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NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
REI DO UNIVERSO
PRIMEIRA LEITURA SSm 5,1-3
Este breve
trecho narra um acontecimento importante na História do povo de
Israel: David é reconhecido rei pelos anciãos de «todas as tribos»
(w. 1-2). A «aliança» e a «unção» do rei (v 3) tornam-se o modelo
exemplar da teologia messiânica: o futuro descendente de David
herdará o seu trono; será também ele ungido e consagrado como rei
legítimo e estabelecerá uma aliança com a Humanidade. O soberano
antigo, portanto, é o «tipo» do Rei Messias, o Cristo Rei.
David já
tinha sido designado futuro rei pelo profeta Samuel (cf. ISm
16,1-3), mas durante muito tempo não passou de um escudeiro e
menestrel da corte. Depois, perseguido pelo rei Saul, teve de fugir
e refugiar-se no estrangeiro (cf. ISm
21,1 ss.). A situação de Israel piorava: os filisteus eram
cada vez mais fortes, o exército de Israel, guiado por Saul, não
conseguia detê-los; inclusive o rei Saul morreu em combate (cf. ISm
31,1-13). Nessa difícil ocasião, só a tribo de Judá confiou a
direcção do seu exército ao jovem David, natural de Belém. Durante
sete anos David reinou sobre aquela tribo do sul e colocou a sua
residência na antiga cidade de Hebron (cf.
2Sm 2,1-4).
Sucessivamente, reconhecendo as suas qualidades de chefe, também as
outras tribos vêem em David o homem capaz; reconhecem que o Senhor o
tinha escolhido para reinar sobre Israel: «Todos os anciãos»
reuniram-se em Hebron e seguiram o protocolo de submissão a David
(v. 3), marcando a pacificação com esse seu com-patriota. Com a
fórmula «teus ossos e tua carne» (v. 1; cf.
Gn 2,23) pretendem
estipular com David uma aliança de parentesco e de colaboração com o
projecto divino: o rei será o «pastor» do povo, assumindo as suas
responsabilidades em relação a todo o Israel e os seus cuidados
assíduos. É interessante notar que, neste caso, a unção é feita «a
partir de baixo», em contraste com a precedente, vinda «do alto»
(cf. ISm 16,13).
SEGUNDA
LEITURA Cl 1,12-20
No começo
da Carta aos Colossenses, Paulo coloca no seu discurso um texto
lírico, que celebra o papel cósmico de Cristo Jesus. Depois de uma
introdução em prosa que convida à acção de graças (w. 12-14),
segue-se o hino (w. 15-20), composto por duas estrofes, que começam
com importantes títulos cristológicos: Ele é «imagem», primo-génito
da Criação (v. 15); é «Princípio», «Primogénito de entre os mortos»
(v. 18). As-sim a Redenção completa a obra da Criação.
O convite
inicial à «acção de graças» alude ao Baptismo enquanto acontecimento
histórico da libertação e acena à possibilidade concedida aos
cristãos de «tomar parte» na herança dos santos, «na luz» (v. 12): a
vitória sobre as «trevas» (v. 13a) é obra do Pai, mediante Cristo,
Criador e Redentor, que criou novas possibilidades de vida e
libertou o seu Povo. O aspecto positivo da «redenção» é apresentado
como par-ticipação dos cristãos no próprio «reino» de Cristo, Filho
do amor divino (w. 13b-14).
Portanto,
toda a atenção passa para o Filho, a partir do momento em que Paulo
insere um hino preexistente, provavelmente já utilizado pela
liturgia cristã, que celebra a superioridade absoluta de Cristo.
Este hino apresenta duas estrofes que celebram Cristo,
respectivamente como o «primogénito de toda a Criação» e como o
«primo-génito dos mortos»: à cristologia cósmica da primeira estrofe
corresponde a sote-riologia cósmica da segunda estrofe. Deste modo
são colocadas em relação Criação e Redenção.
O hino é
um cântico de louvor a Cristo triunfador que, com a Sua
ressurreição, realizou uma nova Criação, mais completa que a
primeira, conferindo-lhe a plenitude em virtude da reconciliação do
Universo com Deus. O papel «real» do Messias, por-tanto, é explicado
como princípio cósmico de unidade e de harmonia.
EVANGELHO Lc 23,35-43
Seguindo o
Evangelho segundo Lucas, a liturgia propõe-nos, para este último
domingo do Ano Litúrgico, a cena da crucifixão de Jesus.
Precisamente aí, na Cruz, Jesus é reconhecido como «rei»: é
condenado à morte de Cruz porque «afirma ser o Cristo rei» (cf. Lc
23,2) e este é também o motivo da zombaria, «Se és o Rei dos
ju-deus, salva-Te a Ti mesmo» (v. 37), e da condenação,
«Este é o
Rei dos judeus», (v. 38) Precisamente na Cruz, Jesus comporta-Se
como Rei, com a promessa segura e «real» que reserva para o
malfeitor arrependido (w. 42-43).
O episódio
do «malfeitor arrependido» é narrado apenas por Lucas e estruturado
como uma cena penitencial exemplar, com todos os elementos
necessários: a apro-ximação a Jesus; a confissão do pecado; o pedido
de perdão e de salvação; a absol-vição da culpa; o perdão (w.
40-43).
Na Cruz,
Jesus tem o encontro mais comovedor e o malfeitor torna-se o último
modelo significativo de convertido. Um dos dois malfeitores pregados
na cruz toma consciência dos seus pecados, arrepende-se e pede a
Jesus força para mudar de vida: «Jesus, lembra-Te de mim, quando
vieres com a Tua realeza!» (v. 42) A esplêndida oração deste homem
abre-lhe as portas do Reino: tal como o publicano no Templo, também
este pecador, consciente do seu pecado, entregando-se a Cristo obtém
a justificação.
A salvação
- precisa Lucas - acontece «hoje» (v. 43): como acontecera com
Zaqueu, também a este delinquente oferece o Senhor uma salvação
actual. Sem forçar o texto com reflexões escatológicas, é oportuno
reconhecer nas palavras de Jesus uma garantia real: Ele promete ao
homem convertido «estarem juntos», isto é, garante-lhe a
participação na Sua experiência de morte e de ressurreição. Assim
tem início o Reino de Deus, inaugurado pela Páscoa de Cristo, e esta
é concretamente a salvação.
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |