SITE DOS AMIGOS DA ALEXANDRINA - SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - ALEXNDRINA'S FRIENDS WEBSITE

     


XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
— A —

Leitura do Primeiro Livro dos Reis (1 Reis 3, 5.7-12)

Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe :

« Pede o que quiseres »

Salomão respondeu :

« Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para saber distinguir o bem do mal ; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso? »

Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe :

« Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti ».

 

Salmo 118 (119), 57.72.76-77.127-128.129-130

Senhor, eu disse: A minha herança
é cumprir as vossas palavras.
Para mim vale mais a lei da vossa boca
do que milhões em ouro e prata.

Console-me a vossa bondade,
segundo a promessa feita ao vosso servo.
Desçam sobre mim as vossas misericórdias e viverei,
porque a vossa lei faz as minhas delícias.

Por isso, eu amo os vossos mandamentos,
mais que o ouro, o ouro mais fino.
Por isso, eu sigo todos os vossos preceitos
e detesto todo o caminho da mentira.

São admiráveis as vossas ordens,
por isso, a minha alma as observa.
A manifestação das vossas palavras ilumina
e dá inteligência aos simples.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo
aos Romanos (Rom 8, 28-30)

Irmãos :

Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio.

Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou ; àqueles que chamou, também os justificou ; e àqueles que justificou, também os glorificou.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Mateus (Mt 13, 44-52)

Naquele tempo, disse Jesus às multidões :

« O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo.

O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola.

O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora.

Assim será no fim do mundo : os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto? »

Eles responderam-Lhe : « Entendemos ».

Disse-lhes então Jesus :

« Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas ».

 

PONTOS DE REFLEXÃO

PRIMEIRA LEITURA 1Rs 3,5.7-12

Inteligência, sabedoria, discernimento: são estes os dons que Salomão pede a Deus na oração que faz no começo do seu reinado (w. 7-9). É levado a isso pela recordação dos benefícios divi­nos, e, inspirando-se em David seu pai, delineia as características de um poder exercido segundo a vontade de Deus (cf. 1Rs 3,6). Assente neste ideal, olha com humildade para si mesmo e confes­sa a sua necessidade do auxílio do Senhor para um serviço que deve prestar ao povo. É precisamente esta humildade que torna a oração de Salomão digna de ser ouvida (w. 10-12).

O episódio narrado no Primeiro Livro dos Reis diz respeito em particular a todos os que têm a responsabilidade de governar os seus irmãos. É um encargo certamente difícil para um «jovem» como Salomão (v. 7), sobre o qual paira a imagem gloriosa do pai David.

O pedido do rei revela a posse de dotes não comuns: pedindo a capacidade de «distinguir o bem do mal» (v. 9), revela ter compreendido a lição que vem da Palavra de Deus. Com efeito, tinha sido esse o erro dos nossos primeiros pais no jardim do Éden, quando acreditaram poder decidir sozinhos sem precisar da orientação divina (cf. Gn 3,1-7).

Tal como a deles, também a história de Salomão, embora tenha começado bem, não alcançou um resultado famoso. Bem depressa o jovem soberano começou a tornar-se árbitro único do seu futuro e da verdade das suas acções, com resultados desastrosos (cf. 1Rs 11). Todavia, o seu pedido foi sábio, bom e digno de ser imitado. Deus responde certamente a todos os que o imitam com «coração» humilde e verdadeiro.

SEGUNDA LEITURA Rm 8,28-30

Segundo o Seu desígnio, Deus «de antemão» «conheceu-nos», amou-nos, e «predestinou-nos para sermos conformes à imagem de seu Filho», (v. 29) Agora esta Sua vontade, oculta nos séculos, concretiza-a no tempo «chamando-nos» e «justificando-nos» (v. 30a) através do Baptismo, e condu-la ao seu fim «glorificando-nos». Este último acto divino, que implica a nossa ressurreição para a vida, é tão certo da parte de Deus que, para o exprimir, Paulo usa ura verbo no passado: «glorificou-nos.» (v. 30b)

Paulo recorda que Deus «chamou» cada um de nós, em particular todos os que correm o risco de se deixar abater pelas dificuldades, a caminhar nas novidades. O percurso que o Senhor nos propõe tem várias etapas: a partir de uma preparação longínqua, ainda antes do nosso nascimento, à vocação que nos fez descobrir a fé, até ao convite constante à conversão. Este percurso tem uma meta clara ao tornarmo-nos «conformes à imagem» de Cristo, o Filho de Deus (v. 29).

A nossa aventura, humana e espiritual, tende a tornar-nos cada vez mais semelhantes a Cristo. Isto porém não acontece primeiro pelo nosso esforço ou pelas nossas capacidades, mas sim pela acção da graça divina que nos ampara e guia. Os crentes devem pois lançar-se com confiança nessa aventura da fé; não faltará certamente o auxílio divino, a fim de que o seu caminho possa alcançar a meta da santidade e da consequente salvação.

EVANGELHO MT 13,44-52

Nas três parábolas narradas no Evangelho de hoje, o Reino de Deus é sucessivamente comparado a um «tesouro» encontrado num campo (v. 44), à pessoa que o encontra (o «negociante»: v. 45), à «rede que apanha toda a espécie de peixes», (v. 47) O mistério do Reino é, de facto, multiforme e complexo para ser descrito. As parábolas do tesouro no campo e do negociante de pérolas são construídas com o mesmo esquema e não foram seguidas por explicação alguma. No início há a descoberta de um objecto de valor, um «tesouro» ou uma «pérola preciosa» (w. 44a-46); o descobridor comporta-se depois do mesmo modo: decide renunciar a tudo, conquanto venha a possuir o tesouro que encontrou.

A terceira parábola (w. 47-48), mais ampla e dotada de explicação (w. 49-50), é a base para a compreensão das outras duas (w 44-46).

Compara o Reino a uma «rede cheia de peixes»; a explicação que se segue coloca a ênfase sobre a distinção entre os «bons e os que não prestam» (v. 48), distinção que porém não é imediata, porquanto se fará apenas no final da pescaria, quando a rede fica cheia e é levada para a praia pelos pescadores, isto é, «no fim do mundo», (v. 49) Finalmente a parábola interessa-se sobretudo pela sorte dos maus, lançados na «fornalha ardente», (v. 50)

Estas três parábolas, nos lábios de Jesus, são um convite premente à conversão e ao acolhimento do Reino de Deus, que vem e se está manifestando ao mundo. O que Deus nos oferece tem um valor infinito, não tem preço: por isso estarmos prontos a renunciar a tudo para conquistarmos a salvação é uma dedução lógica e imediata. Jesus recorda aos Seus ouvintes o quão urgente é decidir-se e acolher o Reino: é necessário aproveitar as ocasiões que Deus nos oferece e convertermo-nos, para não nos encontrarmos no fim entre os maus.

O modelo que resume os ensinamentos deste domingo é o do «escriba que se tornou discípulo do reino dos céus». (Evangelho: Mt 13,52) Este é que é o verdadeiro sábio, o homem que descobriu o tesouro da Lei de Deus como guia da sua vida, e por isso respondeu com generosidade ao apelo de conversão proclamado por Jesus. Ele compreende que tudo o que recebeu da sua tradição religiosa (as «coisas antigas») concorda com tudo o que prega o Profeta da Galileia, e parece novo e impressionante.

Sem perder nada do seu significado original, as parábolas de Jesus foram relidas e explicadas por Mateus para a sua comunidade crente. Trata-se de uma primeira actualização eclesial da Palavra, que deve guiar também a nossa leitura de hoje. O evangelista, em tempos de perseguição, recorda aos seus destinatários que é preciso que estejam prontos a deixar tudo para seguir o Senhor; nem devem escandalizar-se, depois da morte e ressurreição de Cristo, com a presença de bons e de maus que percorrem os caminhos do mundo. A derrota do mal começou com poder, o resultado final da luta é indubitavelmente a favor de Deus, mas a luta ainda não terminou.

O mal foi vencido por Jesus Ressuscitado e pela efusão do seu Espírito, mas esta vitória não se manifestará plenamente senão no fim do mundo.

É uma mensagem que contínua válida em todas as épocas. Cada período da História depois de Cristo conheceu grandes luzes de esperança, sinais claros do Reino de Deus que vem, mas também profundos momentos de escuridão: testemunho de um mistério do mal que ainda perdura e é fonte de esperança e de prova para os justos. Por tudo isto, o verdadeiro discípulo de Jesus, segundo Mateus, é aquele que compreende plenamente a mensagem evangélica e não se escandaliza com a duração do mal na História humana. Deve por isso distinguir-se de quantos não querem compreender e recu­sam o anúncio do Reino, como um «peixe bom» no meio dos maus, investindo todas as suas energias na missão de aprofundamento da fé.

A tradição cristã quis reconhecer no «escriba que se tornou discípulo do reino dos céus» um auto-retrato do próprio evangelista Mateus, profundo conhecedor da tradição hebraica e do Antigo Testamento, mas também subtil pesquisador das novidades que Jesus veio trazer. Sobretudo capaz, muito mais do que os outros evangelistas, de demonstrar como o anúncio do Evangelho está profundamente enraizado no Antigo Testamento, levando a melhores frutos a fé de Israel na vinda do Salvador. Nada nos impede de acolher esta tradição: o evangelista apresenta-se então como um modelo, para nós seus leitores, do caminho de escuta e acolhimento de toda a Palavra de Deus, que Ele mesmo nos convida a percorrer.

Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga.

 

Para qualquer sugestão ou pedido de informações, pressione aqui :