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PONTOS DE
REFLEXÃO
PRIMEIRA LEITURA Ex
34,4b-6.8-9
Depois do pecado do vitelo de
ouro, Moisés, segundo a ordem
de Deus, sobe de novo ao monte
Sinai levando consigo as duas
tábuas de pedra (v. 4), nas quais
Deus voltará a gravar as cláusulas
da Aliança. O Senhor manifesta-Se
na nuvem e proclama o Seu
nome indicado por quatro letras, que não se podem pronunciar:
jhwh.
A misericórdia ilimitada
de Deus declara a Sua disponibilidade
para o perdão (v. 6), e a ela apela a oração de Moisés (w. 8-9).
A identidade de Deus
não pode ser contida numa só palavra humana. Só Deus pode falar de Si.
Jhwh, «descido na nuvem» (cf. v.
5), que revela e ao mesmo tempo oculta a Sua presença, proclama-Se a Si mesmo
como um Deus cuja misericórdia não' tem limites, rico de «misericórdia e
fidelidade», (v. 6) Estes dois títulos estão na base da Aliança, e por isso a
relação vital com o Senhor não depende da boa vontade humana nem das promessas
humanas, mas da Sua livre e gratuita iniciativa de amor. Na oração que se apoia
nesta bondade gratuita, Moisés pede a Deus que fique de novo presente no meio do
povo que caminha para a Terra Prometida, sem ter em conta as resistências e as
infidelidades de Israel (w. 8-9). As palavras da Escritura ajudam-nos a rever o
esquema em que, ao «Deus de amor» do Novo Testamento, revelado por Jesus, se
contrapõe o «Deus do temor» do Antigo Testamento.
SEGUNDA LEITURA
2Cor
13,11-13
Paulo termina a
Segunda Carta aos Coríntios com uma série de exortações breves. Faz o resumo da
vida dos cristãos através destas palavras: alegria; perfeição; concórdia; paz
(cf. v. 11). A troca de saudações e o ósculo santo encerram a assembleia cristã
(v. 12). No final Paulo acrescenta uma saudação trinitária que exprime a fé em
Deus Pai, Filho e Espírito Santo (v. 13).
Na parte central da
bênção (cf. v. 13) Paulo coloca «o amor de Deus». Trata-se daquele amor que Deus
tem por nós e que se manifesta na dádiva livre e gratuita do «Senhor Jesus
Cristo». A comunhão (koinonía) entre os crentes alimenta-se do amor
comunicado pelo Espírito Santo. Ou seja, toda a vida cristã está mergulhada na
realidade de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, que se torna presente e actua
através do amor.
EVANGELHO
Jo 3,16-18
Ao diálogo nocturno
com Nicodemos (cf. Jo 3,1-15) segue-se uma meditação sobre o amor de Deus, que
se revela e se comunica na dádiva do seu Filho único (v. 16a). A finalidade da
dádiva e do envio do Filho é a «vida eterna» (16b), ou seja, a salvação
oferecida a todos os homens (v. 17). A condição requerida é a fé, enquanto
acolhimento livre do enviado do Pai (v. 18).
Nas três declarações
que compõem o texto evangélico, o evangelista sublinha a iniciativa radical de
Deus. A Sua dádiva irreversível tem o rosto de Jesus, o «Filho único» de Deus. O
destinatário desta dádiva é o «mundo» (w. 16-17), isto é, todos os seres
humanos, sem privilégios nem distinções. A livre comunicação do amor de Deus é
um desafio permanente à liberdade humana que pode acolhê-lo ou recusá-lo. Na
abertura ou fechamento ao amor revelado e doado por Deus jogam-se a vida e a
morte dos seres humanos.
A Palavra faz
descobrir que a revelação de Deus como amor não é uma teoria sobre o sentido do
Universo ou da História humana. A Trindade não é um postulado teórico da
doutrina cristã, mas sim a revelação do amor do Pai por meio do Filho,
comunicado interiormente pelo Espírito Santo. Esta realidade está na origem de
um estilo de vida e de relações modeladas pelo amor. Os textos da Escritura,
proclamados na liturgia de hoje, oriundos da oração de contemplação e de
meditação, sugerem ao cristão a atitude apropriada para se aproximar do mistério
mais alto da fé cristã. A página extraída do Livro do Êxodo (primeira
leitura) narra o último encontro de Deus com Moisés. Este descobre o rosto
oculto de jhwh, que é um «Deus
cheio de misericórdia e fidelidade». (Ex 34,6) Nos textos do Novo Testamento
(segunda leitura e Evangelho) a proclamação de Deus, Pai, Filho e
Espírito torna-se explícita. A realidade escondida de Deus é o Seu amor de Pai,
que se torna presente no dom total do Filho e se comunica por meio do Espírito
Santo. O mistério não é algo absurdo ou incompreensível, mas sim a manifestação
de Deus por meio de Jesus Cristo seu Filho. O reconhecimento deste dom de Deus
na fé deve inspirar «sentimentos de paz e de esperança» para que a assembleia
dos fiéis, que constitui a Igreja de Deus, bendiga o Seu «nome glorioso e
santo». Da oração de bênção brota um novo estilo de vida. A contemplação do
mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto realidade do amor que se
comunica, torna-se fonte e modelo de uma comunidade humana fundada em relações
de acolhimento e permuta recíprocos.
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |