Alexandrina de Balasar

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VI DOMINGO DO TEMPO COMUM
— B —

Livro de Job 7,1-4.6-7.

« A vida do homem sobre a terra, não é ela uma luta? Não são os seus dias como os de um assalariado? Como um escravo suspira pela sombra, e o jornaleiro espera o seu salário, assim eu tive por quinhão meses de sofrimento, e couberam-me em sorte noites cheias de dor. Se me deito, digo: ‘Quando chegará o dia?’ Se me levanto: ‘Quando virá a tarde?’ E encho-me de angústia até chegar a noite. Os meus dias passam mais rápido que a lançadeira e desaparecem sem deixar esperança. Lembra-te de que a minha vida é um sopro, e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade. »

 

Livro de Salmos 147(146),1-6.

Louvai o SENHOR,
porque é bom cantar!
É agradável e é justo
louvar o nosso Deus.

SENHOR restaura Jerusalém
e reúne os dispersos de Israel.

Ele cura os de coração atribulado
e trata-lhes as feridas!
Ele fixa o número das estrelas
e chama a cada uma pelo seu nome.

Grande e poderoso é o nosso Deus;
a sua sabedoria não tem limites.

SENHOR ampara os humildes,
mas abate os malfeitores até ao chão.

 

Primeira Carta aos Coríntios 9,16-19.22-23.

Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.

 

Evangelho segundo S. Marcos 1,29-39.

Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los.

À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era.

De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

 

PONTOS DE REFLEXÃO

1ª- Leitura. Lv 13,1-2.44-46

Os capítulos 11 a 15 do Livro do Levítico contêm as chamadas “leis da pureza”. Trata-se de uma legislação complexa e minuciosa, destinada a estabelecer em que casos se registavam situações de impureza, tornando as pessoas inábeis para o exercício do culto.

No interior desta secção, os capítulos 13 e 14 são dedicados à lepra. A leitura de hoje traz os dois primeiros versículos do capítulo XIII, que atribuem ao sacerdote a tarefa de julgar se existe ou não um estado de impureza; os versículos 44-46 do mesmo capítulo com a descrição do comportamento imposto ao leproso.

Se JHWH é o “Santo”, o Puro por excelência, tudo o que é impuro ou contaminado não pode ter contacto algum com Ele. A impureza era considerada pela Lei de Israel uma situação não tanto moral, mas mais existencial, e proibia não só a participação ativa no culto, como tornava indigno inclusive de pertencer ao povo da Aliança.

O livro do Levítico descreve várias doenças da pele. A lepra constituía a infeção mais grave, da qual era preciso proteger a comunidade. Eis o porquê de existir um estatuto especial para o leproso: este devia viver separado de todos, devia ser bem reconhecido para que ninguém  se aproximasse  dele por engano e, em todo o caso, era obrigado a avisar quem encontrava, denunciando o seu estado e gritar: “Impuro! Impuro!”. É fácil imaginar o sofrimento psicológico, o sentido pesadíssimo da culpa, a percepção de ser rejeitado também pela parte de Deus – para além das dores físicas – que uma legislação deste tipo provocava nos doentes. Tendo isto em conta podemos compreender melhor o Evangelho de hoje. 

2ª- Leitura. 1Cor 10,31-11,1 

A leitura propõe a conclusão do capítulo 10 e o versículo inicial do capítulo 11 da Primeira Carta aos Coríntios.

Paulo retoma a questão, já amplamente enfrentada precedentemente, isto é, das carnes imoladas aos ídolos, que sobravam dos banquetes sagrados e depois eram vendidas a baixo preço nos mercados. As perguntas dos cristãos eram: é lícito, ou não, comer essas carnes? Alimentar-se  delas significa participar na idolatria? Paulo responde que, de per si não tem nada de mal, mas que prestar atenção, para não escandalizar os mais fracos na fé. O critério exposto em !Cor 10,23: “Tudo é permitido”. Mas nem tudo convém. “tudo é permitido!” Mas nem tudo edifica.

Para além dos caos particulares que se possam colocar ou dificuldades que possam surgir, dia após  dia, no relacionamento com o próximo a respeito de questões de fé, São Paulo indica um princípio supremo pelo qual devemos regular-nos: que tudo se faça “para glória de Deus”, expressão um pouco imprecisa que encontra, logo depois, uma aplicação concreta: “Não deis motivo de escândalo, nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus”.

De um ponto de vista pessoal, portanto, o fiel sabe que toda a sua vida, cada acção sua está já no interior do relacionamento totalizante com Deus, ao qual é chamado a dar cada vez mais “glória”, isto é, “peso” no interior da própria vida. É isto que acontece exatamente numa relação de amor, onde tudo, de uma forma ou de outra, tem que ver espontaneamente com a pessoa que se ama.

Do ponto de vista exterior, diríamos social, o cristão é convidado por Paulo a não dar motivo de escândalo a ninguém, nem no interior nem fora da comunidade eclesial, nem a quem tem uma sensibilidade mais próxima (judeus), nem a quem está mais distante (Gregos). O discípulo de Cristo é chamado a viver a sua relação com Deus, pondo de lado a intolerância ou a pretensão de uniformizar a todos (mesmo na comunidade) com o seu ponto de vista, manifestando respeito e acolhimento ao próximo, com as suas convicções, inclusive com as suas fraquezas. 

EVANGELHO. Mc 1,40-45 

Nos escritos rabínicos podemos verificar como os leprosos eram tidos como mortos e a sua cura como uma ressurreição.

Marcos apresenta-nos hoje, com muita simplicidade a narração da cura de um leproso: a descrição do acontecimento; o segredo imposto por Jesus; a transgressão por parte do leproso curado e as consequências que daí derivam. São poucos versículos mas dá para ver como pulsa o coração de Cristo.

Jesus “compadecido” curou aquele leproso.

Nalguns códices antigos, em vez desta palavra podemos ler . “Indignado”. Podemos imaginar em Jesus ambas as reações: por um lado, profunda comoção que comove as vísceras; por outro lado, a raiva que se experimenta diante de um homem obrigado por outros homens, em nome de Deus, a viver numa situação desumana.

O que acontece é que a resposta de Jesus ao pedido desse homem (que nem nome próprio tem mas que é definido pela sua doença infamante), antes ainda de ser ainda uma palavra é um gesto  de afecto: “Estendeu a mão, tocou-lhe”. Jesus ultrapassa todas as normas legais de prudência e toca naquele que era julgado intocável, deixa-se tocar pelo imundo, toma contacto com o pecador. Estabelece um contacto físico. O primeiro modo, o mais simples, o mais desejado, o mais preciso para poder dizer a outrem: “Reparo que tu existes, estou junto de ti, não me metes medo nem nojo”. Jesus usa a linguagem primordial do corpo tocando no doente. Logo a seguir a palavra de cura: “Quero, fica limpo”.

O texto diz-nos que no mesmo instante a lepra deixou-o, o poder curador de Deus passa por um simples contacto humano, e o leproso não pode calar o amor que lhe restituiu a vida. 

P. José Granja

 

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