Sob o
assoalho actual da igreja estão as ruínas de uma casa romana
construída por volta do ano 280. Suzana e Gabínio eram parentes do
general Gaio Aurélio Diocleciano, que se tornaria imperador em 284.
Tal qual o imperador, eles eram naturais da Dalmácia (hoje,
Croácia). A família era formada por quatro irmãos. Caio e Gabínio –
e a filha de Gabínio, Suzana – que viviam nesta casa, dois outros
irmãos, Máximo e Cláudio, que
viviam
em outra parte da cidade, e faziam parte do governo romano. As
crenças religiosas da família eram divididas. Caio, Gabínio e Suzana
eram cristãos, enquanto Máximo e Cláudio continuaram seguidores da
antiga religião de Roma.
Caio e
Gabínio não eram somente cristãos; eram padres. Em Dezembro de 283,
Caio foi eleito bispo de Roma, e serviria como Papa até sua morte,
em Abril de 296. Se o clero romano tivesse elegido Caio por causa do
seu relacionamento com seu poderoso primo, Diocleciano, ficaria
extremamente decepcionado, já que em 303 o imperador Diocleciano
empreenderia a última grande perseguição à fé cristã. De 280, quando
a construção da casa foi terminada até 293, a casa dessa família
serviu como uma “domus ecclesia”, ou igreja doméstica.
Como a
Igreja Cristã não era legalmente reconhecida pelo estado romano,
casas e construções particulares, pertencentes aos membros da
comunidade, eram usadas como as primeiras igrejas. Depois de se
tornar imperador em 284, e a fim de assegurar a paz e a
estabilidade, Diocleciano adoptou uma forma de governo denominada
tetrarquia ou governo dividido. Diocleciano governou principalmente
o leste, e um imperador conjunto, Maximiano, um general que
Diocleciano havia promovido, governou o oeste. Por sua vez, cada
imperador ou “Augusto” deveria indicar um governador menor, ou
“César”, que teria o direito de sucedê-lo.
Maximiano nomeou Constâncio (pai de Constantino), e Diocleciano
nomeou Maxêncio Galério. No ano 293, a fim de garantir a sucessão de
Maxêncio, Diocleciano planejou introduzir esse jovem general em sua
família próxima, por meio de um casamento. A filha de Diocleciano,
Valéria, já era casada. A única jovem solteira na família era
Suzanna, sua prima. Assim, na primavera de 293, Diocleciano anunciou
o noivado de Maxêncio Galério e Suzana, fato que conduziria a
família a uma crise familiar e ao martírio.
A
história do que ocorreu entre os membros da família vem de um relato
do século VI. Suzana recusou a proposta de casamento. Seu pai,
Gabínio, e seu tio, Caio, apoiaram sua decisão e encorajaram-na a
manter seu compromisso com Cristo. Seus tios não cristãos, Cláudio e
Máximo, tentaram persuadir Suzana a se casar com Maxêncio, já que
isso a transformaria em imperatriz algum dia. Em uma conversa entre
os quatro irmãos, Cláudio e Máximo se converteram ao cristianismo.
O
general Maxêncio, então, foi à casa de Suzana, acreditando que
pudesse persuadi-la a se casar com ele. A recusa de Suzana logo
levou a suspeita de que ela e outros membros de sua família poderiam
ser cristãos. O cônsul romano, Macedónio, chamou então Suzana ao
Fórum Romano e solicitou que ela provasse a sua lealdade ao estado,
executando um ato de adoração ante o deus Júpiter. A sua recusa
confirma o facto de que ela e os outros membros de sua família
poderiam ser cristãos. No entanto, não houve tentativa de prendê-la,
por ser ela membro da família do imperador.
Suzana
recusou a proposta de casamento não somente porque era cristã, mas
também porque havia tomado o voto de virgindade. Quando Diocleciano,
na fronteira oriental, tomou conhecimento da recusa de sua prima e
as suas razões, ficou profundamente irado e ordenou a sua execução.
Um pelotão de soldados foi à sua casa e ela foi decapitada.
Seu pai
Gabínio foi preso e passou fome até morrer na prisão. Máximo e
Cláudio, juntamente com a esposa de Cláudio, Prepedigna, e seus
filhos, Alexandre e Cuzia foram todos martirizados. Ironicamente, o
único sobrevivente foi o Papa Caio, que conseguiu escapar e
esconder-se nas catacumbas. Estes assassinatos dentro da própria
família de Diocleciano prenunciariam a última grande perseguição à
igreja cristã, iniciada pelo imperador no ano 303. Valéria, a filha
de Diocleciano divorciou-se, e em Junho de 293 desposou Maxêncio,
que sucederia Diocleciano em 305.
No ano
330 foi construída uma basílica sobre o local da casa de Suzana. Foi
primeiramente denominada São Caio em honra do Papa que lá havia
residido. Os corpos de Gabínio e Suzana foram trazidos das
catacumbas e enterrados dentro da igreja. No ano 590, o Papa São
Gregório, o Grande, em reconhecimento ao culto devocional que havia
crescido ao redor da tumba de Santa Suzana, renomeou a igreja em sua
honra.
FONTE: http://www.santasuzana.org.br/santa-suzana/ |