Alexandrina de Balasar

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QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA
— B —

Leitura dos Actos dos Apóstolos     (Ac. 4, 8-12)

Naqueles dias, Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes:

«Chefes do povo e anciãos, já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e o modo como ele foi curado, ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença.

Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que veio a tornar-se pedra angular. E em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos».

 

Salmo 117 (118),1 e 8-9.21-23.26.28cd.29 (R. 22)

Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos poderosos.

Eu Vos darei graças porque me ouvistes
e fostes o meu Salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.

Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.

 

Leitura da Primeira Epístola de São João     (1 Jo 3, 1-2)

Caríssimos:

Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele.

Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João     (Jo 10, 11-18)

Naquele tempo, disse Jesus:

«Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.

O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas.

Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».

 

O BOM PASTOR

Primeira Leitura. Act. 4,8-12

A intervenção de Pedro é a resposta, diante do sinédrio, à contestação feita contra ele e contra os apóstolos, pela cura do coxo de nascença (cf. Act. 3,1-10). É , ao mesmo tempo, uma confissão de fé convicta e clara: foi “em nome de Jesus” que se cumpriu definitivamente a promessa de salvação de Deus (v. 11).  Jesus é, portanto, o único mediador colocado entre o Céu e a terra (v. 12).

No ministério dos Apóstolos continua  a atuar o poder de Jesus de Nazaré. O milagre da cura do coxo é o primeiro grande sinal que confirma claramente o dom da salvação que, por meio dos Apóstolos, chega a todos os homens. Como Jesus, também os Apóstolos experimentam a contrariedade e a oposição dos chefes judaicos, dificuldades que todavia lhes permitem dar com toda a franqueza um testemunho convicto de fé no poder do “nome de Jesus”.

Nas palavras de Pedro está, por isso, condensada a fé das primeiras comunidades cristãs: Jesus é o único mediador colocado entre o Céu e a terra no qual cada homem pode ser salvo.

Pedro, transformado pela ação do Espírito  Santo, já não está titubeante e medroso como naquela última noite diante da criada do Sumo Sacerdote; pelo contrário, diante do Sinédrio é agora testemunha fidedigna e destemida de Cristo. 

Segunda leitura. 1Jo 3,1-2

Quais são as consequências da morte e ressurreição de Jesus? Nestes versículos, João apresenta a atualidade da vocação cristã: sermos “filhos de Deus”. O Apóstolo está convencido de que esta expressão não é uma metáfora, mas uma realidade oferecida, consequência do “amor do Pai”. Esta convicção é fundamento não só do presente mas também do futuro dos discípulos: o caminho do Filho é o de ver o Pai e tornar-se semelhante a Ele.

Nas palavras de João encontramos uma síntese eficaz da Redenção realizada por Jesus: “A todos aqueles que receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” Ser “filho de Deus” é dádiva que tem origem no  “amor do Pai”, que no Filho nos tornou realmente Seus filhos. Isso é para Paulo consequência da ação do Espírito Santo no coração do homem (cf. Rom 8,16) e dá-nos a possibilidade de invocar a Deus como “Abba, Pai”. (Rom. 8,15).

É este o ponto de partida de cada chamamento para o discipulado e não consiste numa dádiva estática, mas dinâmica; de facto, toda a vida do Filho não é mais do que um desenvolvimento progressivo em direção a uma maturidade que culmina na visão de Deus “tal como Ele é” (v. 2). 

Evangelho. Jo 10,11-18

A alegoria do pastor das ovelhas retoma uma imagem cara ao profeta Ezequiel (Cf. Ez 34), onde Deus anuncia que Ele próprio apascentará o seu Povo. O Bom Pastor distingue-se do mercenário porque “conhece as suas ovelhas” (v. 14), mas mais ainda porque “oferece a sua vida” pelas ovelhas (cf. vv 11.15). A oferta de Si mesmo para a salvação das ovelhas não é obrigação, mas uma opção de amor (vv. 17-18). O dom de Si mesmo não é apenas para alguns mas para todos. (v. 16).

Jesus é o “Bom Pastor” (cf Jo 10,11-14a) A imagem do evangelho é de fácil compreensão: Jesus não é simplesmente um pastor, mas um “pastor bom” que exerce a sua tarefa com delicadeza e desvelo. De facto, Ele “conhece” as ovelhas,  e este conhecimento é o primeiro  sinal  de uma amor que progressivamente O levará a dar a Sua vida por elas.

Deste modo, João diz  a cada homem que a fé é exatamente a experiência de quem se sente amado e conhecido: “Nós reconhecemos o amor que Deus tem por nós e acreditamos nesse amor” (1Jo 4,16). A certeza de sermos amados sustenta a paz e a alegria do discípulo, que experimenta como finalidade do amor infinito de Deus, e este amor não é algo de vago ou de nebuloso, mas é o rosto de Jesus Bom Pastor.

As crises que amiúde abrem brechas no nosso coração tentam prejudicar precisamente essa certeza. As provocações, as desgraças que surgem na vida fazem estremecer, por vezes dramaticamente, a nossa convicção de sermos amados. Nesses momentos, mais do que o raciocínio, é útil a escuta da Palavra que nos fala da presença de Cristo nas provações e do seu amor livre e tenaz, que não permitirá que o justo sucumba sob o peso da tristeza e da angustia. O amor do Bom pastor torna-se oferta da sua Vida, porque “não há amor maior do que dar a vida pelos amigos” (cf. Jo 15,13). Na dádiva de Cristo está envolvido o Pai que “amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho  único” (Jo 3,16) , servo, justo e obediente.

Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga

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