Na
Eucaristia Jesus, como nosso Modelo, ensina-nos as virtudes que nos
santificam.
O seu
estado de vida é a norma também para como devemos viver. O
aniquilamento é o traço característico da vida de Jesus também na
Eucaristia. Ali ele recebe todos, pobres e ricos, simpáticos e
antipáticos, bêbados e drogados, cultos e analfabetos, limpos e
sujos, sem reclamar de ninguém.

Analisando esta humildade e bondade do Mestre, temos muito a
aprender sobre o que precisamos de fazer para nos assemelharmos a
Ele.
Jesus
no Sacrário é Pobre, traz somente consigo as sagradas espécies do
pão e do vinho transubstanciadas. É mais pobre que em Belém e
Nazaré; lá Ele tinha um corpo que se movia, falava, etc., mas aqui
não tem nada.
Os
consagrados que fazem o voto de Pobreza devem ser como Ele.
Jesus é
tão frágil na Eucaristia que basta consumir a Hóstia, ou dissolvê-la
em água, ou ser estragada pelo tempo, para que o Sacramento se
desfaça. Por outro lado, Jesus não traz beleza alguma aparente no
Sacramento. É apenas branco; e sabemos que o branco não é nem uma
cor.
Ele que
em vida foi tão belo – “o mais belo dos filhos dos homens” – tem a
sua Beleza toda escondida. Ainda mais, Ele que é a Vida, e que dá a
vida e o movimento para todos os seres, condena-se a permanecer
inerte, sem acção, “Prisioneiro dos nossos Sacrários”, e se reduz a
ponto de estar inteiro no menor fragmento da Hóstia.
Que
grande lição de vida! Que aniquilamento amoroso que nos faz corar de
vergonha diante de nossas exibições, aparências, exigências,
julgamentos, condenações…
Jamais
Ele se defende ao ser insultado e nunca revida quando é escarnecido.
Isto não é porque não pode, é porque não quer. Ele poderia do seu
silêncio fulminar os sacrílegos que os arrastam para as missas
negras ou o recebem sem “distinguir o seu Corpo e o seu Sangue”. Ele
continua a repetir as palavras que disse a Pedro ao ser preso no
Horto da Agonia: “Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me
enviaria imediatamente doze legiões de anjos?” (Mt 26,53). “Não hei
de beber eu o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18,11).
Na
Eucaristia Jesus continua a beber o cálice que o Pai lhe deu, muito
além da sua exigência. Bastava o Calvário para salvar-nos, mas Ele
quis chegar ao “Calvário” do Sacrário, por nós.
Sim,
Jesus ama-nos além da nossa imaginação. Ele não é um louco, nem um
utópico, nem mesmo um masoquista que sofre por sofrer, e também não
é um fantasioso vazio e irresponsável como muitos que enchem nossas
livrarias e ruas. Não, Jesus é o Amor encarnado que, nos Altares e
nos Sacrários continua a salvar o homem, de forma pessoal e
misteriosa.
Fico
pensando nas Hóstias que se perdem, por acidente ou abandono; quando
apodrecem, os vermes a invadem e expulsam Jesus, pois Ele só
permanece nas espécies enquanto elas estão intactas. A partir do
momento que a Hóstia mal cuidada começa a se decompor, Jesus se
refugia no pedaço ainda bom e trava, assim, como que uma luta com os
vermes, mas sem lhes impor resistência.
É por
isso que a Igreja recomenda que as Hóstias guardadas sejam
regularmente consumidas para não se estragarem. Isto faz-nos lembrar
as palavras do Profeta sobre Jesus: “Não sou mais um homem, porém um
verme!” (Sl 21,7).
De fato
Jesus desceu ao último degrau da criação na Eucaristia, pois, por
não poder perder a substância própria, Ele se reveste exteriormente
das simples espécies do pão e do vinho; é um enorme rebaixamento.
O Amor
de Jesus por nós na Eucaristia é maior do que o da mãe pelo filhinho
de colo: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me. Pode uma
mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo filho
de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te
esqueceria nunca”(Is 49,14-15).
Aniquilando a sua Glória na Eucaristia Ele está-nos dizer: “Sede
humildes!”. Mas o aniquilamento de Jesus é positivo, produz frutos
de salvação e dá glória a Deus. A humildade perfeita é a que devolve
todo o bem a Deus, como a Virgem Maria. “Ele fez maravilhas em mim,
Santo é o Seu Nome”.(Lc 1,49)
Ser
humilde é reconhecer que sem Deus não somos nada e não podemos nada.
Quanto mais subimos na graça, mais descemos na humildade.
A
Eucaristia nos ensina a render a Deus toda a glória e toda grandeza,
mais até do que nos humilhar das nossas misérias. Na Eucaristia
Jesus não está inerte e inoperante; ao contrário, continua a obra da
salvação. Ali Ele continua a dizer o Sim que mantém o universo e a
criação. O Pai lhe entregou todas as Nações da terra; então, só
através Dele opera no mundo. “Tu és meu filho, eu hoje te gerei.
Pede-me, dar-te-ei por herança todas as nações; Tu possuirás os
confins do mundo. Tu as governarás com ceptro de ferro, Tu as
pulverizarás como um vaso de argila” (Sl 2,7-9).
Diante
do “Rei das Nações”, escondido e aniquilado na Hóstia, é o melhor
lugar para viver o que diz o Salmo:
“Servi
ao Senhor com respeito e exultai em Sua Presença; prestai-lhe
homenagem com temor.” (Sl 2,11)
Do
Sacrário Ele governa o universo, mas não como os reis da terra, pelo
medo, pela pompa e aparatos que impressionam. Não: Ele governa pelo
Amor! Milhões de Anjos o servem, para cumprir as Suas ordens, mas
esta glória está oculta. É com esta humildade que se deve exercer o
poder. Ele governa a todos, mas visivelmente não dá ordens a
ninguém, mas usa os seus semelhantes fiéis. Até a Sua oração é uma
oração aniquilada.
Ele
ensinou os Apóstolos a rezar, mas aqui o Suplicante maior ora no
mais absoluto silêncio. Assim como uma esponja comprimida jorra toda
a água que contém, Ele se oprime para que todo o seu Amor jorre
sobre nós.
Ele é o
modelo perfeito da alma contemplativa; o contemplativo está a sós e
não se dá a conhecer, recolhe-se, concentra-se, e sua oração é
poderosa porque se assemelha à de Jesus eucarístico. Ninguém precisa
tanto da Eucaristia como os contemplativos; um só dia sem Ela seria
um sofrimento.
Para
que a vida inteira seja forte, é preciso imolação dos sentidos e
silêncio, como a Vida aniquilada de Jesus.
Sabemos
que Ele não sofre na Hóstia, mas coloca-se em permanente estado de
sacrifício. Assim também o contemplativo, mesmo que não sofra, se
permanecer no estado e na vontade de sacrifício está muito mais na
vontade do que na dor do mesmo. O mérito aumenta com o repetir e o
continuar o sacrifício.
O
grande mérito está na decisão, no primeiro passo, revestindo-se do
estado de vítima. É o que Jesus fez ao instituir o Sacramento. Seu
mérito é inesgotável porque a sua vontade atingia a todos os tempos
e lugares; e, livremente, Ele tudo aceitou.
A
separação do Corpo e do Sangue do Senhor na Missa foi a maneira que
Ele encontrou para perpetuar o Seu Sacrifício através da Sua Igreja,
da forma como faziam os judeus ao separar o corpo e o sangue das
vítimas.
Das
lições de Jesus eucarístico, a mais forte parece a que nos ensina a
esconder dos homens os nossos padecimentos, para que não se apiedem
de nós e nos louvem, o que seria um grande mal. Ele ensina-nos a
ocultar os bons actos e não receber louvores merecidos. Importa
antes mostrar apenas a parte fraca das nossas obras. Quanto mais nos
rebaixamos, mais Jesus Cristo cresce, como disse João Batista:
“Importa que Ele cresça e eu desapareça” (Jo 3,30).
Jesus é
modelo de humildade na Eucaristia; não sente a menor indignação com
quem o despreza, o injuria, ou o abandona; de todos se compadece
porque a todos quer salvar e socorrer; antes se entristece pelo
pobre estado dos pecadores.
Esta é
a humildade dos que desejam ajudá-lo a salvar almas. Jesus é manso;
não se irrita. Nós, ao contrário, irritamo-nos muitas vezes, por
pensamentos e julgamos apressadamente as pessoas sob a nossa óptica
pessoal, e muitas vezes nos iramos com quem se opõe a nós. Estamos
ainda longe da mansidão do Cordeiro imolado e sacramentado. Somos
traídos pelo amor-próprio, que só vê os próprios interesses.
Felizmente Jesus não nos julga senão segundo a Sua mansidão e
misericórdia.
No
silêncio de Jesus revela-se a Sua profunda mansidão. Ele que veio
para regenerar o mundo, no entanto, passou trinta anos no maior
silêncio; contentou-se a rezar e a obedecer os pais no trabalho. Sem
dúvida muito ouviu: a sua Santa Mãe, os rabinos, os doutores da Lei,
como um simples israelita silencioso na Sinagoga. Nada censurou,
nada criticou, porque não havia ainda chegado a sua hora. Ele que é
a Verdade, esperou a hora do Pai, e honra-o pelo silêncio e
humildade.
Essa
mansidão continua na Eucaristia. Em silêncio vê tantas lágrimas
derramadas, sente a necessidade de cada um, ouve a miséria de cada
alma e a todos atende, individualmente, seja grande ou pequeno. A
todos dá a graça adequada e deixa-as na paz.
Rui
Manuel Tapadinhas Alves,
8 de Julho de 2013. |