Que venha o teu reino!
O diálogo que S.
João nos propõe neste domingo ― diálogo entre Jesus e Pilatos ― é quase
surrealista.
Lembremos que Jesus
acabara de ser apreendido no Jardim das Oliveiras e seguidamente enviado diante
do magistrado romano para ser julgado.
Pilatos tinha já
ouvido falar de Jesus, cuja predicação era conhecida, apreciada e seguida por
muitos judeus e talvez não só judeus. Pilatos sabia portanto ― porque ouvira
dizer ― que Jesus era tido por muitos como o Messias esperado por Israel. Por
isso mesmo a sua primeira pergunta não surpreende: « Tu és o Rei dos
judeus? »
A resposta de Jesus
é quase como um desafio ao magistrado que o interroga: « É por ti que o
dizes, ou foram outros que to disseram de Mim? »
Certamente Pilatos
não apreciou muito esta verdade que Jesus lhe dizia, mas que ele não aceitou e
por isso mesmo respondeu secamente, como querendo justificar-se, ver mesmo
defender-se: « Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é
que Te entregaram a mim. Que fizeste? »
Esta resposta
denota também a falta de confiança que Pilatos tinha nele próprio, pois não
soube ou não quis responder directamente à pergunta de Jesus: « É por ti que
o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim? »
No entanto, Jesus
vai serená-lo e mostrar-lhe que não é seu inimigo nem mesmo concorrente directo,
porque «O meu reino não é deste mundo», explica Jesus.
Provavelmente que
Pilatos pareceu admirado com esta resposta, eis porque Jesus continua,
calmamente a sua explicação: «Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus», o que parece
naturalmente óbvio. E Jesus acrescentou ainda: «Mas o meu reino não é daqui».
Então Pilatos que
ainda não parecia ter bem compreendido o que Jesus lhe dizia, perguntou-lhe:
«Então, Tu és Rei?»
Homem de cabeça
dura, tu não compreendeste que se o reino de Jesus fosse deste mundo, ele teria
guardas e um exército para o defender e que não teria sido tão fácil
apreendê-lo?
Mas Jesus, sempre
calmo, diante daquele homem ― que aqui nos representa bem! ― vai explicar-se:
«É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho
da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
Mas nem assim
Pilatos compreende e, a única coisa que sabe dizer a Jesus, depois desta
explicação sensata, é perguntar-lhe: «E o que é a verdade?»
Nos somos,
infelizmente, como Pilatos: não compreendemos ― ou fingimos não compreender, o
que é ainda mais grave ― aquilo que nos diz o Senhor em nosso coração.
Perguntamos a nós mesmos: “Mas será mesmo Ele que me fala?” Não é que tenhamos
dúvidas, mas porque preferimos fechar as orelhas da nossa alma aos apelos
divinos que, muitas vezes, são mais claros e nítidos do que a água da fonte.
Jesus é Rei e, Rei
dos nossos corações e das nossas almas. Tornemo-nos dignos do seu Reino e
mostremo-nos solícitos às suas inspirações que dia após dia recebemos d’Ele para
o bem das nossas almas e para nossa salvação.
Adveniat regum
tuum! Amen. |