Interroguemo-nos sinceramente
Poderíamos
chamar a este domingo, o domingo da prudência, visto que todos os textos
que nos são propostos caminham nesse sentido.
Na primeira
leitura, diz-nos o livro da Sapiência que “a sabedoria facilmente se
deixa ver por aqueles que a amam, e encontrar por aqueles que a buscam”
e que, “ela própria vai à procura dos que são dignos dela, pelos
caminhos lhes aparece com benevolência e vai ao encontro deles, em cada
um dos seus pensamentos”.
Mas, quais
são esses caminhos onde a sabedoria nos “aparece com benevolência”
e “se deixa ver por aqueles que a amam”?
São Paulo
procura esclarecer-nos, mesmo se utilizando um extremo da cadeia que nos
une a Deus e às suas obras.
Efectivamente, quando ele diz não nos “querer deixar na ignorância”,
ele explica que “se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim
também Deus reunirá com Jesus os que em Jesus adormeceram”.
Esta
afirmação parece estar em desacordo com o que Jesus tinha dito, ao falar
das dez virgens, o que não é exacto. Vejamos:
Jesus diz:
“O Reino do Céu será semelhante a dez virgens”, mas dez virgens
que “saíram ao encontro do noivo”, quer dizer que foram para casa
do noivo à espera que este chegasse no momento oportuno. Ora, esse
momento “oportuno” era-lhes desconhecido, por isso mesmo elas tiveram
tempo de adormecer
“assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã”
(Gen. 1, 5).
Como nos
diz Jesus, “todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as
candeias”, salvo cinco delas, as que Jesus chama imprudentes, quase
não tinham já azeite para alimentar as candeias, o que as levou a
pedirem auxílio àqueles que ainda tinham reserva de azeite: “dai-nos
do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se”.
A recusa
das outras cinco, não pode aqui ser considerada como uma falta de amor,
como uma falta de caridade, mas sim como um acto de justiça, como está
previsto nas obras de misericórdia: “corrigir os que erram”.
De facto,
as prudentes respondem às imprudentes de maneira certa, de maneira
caridosa: “Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes,
aos vendedores e comprai-o”.
Aliás, esta
resposta não parece ter “caído mal” às outras cinco que logo saíram da
casa do esposo para irem à procura de azeite. Mas, o que poderia
acontecer aconteceu e, o esposo chegou antes que elas voltassem...
Será que o
Esposo vai mostrar-se benevolente ou então aplicar a justiça?
O facto é
que quando elas batem à porta, esperando que alguém lhes abra, a
resposta sai pronta, mas terrível:
— “Não
vos conheço”.
Agora,
olhemos com atenção o interior das nossas almas e perguntemos a nós
mesmos:
Quando eu
bater à porta da casa do Senhor – o Esposo da minha alma — que vai Ele
dizer-me?
Durante
toda a minha vida, que fiz eu para alimentar a candeia que arde no meu
coração, na minha alma?
Vou eu ter
azeite suficiente — o azeite das minhas boas obras — para esperar a
chegada do Esposo?
Terei eu
que recorrer às idas e vindas para encontrar esse azeite que me falta?
Sou eu
suficientemente sensato para não deixar apagar a lâmpada que arde na
minha alma?
Depois
destas interrogações, serei eu suficientemente sensato para guardar na
minha alma, custe o que custar, este conselho de Jesus?
“Vigiai,
pois, porque não sabeis o dia nem a hora”.
Meditemos
esta frase tão cheia de sentido e estejamos sempre prontos para a
chegada do divino Esposo. Amem.
Afonso
Rocha |