Quentino, segundo parece, nasceu em Roma. Seu pai, Zenão, era ateu e
Senador do Império romano. Convertido ao cristianismo, Quentino
teria sida baptizado pelo Papa Marcelino que o teria enviado para a
Gália pregar ao mesmo tempo que Lúcio, Crispim, Crespiniano, Rufino,
Valério, Marcelo, Eugénio, Vitórico
Fusciano,
Rieul e Pio. Chegados a Amiens, os doze missionários ter-se-ão
espalhado pela região, me-diante um sorteio das regiões que cada um
devia evangelizar. A Quentino tocou-lhe a Samarobriva (actual região
de Amiens) e Lúcio recebeu a região de Beauvais.
Levando
uma vida de penitência, a missão de Quen-tino foi assinalada por
numerosos milagres, apenas pela imposição do sinal da Cruz. O seu
renome che-gou aos ouvidos de Rectiovare, representante na Gaule de
Máximo Hércules que Diocleciano tinha associado ao Império, quando
este ainda se encon-trava bem longe de lá, visto encontrar-se em
Basileia, na actual Suíça.
Rectiovare era um sanguinário e já tinha sacrificado muitos
cristãos, por estes se recusarem a sacrificar aos Deuses romanos,
sobretudo na região de Travas (na Alemanha actual), onde tinha a sua
residência habitual.
O
sanguinário representante dos romanos mandou prender Quentino e,
rapidamente se deslocou até Amiens onde ele mesmo o interrogou.
— Como te chamas?
— Tenho um nome cristão porque na realidade o sou, crendo de todas
as minhas forças em Jesus Cristo e confessando-o abertamente.
Todavia o meu nome é Quentino.
— E
qual é a tua família e a tua condição?
— Eu
sou cidadão romano, filho do senador Zenão.
— E
porque razão, sendo de alta nobreza e filho dum tão distinto pai,
ingressaste numa religião supers-ticiosa e adoras um malfeitor que
os homens crucificaram?
— Porque a soberana nobreza é de adorar o Criador do Céu e da terra,
e de obedecer de todo o meu cora-ção aos seus mandamentos.
— Ó
Quentino, abandona essa folia que te cega e volta a sacrificar aos
deuses.
— Não, jamais eu sacrificarei aos vossos deuses, que nada mais são
do que demónios. Esta folia que tu dizes cegar-me, não é uma folia,
mas bem o contrário, e não temo proclamá-la altamente: é dum
soberano bom senso. Porque, não há nada maior do que proclamar
reconhecer o Deus único, o só verdadeiro Deus e de rejeitar com
desdém as mudas insinuações e os falsos deuses. Sim, digo-te eu
agora: insensatos são aqueles que sacrificam a esses deuses.
— Se
não te aproximas imediatamente e não sacrificas aos deuses, juro por
esses mesmos deuses e deusas que te mandarei torturar de todas as
maneiras e feitios, até que morras.
— Não, não, senhor presidente, ouça bem, o que me ordenas et não o ,
e as tuas ameaças, eu não as temo. Faz o mais rápido possível o que
desejas, porque a minha resposta jamais mudará.
Rctiovafre ordenou a quatro soldados de deitarem Quentino sobre um
cavalete e de lo chicotarem. Enquanto este martírio lhe era
infligido, Quentino orava e louvava o Senhor, o que ainda mais
enraiveceu o sanguinário representante romano.
Uma
intervenção divina veio por fim ao suplício. Mas Rectiovare ainda
mais se enfureceu e mandou fechar Quentino numa masmorra, prometendo
continuar no dia seguinte o que começara.
— Visto que Quentino é um mago, juro pelos deuses e deusas que os
seus malefícios não o salvarão da morte.
Durante
a noite um Anjo apareceu a Quentino e disse-lhe:
— Quentino, servo de Deus, levanta-te e vai sem medo até ao centro
da cidade e conforta os habitantes inculcando-lhes a fé em Jesus
Cristo, para que eles creiam n’Ele, se purifiquem e recebam o
baptismo.
Os
guardas tendo adormecido profundamente, o Anjo conduziu-o até ao
centro da cidade onde Quentino começou a pregar, convertendo
aproximadamente seiscentas pessoas. Quando os guardas acordaram,
dirigiram-se para a praça e ali se converteram também. Voltando
depois para junto de Rictiovare, testemunharam corajosamente a sua
fé, o que enfureceu ainda mais o representante romano. Logo mandou
prender de novo o missionário e, como nada conseguiu com ele,
submeteu-o de novo a terríveis martírios que de nada serviram. Tomou
então uma decisão quase sobrerrealista: enviá-lo para Roma,
esperando assim que o pai conseguisse fazê-lo abjurar da nova
religião.
Quando
a comitiva chegou a Augusta Veromanduorum (a actual cidade de
Saint-Quentin, em França), os soldados receberam ordem de esperar
por Rictiovare qui, no dia seguinte 31 de Outubro de 303, mandou
recomeçar as torturas sobre Quentino e, desiludido com o resultado,
acabou por mandar cortar a cabeça ao corajoso missionário.
Assim,
segundo uma velhíssima tradição, se terminou a vida de mais um
anunciador da Boa Nova de Jesus Cristo: Quentino.
Traduzido e adaptado por
Afonso Rocha |