Alexandrina de Balasar

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DOMINGO DE PENTECOSTES
MISSA DO DIA
— B —

Leitura dos Actos dos Apóstolos     (Ac. 2, 1-11)

Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar.

Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam.

Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.

Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu.

Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam:

«Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».

 

Salmo 103 (104), 1ab.24c.29bc-30.31.34

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo
aos Coríntios     (1 Cor 12, 3b-7.12-13)

Irmãos:

Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor», a não ser pela acção do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo.

Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.

Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum.

Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo.

Na verdade, todos nós — judeus e gregos, escravos e homens livres — fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.

OU

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo
aos Gálatas     (Gal 5, 16-25)

Irmãos:

Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne.

Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito e o espírito desejos contrários aos da carne; são dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis; mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei.

As obras da carne são bem conhecidas: luxúria, imoralidade, libertinagem, idolatria, feitiçaria, inimizades, ciúmes, discórdias, ira, rivalidades, dissenções, facciosismos, invejas, embriaguez, orgias e coisas semelhantes a estas, sobre as quais vos previno, como já vos disse: os que praticam estas acções não herdarão o reino de Deus.

Pelo contrário, os frutos do Espírito são: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança.

Contra coisas como estas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e apetites.

Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito.

 

SEQUÊNCIA

Vinde, ó santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher degozo
nossos corações.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.

Descanso na luta
e na paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João     (Jo 20, 19-23)

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:

«A paz esteja convosco».

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo:

«A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».

Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:

«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

 

OU

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João     (Jo 15, 26-27; 16, 12-15)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:

«Quando vier o Paráclito, que Eu vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.

Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar por agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há-de vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

 

PONTOS DE REFLEXÃO

I LEITURA Act 2,1-11

A vinda do Espírito prometido por Jesus é acompanhada pelo duplo sinal de “um rumor semelhante a forte rajada de vento” e por “uma espécie de línguas de fogo”. Na segunda parte do texto deve-se supor que os discípulos tenham saído do lugar onde se tinham reunido. Em Jerusalém acontece o prodígio, também ele duplo, das muitas línguas concedidas aos Apóstolos e da compreensão delas da parte das diversas populações presentes, na sua língua natal. Todos os elementos do texto estão carregados de alusões simbólicas.

“Vento” e “fogo” acompanhavam no Antigo Testamento diversas aparições de Deus, mas Lucas sublinha aqui que agora se trata verdadeiramente da vinda do Espírito do Senhor porque fogo e vento são reduzidos a imagens. O Espírito é o autor da palavra dos Apóstolos, a qual é anúncio em forma humana de uma revelação divina. Nas narrações sucessivas do Livro dos Atos dos Apóstolos o verdadeiro protagonista será precisamente a Palavra de Deus, que se espalha e suscita a fé.

A longa lista dos povos que escutam e compreendem sublinha o cumprimento da profecia que Jesus tinha feito em Nazaré, de uma força salvífica destinada não só aos Judeus mas à Humanidade inteira. 

II LEITURA Gl 5,16-25.

O  texto, extraído da secção exortativa da Carta de São Paulo aos Gálatas, desenvolve o confronto e a oposição entre as aspirações e as obras do homem pecador, mortal, entregue a si mesmo, e o homem renascido  pelo Espírito interiormente.

O ensinamento está contido na dupla exortação, dirigida àqueles que “são de Cristo” e vivem pelo Espírito”, a “caminhar segundo o Espírito”.

O texto dirige-se aos cristãos. Estes, tendo recebido o Baptismo e aceitado a fé na qual foram instruídos, estão aptos a conhecer e também a desejar, pelo menos teoricamente, o bem; mas enquanto homens outrora pecadores e ainda inseridos num mundo e num ambiente social e cultural dominado pelo pecado, encontram-se amiúde divididos em si mesmos.

Para serem bons cristãos, os gálatas devem, antes demais, ter em conta esse conflito e considera-lo esclarecedor, e depois devem aprender a distinguir com precisão o que provém do seu pecado antigo e conduz ao mal, daquilo que, pelo contrário, é inspirado por Deus e suscita o bem,. Daqui a importância de definir e enumerar com precisão as opções alternativas entre carne e espírito. 

EVANGELHO. JO 15,26-27; 16,12-15

O texto litúrgico junta sete versículos extraídos de dois capítulos distintos do Evangelho de João, mas bastante ligados entre si no conteúdo. Os primeiros, tirados do capítulo 15, falam do Espírito como fonte de “testemunho”, os  sucessivos referem-se à capacidade que o Espírito dará aos discípulos de compreenderem cada vez melhor o mistério da salvação em Cristo.

As expressões usadas pelo evangelista são ricas de significado. “Espírito de verdade” designa para João o Espírito da verdadeira revelação divina, e “Consolador” indica Aquele que está ao lado de cada crente para garantir divinamente a sua fidelidade á vocação cristã. “Testemunho” significa a recepção perfeita  da mensagem de Jesus e a fidelidade em aceitá-la, traduzi-la  em opções de vida e também em comunica-la aos outros. A “verdade plena” não acrescenta nada ao que Jesus trouxe ao mundo com a Sua presença feita de palavras e obras, mas consiste na plena compreensão da origem divina de Cristo e em compreender de que modo Ele possa constituir o sentido exaustivo e definitivo de quanto existe ou acontece.

O Espírito garante a centralidade divina e insuperável de Cristo, o cristocentrismo total em conhecer, em fazer, em ser.

O Pentecostes na sua essência, é a dádiva da luz divina, o Espírito Santo, que ajuda o cristão a compreender e a aceitar a centralidade de Cristo. Como diz o Evangelho, a presença de Deus em nós , que se chama o seu “Espírito”, não acrescenta nada àquilo que o Filho revelou com a Sua pessoa no mundo e na História, mas fá-lo compreender, guarda-o, esclarece-o e explica-o. Sobretudo o Espírito convence-nos de que, em Jesus, nos é comunicado e concedido tudo o que Deus entende dar-nos de Si mesmo.

O Espírito Santo atualiza no tempo e na História a obra do pai e do Filho.

Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga.

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