Alexandrina de Balasar

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Rupert Mayer
Sacerdote, Beato
(1876-1945)

Carta do Superior Geral dos Jesuítas, datada de Roma, a 19-1-1987, anunciando a beatificação:

«O P. Rupert Mayer foi um varão extraordinário. O que a outros parecia impossível, conseguiu-o ele com amor verdadeiramente engenhoso. O P. Rupert Mayer foi como um profeta: o que para muitos, no seu tempo, era impenetrável e ambíguo, ele depressa o viu com toda a claridade. Era o P. Mayer homem dotado de grande amor; amor tenaz e rico de recursos. O seu era um valor agressivo; e não pôs de lado o político. A sua sensibilidade para com a injustiça era incorruptível e impediu que ele estivesse calado. Foi vigoroso defensor dos pobres, amigo deles e inimigo declarado de toda a injustiça. Foi sobretudo no tempo intermédio entre as duas guerras mundiais que esta testemunha crítica e valorosa da fé apresentou uma figura profética, que sempre constituiu um repto. Foi este o juízo que dele formaram os seus irmãos jesuítas.

A 3 de Maio do presente ano [1987], beatificará o Papa João Paulo II, em Munique, este irmão nosso, pertencente à Província da Alemanha Superior. Deste modo, satisfaz o Santo Padre o desejo de muitos fiéis que, tanto em Munique e na Alemanha, como noutras regiões, se empenharam por que este grande sacerdote e jesuíta alcançasse na Igreja o reconhecimento próprio dos "santos", nos quais, de maneira particular, nos manifestou Deus a sua obra salvífica neste mundo.

Mas, quem era o P. Rupert Mayer? A sua vida e a sua figura conservam, na actualidade, para nós, jesuítas, uma mensagem singularmente viva. É cópia do que as últimas Congregações Gerais para nós formularam como traços típicos da nossa vocação inaciana.

Nascido a 23 de Janeiro de 1876, em Estugarda, no sudoeste da Alemanha, recebeu em 1899 a ordenação sacerdotal. Tendo sido coadjutor duma paróquia, entrou em 1900 no Noviciado da Companhia em Feldkirch (Áustria). Como então a nossa Ordem estava proibida na Alemanha, teve de fazer os estudos no estrangeiro. Terminados estes, principiou sendo Sócio do Mestre de Noviços e, depois, durante vários anos, foi missio­nário popular na Alemanha, Áustria e Suíça. Em 1912 chamaram-no a Munique para tomar o cuidado espiritual dos "imigrados". Foi ajudante da fundação duma Congregação de Religiosas dedicadas ao cuidado das famílias. Ao desencadear-se a guerra mundial de 1914, ficou sendo capelão militar. Por causa duma grave ferida, perdeu, em fins de 1916, a perna esquerda. E em 1917, estava de novo em Munique, dedicado à pastoral. Exerceu o ministério sacerdotal como pregador e confessor na nossa igreja de S. Miguel, ocupando-se incansavelmente dos mais necessitados. Em 1921 foi nomeado Director da Congregação Mariana de homens. Em 1925 introduziu os serviços religiosos na estação do caminho de ferro, para os excursionistas dos domingos. Seguiu sempre com muita atenção as correntes da política na Alemanha, sendo valoroso opositor do Nacional Socialismo, contra o qual defendeu a liberdade da Igreja católica e da fé cristã, assim como os direitos dos perseguidos.

Em 1937 foi encarcerado e condenado pela primeira vez, e foi-o duas vezes mais em 1938 e em 1939, sendo em seguida confinado no campo de concentração de Oranienburgo, perto de Berlim. Por último, desde 1940, foi-lhe dado como local de prisão domiciliária a Abadia beneditina de Ettal, na Baviera Superior, até ao fim da guerra, em Maio de 1945. Voltou então para Munique, onde morreu, enquanto celebrava a Sagrada Eucaristia, no dia de Todos os Santos de 1945.

Este extremo da sua vida sacerdotal e jesuítica estava cimentado na unidade inte­rior. Da profundidade da sua pessoa brotavam-lhe as convicções, que expressava, imperturbável, nas palavras e nas acções. Estava interiormente ancorado em Deus; isto levava-o a discernir os espíritos e tornava-o capaz de sair sem condições em defesa dos direitos de Deus e dos homens. A exclamação de S. Paulo: "Ai de mim se não proclamar o Evangelho" (1 Cor 9, 16) era também realidade para ele. "Não posso calar-me", era lema que inspirava o seu compromisso em favor da verdade espezinhada. As suas últimas palavras foram: "O Senhor... O Senhor". Morreu enquanto pregava, anunciando Aquele em tomo de quem tinha girado toda a sua vida: "Senhor, como quiseres, quando quiseres, o que quiseres e enquanto Tu o quiseres... assim se faça"; esta a sua oração favorita.

A entrega em defesa da verdade não se limitou apenas a palavras. Todo o seu falar ia acompanhado por um amor prático do próximo. A vida do P. Rupert Mayer constituiu síntese convincente do anúncio do Evangelho e do compromisso em favor dos pobres e dos oprimidos. Viveu de muitas maneiras "o amor preferencial pelos pobres". Nos pobres encontrava ele o Senhor em pessoa. Nisto é para nós modelo. E também o é noutro aspecto: na Congregação Mariana formava ele leigos convictos das suas responsabilida­des, que foram os seus colaboradores, extraordinariamente activos na propaganda da fé, no compromisso em favor dos perseguidos e na ajuda aos necessitados. A actuação do P. Mayer ensina-nos, além disso, exemplarmente, o esforço constante para acomodar o nosso apostolado às circunstâncias do momento e a empreender novas iniciativas, de acordo com as exigências duma época em mudança.

Na carta que o Santo Padre me entregou em Paray-le-Monial, encarece vivamente diante de nós a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que tão profundamente está ligada aos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Esta devoção deve unir-nos pessoalmente com Nosso Senhor Jesus Cristo. O P. Rupert Mayer pode abrir-nos os olhos para compreendermos os frutos a brotarem dessa devoção. O seu "conhecimento interno" do Senhor tornou-o capaz de chegar a ser aquilo que foi "em favor dos outros".

Desejo para todos nós que a beatificação do nosso irmão nos estimule a indagar­mos de novo o mistério da nossa vocação de jesuítas e ilumine os traços da mesma, vocação que ele viveu exemplarmente no seu tempo, tempo que se estende até ao nosso».

Cf. Pe. José Leite, SJ.

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