. O Padre Humberto, que fora pela primeira vez a Balasar em Junho e residia em Mogofores, Aveiro, entregou, em 10 de Outubro, ao Dr. Azevedo, para ser enviado ao Arcebispo, um longo relatório sobre o que pensava de Alexandrina. Dele se copiam vários parágrafos mais importantes. O autor já conhecia bem a Beata, já passara em Macieira de Cambra para se entender o Padre Pinho e com alguns membros da comunidade jesuíta que aí residia. O que ele pretendia era esclarecer a verdade. Ele acreditava que na Alexandrina estava «uma das maiores santas da Igreja»; isto onze anos antes da sua morte:

«(...) sinto-me antes de mais nada na obrigação moral de chamar a atenção de quem quer estudar o caso de Alexandrina para não prescindir nunca do estudo das suas virtudes, que, segundo o meu parecer, são a coisa mais extraordinária e digna de apreço, e que, segundo o testemunho de todos os bons mestres, são o barómetro sobre que se baseia sempre o juízo da Igreja: e ainda para que se não pesem separadamente factos e palavras.

S. Francisco de Sales ensina :

 “Quando se vê que uma pessoa tem arroubos na oração e não tem êxtases na vida, isto é, não leva uma vida elevada e unida a Deus, com a negação das ambições humanas e a mortificação dos desejos e inclinações naturais expressas numa doçura íntima, simplicidade, humildade e sobretudo numa contínua caridade, acreditem-me que tais arroubos são sumamente para duvidar e não merecem grande crédito...”

Conheço hoje “intus et cute” pela vizinhança “ex professo” de dias e através de um estudo diligente e conversas confidenciais e preparadas, hoje, repito-o, conheço a Alexandrina e devo afirmar que nunca encontrei uma alma tão perfeita e que nunca como agora senti perto de mim «o santo». Ouvi da boca de várias pessoas: — A sua santidade toca-se e vê-se. — Sacerdotes cultos confirmam-no.

Por minha conta, quando se julgar necessário, poderei fornecer elementos preciosos para o provar. Habituado (pelo ministério que a obediência me impôs neste noviciado – que dirigia em Mogfores) a cultivar as ciências espirituais e a direcção das almas, sinto que na Alexandrina devo dirigir uma alma de eleição excepcional. Muitas vezes penso que já não vou até ela para dar mas para receber. 

A sua profundíssima humildade, a convicção da sua miséria e do seu nada só se podem explicar através do seu contacto íntimo e contínuo com a Divindade, e dá-me a impressão que não haverá prova de estima a seu respeito que a possa comover; isto leva-me a concluir que o temor de que seja visitada prejudica só os outros, que, hoje mais que nunca, precisam das lições de um bom exemplo.

Concordo que se devem sempre usar reservas, e foram usadas, mesmo que Alexandrina, muito sabiamente, afaste de si a curiosidade supersticiosa do povo e corrija com maravilhosas lições ideias erradas sobre a religião e palavras honrosas para com a sua pessoa, etc.

Não temo afirmar, submetendo-me no entanto ao juízo da autoridade, que temos em Portugal uma grande santa e, sem dúvida, uma das maiores santas da Igreja.

A doutrina de Santa Teresa e de S. João da Cruz é vivida por ela em plenitude. Digo mais: quem a dirige encontra nela coisas que não vêm nos livros e convenço-me finalmente que ela será a grande mestra das almas-vítimas. O tempo o dirá. Continuo a lamentar que tenham afastado dela o seu director, o qual, com uma assistência diligente, poderia, nas conversas e contactos, tomar nota dos princípios vividos da mais alta ascética, os quais, amanhã, seriam elementos preciosos para tal ciência e luz para os directores de almas.»

O relatório continua ainda por muitas páginas. Ouça-se agora o mesmo Padre Humberto, que se encontra em Balasar em casa da Alexandrina. Fala na terceira pessoa, mas é ele próprio a escrever:

«Entregue o relatório, o Padre Humberto tomou-se de uma autêntica angústia e pânico, pressentindo as consequências desta tomada de posição pública. Disse à Alexandrina, que ignorava tudo, que se ausentava para rezar o breviário. Em vez disso refugiou-se num pinhal vizinho para poder aliviar-se, chorando e tremendo; de joelhos, disse atormentadamente ao Senhor: “Tu sabes o objectivo da minha vinda a Balasar. Tenho direito a um sinal que me confirme que a causa é verdadeiramente Tua...”».

Estes temores, que poderão parecer exagerados, reflectem o empenho com que o autor vivia os problemas da sua comunidade religiosa e o receio de a prejudicar. Pense-se no que acontecera com o Padre Pinho...

As coisas assombrosas que se seguem passaram-se dois dias após a entrega do relatório, no dia 12, que não era dia de êxtase. Mas é então que em êxtase vem a resposta à súplica do Padre Humberto. Tenha-se em conta, há que repeti-lo, que a Alexandrina não estava a par da situação e que antes, tendo em casa Jesus sacramentado, que ia receber, apesar de paraplégica, num arroubo, se levantara, caíra em joelhos e cantara em voz belíssima. Ouçamo-la agora:

«Alguns minutos depois, Jesus disse-me :

 — São maravilhas, são provas dadas por Mim. Diz, minha filha, ao meu querido Padre Humberto que fui Eu que tudo permiti. Da minha parte mais nada é preciso. Agora é só necessário lutar, lutar, combater com os olhos postos em Mim. A causa é minha, é divina!

Pobres homens que imolam assim as minhas vítimas! Pobres almas que assim ferem o meu Coração divino! Consolo-me no amor desta pomba inocente, desta vítima amada, senhora dos meus tesouros e de toda a minha riqueza. Vem, ó mundo inteiro, vem depressa a esta fonte beber. É água que lava e purifica, é fogo que ateia e santifica.»

«O Padre Humberto (volta a ser o próprio a contar) contemplava-a, depois, ainda em êxtase, quando sentiu pas­sar-lhe pela mente o seguinte pensamento: “Gostaria de saber o que se passa entre os dois (Jesus e Alexandrina)”. E imediatamente a Alexandrina começou a falar. O Padre Humberto tremia emocionado ao fixar num caderno as palavras pronunciadas durante o êxtase e atrasou-se na escrita; mentalmente, por três vezes, disse a Jesus: “Atrasei-me”. E Jesus por três vezes repetiu, de modo que pôde escrever tudo.»

Isto, contado assim, um pouco fora do contexto, poderá não conciliar grande crédito. Visto porém no entrecho próprio da biografia de Alexandrina, ganha uma credibilidade que não dá margem para dúvidas.

José Ferreira

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