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SOLENIDADE
DA SANTÍSSIMA TRINDADE
PONTOS DE
REFLEXÃO
I LEITURA
- Deut 4,32-34.39-40.
No trecho
que nos é proposto, o autor deuteronomista começa por convidar Israel a
contemplar a história "desde o dia em que Deus criou o homem sobre a
terra"oO resultado dessa contemplação é a constatação do contínuo
empenho de Jahwéh no sentido de oferecer ao seu Povo a vida e a
salvação.
Toda a
história da relação entre Deus e Israel é uma extraordinária história de
relação, na qual se manifesta o amor de um Deus empenhado em estabelecer
comunhão e familiaridade com o seu Povo. Jahwéh escolheu Israel de entre
todos os povos da terra, veio ao seu encontro, falou-lhe ao coração e
realizou gestos destinados a trazer ao Povo ao encontro da vida. De mil
formas, Deus fez ouvir a sua voz, indicou caminhos, conduziu o seu Povo
da escravidão para a liberdade.
Nesta
catequese do livro do Deuteronómio, Jahwéh revela-Se como o Deus da
relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu
Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes
indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente
atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar
de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida
plena e verdadeira. Por vezes, ao longo da nossa caminhada pela vida,
sentimo-nos sós e perdidos, afogados nas nossas dúvidas, misérias e
dramas, assustados e inquietos face ao rumo que a história segueo Mas a
certeza da presença amorosa, salvadora e reconfortante de Deus deve ser
uma luz de esperança que ilumina o nosso caminho e que nos permite
encarar cada passo da nossa existência com alegria e serenidade.
II
LEITURA - Romanos 8,14-17
A condição
de "filhos" equipara os crentes com Cristo. Eles tornam-se, assim,
"herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo". Qual é essa "herança" que
lhes está reservada? É a vida plena e definitiva, que Deus oferece
àqueles que aceitaram a proposta de Cristo e percorreram com Ele o
caminho do amor, da doação, da entrega da vida.
O nosso
Deus é, de acordo com a catequese de Paulo, o Deus da relação, apostado
em vir ao encontro dos homens, em oferecer-lhes vida, em integrá-los na
sua família, em amá-los com amor de Pai, em torná-los herdeiros da vida
plena e definitiva.
Mais uma
vez a Palavra que nos é proposta reafirma esta realidade: o Deus em quem
acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que Se demitiu do seu
papel de criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos
dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da
humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e
verdadeira. Há, ao longo da nossa caminhada pela vida, momentos de
solidão e de desespero, em que procuramos Deus e não conseguimos
descortinar a sua presença; mas, sobretudo nesses momentos dramáticos, é
preciso não esquecer que Deus nunca desiste dos seus filhos e que nenhum
de nós Lhe é indiferente.
Os membros
da comunidade cristã, que pelo Baptismo aderiram ao projecto de salvação
que Deus apresentou aos homens em Jesus e cuja caminhada é animada pelo
Espírito, integram a família de Deus. O fim último da nossa caminhada é
a pertença à família trinitária.
EVANGELHO - Mt 28,16-20
Mateus
situa este encontro final entre Jesus ressuscitado e os discípulos, num
"monte que Jesus lhes indicara". Trata-se, no entanto, de uma montanha
da Galileia que é impossível identificar geograficamente, mas que talvez
Mateus ligue com a montanha da tentação (cf. Mt 4,8) e com a montanha da
transfiguração (cf. Mt 17,1). De qualquer forma, o "monte" é sempre, no
Antigo Testamento, o lugar onde Deus se revela aos homens.
Este texto
evangélico foi escolhido para o dia da Santíssima Trindade, pois nele
aparece uma fórmula trinitária usada no baptismo cristão ("em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo"). O nosso texto sugere, antes de
mais, que ser baptizado é estabelecer uma relação pessoal com a
comunidade trinitária… No dia em que fomos baptizados, comprometemo-nos
com Jesus e vinculamo-nos com a comunidade do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. A minha vida tem sido coerente com esse compromisso?
A
celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de
compreender e decifrar esse mistério de "um em três". Mas deve ser,
sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto,
comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa
família - pai, mãe e filho - é afirmar três deuses e é negar a fé;
inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas
diferentes de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo
rosto, é negar a distinção das três pessoas e é também negar a fé. A
natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus
comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas.
O Deus família torna-Se trindade de pessoas distintas, porém unidas.
Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana
não consegue "dizer" o indizível, não consegue definir cabalmente o
mistério de Deus.
Padre José
Granja
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |