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AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

O Sr. SAMPAIO DA TROFA

Nalgumas circunstâncias na vida da Beata Alexandrina aparece um Sr. Sampaio; natural de Real, na Trofa, ele nascera em 24 de Julho de 1879; aí faleceu também em 9 de Agosto de 1970, com 91 anos. O seu nome completo era António Moreira da Fonseca Sampaio[1].

Industrial e lavrador abastado, encontramo-lo sempre associado ao Dr. Azevedo, a quem sem dúvida o unia forte laço de amizade. Naqueles tempos muito difíceis da guerra, ele possuía automóvel, coisa então muito rara. O seu veículo foi de grande utilidade em várias ocasiões.

O Sr. Sampaio ligou-se à Alexandrina por causa duma doença da esposa, Rita da Costa Reis, segundo o testemunho da sua filha, Albina Reis da Fonseca Sampaio, no Processo Diocesano. Por causa dessa doença, o Sr. Sampaio acompanhou, e certamente levou, o Dr. Azevedo na primeira visita que este fez à Alexandrina, em 29 de Janeiro de 1941. Foi com eles o abade da Trofa.

No Processo, o Dr. Azevedo contou:

Em 14 de Fevereiro de 1941, eu e o Sr. Sampaio, com mais algumas pessoas, assistimos aos fenómenos abaixo mencionados, e fiquei espantado com tudo o que acontecia; e que tais fenómenos são admiráveis, pode provar-se pela fotografia que deles temos. Mas havia no fim daqueles fenómenos o que chamamos «êxtases dialogados», mas que são admiráveis e causam espanto a quantos ainda hoje os escutam, porque alguns foram guardados em registo magnético».

 

O Sr. Sampaio levou ainda o Dr. Azevedo na primeira visita que fez ao Padre Mariano Pinho, e em muitas outras ocasiões.

A Alexandrina em casa do Sr. Sampaio

Em 1 de Julho de 1941, a Alexandrina precisou de ir ao Porto a consulta com o Dr. Gomes de Araújo. À ida, parou na Trofa; ela fala desse episódio na Autobiografia:

 

Era já dia claro quando parámos em casa do senhor que nos acompanhava, na Trofa. Era aí que eu ia descansar e receber o meu Jesus, esperando pela hora de seguir para o Porto.

Antes de continuar a minha viagem, levaram-me ao jardim do Sr. Sampaio. Amparada e sob a mesma acção divina, fui até junto de umas florinhas, que colhi, dizendo:

«Quando Nosso Senhor criou estas florinhas, já sabia que hoje as vinha aqui colher».

Depois, fui fotografada em dois lugares escolhidos. Desloquei-me de um lugar para o outro por meu pé, o que nunca pude fazer depois que acamei (em 1925), pois nem sequer podia voltar-me de lado, na cama. Só um milagre divino, porque sem ele não me mexia, nem sequer consentia que me tocassem.

 

A estas informações há que acrescentar que ela teve lá um êxtase e além disso comeu alguma coisa.

O facto de ter comido levou o Padre Agostinho Veloso a pôr em causa o seu jejum, no Processo Diocesano. Só que esse jejum só se verificou a partir do ano seguinte, 1942.

O Sr. Sampaio também há-de acompanhar a Alexandrina na viagem de ida para o Refúgio da Paralisia Infantil.

O extraordinário caso sucedido com o carro do Sr. Sampaio

No Processo Diocesano o Dr. Azevedo conta este extraordinário episódio, acontecido certamente vários anos depois da estada da Alexandrina na Trofa:

 

Quando visitava a Alexandrina e lhe dizia que ia embora, sempre me disse que ficasse mais um pouco. Mas aconteceu que num domingo, tendo combinado com o Sr. Sampaio da Trofa ir de visita à Alexandrina, por motivos profissionais, fui obrigado a chegar mais tarde. Quando cheguei junto da Igreja de Balasar, encontrei o condutor do Sr. Sampaio que me disse que não poderia demorar-me porque o carburador do automóvel do Sr. Sampaio tinha partido, a gasolina se perdera e que eu teria de levar gente do Sr. Sampaio à estação de Famalicão.

Respondi-lhe que sim, e quando cheguei à casa da Alexandrina, disse-lhe e aos familiares: «Afinal cheguei mais tarde, mas tenho já de partir, e daqui a pouco, porque tenho de levar a gente do Sr. Sampaio à estação de Famalicão, porque o carburador do automóvel do Sr. Sampaio, como me disse o condutor, o Chiquita, partiu».

O Sr. Sampaio disse, «está bem», mas a Alexandrina respondeu-me que não seria preciso ter tanta pressa, porque o automóvel andaria. «Como pode andar o automóvel, disse-lhe, se o carburador está partido?»

Ela sorriu e disse que poderia andar. Pensámos, ou pensei, que estivesse a brincar, o facto é que pouco depois saímos convencidos de que tivesse de fazer aquelas duas viagens.

Chegados junto do automóvel, disse ao condutor para sair do carro, que nós o empurraríamos até à casa próxima, onde ficaria estacionada. Ficámos maravilhados vendo que o motor começava a trabalhar e rindo fomos dizer aos que tinha vindo naquele automóvel que saíssem para ir para casa. Foi um pecado que não controlássemos a gasolina do automóvel, pois antes o condutor tinha-nos dito que o carburador não a retinha.

Viajámos até Sitães, onde parou o carro do Sr. Sampaio. Saí do meu e aproximei-me do do Sr. Sampaio para lhe dizer que andassem sempre e disse ao condutor: «Afinal o carro anda!»

Este carro veio até uma casa da Trofa, que está na margem esquerda do rio Ave. O carro parou neste lugar para ser guardado na casa, como era costume. Depois das pessoas saírem, o condutor tentou pô-lo a andar, mas não conseguiu. Olhámos o motor e de facto o carburador estava partido e por isso tivemos de empurrá-lo até à garagem.

Depois contei o caso à Alexandrina, que me não disse nada, só me respondeu com um sorriso.

 

As três fotografias que ilustram este artigo pertenciam ao espólio do P.e Pinho e só recentemente vieram para Portugal.


[1] Segundo Napoleão Sousa Marques, o Sr. Sampaio «foi um dos mais importantes industriais e agricultores da Trofa.
A primeira indústria da Trofa a ele se deve. Fundou uma fábrica de serração de madeiras, no ano de 1912, próximo da via-férrea, quase em frente da estação ferroviária.
Dela saía tabuinha para caixas de embalagem de fruta, exportada principalmente para Moçambique.
Nessa fábrica instalou uma oficina de serralharia mecânica para reparação das máquinas de serração e fabrico de serras de tronco para corte longitudinal dos toros em tábuas, que foi, em 1940, a origem da indústria de máquinas de trabalhar madeira montada por Manuel da Silva Pinheiro.
Nesse mesmo estabelecimento fabril instalou uma moagem mecânica de e cereais, uma fábrica de pentes de osso e uma central eléctrica que fornecia energia para o centro urbano da Trofa.
Era um grande proprietário agrícola, com terrenos em Bougado (Santiago) praticando uma lavoura evoluída quer a nível pecuário com a instalação duma importante e moderna vacaria quer a nível de inovação de novas culturas cerealíferas».

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