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XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
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Livro de Jeremias 23,1-16.
Ai dos pastores que
dispersam e extraviam o rebanho das minhas pastagens! – oráculo do Senhor. Pois
assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo:
«Dispersastes as minhas ovelhas, afugentaste-las e não vos ocupastes delas. Por
isso, Eu vou ocupar-me de vós, pedir-vos contas do vosso mau procedimento –
oráculo do Senhor. Reunirei o que restar das minhas ovelhas espalhadas pelas
terras em que as exilei, e fá-las-ei voltar às suas pastagens, onde crescerão e
se multiplicarão. Dar-lhes-ei pastores que as apascentarão, de sorte que não
terão medo nem sobressalto e nenhuma delas se perderá –oráculo do Senhor. Dias
virão em que farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará com
sabedoria e exercerá no país o direito e a justiça – oráculo do Senhor. Nos seus
dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome:
‘O Senhor – é – nossa – Justiça!’ Por isso, eis que chegarão dias – oráculo do
Senhor – em que já não dirão: ‘Viva o Senhor que tirou do Egipto os filhos de
Israel’; mas sim: ‘Viva o Senhor que tirou e reconduziu a linhagem de Israel do
país do Norte e de todos os países, para onde os dispersara, e os fez habitar na
sua própria terra’.» Sobre os profetas: Parte-se-me o coração dentro do peito e
estremecem todos os meus ossos. Assemelho-me a um ébrio, sou como homem
prostrado pelo vinho, por causa do Senhor e da sua palavra santa. A terra está
cheia de adúlteros. Por causa da maldição, a terra está de luto e as pastagens
da estepe ressequidas. Os seus planos são perversos e a sua força é a injustiça.
Até o profeta e o sacerdote se tornaram ímpios, e até no meu templo encontrei as
suas perversidades – oráculo do Senhor. Por isso, o seu caminho se tornará
escorregadio. Serão impelidos para as trevas e nelas cairão. Farei vir sobre
eles a desgraça, o ano do seu castigo – oráculo do Senhor. Vi a impiedade entre
os profetas da Samaria; profetizaram em nome de Baal e desencaminharam o meu
povo, Israel. Nos profetas de Jerusalém vi coisas horríveis: adultério e
hipocrisia; fortalecem o braço dos maus, para que nenhum se converta da sua
maldade. A meus olhos, todos eles são semelhantes a Sodoma, e os habitantes de
Jerusalém, a Gomorra. Portanto, isto diz o Senhor do universo acerca dos
profetas: «Vou alimentá-los com absinto e dar-lhes a beber águas contaminadas,
porque pela atitude dos profetas de Jerusalém é que a impiedade se estendeu por
todo o país.» Assim fala o Senhor do universo: «Não queirais ouvir as palavras
dos profetas, que vos transmitem vãs esperanças. Proclamam as suas próprias
visões, que não procedem da boca do Senhor. |
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Livro de Salmos 23(22),1-6.
SENHOR é meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me faz descansar
e conduz-me às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma
e guia-me por caminhos rectos,
por amor do seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
Preparas a mesa para mim
à vista dos meus inimigos;
ungiste com óleo a minha cabeça;
a minha taça transbordou.
Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre. |
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Leitura da Epístola de São Paulo, apóstolo aos Efésios 2,13-18.
Mas em Cristo Jesus,
vós, que outrora estáveis longe, agora, estais perto, pelo sangue de Cristo. Com
efeito, Ele é a nossa paz, Ele que, dos dois povos, fez um só e destruiu o muro
de separação, a inimizade: na sua carne, anulou a lei, que contém os mandamentos
em forma de prescrições, para, a partir do judeu e do pagão, criar em si próprio
um só homem novo, fazendo a paz, e para os reconciliar com Deus, num só Corpo,
por meio da cruz, matando assim a inimizade. E, na sua vinda, anunciou a paz a
vós que estáveis longe e paz àqueles que estavam perto. Porque, é por Ele que
uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai. |
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Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo S. Marcos 6,30-34.
Os Apóstolos
reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Disse-lhes, então: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um
pouco.» Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer.
Foram, pois, no barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém. Ao vê-los
afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé,
àquele lugar, e chegaram primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande
multidão e teve compaixão deles, porque eram como ove-lhas sem pastor. Começou,
então, a ensinar-lhes muitas coisas. |
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PONTOS DE REFLEXÃO
I LEITURA - Jer 23,1-6
Antes de mais, o
nosso texto mostra a preocupação de Deus com a vida e a felicidade do seu Povo.
Nos momentos conturbados da nossa história (colectiva ou pessoal) sentimo-nos,
muitas vezes, órfãos, perdidos e abandonados ao sabor dos ventos e das marés… As
catástrofes que afectam o mundo, os conflitos que dividem os povos, a miséria
que toca a vida de tantos dos nossos irmãos, os perigos dos fundamenta-lismos,
as mudanças vertiginosas que o mundo todos os dias sofre, a perda dos valores em
que apostávamos, as novas e velhas doenças, as crises pessoais, os problemas
labo-rais, as dificuldades familiares trazem-nos a consciência da nossa pequenez
e impo-tência frente aos grandes desafios que o mundo hoje nos apresenta.
Sentimo-nos, então, “ovelhas” sem rumo e sem destino, abandonadas à nossa sorte.
Por vezes, no nosso desespero, apostamos em “pastores” humanos que, em lugar de
nos condu-zirem para a vida e para a felicidade, nos usam para satisfazer a sua
ânsia de prota-gonismo e para realizar os seus projectos egoístas… A Palavra de
Deus que nos é pro-posta neste domingo garante-nos que Deus é o “Pastor” que se
preocupa connosco, que está atento a cada uma das suas “ovelhas”; Ele cuida das
nossas necessidades e está permanentemente disposto a intervir na nossa história
para nos conduzir por caminhos seguros e para nos oferecer a vida e a paz. É n’Ele
que temos de apostar, é n’Ele que temos de confiar. Esta constatação deve ser,
para todos os crentes, uma fonte de alegria, de esperança, de serenidade e de
paz.
As ameaças
contra os maus pastores apresentadas neste texto de Jeremias talvez nos tenham
levado a pensar nos líderes do mundo, nos nossos governantes e, talvez também,
nos líderes da Igreja. Na verdade, a nossa história recente está cheia de
situações em que as pessoas encarregadas de cuidar da comunidade humana usaram o
“rebanho” em benefício próprio e magoaram, torturaram, roubaram, assassinaram,
privaram de vida e de felicidade essas pessoas que Deus lhes confiou… De
qualquer forma, este texto toca-nos a todos, pois todos somos, de alguma forma,
responsáveis pelos irmãos que caminham connosco. Convida-nos a reflectir sobre a
forma como tratamos os irmãos, na família, na Igreja, no emprego, em qualquer
lado… Recorda-nos que os irmãos que caminham connosco não estão ao serviço dos
nossos interesses pessoais e que a nossa função é ajudar todos a encontrar a
vida e a felicidade.
II LEITURA –
Ef 2,13-18
O texto que nos
é proposto tem, em pano de fundo, essa verdade fundamental que a liturgia nos
recorda todos os domingos: Deus tem uma proposta de salvação para oferecer a
todos os homens, sem excepção; e essa proposta tem como finalidade inserir-nos
na família de Deus. A constatação de que para Deus não há distinções e todos são,
igualmente, filhos amados – para além das possíveis diferenças rácicas, étnicas,
sociais ou culturais – é algo que nos tranquiliza, que nos dá serenidade,
esperança e paz. O nosso Deus é um pai que não marginaliza nenhum dos seus
filhos; e, se tem alguma predilecção, não é por aqueles que o mundo admira e
endeusa, mas é pelos mais débeis, pelos mais fracos, pelos oprimidos, pelos que
mais sofrem.
O que é
verdadeiramente importante, na perspectiva de Deus, não é a cor da pele, nem as
capacidades intelectuais, nem as qualidades humanas, nem a pertença a
determinada instituição política ou religiosa, nem os contributos (em dinheiro
ou em obras) que se dão à Igreja; mas o que é decisivo é ter disponibilidade
para acolher a vida que Ele oferece e para aderir à proposta de caminho que Ele
faz. Estou sempre numa permanente atitude de escuta das propostas de Deus, ou
vivo fechado a Deus e às suas indicações, num caminho de orgulho e de auto-suficiência?
Para mim, o que é que significam as propostas de Deus? Elas influenciam as
minhas opções, os meus valores, as minhas atitudes? A forma como eu me relaciono
com todos os homens e mulheres que encontro nos caminhos deste mundo é coerente
com essa proposta de vida que Deus me faz?
EVANGELHO –
Mc 6,30-34
A proposta
salvadora e libertadora de Deus para os homens, apresentada em Jesus, é agora
continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as
testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e
mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”.
As vítimas da economia global, os que são colocados à margem da sociedade e da
vida, os estrangeiros que buscam noutro país condições dignas de vida e são
empurrados de um lado para o outro, os doentes que não têm acesso a um sistema
de saúde eficiente, os idosos abandonados pela família, as crianças que crescem
nas ruas, aqueles que a vida magoou e que ainda não conseguiram sarar as suas
feridas, encontram em cada um de nós, discípulos de Jesus, o amor, a bondade e a
solicitude de Deus? Que fizemos com essa proposta de vida nova e de libertação
que Jesus nos mandou testemunhar diante das “ovelhas sem pastor”?
A comoção de
Jesus diante das “ovelhas sem pastor” é sinal da sua preocupação e do seu amor.
Revela a sua sensibilidade e manifesta a sua solidariedade para com todos os
sofredores. A comoção de Jesus convida-nos a sermos sensíveis às dores e
necessidades dos nossos irmãos. Todo o homem é nosso irmão e tem direito a
esperar de nós um gesto de bondade e de acolhimento. Não podemos ficar no nosso
canto, comodamente instalados, com a consciência em paz (porque até já fomos à
missa e rezámos as orações que a Igreja manda), a ver o nosso irmão a sofrer. O
nosso coração tem de doer, a nossa consciência tem de questionar-nos, quando
vimos um homem ou uma mulher (nem que seja um desconhecido, nem que seja um
estrangeiro) ser magoado, explorado, ofendido, marginalizado, privado dos seus
direitos e da sua dignidade. Um cristão é alguém que tem de sentir como seus os
sofrimentos do irmão.
Padre José
Granja,
Reitor da Basílica dios Congregados, Braga. |
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