 |
PONTOS DE REFLEXÃO
PRIMEIRA
LEITURA Eclo
35,15b-17.20-22
Jesus Ben
Sirá, conhecido com o título grego de Sirácide ou o latino de
Eclesiástico, era um escriba ilustre do século n a. C, docente em
Jerusalém e verdadeiramente enamorado da tradição religiosa de Israel.
Na sua obra, conservada na tradução grega de um sobrinho seu, o mestre
reuniu os ensinamentos de uma vida. O texto aqui proposto contém algumas
máximas acerca do poder da oração feita com humildade.
O texto
apresenta a obra de Deus comparando-a com a de um «juiz» (v. 15), único
modelo em que podemos inspirar-nos na prática da justiça humana. Em
primeiro lugar, o autor sublinha que o Senhor é imparcial (v. 16a) e,
por isso, os ricos não podem corrompê-Lo com as suas oferendas, como por
vezes fazem com os juízes terrenos. Pelo contrário, Ele deixa-Se
encontrar precisamente pelos pobres, que Lhe suplicam e que não têm nada
para Lhe retribuírem, «Oprimidos», «órfãos» e «viúvas» (v. 16b-17) são
exemplos típicos para indicar pessoas marginalizadas e sem peso social.
Mas depois o
autor precisa que a oração agradável é a do fiel, isto é, daquele que
«adora a Deus» (v. 19) com humildade, condição sem pretensões, confiando
na Sua justiça e na Sua grande misericórdia. Por isso, o Sirácide afirma
que uma oração assim «atravessa as nuvens». Ou seja, chega ao seu
destino, alcança a sua finalidade: a sua força, com efeito, está na
confiança humilde (w. 21-22).
SEGUNDA LEITURA
2Tm
4,6-8.16-18
Com estas
palavras termina o último escrito paulino, no qual o Apóstolo se dirige
ao discípulo Timóteo pouco antes de ser condenado à morte: ele está
ciente do fim iminente e, depois de ter dado instruções pastorais,
conclui num tom amargurado e íntimo, de modo a fazer desta Carta um
autêntico testamento espiritual (w. 6-8). As últimas frases (w. 16-18)
contêm instruções preciosas
O
pressentimento da morte iminente é revelado por Paulo mediante as
imagens da «libação» derramada e da «partida» para breve (cf. v. 6);
atribui assim à sua morte um valor sacrificial e, com a imagem da
partida, ilustra o fim da vida como início da viagem.
Descreve, por
isso, a sua vida com imagens tiradas de práticas desportivas e
militares, com a intenção de apresentar o seu ministério apostólico como
um combate ao serviço da fé: a sua «luta» fora «bela», isto é, nobre,
correcta e vitoriosa; a sua «corrida»
atingiu o «fim», ou seja, o
objectivo e a meta desejada; a guarda da «fé», finalmente, alude
ao tema do «depósito» que lhe fora confiado e que, como Apóstolo,
administrou com fidelidade (v. 7). Mas a «coroa», isto é, o prémio
eterno, espera também aqueles que, como Paulo, aguardam com «amor» a
epifania (manifestação) do Senhor, ou seja, tendem com paixão para o
encontro definitivo com Ele (v. 8).
Na primeira
audiência do processo, Paulo foi tratado como um malfeitor e um
«abandonado» por todos os seus amigos (v. 16a); é fácil reconhecer nisto
uma situação semelhante à que Jesus viveu. E, como Jesus, também Paulo
perdoa a todos e demonstra que a caridade «não tem em conta o mal
recebido» (ICor
13,5; v. 16b). Com efeito, a sua «força» está na presença do
Senhor libertador: Deus não lhe evitará a morte, mas «libertá-lo-á»
certamente do poder do mal e de Satanás, comparado a um «leão» famélico
(w. 17-18).
EVANGELHO Lc 18,9-14
Logo a seguir
à parábola do juiz e da viúva, proposta no domingo passado (cf. Lc
18,1-8), Lucas narra a parábola do fariseu e do publicano, lida hoje.
Apresenta dois modelos de oração: um presunçoso e incorrecto; e, o
outro, humilde e válido. Também neste caso, o narrador explica
antecipadamente o sentido da história e manifesta o motivo pelo qual
Jesus expôs a parábola: «para alguns que se consideravam justos e
desprezavam os outros.» (v. 9)
A narração tem
por alvo a categoria dos «fariseus», isto é, daquelas pessoas muito
religiosas que, na tradição hebraica, sobressaíam pelo empenho moral e
pela devoção. Na narração do Evangelho não se encontra uma verdadeira e
própria parábola, porque não temos nela uma história em acto. Trata-se,
ao invés, de dois pequenos quadros contrapostos, com um juízo final,
através do qual Jesus dá a entender claramente qual é a Sua posição e,
portanto, onde está o bem e o mal.
Ambas as
personagens «sobem ao templo para orar» (v. 10), porque ambas são
religiosas, mas têm vidas e mentalidades diferentes. A primeira
personagem é uma pessoa honesta e devota, recta no agir e formada na
oração (w. 11-12); a segunda, pelo contrário, é um colaborador dos
romanos, e portanto um traidor da pátria, certamente um corrompido (v.
13). Depois dos dois retratos, reduzidos ao essencial, Jesus exprime
claramente um juízo e formula-o com uma linguagem «paulina», empregando
o conceito de justificação: «Este desceu justificado para sua casa e o
outro não.» (v. 14) Como ensina São Paulo, a justificação não acontece
devido às obras, mas pela fé: assim a situação inverte-se e, contra
qualquer aparência devota, o pecador volta para casa «justificado»!
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |