PONTOS DE
REFLEXÃO
I LEITURA.
Act 10,25-27.34-35.44-48
O texto é
a síntese de um acontecimento de capital importância narrado no Livro
dos Actos dos Apóstolos: a conversão de Cornélio e de toda a sua
família.
A
conversão de Cornélio representa uma etapa fundamental na abertura da
Igreja aos pagãos. Se é verdade que o acontecimento foi importante para
Cornélio e para a sua família, muito mais o foi para Pedro e para a
comunidade cristã, a qual, a partir desse momento, começa a tomar
consciência do valor universal da Salvação.
O
acolhimento do Evangelho é a condição fundamental para receber esse dom,
e portanto já não é necessário tornar-se hebreu para receber o baptismo
e o Espírito santo. Em Deus “não há acepção de pessoas”, mas “em
qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça, é-Lhe agradável”.
De facto, enquanto Pedro está ultimando a sua catequese, o Espírito
Santo desce sobre Cornélio e sobre a sua família, como que a querer
forçar os acontecimentos, de modo a que não restem dúvidas nem
hesitações da parte da Igreja acerca da sua missão universal.
O caminho
ainda é longo, mas a comunidade deu um passo decisivo em ordem a uma
abertura. Pode parecer-nos insignificante mas foi um acontecimento de
alcance vital.
II
LEITURA. 1Jo 4,7-10
A reflexão
de João leva-nos ao coração e à fonte da caridade. A afirmação central
do texto é a de “que Deus é Amor”, e esta certeza manifestou-se no
mistério da Encar-nação do Filho : “Deus enviou ao mundo o seu Filho”.”
Daí deriva que o homem aprende a amar vendo a Deus que entrega o Filho
“para que vivêssemos por Ele”. Não é o homem que procura e ama a Deus,
mas é Deus que, desde sempre, procura apai-xonadamente o homem.
O homem,
depois da queda de Adão, não sabe e não conhece o que significa amar,
mas pode encontrar o caminho meditando e contemplando o desígnio de
Deus, que na Encarnação do Filho e na Sua morte e ressurreição chegou ao
seu cumprimento.
Com
efeito, afirmar que “Deus é amor” não significa levar a cabo uma
reflexão filosófica, mas confessar o que ganhamos com a leitura de todos
os acontecimentos históricos nos quais Deus imprimiu indelevelmente a
Sua presença. O homem pode dizer que “Deus é amor” porque enviando o Seu
Filho mostrou ao homem como este é precioso aos Seus olhos; a História
prova até que ponto cada pessoa é objecto do amor infinito de Deus.
O homem
que se sente amado e “perseguido” pelo amor de Deus reencontra
final-mente a sua vocação fundamental no amor como Ele nos amou. Só quem
se sente amado pode vencer o seu egoísmo e pode dar o que por sua vez
recebeu. Amando os irmãos demonstramos que conhecemos a Deus.
EVANGELHO.
Jo 15,9-17
O texto
prossegue com a alegoria da videira e dos ramos escutada no passado
domin-go, oferecendo a explicação dela. O verbo dominante desta
catequese de Jesus é “per-manecer”. Só permanecendo no amor de Jesus é
que é possível cumprir o manda-mento do amor mútuo no interior da
comunidade. O amor de Cristo traduz-se para os discípulos numa relação
de amizade que lhes consente “conhecer” tudo aquilo que o Pai doou ao
Filho. O texto termina apelando para a finalidade do chamamento, ou
seja, “dar fruto”, e com uma exortação ao amor mútuo.
As
palavras de Jesus dirigidas aos discípulos indicam, com autoridade, que
o amor no interior da comunidade é o critério para serem identificados
como “Seus amigos”. Instaura-se uma relação de causalidade e
exemplaridade: como o Pai amou o Filho, assim o filho amou os discípulos
e agora os discípulos amam-se com o amor que cria uma comunidade onde
uns tomam conta dos outros.
Esta
capacidade não provém do homem, mas pode realizar-se apenas
“perma-necendo” no amor de Cristo. O Apóstolo João insiste neste
“permanecer” que é a única condição para “dar muito fruto”.
Que quer
dizer permanecer no amor de Cristo? Mais uma vez o modelo é o próprio
Jesus : como Ele guardou os mandamentos do Pai e permanece no Seu amor”,
assim o discípulo é convidado a “guardar os mandamentos do Mestre”.
Imersos neste círculo de amor, os discípulos vivem desde já na “alegria
completa”, sinal da vida nova que brota do dom de si.
Padre José
Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga |