Por Maria a
Jesus! É o programa de todos os Congregados; é o lema de todos os
cristãos, o roteiro seguro de todos os predestinados para a
eternidade! Atraídos por Maria, deram com Jesus; iluminados por
Maria, viram-se iluminados por Jesus; alentados por Maria à
contrição, à confiança, encontraram-se no oceano das Misericórdias
infinitas de Jesus.
É esta a
economia divina de Maria: quer-nos muito, mas para Jesus; busca-nos,
se andamos fugidos, mas para nos levar a Jesus; deseja e pede-nos o
nosso coração, o nosso amor, mas para que mais amemos a Jesus.

É este também
o resultado da nossa devoção a Maria Santíssima, se é sincera, se é
ardente, se é ilustrada, se é enfim, devoção verdadeira: per
Mariam ad Jesum.
Então há de
ser este também o resultado principal de todas as nossas práticas
marianas durante o mês de Maio, se forem práticas de verdadeira e
sólida devoção a Maria.
Todo este mês
deve ser um ir crescendo sempre em luz e calor: luz que nos mostre
cada vez mais nítida aos olhos da nossa alma, a imagem infinitamente
deslumbrante e dulcíssima de Jesus; calor que nos inflame e
transforme em serafins de caridade para com o Amor que não é amado,
para com o seu Coração Amantíssimo.
Assim será, se
o nosso mês de Maio não se limitar só ao afã de andarmos colhendo
pelos prados e canteiros as melhores rosas e lírios e açucenas para
com elas adornarmos o altar da Virgem Pura: faz bem à alma descansar
a vista sobre um altar de Maria, aformoseado com gosto, com
sobriedade, com mimo, pelas florinhas com que Deus Nosso Senhor dá
afinal também mimo e encanto aos nossos prados: — as florinhas, as
estrelas e os olhos dos inocentes, diz um autor, são as únicas
lembranças que na natureza nos ficaram do Paraíso terreal. — Mas
flores só — não são devoção a Maria.
Faz bem ao
espírito escutar durante o mês de Maio os cânticos escolhidos e
religiosos e dignamente executados em louvor da Mãe da Deus: porém
música, tão somente, ainda não é devoção a Maria e o mês de Maio que
se limitasse apenas a cantos e flores, não nos levaria a Jesus por
Maria.
O mês de Maio,
para dar resultado tem que ser um mês de estudo e de oração.
Mês de
estudo. Estudo em que o Mestre é o Divino Espírito Santo e a
potência que mais se aplica é a inteligência informada pela fé;
estudo, que melhor lhe chamaremos meditação, desta Obra-prima do
Criador, a Virgem Imaculada. Ah! e não bastará um mês, porque também
não há de bastar uma eternidade, se queremos penetrar, nas
grandezas, nos privilégios, no poder e nas misericórdias de Maria!
Mas por pouco
que se medite, se é com reverência e humildade e desejo ardente de
conhecer tão boa Mãe, logo a nossa inteligência se arrebatará, ao
ver que «nada há mais esplêndido do que Aquela a quem o mesmo Divino
Esplendor escolheu: quid splendidius ea quam Splendor
elegit?»
como diz Santo
Ambrósio. Logo o nosso coração se sentirá prendado e preso da Sua
amabilidade de Mãe do Amor Formoso, de Mãe dos pequeninos, de Mãe de
Misericórdia. Em Maria condensou Deus tudo o que fora de Si há de
amável, de belo e de bom.
Logo
finalmente nos veremos impelidos a trabalhar por nos parecermos com
tão acabado modelo: quem ao meditá-la tão bela e perfeita e ao
lembrar-se que é sua Mãe, não sentirá desejos de se parecer com ela?
Mas quem não
adverte que estudar e chegar pela meditação ao conhecimento de Maria
é estudar e conhecer a Jesus? Quem não vê que imitá-la a Ela é
imitar a Jesus? Maria foi quem melhor se pareceu na terra e quem
melhor no céu se parece com Jesus; aproximar-se por isso das
perfeições de Nossa Senhora, é caminhar para as perfeições de Jesus:
per Mariam ad Jesum.
Depois, o mês
de Maio há de ser mês de oração. Já o meditar nas grandezas
de Maria é orar: a verdadeira meditação ascética é oração. Mas
havemos de orar, louvando-a
e
por Ela ao Criador, vendo «quão grandes coisas operou em Maria o
Todo-poderoso; a nossa alma engrandece ao Senhor, e o nosso espírito
exulta em Deus nosso Salvador, ao ver a Bondade com que olhou para
ahumildade da sua servazinha: magnificat anima mea Dominum et
exultavit spiritus meus in Deo salutari meo: quia respexit
humilitatem ancillae suae. E à porfia com todas as gerações a
proclamamos Bem-aventurada, bendita entre todas as mulheres, toda
bela e Imaculada, glória do nosso povo, alegria dos céus e da terra
e advogada dos pecadores.
Orar louvando
e orar dando graças a Deus por nos ter outorgado tão boa Mãe e
dando graças a Maria por tão plenamente se desempenhar dessa sua
missão de Mãe.
Orar ainda
pedindo: ele há tanto que pedir! A oração é a maior necessidade
do género humano, e é também a nossa omnipotência: «tudo o que
pedirdes em meu nome vos será dado» — dizia Jesus, «pedi e
recebereis». Ele há tanto que pedir! Então peçamos e receberemos: só
pedindo e pedindo muito, é que o mês de Maria será para nós o mês de
graças e de bênçãos.
Então
peçamos e receberemos; peçamos para nós e peçamos para os outros.
Peçamos pela Igreja e pelo Papa; pelos Bispos e pelo Clero e pelos
Religiosos e Religiosas, peçamos pela pátria, pela sociedade e pela
família; peçamos pelos adultos e pela juventude de um e outro sexo;
peçamos pela infância: ele há tanto que pedir! Mas peçamos e
receberemos; vamos com confiança ao trono da graça. Vamos a Jesus
por Maria, peçamos a Jesus por Maria. Peçamos a Maria que nos most
a Jesus, agora, pelo conhecimento cada vez mais claro e oamor mais
abrasado e depois desteílio, face a face, para o gozarmos
eternamente no Céu: et Jesum benedictum fructum ventris tui nobis
post hoc exilium ostende.
Se assim se passar o nosso mês de Maio, dará o
resultado de toda a verdadeira e sólida devoção, especialmente
quando essa devoção é devoção a Maria Santíssima,
que é: aproximar-nos, levar-nos a Jesus: per Mariam
ad Jesum.
Mariano Pinho
(Maio de 1932) |