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PONTOS DE
REFLEXÃO
PRIMEIRA
LEITURA
Nm
6,22-27
A liturgia
da Palavra do primeiro dia do ano apresenta a fórmula de bênção mais
antiga e mais solene de todo o Antigo
Testamento. O texto exprime a vontade de Deus: fazer de Israel
um povo santo e bendito. Na Bíblia
hebraica os três versos começam como nome do Senhor
(Jhwh) e indicam claramente
que somente Ele é a fonte donde jorram todos os bens. Deus torna-se
próximo do Seu povo; sobre todos aqueles que é invocado
o seu Nome, é o aliado de rosto amigo, a fonte de bênção, o
guarda da graça e da paz.
A Palavra
mostra a iniciativa do Senhor de comunicar ao
homem a plenitude da vida que d'Ele
brota. Por isso Ele oferece a Sua bênção, fonte de fecundidade e
de segurança. Mas não intervém directamente, antes confia a mediadores
escolhidos - Moisés, Aarão e os sacerdotes - o que quer conceder: a
«paz» (v. 26), realidade muito maior do que poderíamos imaginar e
desejar. Com efeito, a paz é a própria pessoa de Jesus, o Filho amado,
que veio à terra para manifestar o rosto do Pai. O mistério da
Encarnação revela quanto fomos abençoados com todas as bênçãos em Cristo
e o que significa ter a honra de «ter o seu nome» (v. 27), de sermos
cristãos. Jesus é a nossa paz, Aquele que derrubou o muro de separação e
de inimizade entre os gentios (Ef
2,14). N'Ele, tornados filhos de Deus, recebemos por mãe a Sua
própria Mãe, Maria, a bendita entre as mulheres.
SEGUNDA
LEITURA
Gl
4,4-7
Com uma
síntese admirável, neste brevíssimo texto cristo-lógico, São Paulo
apresenta o mistério da Encarnação. O aceno conciso, no versículo 4, a
Jesus, «nascido de uma mulher», ilumina e ao mesmo tempo deixa no
anonimato a figura da Mãe do Sal-vador. Com o nascimento do Messias, há
tanto tempo esperado, entramos na «ple-nitude dos tempos»: Cristo
sujeita--se à «escravidão» da Lei
para nos tornar filhos livres de Deus.
«Ele nasceu
de uma mulher» (v. 4). Assim se fala, talvez pela primeira vez no Novo
Testamento, da Mãe de Jesus.
O Evangelho
revela-nos o seu nome: Maria (Mt
1,16.18; Lc 1,26). Se os pensamentos de paz, que o Senhor nutre
desde sempre em relação ao homem puderam realizar-se, foi porque esta Mulher deu o seu consentimento à acção divina. Nada de
aparen-temente mais simples e normal do que um Menino que nasce, mas
nada - neste caso - de mais vertiginoso. Deus mergulha na pobreza da
condição humana e uma donzela consente que o seu corpo se torne templo
da presença divina.
Maria
ficará para sempre «mãe», Mãe do homem Jesus Cristo e Mãe do Deus
Altís-simo. O seu seio é o lugar onde se encontram a imensidão de Deus e
a pequenez e fragilidade da criatura humana. É esta a «admirável
permuta» que muda o nosso destino, porque agora também a mais pobre
carne humana encerra o tesouro de uma semente de humanidade.
EVANGELHO
Lc
2,16-21
Volta a ser
proposto e ampliado o Evangelho da Missa da Aurora do dia de Natal.
Maria, depois de receber a visita dos pastores, guarda no seu coração
tudo que está acontecendo e aprofunda-o, colocando-o em relação entre
eles («Meditando-os»; v. 19), os factos e as palavras ouvidas.
Passados
oito dias, Jesus é circuncidado (v. 21). Este rito constitui a agregação
a Israel e é símbolo da aliança estipulada por Deus com Abraão. Com ela,
Jesus torna-Se «escravo» da Lei (Gl 4,4) e
recebe o nome anunciado a Maria (Lc 1,31) e explicado a José
(Mt
1,21): Jesus, isto é, «Jhwh
salva», Deus toma a seu cuidado o Seu povo.
O assombro
pelo Menino nascido em Belém, anunciado pelos anjos e contemplado pelos
pastores, passa de boca em boca num crescendo de admiração, de alegria e
de louvor. O alegre anúncio suscita a festa entre os humildes (w.
18.20). Maria, a Mãe, silenciosa
observa tudo e tudo guarda na memória do coração.
No tempo
estabelecido pela Lei, o Menino - que é também o Senhor da História - é
circuncidado como qualquer outro filho de Israel (v. 21). Também o nome
que Lhe é dado não é insólito: outros antes d'Ele se chamaram «Jesus».
Pensemos, por exemplo, em «Josué» (é a mesma raiz verbal de Jesus, só
que com vogais diferentes), o sucessor de Moisés. A verdadeira novidade
consiste no facto de que este nome alcança, no Filho de Maria, a
plenitude do seu significado. Este Menino salvará realmente a Humanidade
da morte, pagando com o Seu sangue, tomando sobre Si o pecado do mundo e
cravando-o na Cruz.
Padre José
Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |