Na ocasião em
que Sua Santidade instituiu a festa universal
do mesmo Santíssimo Nome
Só vos digo que
invoqueis o nome de Maria quando tiverdes necessidade dele: quando vos sobrevier
algum
desgosto, alguma pena, alguma tristeza: quando vos molestarem os achaques
do corpo, ou vos não molestarem os da alma: quando vos faltar o necessário para
a vida, ou despejardes o supérfluo para a vaidade: quando os pais, os filhos, os
irmãos, os parentes se esquecerem das obrigações do sangue: quando vo-lo
desejarem beber a vingança, o ódio, a emulação, a inveja: quando os inimigos vos
perseguirem e os amigos desampararem, e de onde semeastes benefícios, colherdes
ingratidões e agravos: quando os maiores vos faltarem com a justiça, os menores
com o respeito, e todos com a proximidade: quando vos inchar o mundo, vos
lisonjear a carne, e vos tentar o demônio, que será sempre e em tudo: quando vos
virdes em alguma dúvida, ou perplexidade, em que vos não saibais resolver, nem
tomar conselho: quando vos não desenganar a morte alheia, e vos enganar a
própria, sem vos lembrar a conta de quanto e como tendes vivido, e ainda
esperais viver: quando amanhecer o dia, sem saberdes se haveis de anoitecer, e
quando vos recolherdes à noite, sem saber se haveis de chegar a manhã:
finalmente, em todos os trabalhos, em todas as aflições, em todos os perigos, em
todos os temores, e em todos os desejos e pretensões, porque nenhum de nós
conhece o que lhe convém: em todos os sucessos prósperos ou adversos, e muito
mais nos prósperos, que são os mais falsos e inconstantes: e em todos os casos e
acidentes súbitos da vida, da honra, da fazenda e principalmente nos da
consciência, que em todos anda arriscada, e com ela a salvação. E como todas
estas coisas, e cada uma delas necessitamos de luz, alento e remédio mais que
humano; se em todas e cada uma recorremos à proteção e amparo da Mãe das
misericórdias, não haverá dia, nem hora, nem momento, que não invoquemos o nome
de Maria.
Sermão do Padre
Antínio Vieira: “Maria, a Estrela do Mar”. |