O BOM
PASTOR
Primeira
Leitura. Act. 4,8-12
A
intervenção de Pedro é a resposta, diante do sinédrio, à contestação
feita contra ele e contra os apóstolos, pela cura do coxo de nascença
(cf. Act. 3,1-10). É , ao mesmo tempo, uma confissão de fé convicta e
clara: foi “em nome de Jesus” que se cumpriu
definitivamente a promessa de salvação de Deus (v. 11). Jesus é,
portanto, o único mediador colocado entre o Céu e a terra (v. 12).
No ministério dos Apóstolos continua a
atuar o poder de Jesus de Nazaré. O milagre da cura do coxo é o primeiro
grande sinal que confirma claramente o dom da salvação que, por
meio dos Apóstolos, chega a todos os homens. Como Jesus, também os
Apóstolos experimentam a contrariedade e a oposição dos chefes judaicos,
dificuldades que todavia lhes permitem dar com toda a franqueza um
testemunho convicto de fé no poder do
“nome de Jesus”.
Nas
palavras de Pedro está, por isso, condensada a fé das primeiras
comunidades cristãs: Jesus é o único mediador colocado entre o Céu e a
terra no qual cada homem pode ser salvo.
Pedro,
transformado pela ação do Espírito Santo, já não está titubeante e
medroso como naquela última noite diante da criada do Sumo Sacerdote;
pelo contrário, diante do Sinédrio é agora testemunha fidedigna e
destemida de Cristo.
Segunda
leitura. 1Jo 3,1-2
Quais são
as consequências da morte e ressurreição de Jesus? Nestes versículos,
João apresenta a atualidade da vocação cristã: sermos “filhos de Deus”.
O Apóstolo está convencido de que esta expressão não é uma metáfora, mas
uma realidade oferecida, consequência do “amor do Pai”. Esta
convicção é fundamento não só do presente mas também do futuro dos
discípulos: o caminho do Filho é o de ver o Pai e tornar-se semelhante a
Ele.
Nas
palavras de João encontramos uma síntese eficaz da Redenção realizada
por Jesus: “A todos aqueles que receberam deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus” Ser “filho de Deus” é dádiva que tem
origem no “amor do Pai”, que no Filho nos tornou realmente Seus
filhos. Isso é para Paulo consequência da ação do Espírito Santo no
coração do homem (cf. Rom 8,16) e dá-nos a possibilidade de invocar a
Deus como “Abba, Pai”. (Rom. 8,15).
É este o
ponto de partida de cada chamamento para o discipulado e não consiste
numa dádiva estática, mas dinâmica; de facto, toda a vida do Filho não é
mais do que um desenvolvimento progressivo em direção a uma maturidade
que culmina na visão de Deus “tal como Ele é” (v. 2).
Evangelho.
Jo 10,11-18
A alegoria
do pastor das ovelhas retoma uma imagem cara ao profeta Ezequiel (Cf. Ez
34), onde Deus anuncia que Ele próprio apascentará o seu Povo. O Bom
Pastor distingue-se do mercenário porque “conhece as suas ovelhas”
(v. 14), mas mais ainda porque “oferece a sua vida” pelas ovelhas
(cf. vv 11.15). A oferta de Si mesmo para a salvação das ovelhas não é
obrigação, mas uma opção de amor (vv. 17-18). O dom de Si mesmo não é
apenas para alguns mas para todos. (v. 16).
Jesus é o
“Bom Pastor” (cf Jo 10,11-14a) A imagem do evangelho é
de fácil compreensão: Jesus não é simplesmente um pastor, mas um “pastor
bom” que exerce a sua tarefa com delicadeza e desvelo. De facto, Ele
“conhece” as ovelhas, e este conhecimento é o primeiro sinal
de uma amor que progressivamente O levará a dar a Sua vida por elas.
Deste
modo, João diz a cada homem que a fé é exatamente a experiência de quem
se sente amado e conhecido: “Nós reconhecemos o amor que Deus tem por
nós e acreditamos nesse amor” (1Jo 4,16). A certeza de sermos amados
sustenta a paz e a alegria do discípulo, que experimenta como finalidade
do amor infinito de Deus, e este amor não é algo de vago ou de nebuloso,
mas é o rosto de Jesus Bom Pastor.
As crises
que amiúde abrem brechas no nosso coração tentam prejudicar precisamente
essa certeza. As provocações, as desgraças que surgem na vida fazem
estremecer, por vezes dramaticamente, a nossa convicção de sermos
amados. Nesses momentos, mais do que o raciocínio, é útil a escuta da
Palavra que nos fala da presença de Cristo nas provações e do seu amor
livre e tenaz, que não permitirá que o justo sucumba sob o peso da
tristeza e da angustia. O amor do Bom pastor torna-se oferta da sua
Vida, porque “não há amor maior do que dar a vida pelos amigos”
(cf. Jo 15,13). Na dádiva de Cristo está envolvido o Pai que “amou de
tal modo o mundo que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16) , servo,
justo e obediente.
Padre José
Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga |