No dia
14 de setembro, a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz.
Esta festa vem dos primórdios da cristandade, porque a morte do
Senhor sobre a Cruz é o ponto culminante da Redenção da humanidade.
A
glorificação de Cristo e a nossa salvação passam pelo suplício da
Cruz. Cristo, encarnado na Sua realidade concreta humano-divina,
submete-se voluntariamente à humilde condição de escravo (a cruz era
o tormento reser-vado para os escravos) e o suplício infame
transformou-se em glória perene.)
Os
apóstolos resumiam sua pregação no Cristo crucificado e ressuscitado
dos mortos, de quem provêm a justificação e a salvação de cada um.
São Paulo dizia que Cristo cance-lou “o documento escrito contra
nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao
encravá-lo na Cruz” (Cl 2,14). É por isso que cantamos na celebração
da adoração da santa Cruz na Sexta-Feira Santa: “Eis o lenho da
cruz, do qual pendeu a salvação do mundo: Vinde! Adoremos!”
O
caminho da cruz, da humilhação e da obediência, foi o que Deus
escolheu para nos salvar. Por isso, amamos e exaltamos a santa Cruz.
Santo António, Doutor do Evan-gelho e “martelo dos hereges”, dizia:
“Porque Adão no pa-raíso não quis servir ao Senhor (cf. Jr 2,20),
por isso o Senhor assumiu a forma de servo (cf. Fl 2,7) para servir
ao servo, a fim de que o servo já não se envergonhasse de servir ao
Senhor.”
Poucos,
como este santo, conheceram o profundo mistério da encarnação do
Verbo e a Sua obediência até a morte na cruz para nos salvar. São
Paulo resumiu tudo, dizendo aos filipenses que “sendo ele de
condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como
homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até à morte, e
morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente” (Fl 2,6-9).
Se o
Senhor passou por esse caminho de obediência, humilhação e
crucificação, será que para nós, cristãos (imitadores de Cristo!),
haverá outro caminho de salvação? Resposta: Não!
Somente
pela cruz, que significa morte ao próprio Eu, à própria vontade,
para acatar com fé, alegria e ação de graças a vontade de Deus,
poderemos nos salvar. E é o próprio Senhor quem nos diz isso muito
claramente: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9,23) e “se o grão de
trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito
fruto” (Jo 12,24b). Cada um tem a sua cruz.
Porque
é que existe esta necessidade de tomar a cruz a cada dia? Por que é
preciso morrer para dar fruto? A resposta é que o homem velho,
corrompido pela concupiscência, só pode ser despojado de si mesmo
pela cruz, a fim de que, como disse São Paulo, seja “revestido do
homem novo, criado à imagem de Deus em justiça e santidade
verdadeira” (Ef 4,22-24).
É pela
nossa cruz de cada dia que cada um carrega, que Deus nos santifica
(Hb 12,10), fazendo-nos morrer para todas as más inclinações do
nosso espírito. É pela cruz que chegaremos à glorificação, como o
Senhor Jesus. É por isso que exaltamos a santa Cruz. E é por essa
cruz de cada dia (doenças, aborrecimentos, penúrias, humilhações,
cansaços, injustiças, incompreensões, etc.) que temos a graça e a
honra de poder “completar em nossa carne o que falta à paixão do
Senhor no seu Corpo, a Igreja”(cf. Cl 1,24).
É
preciso lutar contra a repugnância que temos da cruz. São João da
Cruz dizia que o que mais nos faz sofrer é o medo que temos da cruz.
E Santa Teresa dizia que, quando a abraçamos nossa cruz com coragem
e vontade, ela se torna leve. Enfim, precisamos levar a cruz e não
arrastá-la.
A maior
lição que aprendemos com os santos foi esta: não há maior glória que
possamos dar a Deus do que sofrer com fé, paz e esperança, dando
graças a Ele por ter-nos achado dignos de sofrer por Seu amor. “A
alegria dos moradores do céu, dizia Santa Teresinha do Menino Jesus,
consiste em sofrer e amar por amor a Deus”. Mas para isso precisamos
da graça de Deus, pois nossa natureza tem horror à cruz. Entretanto,
o que é impossível à natureza é possível à graça, disse Santo
Agostinho.
Fiquemos em paz porque Deus é fiel; e não nos dará cruzes mais
pesadas do que as nossas forças; e cada uma delas será para o nosso
bem, por mais incrível que possa parecer. Enfim, “tudo concorre para
os que amam a Deus” (Rm 8,29); por isso devemos glorificá-lo sempre,
especialmente nas horas amargas. Exaltemos pois a Santa Cruz!
Rui
Manuel Tapadinhas Alves |