Alexandrina de Balasar

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V DOMINGO DO TEMPO COMUM
— B —

Livro de Deuteronómio 18,15-20.

O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, dentre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar. Foi o que pediste ao Senhor, teu Deus, no monte Horeb, no dia da Assembleia, quando lhe disseste: ‘Não queremos mais ouvir a voz do Senhor, nosso Deus, nem tornar a ver mais este fogo enorme, para não morrer.’ O Senhor disse-me então: ‘Está certo o que eles dizem. Suscitar-lhes-ei um profeta como tu, dentre os seus irmãos; porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. Mas aquele que não atender às palavras que ele disser em meu nome, Eu próprio lhe pedirei contas! O profeta, porém, que tiver a insolência de anunciar em meu nome palavras que não lhe mandei dizer, e aquele que falar em nome de deuses estrangeiros, esse profeta morrerá.

 

Livro de Salmos 95(94),1-2.6-9.

Vinde, exultemos de alegria no SENHOR,
aclamemos o rochedo da nossa salvação.

Vamos à sua presença com hinos de louvor,
saudemo-lo com cânticos jubilosos.

Vinde, prostremo-nos por terra,
ajoelhemos diante do SENHOR,
que nos criou.

Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo,
as ovelhas por Ele conduzidas.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meribá, como no dia de Massá,
no deserto, quando os vossos pais
me provocaram e me puseram à prova,
apesar de terem visto as minhas obras.

 

Primeira Carta aos Coríntios 7,32-35.

Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor. Mas aquele que tem esposa cuida das coisas do mundo, como há-de agradar à mulher, e fica dividido. Também a mulher não casada, tal como a virgem, cuidam das coisas do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo, como há-de agradar ao marido. Digo-vos isto para vosso bem, não para vos armar uma cilada, mas visando o que é mais nobre e favoreça uma dedicação ao Senhor, sem partilha.

 

Evangelho segundo S. Marcos 1,21-28.

Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

 

PONTOS DE REFLEXÃO

1ª- Leitura. Job 7,1-4.6-7P

Acusado pelo amigo Elifaz de se achar no sofrimento por causa de uma culpa cometida, Job transporta a reflexão do contexto ético-religioso para o humano-existencial. Considerada em si mesma, afirma ele, a vida é dura, depende de outrem, do Senhor; a doença, depois, torna-a incerta e breve. Não é conveniente, então, que Deus castigue, antes Se recorde como é precária a condição dos Seus filhos.

Doenças e sofrimento suscitam em cada pessoa (mesmo crente) reações contrastantes que podem levar a acusar-se a si própria  ou encontrar em Deus o responsável . Job, porém, perspectiva também uma terceira opção: invocar com firmeza o Criador para que se recorde; que não esqueça que cada pessoa é criada “à imagem e semelhança”, e portanto é preciosa aos Seus olhos; que tenha em conta que a vida  dos seres humanos é já fatigante, um trabalho duro, e breve como um sopro. Para quê tornar ainda mais difícil a sua existência, castigando-os com doenças? Não deveria o Criador mostrar a Sua face de misericórdia para aliviar os sofrimentos aos quais, por natureza, estão sujeitas às Suas criaturas?

2º- Leitura. 1Cor 9,16-19.22-23

Paulo, como homem livre, renuncia voluntariamente aos benefícios que o apostolado lhe oferece e considera-se “escravo” do Evangelho, a fim de poder anunciá-lo gratuitamente. Reconhecendo um efectivo “senhorio” à Palavra e a quem lhe confiou o encargo de a divulgar, Paulo  vive a verdadeira liberdade cristã como um serviço gratuito ao Evangelho que deve anunciar a todos, adaptando-o à situação concreta de cada um. E, coerentemente, ele mesmo, pessoalmente, coloca em prática o que anuncia.

A liberdade, para Paulo, não é fazer o que apetece mas sim acolher librevemente o que Deus pensou de belo, de bom, de verdadeiro para cada um, sem que se aproprie desse projecto. Com efeito, liberdade casa não só com obediência, enquanto “necessidade” que me é imposta do interior, mas também como  gratuidade para “ganhar o maior número possível” de pessoas para a causa de Cristo.

E a fidelidade á missão confiada casa com a dedicação total, com a coerência de vida que leva a viver pessoalmente o que se anuncia, e com a disponibilidade a permanecer no seu lugar.

Escravo livremente “para” e “do” Evangelho, Paulo escolheu sê-lo também daqueles aos quais foi enviado. Esta é o melhor forma para tornar credível a Boa Notícia e para dar transparência à missão recebida.

EVANGELHO. Mc. 1,29-39

A partir da sinagoga (lugar do encontro com Deus), Jesus leva o “seu ensinamento novo” feito de palavras e sinais de curas, também às casas –lugar das relações mais íntimas e junto ás portas – símbolo da abertura a todos. Passa também longo tempo em oração, para obter força para transgredir as convenções do tempo, que O impediam de Se aproximar e de tocar em mulheres e doentes.

Jesus concretiza o Seu pastoral proclamado no anúncio: ”O reino de Deus está próximo”. Com a força libertadora da Sua Palavra, Jesus vence todas as formas de mal que ameaçam a vida das pessoas nas diversas situações da vida. As forças demoníacas, que desde sempre tornaram difícil a vida dos homens, são aniquiladas por Jesus e reduzidas ao silêncio.

Para Jesus de Nazaré o sucesso está garantido, mas é também fonte de tentação (Todos Te procuram), e por isso, para permanecer fiel ao projecto que o Pai Lhe confiara, o Filho ora. A Sua missão, de facto, não é a de procurar a notoriedade, mas a de restituir a todos a dignidade de pessoas livres: ao homem, à mulher, a quem é atormentado por doenças mentais ou físicas; não só em Cafarnaúm, mas em toda a Galileia.

Padre José Granja

 

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