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SOLENIDADE DE
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS.
1º- Leitura. Num. 6,22-27
O primeiro dia do ano civil a Igreja celebra a solenidade de Maria, Mãe
de Deus, e, apesar das leituras se centrarem em Maria, elas põem de
relevo o seu Filho e o seu nome, o qual, longe de reduzir a função de
Maria na vida da Igreja, a fazem ressaltar justamente ao colocá-la
junto do Filho.
Esta leitura recorda a antiga bênção que os sacerdotes davam ao seu povo
nas vésperas das solenidades litúrgicas, especialmente na festa do ano
novo. Abençoar o povo era uma prerrogativa do rei e do sacerdote, que
actuavam em nome de Deus. A fórmula recorda os favores que Deus
concederá ao povo que está em sua presença. Particularmente
significativos são os termos que abrem e fecham a fórmula: bênção - “te
abençoe” - e paz - “te conceda a paz”: o primeiro indica a acção de Deus
para o povo, que é benevolência, protecção e favor e significa invocar
sobre o seu nome, para que o senhor seja fonte de salvação. O segundo
indica o conteúdo dos dons de Deus, e resume-se no dom messiânico da paz,
isto é, da plenitude da felicidade. A palavra Shalom tem um significado
bastante amplo e compreende plenitude, integridade da vida, mas
sobretudo é o estado do homem que vive em harmonia com Deus, consigo
mesmo e com a natureza.
Na realidade é o homem novo, plenamente aberto a Deus, de quem Jesus é
figura e modelo, porque nele se realiza o encontro das liberdades
humana e divina. E Deus concede-a a quem procura viver em comunhão com o
próximo.
2ª Leitura. Gal. 4,4-7.
Este texto Paulino é um fragmento Cristológico que nos fala de Jesus, de
Maria, terreno fecundo que acolheu o Filho de Deus, e da experiência
cristã. A vinda de Jesus ao mundo assinalou a plenitude do tempo e
cumpriu as antigas promessas do retorno do homem à vida de comunhão com
Deus: “Quando se cumpriu o
tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da
lei, para nos libertar da sujeição à lei”.
Deus teve a iniciativa de enviar a seu Filho e o homem foi elevado à
dignidade de filho. Jesus entrou historicamente assim a formar parte da
humanidade a titulo pleno, submetendo-se às leis e condições humanas, e
a humanidade, de algum modo, se identificou com Cristo formando com
Ele uma realidade única . E tudo isto através do ventre de uma mulher
em plena e normal humanidade. Paulo apresenta aqui o esquema de toda a
acção libertadora: a imersão de Cristo na pobreza humana, autolibertação
com a sua força divina e atracção a si da humanidade. Esta missão do
Filho teve um único objectivo: revelar o autêntico sentido da vida e
possibilitar-nos para sermos realmente filhos de Deus. E os sinais que
o apóstolo evidencia desta real transformação são a oração que o
Espírito faz surgir no coração do crente, levando-o a dizer: “Abba, Pai”,
fazendo-o sentir diante de Deus não ser servo mas livre, com a liberdade
de filho de Deus. E, neste plano divino, Maria foi um instrumento
privilegiado.
Chamar a Maria “Mãe de Deus” significa, pois, conhecer o coração do
mistério da incarnação e da mesma história da salvação.
Evangelho. Lc. 2,16-21
Este Evangelho foi proclamado na Missa da aurora do dia de Natal. Esta
repetição do Evangelho , no espaço de uma semana, ajuda-nos a aprofundar
o mistério da Incarnação. Os pastores vão a Belém e encontram o Menino
no presépio, e depois de O adorar regressam a anunciar tudo o que tinham
visto e ouvido e todos ficam maravilhados. Seguidamente voltam para
junto dos seus rebanhos com imensa alegria e louvando a Deus pela
experiência.
Passados oito dias do nascimento foi celebrada a circuncisão do Menino,
ritual mediante o qual passa a fazer parte do povo eleito e foi-Lhe dado
o nome de Jesus, que quer dizer, “Deus salva”. Diante de todos estes
acontecimentos, Maria conserva tudo em seu coração meditando dia e noite.
Maria aparece assim como a Mãe que sabe interpretar os factos do Filho.
Há diversas atitudes que se podem assumir diante de Cristo: a procura
pronta e alegre dos pastores, o assombro e louvor dos intervenientes no
acontecimento, e o relato a outros da experiência vivida. Para o
evangelista somente Maria adopta a atitude de verdadeiro crente, porque
ela sabe guardar com simplicidade o que escuta e medita com fé no que vê,
para levá-lo ao coração e transformar em oração a salvação que Deus Lhe
oferece.
P. Granja |