PONTOS DE REFLEXÃO
1ª. Leitura. Dt. 18,15-20
A leitura
de hoje propõe uma parte das normas respeitantes à vida dos profetas,
figuras de mediação entre JHWH e Israel requeridas pelo próprio povo. O
versículo 18 enumera as características do profeta: é suscitado por
Deus, é tomado de entre os Israelitas, refere o que o Senhor lhes
comunica, é “como Moisés”.
No Antigo
Testamento o profeta é o homem capaz de ler o presente com um olhar
iluminado por Deus, e por isso está habilitado a falar em nome de JHWH ,
o qual lhe coloca nos lábios as Suas próprias palavras, como é referido
no versículo 18 da leitura de hoje e como se encontra nas narrações de
vocação profética.
Precisamente o versículo 18 foi objecto, quer no judaísmo quer no
cristianismo primitivo, de uma interpretação escatológica. Ou seja,
viu-se na promessa de “um profeta como Moisés” o anúncio não tanto de
uma figura respeitável somente, mas do enviado último e definitivo da
parte de Deus, Jesus como Messias.
2ª Leitura. 1Cor.7,32-35
O capítulo
sétimo da Primeira Carta aos Coríntios enfrenta temas referentes à
sexualidade e aos estados de vida. Através da exposição de uma
casuística rica acerca das condições diversas da vida, Paulo responde à
questão levantada pelos destinatários da Carta: é permitida aos cristãos
uma vida sexual, ou devem abster-se dela completamente?
No âmbito
do discurso articulado e complexo a respeito das modalidades com as
quais os cristãos são chamados a viver a sua sexualidade, Paulo não
esconde a sua preferência por um regime de vida celibatário, o qual, no
entanto, requer um dom específico de Deus.
No texto
que hoje estamos a meditar, o Apóstolo sustenta que a vantagem de quem
não está casado consiste em ter menos preocupações, portanto os casados,
além de procurarem agradar a Deus devem também procurar agradar ao
marido ou à esposa, ao passo que quem não está casado tem somente a
preocupação de agradar a Deus. Certamente que não se trata de dois tipos
de preocupações inconciliáveis entre si, senão o Apóstolo deveria ter
proibido o matrimónio, mas de arcar com um maior ou menor número de
preocupações.
A
finalidade, única para todos, é declarada no último versículo: “O que
mais convém e vos pode unir ao Senhor sem desvios”. Para o alcançar,
Paulo não impõe nada a ninguém, limita-se apenas a dar conselhos.
EVANGELHO. Mc. 1,21-28
Estamos no
início do Evangelho de Marcos, logo após o chamamento dos primeiros
quatro discípulos, e pela primeira vez o evangelista descreve Jesus
enquanto este ensina e expulsa um demónio.
No centro
da narração é colocado um exorcismo. A multidão fica assombrada mais
pela “nova doutrina ensinada com autoridade” do que pelo poder de Jesus
sobre os “espíritos impuros”. Depois a fama de Jesus divulga-se
extraordinariamente.
O Evangelho
lido em paralelo com o texto do Deuteronómio, que anuncia a chegada de
um grande profeta, sublinha que Jesus é o verdadeiro herdeiro de Moisés
e que a Sua doutrina se distingue do ensino dos escribas pois Jesus
ensina com “autoridade”.
A Palavra
de Jesus provoca a reação daquilo que lhe é contrário: um “espírito
impuro”, isto é, afastado de Deus, que habita num homem e que vê o seu
poder em perigo, desencadeia-se contra Jesus, reconhece-O por quem
realmente é, e por isso não quer nada com Ele. É de notar que a primeira
profissão de fé do
Evangelho
de Marcos provém precisamente de um espírito impuro.
O que será
um “espírito impuro”? O homem que rejeita a Deus, a Sua Palavra é alguém
com um “espírito impuro”. Quantas vezes mesmo dentro de nós surge esta
pergunta: “que tens a ver connosco Jesus de Nazaré”? Ou mais
literalmente: “Que pretendes da minha vida”? Há sentimentos dentro de
nós que são manifestação desse “espírito impuro”! Por vezes pensamos que
“impuro” é apenas o chamado pecado da “carne”, mas não! Tudo aquilo que
em nós rejeita O Evangelho é “impuro”: corrupção, inveja, ciúme,
maledicência, roubo, injustiça, egoísmo, etc... Mas Jesus com a força da
Sua Palavra pode libertar-nos de todas essas “impurezas”.
P. José
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