Alexandrina de Balasar

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SEXTO DOMINGO DE PÁSCOA
— B —

Leitura dos Actos dos Apóstolos     (Ac. 10, 25-26.34-35.44-48)

Naqueles dias, Pedro chegou a casa de Cornélio. Este veio-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés. Mas Pedro levantou-o, dizendo:

«Levanta-te, que eu também sou um simples homem».

Pedro disse-lhe ainda:

«Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável».

Ainda Pedro falava, quando o Espírito desceu sobre todos os que estavam a ouvir a palavra. E todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus.

Pedro então declarou:

«Poderá alguém recusar a água do Baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós?»

E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então, pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.

 

Salmo 97 (98), 1.2-3ab.3cd-4 (R. cf. 2b)

Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

 

Leitura da Primeira Epístola de São João     (1 Jo 4, 7-10)

Caríssimos:

Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus.

Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.

Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele.

Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João     (Jo 15, 9-17)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:

«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.

Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa.

É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.

Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai.

Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá.

O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».

 

PONTOS DE REFLEXÃO

I LEITURA. Act 10,25-27.34-35.44-48

O texto é a síntese de um acontecimento de capital importância narrado no Livro dos Actos dos Apóstolos: a conversão de Cornélio e de toda a sua família.

A conversão de Cornélio representa uma etapa fundamental na abertura da Igreja aos pagãos. Se é verdade que o acontecimento foi importante para Cornélio e para a sua família, muito mais o foi para Pedro e para a comunidade cristã, a qual, a partir desse momento, começa a tomar consciência do valor universal da Salvação.

O acolhimento do Evangelho é a condição fundamental para receber esse dom, e portanto já não é necessário tornar-se hebreu para receber o baptismo e o Espírito santo. Em Deus “não há acepção de pessoas”, mas “em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça, é-Lhe agradável”. De facto, enquanto Pedro está ultimando a sua catequese, o Espírito Santo desce sobre Cornélio e sobre a sua família, como que a querer forçar os acontecimentos, de modo a que não restem dúvidas nem hesitações da parte da Igreja acerca da sua missão universal.

O caminho ainda é longo, mas a comunidade deu um passo decisivo em ordem a uma abertura. Pode parecer-nos insignificante mas foi um acontecimento de alcance vital.

II LEITURA. 1Jo 4,7-10

A reflexão de João leva-nos ao coração e à fonte da caridade. A afirmação central do texto é a de “que Deus é Amor”, e esta certeza manifestou-se no mistério da Encar-nação do Filho : “Deus enviou ao mundo o seu Filho”.” Daí deriva que o homem aprende a amar vendo a Deus que entrega o Filho “para que vivêssemos por Ele”. Não é o homem que procura e ama a Deus, mas é Deus que, desde sempre, procura apai-xonadamente o homem.

O homem, depois da queda de Adão, não sabe e não conhece o que significa amar, mas pode encontrar o caminho meditando e contemplando o desígnio de Deus, que na Encarnação do Filho e na Sua morte e ressurreição chegou ao seu cumprimento.

Com efeito, afirmar que “Deus é amor” não significa levar a cabo uma reflexão filosófica, mas confessar o que ganhamos com a leitura de todos os acontecimentos históricos nos quais Deus imprimiu indelevelmente a Sua presença. O homem pode dizer que “Deus é amor” porque enviando o Seu Filho mostrou ao homem como este é precioso aos Seus olhos; a História prova até que ponto cada pessoa é objecto do amor infinito de Deus.

O homem que se sente amado e “perseguido” pelo amor de Deus reencontra final-mente a sua vocação fundamental no amor como Ele nos amou. Só quem se sente amado pode vencer o seu egoísmo e pode dar o que por sua vez recebeu. Amando os irmãos demonstramos que conhecemos a Deus.

EVANGELHO. Jo 15,9-17

O texto  prossegue com a alegoria da videira e dos ramos escutada no passado domin-go, oferecendo a explicação dela. O verbo dominante desta catequese de Jesus é “per-manecer”. Só permanecendo no amor de Jesus é que é possível cumprir o manda-mento do amor mútuo no interior da comunidade. O amor de Cristo traduz-se para os discípulos numa relação de amizade que lhes consente “conhecer” tudo aquilo que o Pai doou ao Filho. O texto termina apelando para a finalidade do chamamento, ou seja, “dar fruto”, e com uma exortação ao amor mútuo.

As palavras de Jesus dirigidas aos discípulos indicam, com autoridade, que o amor no interior da comunidade é o critério para serem identificados como “Seus amigos”.  Instaura-se uma relação de causalidade e exemplaridade: como o Pai amou o Filho, assim o filho amou os discípulos e agora os discípulos amam-se com o amor que cria uma comunidade onde uns tomam conta dos outros.

Esta capacidade não provém do homem, mas pode realizar-se apenas “perma-necendo” no amor de Cristo. O Apóstolo João insiste neste “permanecer” que é a única condição para “dar muito fruto”.

Que quer dizer permanecer no amor de Cristo? Mais uma vez o modelo é o próprio Jesus : como Ele guardou os mandamentos do Pai e permanece no Seu amor”, assim o discípulo é convidado a “guardar os mandamentos do Mestre”. Imersos neste círculo de amor, os discípulos vivem desde já na “alegria completa”, sinal da vida nova que brota do dom de si.

Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga

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