SITE DOS AMIGOS DA ALEXANDRINA - SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - ALEXNDRINA'S FRIENDS WEBSITE

     


PADRE MARIANO PINHO
E A BEATA ALEXANDRINA

A formação

Há várias sínteses biográficas sobre o Padre Mariano Pinho[1], mas penso que está ainda por fazer um trabalho em profundidade que documente a verdadeira dimensão do seu papel na implantação da Cruzada Eucarística, que esclareça o impacto da sua pregação, que avalie a sua acção nas revistas que dirigiu, o mérito dos livros que publicou, o trabalho que desenvolveu no Brasil, o muito que sofreu por causa da Alexandrina, etc.

Creio que é necessário reunir os seus escritos e o que os contemporâneos sobre ele escreveram. No que à Alexandrina se refere, é preciso reunir as cartas que ele lhe escreveu e estudar as que ela lhe dirigiu.

Aqui, vou apenas alinhar algumas ideias sobre este jesuíta.

O Padre Mariano Pinho nasceu no Porto, duma família de pequenos comerciantes, em 16 de Janeiro de 1894, e faleceu no Recife, Brasil, em 11 de Julho de 1963, com 69 anos. O seu nome completo era Mariano Monteiro Carvalho Pinho.

Cursou a Escola Apostólica da Santíssima Trindade, em Guimarães, onde fez os estudos secundários de 1906 a 1910. Neste último ano, teve de se exilar do país, por causa da perseguição da Primeira República. Com dezasseis anos, entrou na vida religiosa em Exaten, na Holanda, em 7 de Dezembro de 1910, onde foi colega de Luís Mariz, de Simeão Tang, de Tobias Ferraz e de Domingos Maurício.

Estudou em Alsenberg, Bélgica, de 1913 a 1915, Humanidades e Retórica. Cursou Filosofia, em Onha, Burgos, desde 1915 até 1918.

Em 1919, navegou para o Brasil e entrou no Colégio Padre António Vieira, na Baía, onde ensinou, redigindo simultaneamente a revista Legionários das Missões, de que foi fundador.

Regressou à Europa em 1923 para cursar Teologia em Innsbruck, na Áustria, ordenando-se sacerdote em 1926, na mesma cidade. No ano de 1927-1928, fez a terceira provação em Paray-le-Monial, ultimando assim a sua formação religiosa. Frequentou durante algum tempo, em 1929, a Pontifícia Universidade de Comilhas, Santander, Espanha, para se licenciar em Teologia[2].

Foi ainda em Innsbruck que escreveu os artigos sobre o então sedutor Teosofismo que saíram na Brotéria e que certamente marcaram o seu futuro. Não atacou este movimento principalmente dum ponto de vista teórico, mas histórico: analisou miudamente o seu nascimento e evolução, mostrando como todo ele não passava duma mistificação. E fê-lo num estilo ligeiro, mas mostrando um conhecimento da matéria versada do mundo anglo-saxónico que há de ter impressionado profundamente.

Na Póvoa de Varzim

Em 1929, quando o Padre Mariano Pinho chega à Póvoa de Varzim, os primeiros jesuítas regressados do exílio já aí se encontravam desde 1923. Era na residência desta vila, no Largo das Dores, que estava a direcção do Mensageiro, a que se chamara Apóstolo desde o início da República. É exactamente nesse ano que a revista retoma o nome original.

Ali muito perto, a Madre Sá já erguera o seu ousado Colégio do Sagrado Coração de Jesus. Esta grande lutadora era também uma regressada do exílio, que passou na Inglaterra e na Suíça. Trazia novas ideias pedagógicas, que ia pôr em prática em favor da educação da juventude feminina.

As obras da igreja do Sagrado Coração de Jesus esperavam ainda melhores dias, depois da suspensão republicana.

O Padre Pinho, se viera para dirigir o Mensageiro, vai-se distinguir sobretudo como promotor da Cruzada Eucarística das Crianças a C.E.C. De facto, a meio do ano, publica pela primeira vez uma separata tendo em vista a C.E.C. Nascia assim uma revista nova de grande sucesso, a Cruzada.

Ouçamos como ele define a Cruzada Eucarística das Crianças: a C.E.C. é «a secção infantil do Apostolado da Oração uma piedosa união de meninos e meninas de todo o mundo católico, para alcançar a conversão das nações e a restauração cristã da sua pátria. Chama-se Cruzada, porque à semelhança dos guerreiros antigos, que foram ao Oriente combater os infiéis e libertar os Lugares Santos, a C.E.C. procura libertar as almas e as nações do jugo do demónio, para que nelas só reine Jesus Cristo. Eucarística porque a sua grande arma de combate é a Comunhão frequente.»

E continua este Gualdim Pais moderno (adoptara este pseudónimo que lembrava o mestre português medieval dos Templários):

« Chama-se também Apostolado da Oração :

1.º porque a C.E.C. é o mesmo apostolado, ou Associação do Santíssimo Coração de Jesus, adaptado às crianças, regendo-se pelos estatutos dele ;

2.º porque se propõe converter todas as crianças católicas noutros tantos apóstolos do Reino de Deus e da salvação das almas, empregando para isso como arma principal a Oração.

Para realizar o seu nobilíssimo ideal da restauração do mundo e de Portugal, a C.E.C. emprega três meios :

1.º Oração Jesus disse: «é preciso orar sempre»; «pedi e recebereis». Passou a sua vida terrena a fazer o bem e a orar pela salvação das almas e agora continua a orar sempre por nós no Céu e no sacrário.

2.º Pequenos sacrifícios O sacrifício robustece a nossa vontade contra o mal. Vale como súplica à clemência de Deus e também como satisfação à Justiça Divina. O sacrifício de Jesus inocente desagravou a honra de Deus e redimiu a humanidade pecadora; sacrifico das crianças inocentes, unido ao de Jesus, ajudará a resgatar de novo mundo.

3.º Comunhão frequente Sem ela não pode haver vida cristã: e como o espírito da C.E.C. é o espírito de reparação e desagravo em união com o Santíssimo Coração de Jesus, todos os seus membros e obrigam ao menos a uma comunhão mensal reparadora. »

Estava aqui um programa de acção, havia uma revista e havia um dinamizador entusiasta. Os frutos não se fizeram esperar. Em breve há notícias da inauguração de vários núcleos da Cruzada, uns mais próximos, outros bem distantes.

O dia de Pascoela de 1929 há-de ter sido um dia muito especial para o Padre Mariano Pinho: inaugurou-se então a C.E.C. da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Veja-se o relato que saiu no Mensageiro :

« Às sete da manhã entrava em procissão por uma das portas laterais da capela-mor, com grande regozijo dos olhares curiosos e indagadores dos assistentes, um bando de meninos e meninas. Eram os adaís esforçados que iam ser recebidos na Cruzada. Rompia a procissão um menino com o estandarte da Cruzada Eucarística; seguiam-no dois a dois outros meninos, todos eles de banda branca a tiracolo, rubricada no peito e no dorso com a Cruz de Cristo. Vinham depois as meninas vestidas de branco com uma espécie de cota de armas branca com a Cruz Redentora em vermelho. A bênção da bandeira e a admissão fez-se no altar do Sagrado Coração de Jesus após a qual se dirigiram de novo em procissão para a capela-mor, onde juntamente com o C.E.C. do Colégio do Sagrado Coração desta Vila entoaram o hino do C.E.C. que todos os cruzados cantam com a afinação e o entusiasmo de quem canta coisa sua e que lhes sai da alma. A capela-mor ficou toda ocupada pelos dois grupos dos Cruzados. Era um espectáculo agradável à vista dos que os contemplavam da terra e mais agradável aos olhos dos que a ele se uniam do Céu, por considerarem esse bando de criancinhas inocentes junto do Sacrário como os Anjos reparadores e adoradores da Eucaristia. Seguiu-se a Missa solene, mas já antes tinha havido Missa de Comunhão geral para o povo. Os cruzados comungaram na Missa solene. O número de comunhões feitas este dia na Igreja do Coração de Jesus pelas intenções do Sumo Pontífice ascendeu à avultada soma de 755 e muito maior seria se a primeira Missa se tivesse celebrado mais cedo.

De tarde houve terço, sermão, Te-Deum em acção de graças e soleníssima bênção do Santíssimo. Ao harmónio esteve o Sr. Dr. Josué Trocado que pacientemente se prestou durante quase uma semana a ensinar o povo para a Missa e Te-Deum. »

O grupo do Colégio do Sagrado Coração de Jesus tinha sido instalado em 21 de Fevereiro.

Veja-se também esta notícia, envida à Cruzada pelo pároco de Amorim e que assinala uma ida do Padre Pinho a essa freguesia, para aí inaugurar a Cruzada Eucarística das Crianças :

« A Cruzada Eucarística das Crianças inaugurou-se na minha freguesia no domingo, 28 de Abril.

As crianças, em número de 64, tinham-se preparado no tribunal da Penitência para receber, no dia do seu alistamento na Cruzada, a Jesus, o terno amigo das criancinhas. Para dar maior solenidade ao acto, fora convidado o centro da Cruzada da Póvoa para assistir à inauguração da Cruzada em Amorim. O convite foi bem aceite pelo Director e Zeladores e à tarde, embora o tempo estivesse um tanto chuvoso, começam a chegar a Amorim uns a pé ouros em caminheta os Cruzados da Póvoa.

Os novos Cruzados de Amorim vêm pouco a pouco chegando à Igreja e seus parentes acompanham-nos para presenciarem a cerimónia tão impressionante da admissão. Depois da recitação do terço, subiu ao púlpito o Rev. P. Mariano Pinho, promotor desta obra em Portugal: depois de historiar a C.E.C. desde o seu princípio, mostrou aos novos sócios os fins da Cruzada e o quanto havia a esperar das crianças que desde a meninice se entregavam ao Santíssimo Coração de Jesus. A impressão da prática foi tal que, no fim, muitas crianças e pais vinham pedir ao Pároco para seus filhos pertencerem à Cruzada. As crianças foram distribuídas em grupos pelas doze catequistas, ficando estas constituídas zeladoras da C.E.C. Ficou assente que a Comunhão mensal se realizaria no primeiro domingo depois da primeira sexta-feira do mês. O Rev. Pároco, Zeladoras e Cruzados de Amorim mostram-se muito reconhecidos para com o Rev.mo Director e grupos da C.E.C. da Póvoa que vieram abrilhantar com a sua presença a sua festa inaugural. Avante pela C.E.C. que contribuirá imenso para preservarmos as crianças de tantos perigos que as cercam ! »

Entretanto a revista infantil vai publicando fotografias de grupos da C.E.C. ; na área do arciprestado, além das dos grupos da Póvoa, podem-se ver fotografias dos grupos de Amorim, de Arcos, de Beiriz, de Nabais, do Outeiro Maior.

Num dos números iniciais da Cruzada vem esta relação dos «Centros de Cruzada Eucarística de que temos recebido mais frequentes notícias :

Angra do Heroísmo centro do Asilo da Infância Desvalida.

Barcelos centro da freguesia de Barcelinhos, Aldreu.

Braga S. Vítor.

Esposende S. Marinha de Forjães.

Póvoa de Varzim centros da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, do Colégio B. João Bosco, de Amorim, de Nabais, da Estela e de Terroso.

Vila do Conde centro do Colégio de S. José, Outeiro.

Viana freguesia de Nossa Senhora de Monserrate; e Matriz, Tondela, Silvares.

Elvas

Funchal Freguesia de S. Jorge.

Guarda Vilar Formoso.

Viseu centro da Sé, da freguesia de S. Josninho, de Figueiró da Granja.

(No original, a lista vem com muitos erros, que procuramos corrigir, tanto quanto nos foi possível.)

O Dr. Jorge Barbosa, num artigo sobre a Alexandrina saído na Voz da Póvoa em 15/5/96, dá notícia duma outra actividade do Padre Pinho:

«O Padre Mariano Pinho, sacerdote da residência dos Jesuítas da Póvoa de Varzim, foi director espiritual da Congregação Mariana de Jovens da Póvoa de Varzim (os denominados filhos de Maria), cujos actos religiosos se realizavam no 1º andar do prédio n.º 7 do Largo de Eça de Queirós, por cedência graciosa do seu proprietário, Dr. Josué Francisco Trocado. Nesta sede se realizavam as reuniões sociais, conferências e encontros de lazer ou de convívio entre os mais novos (aspirantes, que usavam fita verde, ao peito, nos actos religiosos) e os mais velhos (congregados, que usavam fita azul), mais larga.

***

Esta sociedade católica juvenil teve um semanário noticioso e católico, intitulado A Voz do Crente, que se publicou de 25 de Março de 1927 a 9 de Julho de 1932 (248 números) … [3]

Na Voz do Crente, encontram-se algumas menções do nome do Padre Pinho a propósito da Congregação Mariana dos Jovens. Veja-se esta informação de 1 de Maio de 1931:

« No domingo, às 8 horas, na Igreja Matriz, realizar-se-á a sua reunião mensal, com missa celebrada pelo Rev.º Mariano Pinho, comunhão e bênção: de tarde, às 2 e meia, proceder-se-á à admissão dos novos Congregados, Candidatos e anjos, para o que se estão preparando os jovens com um retiro pregado pelo Director, Rev.º Mariano Pinho ».

No número seguinte, de 8 do mesmo mês, vem desenvolvida notícia do acontecimento antes anunciado e referidos até temas da homilia do Padre Pinho. Como curiosidade, fala-se da necessidade de continuar o « círculo de estudos » da congregação.

Em 2 de Outubro desse ano, noticia-se que a Congregação mudou de instalações, mencionando-se novamente o Padre Pinho.

Foi certamente ainda na Póvoa que o Padre Pinho traduziu Harry Dee, um livro para a juventude da autoria dum jesuíta norte-americano, que teve a primeira edição em português em 1932. Também na Póvoa terá reunido muito do material para o Relatório da Cruzada Eucarística, saído igualmente em 1932.

A Beatriz Marques Pinheiro

O Padre Pinho era « mestre de grandes almas », como dele declarou Jesus, e a poveira Beatriz terá sido uma das primeiras colheitas da sua seara. O que sobre ela escreveu lembra às vezes a Alexandrina. Ouçamos a introdução à notícia biográfica em três páginas A4 que ela lhe mereceu no quinto número da Cruzada Eucarística, em Maio de 1930. Ele intitulou o artigo de «Flor colhida na primavera» e assinou-o com as iniciais M. P., como em muitos casos fazia.

« A Beatriz morreu… Lá foi no seu caixãozinho branco para o cemitério, vestida de Cruzada Eucarística…

Mas não, não morreu. Os Anjos não morrem; manda-os Deus à terra a derramar gotas de bálsamo sobre as feridas dos que padecemos por nossos pecados: envia-no-los para que nos apontem, de fronte erguida e olhar límpido como as estrelas, o roteiro da Eternidade: e, depois de terminada a sua missão, vão-se, não morrem: voam para o Céu.

A Beatriz era um anjo, não morreu; cumpriu a sua missão e voou para o Céu. Foi-se com o abrir dos lilases para a pátria que lhe pertencia, para a pátria dos inocentes.

Tinha razão quando há um ano, no retiro espiritual, escrevia, em seu caderninho de notas íntimas, que « esperava que a sua cruz neste mundo não havia de demorar muito ». Não durou muito: foi-se aos quinze anos e meio, a 3 de Abril de 1930.

« Levai-me deste mundo para fora, que só arrasta as almas para o pecado», dizia ela no mesmo caderninho. E Nosso Senhor fez-lhe a vontade: levou-a antes que o mundo viesse empanar a limpidez da sua inocência. Era zeladora da Cruzada das Crianças: o Coração Santíssimo de Jesus veio buscá-la na véspera da primeira sexta-feira de Abril: queria lá neste dia entre os coros dos Anjos a sua Zeladora, a sua organista era ela a organista da Igreja do Coração de Jesus da Póvoa de Varzim; desta vez já não tocará na primeira sexta-feira: foi cantar no Céu os louvores eternos do Coração do Rei Divino, do seu Divino Esposo, como ela mais de uma vez chama a Jesus em seus apontamentos espirituais. »

«Sofrer, calar, reparar»

Nos títulos das duas obras que o Padre Mariano Pinho dedicou à Alexandrina, está sempre o tema da vítima. Na primeira, ela é, sem mais, a « Vítima da Eucaristia ». Na segunda, a expressão « No Calvário de Balasar » mostra-a vítima com a Vítima do Calvário.

A Alexandrina afirma na Autobiografia que, talvez em 1933, « sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento. … A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava. »

Esta oferta é muito original. Ainda por cima feita « sem saber como ». Como terá ela chegado a esta decisão ?

Sem grande margem para grandes dúvidas, o Mensageiro do Coração de Jesus ajuda-nos a perceber alguns antecedentes.

Em 1928, Pio IX publicara a Miserentissimus Redemptor (O nosso Misericordiosíssimo Redentor) sobre o tema do sofrimento reparador. O Padre Pinho citou-a na capa de No Calvário de Balasar.

Ora o Mensageiro de Maria, em 1929 e 1930, faz-se também eco desta encíclica.

No Mensageiro do Coração de Jesus escreve-se longamente sobre o « Venerável » La Colombière e sobre Santa Margarida Maria Alacoque (a imagem desta santa é colocada na Basílica do Sagrado Coração de Jesus em 1929). Muito curioso é um trabalho artístico com que se abre esses artigos e onde se lê a divisa « Sofrer, calar, reparar », tão próxima da que a Alexandrina vai adoptar : « Sofrer, amar, reparar ».

Embora não seja nesta altura que ele descobre a Alexandrina, as revistas que dirigia hão-de ter chegado até ela, não sabemos através de quem.

Director espiritual da Alexandrina

Entre 1931 e 1933, o Padre Pinho continua como redactor da revista Mensageiro do Coração de Jesus, mas agora em Braga.

Em 16 de Agosto de 1933, torna-se director espiritual da Alexandrina, por ocasião duma pregação dum tríduo em honra do Sagrado Coração de Jesus, dirigindo já antes a Deolinda.

Em 27 de Dezembro, muda-se para Lisboa, onde assume o cargo de director da revista Brotéria (até 1935). Na capital, entrega-se também a ministérios sacerdotais e a dirigir Congregações Marianas, em colégios de religiosas. Pregava com frequência nas igrejas paroquiais e fundava cruzadas eucarísticas infantis. Dava conferências sobre temas religiosos.

De 1933 a 1936 é superior da Casa dos Escritores de S. Roberto Belarmino, em Lisboa.

Em Setembro de 1934, Jesus pede à Alexandrina que aceite ser alma-vítima. Ela comunica o facto ao Padre Pinho, que lhe ordena que escreva tudo o que ouve de Jesus.

O Padre Pinho, que padecera o exílio imposto pela Primeira República, como muitos outros, verá com bons olhos a obra de Salazar. Em 1934, publica na Botéria um longo artigo «No Estado Novo», com catorze páginas.

Constitui uma análise serena, objectiva à orientação político-social outorgada a Portugal por Salazar. Conclui o autor: «As recentes iniciativas do Governo Português procedem dum pensamento altamente social, a que não parece ter sido estranha a inspiração da Encíclica Quadragesimo Anno» (Brotéria, 1934, I. p. 291)[4].

Na Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Em 30 de Julho de 1935, depois da Comunhão, Jesus ordena à Alexandrina :

« Manda dizer ao teu director espiritual que, em prova do amor que dedicas à minha Mãe Santíssima, quero que seja feito todos os anos um Acto de Consagração do mundo inteiro... Assim como pedi a S. Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração ». (Carta ao Padre Pinho, 1 de Agosto de 1935).

Cada uma destas palavras é importante: o amor de Alexandrina a « minha Mãe Santíssima », o acto de consagração anual e o paralelismo com o pedido feito a Santa Margarida.

No livro No Calvário de Balasar, o Padre Pinho escreve não « S. Margarida Maria », mas apenas « Santa Margarida », acompanhado este nome com um ponto de interrogação entre parêntesis. Não era certamente por desconhecer a biografia de Santa Margarida Maria Alacoque, ele que tinha feito parte da sua formação em Paray-le-Monial e sob cuja direcção uma biografia desta santa tinha sido publicada no Mensageiro do Coração de Jesus !

Foi só no dia da SS. Trindade do ano seguinte que ele definitivamente se convenceu que a mensagem era autêntica. Por isso, em 11 de Setembro, escreveu ao Papa, por meio de Sua Em.cia o Cardeal Pacelli, a manifestar-lhe o pedido dirigido por Jesus à Alexandrina para que o mundo fosse consagrado ao Coração Imaculado de Maria.

Entretanto deixa a direcção da Brotéria, para ser nomeado promotor nacional das chamadas Congregações Marianas e da Cruzada Eucarística, desempenhando simultaneamente as funções de director dos órgãos de imprensa destes movimentos da Companhia de Jesus vocacionados para a formação cristã dos leigos. Passa a residir em Braga, onde é professor. Dirige, até 1942, o Mensageiro de Maria, órgão das Congregações Marianas. Isto é, está optimamente colocado para acompanhar as diligências com vista à Consagração.

Essas diligências são conhecidas: as variadas iniciativas por ele protagonizadas, os pedidos de esclarecimentos vindos de Roma, a intervenção do Monsenhor Vilar, a vivência da Paixão com movimentos. Por fim, em 31 de Outubro de 1942, realiza-se a consagração quando o Padre Pinho já fora afastado da direcção espiritual da Alexandrina e da direcção de revistas como o Mensageiro de Maria, onde a mensagem papal virá a ser publicada… Era difícil o caminho que lhe cabia percorrer !

Em 28 de Agosto de 1933, a Alexandrina dirige ao Padre Pinho a sua primeira carta. Veja-se a metade inicial:

« Sr. Padre Pinho: Então como tem passado desde o dia 20 até hoje? O grande excesso de trabalho não agravou o estado de saúde de V. Rev.cia? Sempre tenho pedido isso a Nosso Senhor. Oxalá as minhas orações sejam ouvidas.

Quanto a mim, tenho passado um pouco mal do coração; tenho perdido bastantes forças e por essa razão pedi à minha irmã para me escrever esta, para eu não estar a fazer esforços.

Agora tenho a agradecer a V. Rev.cia o livrinho que me enviou. Não é fácil imaginar como fiquei contente! Havia talvez uma hora que eu tinha estado a chorar porque sentia muitas saudades ao pensar as palavras que me dizia e que tanta consolação davam à minha pobre alma; e o carinho com que tratava com esta pobre doente! E agora pensar que estou tão distante de V. Rev.cia! Mas bem me reconheço indigna de uma tão grande graça, de lhe poder falar mais vezes. Mas vejo que Nosso Senhor vela por mim porque fez com que o Sr. P. Pinho, mesmo no meio de tantos trabalhos, me não pudesse esquecer.

Recebi a carta de V. Rev.cia, li-a muitas vezes, porque em a ler me sentia mais forte para amar a Nosso Senhor e por Ele sofrer tudo quanto fosse da Sua Santíssima Vontade. »

Obras do Padre Mariano Pinho

Livros que escreveu

Relatório da Cruzada Eucarística, Porto, 1932
Notas de um Retiro, 1932
Carta Magna da Acção Católica, Braga, 1939
Regresso ao Lar, 1.ª ed., Porto, 1944; 2.ª ed., Baía, 1947
O Imaculado Coração de Maria à Luz de Fátima, ª ed., Baía, 1948; 2.ª ed., Braga, 1950
Vítima da Eucaristia, 1956 (com tradução francesa e alemã ainda em vida do autor)
No Calvário de Balasar, S. Paulo, 1963

Tradução

Harry Dee, 1ª ed., 1932; 2ª ed., 1956

Revistas que criou e dirigiu

Legionários das Missões (Brasil)
Cruzada Eucarística

Revistas que dirigiu

Mensageiro do Coração de Jesus
Mensageiro de Maria
Brotéria

Há um seu artigo, saído no Mensageiro de Maria em Março de 1940, com o título de « O que é o Coração de Maria ? », que certamente se integra nos seus esforços de esclarecimento com vista à consagração. Nele se lê a determinada altura que « a devoção do Coração de Maria é a devoção ao amor que ardeu em seu Coração, para com Deus e para com os homens, e se nela abrangemos todas as manifestações deste amor, fixamos sobretudo as principais, como são as suas dores na Paixão de Jesus e as suas misericórdias para com os homens. »

A Alexandrina revive a Paixão

Com início em 30 de Setembro de 1938, o Padre Pinho orien­ta um retiro espiritual para a Alexandrina, no seu quarto; no êxtase de 2 de Outubro, Jesus prediz que ela iria sofrer toda a Sua santa Paixão, pela primeira vez, em 3 de Outubro, e, em seguida, todas as sextas-feiras, das 12 horas às 15.

A Paixão vivida com movimentos é uma prova de que Jesus quer que se faça a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria: Ele mesmo o afirma. De resto, vivida nesta forma, ela terminou logo que o Papa se decidiu a concretizar o  desejo de Jesus.

A retoma dos movimentos por parte da Alexandrina, já com 13 anos de acamada, provocou grande surpresa. Por isso, foi necessário ouvir os médicos. Foram ouvidos o Dr. Elísio de Moura (26 de Dezembro), o Dr. Abílio Garcia de Carvalho (conhecido como o Dr. Garcia) e outros, mas sem resultados significativos.

O Dr. Dias de Azevedo entra em cena

Antes de falar do Dr. Dias de Azevedo, lembremos dois factos:

Em 1939, publica o Padre Pinho, em Braga, a Carta Magna da Acção Católica Portuguesa.

A 20 de Outubro de 1940, por determinação do Padre Pinho, a Alexandrina começa a ditar a sua Autobiografia.

O Dr. Dias de Azevedo tem uma importância decisiva na vida da Alexandrina. O seu papel não se confunde com o de qualquer outro médico que a tenha tratado. Desde o primeiro contacto que com ela trava, ainda em tempos do Padre Pinho, ele apercebe-se da riqueza mística desta doente e por isso dá-se conta de que é um caso especialíssimo, que há-de ser a glória da sua vida.

Ele chega em Janeiro de 1941 e começa logo averiguações muito sérias com vista a obter o mais completo esclarecimento clínico sobre a Alexandrina. Depois, levá-la-á para o Refúgio de Paralisia Infantil, para conseguir uma declaração objectiva, indesmentível, científica sobre o seu jejum e sobre a sua saúde mental. A seguir, manter-se-á ao seu lado para a acompanhar como médico e para a defender contra todos os que a atacam, até ao fim, e, para além dele, com o Boletim de Graças.

No dia 29 de Agosto de 1942, o Padre José Alves Terças, da Congregação dos Missionários do Espírito Santo, assiste à Paixão; seguidamente publicará um relato do que viu e ouviu no n.º 10 da revista « Vida de Cristo, a Paixão dolorosa », vol. V, Lisboa, 1941.

Começa aqui a perseguição ao Padre Pinho, que em breve será coagido a residir no Seminário de Vale de Cambra, ele que dirigira as revistas de mais responsabilidade da Companhia, que estivera afrente da Casa de Escritores, que pregara nas mais importantes igrejas das vilas e cidades do país... São-lhe dirigidas acusações graves, que nunca foram provadas, mas que, muito mais tarde, foram denunciadas como falsas.

A partida para o Brasil

A oposição ao Padre Pinho tomou naturalmente fôlego renovado desde que a Comissão nomeada pelo Arcebispo de Braga declarou que nada havia de extraordinário na vida da Alexandrina (16 de Junho de 1944).

Fragmento da carta de 21/4/1942
ao Padre Pinho

Minha filha, escreve ao teu Paizinho. São palavras minhas transmitidas por uma alma em prolongada agonia, prestes a voar ao Céu.

Ele está a passar dias mais amargos que se podem imaginar. À minha semelhança, contra ele levantam as calúnias mais infames. O seu coração mártir de dor sofre inocente.

São duas almas dignas de desprezo que se revoltaram contra ele.

A primeira, impostora, enganadora, fingia amar-Me; tentou iludir a todos daquilo que não era: o Meu Divino Coração não foi enganado.

A segunda não tem o Espírito Divino que muitos julgam. O Espírito Divino não difama. Jesus usa de caridade até para aqueles que estão culpados.

O meu Divino Coração está triste. Muitos destes sofrimentos são causados pela curiosidade dos meus discípulos. Ai deles, que tremenda responsabilidade! Metem-se naquilo que não devem, querem julgar a causa que lhes não compete.

É a raiva de Satanás contra o teu Paizinho.

O meu Divino Coração cá está para o justificar e defender. Querem sujeitá-lo às maiores penas, mas nunca o Coração Divino de Jesus o consentirá.

Minha Mãe Santíssima será com ele. Ele é o servo fiel do meu Divino Coração: é por isso que Satanás o odeia.

Ele tem sido e será a salvação de muitas almas: mais uma razão porque Satanás se revolta contra ele.

As almas que o caluniam não se perdem se por elas se fizerem muitas, muitas orações; terei compaixão delas e depressa virão ao meu Divino Coração.

Diz ao teu Paizinho que o amo e serei o seu defensor na terra e no Céu. Lá na minha Pátria verão claramente a sua inocência.

Essa oposição teve certamente aspectos variados, mas, ao menos em parte, assentava na recusa apriorística do carácter extraordinário do que se passava com a doente de Balasar. E essa recusa, por estranho que pareça, teria sem dúvida a ver com o veredicto que uns 20 anos antes tinha sido apresentado na Universidade Gregoriana pelo jesuíta Padre Siwek acerca de Teresa Neumann. O Padre Molho de Faria e o Padre AgostinhoVeloso citam-no. Certamente, na mesma base se argumentaria contra o Padre José de Oliveira Dias e a sua dirigida, a célebre «Abscôndita», de que se fala à frente.

Veja-se agora este colóquio da Alexandrina, de 22 de Fevereiro de 1946, sexta-feira, dois dias após a partida do Padre Mariano Pinho para o Brasil :

« O dia 20 não poderá apagar-se jamais da minha memória. A partida do meu Paizinho para o Brasil. O que Jesus me pediu! Não esperava tanto.

Na manhã desse dia, logo depois da sagrada Comunhão, perguntei repetidas vezes a Jesus se sim ou não ele ia e não me deu resposta. Mas mesmo assim permaneci na minha confiança contra toda a esperança. Nosso Senhor enviou-me alguém para me animar e confortar e dispor-me para o que se esperava acontecer. A alma estava forte. Eu estava calma e serena. Mas o que eu sofria não há imaginação que o possa imaginar nem lábios que o possam dizer. Que derrota na minha alma !

Quando ia para rezar, não sabia como oferecer as minhas orações. Seriam precisas para Jesus fazer o milagre de ele não ir ? Ou para Lhe agradecer tão grande graça ? Ou para ele ter boa viagem ?

Indecisa, sem saber o que fazer, entregava-as a Jesus. E com a força da minha confiança, que não sei donde me veio tal, dizia: não foi, não vai.

Oh, como eu estava enganada !

A dor era dilacerante. Eu disse: estou como S. Lourenço, estou assada por todos os lados, mas o meu fogo é pior: queima-me o espírito, cansa-me a alma.

Era já noite. Como a dor era insuportável, esforcei-me por redobrar a minha confiança. Dizia jaculatórias, implorava o auxílio do Céu. E confiada só no Senhor de que Ele providenciaria, lembrei-me de Abraão com o seu filho Isaac, com a diferença de que eu não subia o monte, mas entrava no mar, a grande distância, e lá ia arrancar o meu Paizinho. Mal eu sabia que àquela hora já o vapor caminhava com ele sobre as águas do mar.

Quanto tenho de agradecer ao Senhor por me ajudar a tudo vencer com serenidade e resignação! Tanto orei, tantas orações pedi, sacrifícios e mais coisas ainda e por fim teve que partir.

Ó santa obediência ! O que vou fazer agora ?

Continuar a confiar e a esperar no Senhor, redobrar as minhas orações e, de olhos postos no alto, esperar com alegria e tudo sofrer por amor.

Na manhã de ontem, logo após a sagrada Comunhão, eu disse a Jesus:

Entrego-me a Vós para tudo e prometo-Vos fazer todo o possível para não me preocupar mais se isto ou aquilo compromete a vossa divina causa; se ela é vossa, tomai conta.

O que eu quero, meu Jesus, e prometo fazer todo o esforço, é fazer tudo com a maior perfeição possível e amar-Vos com todo o amor de que o meu coração seja capaz. Sois Vós o único em quem posso esperar.

À tarde, soube então da hora e de todos os pormenores da despedida do meu Paizinho, na entrada para o vapor. Quis ainda ser forte, encobrir as minhas lágrimas, mas fi-lo por pouco tempo. Consegui abafar os suspiros ; ninguém os ouvia; mas as lágrimas rolaram-me pelas faces, durante algumas horas, mas com todo a serenidade e paz. Uma dor que parecia não ter fim. Oferecia-as a Jesus e por tudo O bendizia e louvava. E disse-Lhe que, assim como tinha prometido, se o Paizinho não fosse para o Brasil, os meus lábios não pronunciariam uma palavra de regozijo nem satisfação, assim lhe prometi também se Ele me ajudasse com a sua graça, não dizer uma palavra contra aqueles que o fizeram ir e que tanto me têm feito sofrer.

Nesse ponto, meu Jesus, quero que os meus lábios sejam mudos, para nada poderem dizer. Foi este o meu horto e não foi pouco doloroso.

Senti-me nele e nele prostrada em duro terreno contra o meu peito. Reguei-o com muitas lágrimas, mas lágrimas de resignação.

Na madrugada a dor atingia o seu auge. Sem isso pensar, tive uma visão da alma.

À minha frente, uma mão muito branca, repetidas vezes, me abençoava. Senti na alma uma união que a deixou mais forte. Depois de receber o meu Jesus e de Lhe dar umas pequenas graças, porque não tinha forças para mais, tinha junto de mim, um livro que há dias tinha pedido, com o Te Deum já marcado, para ler em acção de graças logo que soubesse que o Paizinho não saía. Não quis mandá-lo guardar sem o ler como acção de graças a Nosso Senhor por ter consentido na ordem, que foi executada. Parecia-me assim dar mais consolação a Jesus: bendizê-lo na dor como na alegria.

E segui o meu calvário com lágrimas, muitas lágrimas, as quais em espírito ia dando a Jesus. Senti-me cair por muitas vezes sem forças para levantar-me: e nada mais senti dos tormentos de Jesus.

Mergulhada na dor e na cegueira, cegueira que nunca viu nem espera ver, veio o meu Jesus.

Minha filha, coração de oiro, coração de fogo, alma pura, alma cândida, alma só alvura, vem a Mim, vem ao Meu Coração descansar de tanta dor, de tanta amargura; vem buscar coragem, conforto e confiança.

Meu Jesus, meu Jesus, sabeis tão bem que só em Vós confio e não em mim e como permitistes que eu me enganasse ou que o demónio me enganasse ?

Sossega, tranquiliza-te e escuta-me.

Eu não te enganei, tu não te enganaste, o demónio não te enganou, porque eu não consenti nisso.

Tudo o que fiz não foi para te humilhar, nem humilhar aqueles que amas e Eu amo e cuidam da Minha divina causa, mas sim para os deixar mais firmes e contentes.

Fui obrigado a fazê-lo. Tive que proceder assim para não castigar com castigo eterno, como tantas vezes me tens pedido.

És mestra de todas as ciências, doutora das ciências divinas. Quanto o mundo tem de aprender de ti !

Eu falo com toda a ciência e sabedoria. Quando te falei da Pátria, não te enganei, porque, para aqueles que obedecem, no mundo não têm pátria, a sua Pátria é só o Céu.

Se soubesses, minha filha, quanto custou ao meu Divino Coração, louco de amor por ti, não te dizer tudo o que ia suceder, quando sorri e demorei a minha resposta !

Dei-te a coragem e confiança em todo este te tempo para poderes resistir e teres agora coragem para receberes tão grande golpe.

Não te enganei ao dizer que não te pedia o sacrifício da partida do teu Paizinho. Não to pedi na ocasião; vim agora pedir-to mais tarde. E vês como me deste tudo ?

Disse-te que não ia, prometi libertá-lo, e foi este o melhor meio da sua libertação.

Verás como to vou dar mais que nunca. Não foi; ficou contigo. Aquilo que eu uni não podem os homens desunir.

A visão que tiveste esta manhã, a abençoar-te foi ele com a sua mão que muitas vezes te abençoou, enquanto que o vapor ia navegando no mar.

Vês como to dou e como te está unido ? Pedi para que ficasse oculto o que te dizia a tal respeito. E sabes a razão? Para não levar os homens a revoltarem-se, a pontos de resistirem às minhas graças, graças que para alguns, neste sentido, não torno a dar-lhes. Persistiram, resistiram. Fiz tudo para que assim não procedessem.

Eu não queria que nova nódoa, negra nódoa, caísse sobre a Companhia. Minha Companhia que tanto amei e amo, porque ainda, dentro dela, tem muitos que me são queridos.

Nódoa feia, nódoa negra que não mais desaparecerá enquanto o mundo for mundo e, depois, na eternidade, e que tão mal faz às almas.

Alguns que não pertencem à Companhia ajudaram a tão negra nódoa e só a Companhia ficou manchada.

Eu não queria, Eu não queria, Minha filha; fiz tudo para não resistirem à graça.

Jesus dizia isto e chorava.

Não choreis, meu Jesus; deixai as lágrimas para mim e aceitai-as como prova de amor. Não me deixeis enganar. Perdoai a todos. Sede a minha força.

Vai confiante, espera alegre, que bem depressa as Minhas divina promessas serão realizadas com grande brilho e grande triunfo.

Coragem, coragem e alegria. Coragem para os que te rodeiam e cuidam do que é Meu. Coragem e amor, coragem com a certeza de que Jesus não falta, que Jesus a todos ama loucamente.

Vai, vai escrever tudo isto !

Obrigada, meu Jesus.

Coragem, coragem.

Que grande luz dás ao mundo, que grande exemplo pela tua alegria e amor à cruz ! »

No Brasil

Disse Jesus à Alexandrina que a ida do Padre Pinho para o Brasil era « o melhor meio da sua libertação ». Longe daqueles que o perseguiam, vai ele poder dar de novo largas às suas actividades. Viveu primeiro na cidade de Salvador da Baía, no Colégio Padre António Vieira, até 1953, e depois no Recife, no Colégio Nóbrega, dedicando-se a uma intensa actividade pastoral no domínio da formação cristã de leigos e acompanhamento espiritual. Na Baía, publicou, em 1948, O Coração Imaculado de Maria à Luz de Fátima, a sua melhor obra, que terá outra edição em Braga em 1950.

Nos anos de 1951-52, ensina Religião, Latim e Português e é director espiritual dos alunos, de uma Congregação Mariana e da Cruzada Eucarística, assistente da Acção Católica, auxiliar do director diocesano do Apostolado da Oração, redactor de Chama Viva, escritor e censor de livros.

A partir de 1953, no Colégio Nóbrega, no Recife (Pernambuco), vai ser professor de Francês na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica.

Um ano após a morte da Alexandrina, em 1956, publica a Vítima da Eucaristia e a 2ª edição da tradução de Harry Dee.

Em 1958, já não tem actividades docentes no Colégio Nóbrega nem na Faculdade; é simplesmente director da Congregação Mariana dos alunos do Colégio e redactor do jornal Mundo Melhor. Mantém-se no exercício destas funções quase até à morte.

Sai entretanto a tradução francesa da Vítima da Eucaristia (1958), com o título de Sous le Ciel de Balasar. Mais adiante sairá na Suíça a tradução alemã (1960).

Em 1963, publica, em S. Paulo, a nova biografia da Alexandrina No Calvário de Balasar.

Em 11 de Julho, falece, com 69 anos, no Colégio Nóbrega.

Segundo o Padre Humberto, o Padre Pinho, no Brasil, « foi sempre estimado dos seus confrades e dos fiéis, trabalhou com muito fruto até à morte ».

O Padre Abel Guerra, S.J. exprimiu-se sobre ele neste termos : « Sofreu como um santo as piores calúnias e tribulações sem um lamento nem uma ruptura na sua alegria espiritual. »

Actualmente (2005), uma sua antiga dirigida, a Sra. Amparo, expressa sobre ele a melhor opinião e dedica-se a divulgar no Recife a devoção à Beata Alexandrina.

No Processo Diocesano da Alexandrina

Uma muito significativa parte dos testemunhos do Processo Informativo Diocesano da Alexandrina destina-se a ilibar o Padre Mariano Pinho das gravíssimas calúnias que lhe haviam assacado. Chegou-se ao cúmulo de lhe chamar « tarado sexual ».

Muitas pessoas tomaram a sua defesa, desde o Padre Humberto, a senhoras que haviam sido dirigidas por ele, dois jesuítas que muito bem o haviam conhecido (o Padre Abel Guerra e o Padre Lúcio Craveiro), o Dr. Dias de Azevedo, etc.

Duas das testemunhas mais decididas na defesa do bom-nome do Padre Mariano Pinho foram as Professoras Çãozinha e Angelina Ferreira : « O Padre Veloso mente testemunhou a primeira Nunca vi (e a porta muitas vezes ficava entreaberta) o que quer que fosse de menos decoroso entre o Padre Pinho e a Alexandrina.

Foi também meu director durante dez anos e nunca notei nele a mais pequena indelicadeza. Não admito sequer a possibilidade da veracidade das afirmações do Padre Agostinho Veloso. »

Por sua vez, a Prof.ª Angelina Ferreira, que foi dirigida do Padre Pinho desde 1929 a 1946, inquirida sobre a sua opinião a respeito do Padre Pinho, asseverou : « Era um padre muito santo, muito espiritual, muito inteligente e ao mesmo tempo muito humilde. »

Ou então : « Dirigiu-me só pelas estradas da santidade e pureza e assim soubesse imitá-lo. Nunca ouvi de pessoa alguma por ele dirigida, rapaz ou rapariga, senão que era um santo e um anjo. »

Sobre as atoardas levantadas contra ele, foi contundente : « É uma mentira, para não dizer mais. »

« Subirá às honras dos altares »

Nos Sentimentos da Alma anuncia Jesus que o Padre Pinho há de subir « às honras dos altares ». Vejam-se estas frases que sobre ele vêm no êxtase de 4 de Setembro de 1948, primeiro sábado:

« São grandes os desígnios de Deus sobre a sua alma. Ele será contado no número dos Meus Santos. »

No dia 7 de Junho de 1952, Jesus recomenda à Alexandrina :

« Diz ao teu Paizinho que ele está todo absorvido dentro do Meu Coração Divino.

É nele que ele sofre, é nele que ele trabalha, é nele que ele vive.

Diz-lhe que as grandes imolações e as grandes crucifixões são próprias dos santos.

Ele será contado no número dos meus eleitos.

Ele há-de ser coroado com a auréola dos santos.

Dá-lhe todo o meu amor com toda a Minha paz, na certeza de que a sua vida dolorosa foi permitida por Mim.

Se ele soubesse o proveito da sua dor ! No Céu tudo vai saber e compreender.

Dá-lhe amor, amor com toda a minha riqueza.

Dá-lhe amor, amor com toda a riqueza da Minha Bendita Mãe. »

Em 1 de Novembro do mesmo ano, a mensagem é mais precisa :

« Diz ao teu Paizinho que os eleitos do Senhor o esperam. Ele será contado entre eles; como os meus santos, ele será honrado na terra; como eles, subirá às honras dos altares.

Preparo-o para isso pelo sofrimento. Escolhi-o para luz e guia das almas, missão difícil e espinhosa, missão que exige a maior perfeição e sabedoria; missão que exige a ciência das coisas divinas.

Diz-lhe que o Senhor é fidelíssimo, não falta ao que promete.

Diz-lhe que as nuvens se dissiparam, o sol apareceu, brilhou.

Dá-lhe todo o meu amor, todo o amor da Trindade Divina e de minha Mãe bendita. »

Parte destas citações já foi publicada no boletim da Opera dei Tabernacoli Viventi, o Magnificat!, que é dirigido pela Maria Rita Scrimieri Pedriali, uma das fãs italianas da Alexandrina. Efectivamente, no número que assinalava a beatificação, fez ela sair um artigo sob o título : « P. Mariano Pinho, SJ : “Brillerà con te eternamente, farò che egli salga in terra agli onori degli altari” (Gesù ad Alexandrina) ».

Veja-se ainda esta citação dos Sentimentos da Alma, de 2/3/1946 :

« Diz ao teu padre (Padre Pinho) que recolhi os vossos sofrimentos, diz-lhe que o escolhi para luz e guia da tua alma e não renuncio a isso. Uni as vossas almas, não as separo, nem as deixo separar. Recebi grande consolação da sua obediência e humildade. Ele será sempre um mestre de grandes almas. »

O Padre Mariano Pinho e a Abscôndita

Nenhum livro sobre a Beata de Balasar menciona a « Abscôndita ». Nem nenhum livro do Padre Mariano Pinho. Todavia, antes da Beatificação, sempre que se falava sobre a Alexandrina com algum sacerdote que andasse na roda dos 70 anos, vinha à baila a « Abscôndita ».

Abscôndita é antes de mais o título dum livro, duma biografia da Irmã Inês do Coração de Maria, da Congregação de S. José de Cluny, açoriana, que viveu em Nogueiró, junto a Braga. Morreu em 1945, com 29 anos, e foi dirigida por um amigo do Padre Pinho, que conheceu bem a Alexandrina, o Padre José de Oliveira Dias. Este sacerdote era professor de oratória no Seminário Diocesano.

A autoria da compilação dos materiais que constituem o livro vem atribuída a M. da S. Mourão de Freitas, que era um sacerdote da Diocese de Leiria. O Padre José de Oliveira Dias, que naturalmente está em muitas das páginas da biografia, é apenas o responsável pelo prefácio.

Este livro, que teve segunda edição, provocou celeuma dentro da Companhia e com certeza também fora dela. Chegou-se por fim à conclusão de que o ilustre Padre Dr. José de Oliveira Dias, tão culto, autor dum livro tão notável como os Elementos de Arte Concionatória, que viu na sua dirigida uma autêntica mística, estava enganado. A celeuma teve certamente o seu ponto mais alto bem entrada a década de 40, coincidindo portanto com a data do afastamento do Padre Mariano Pinho de Balasar. O descrédito que caiu sobre a Irmã Inês, conhecida por Abscôndita, terá significado, para os jovens seminaristas do tempo, também o descrédito da Alexandrina. Se a Abscôndita fora um erro de avaliação, e da parte dum homem tão notável, a Alexandrina também o era. Como o Padre Pinho era amigo muito chegado do Padre José de Oliveira Dias e como ambos foram enviados para o Brasil na imaginação das pessoas que só um pouco de fora terão ouvido falar do assunto, associaram-se de tal modo as duas figuras que até se atribuía a autoria da Abscôndita ao director da Alexandrina…

Os seminaristas de então foram levados naturalmente a desinteressar-se da Doente do Calvário ; o que de facto aconteceu. E não se esqueça que a atitude do Arcebispo do tempo, D. Bento Martins Júnior, face à Beata de Balasar, era então muito mais de rejeição que de aceitação.

Documentos existentes em Balasar

Em Balasar, conservam-se alguns documentos que pertenceram ao Padre Pinho, nomeadamente cartas suas dirigidas ao Arcebispo de Braga e ao Padre Humberto, uma notícia biográfica em latim sobre a Alexandrina, feita em 1937 por causa da Consagração, etc. Não se conservam é as cartas que dirigiu à Alexandrina, que estarão em Roma à guarda dos Salesianos.

Uma carta ao Arcebispo Primaz

« Ex.mo e Rev.mo Senhor Arcebispo Primaz

Beijando respeitosamente o sagrado anel de V. Ex.cia Rev.ma, peço licença para mais uma vez roubar uns minutos o precioso tempo de Ex.cia Rev.ma.

Como devo muito em breve embarcar para o Brasil, e como por outra parte poderia Ex.cia Rev.ma, por causa do relatório que enviei na Páscoa sobre a Alexandrina de Balasar, poderia, digo, desejar mais algum esclarecimento ou documento dos que possuo sobre o caso, pareceu-me conveniente avisar a Ex.cia Rev.ma desta minha próxima partida, a realizar na 2.ª semana de Fevereiro p. futuro.

Por outro lado, muito estimava levar já comigo alguma resposta reconfortante ao dito relatório, antes de partir, senão terei que levar para além-mar o vexame de reles director de almas que sobre mim caiu e muito pesa desde que apareceu a declaração oficial de que a comissão encarregada de estudar o assunto nada encontrou de sobrenatural, mas antes indícios certos do contrário, no caso de Balasar.

Para mim, qualquer palavra de Ex.cia Rev.ma a atenuar ou modificar para melhor essa sentença, seria um grande alívio para a viagem, tanto mais que em parte é por causa do caso de Balasar que os Superiores acharam prudente que me afaste algum tempo para longe.

Esperando receber mercê, fico às ordens de Ex.cia Rev.ma até 27 de Janeiro, no Instituto Nun’Alvares – Caldas da Saúde:

de V. Ex.cia Rev.ma servo humilde e muito obediente,

Mariano Pinho S.J.

Porto, 16-I-46. »

Duas cartas ao Padre Humberto

O Padre Humberto só teve uma vez uma brevíssima conversa com o Padre Mariano Pinho. Outros contactos havidos entre eles foram por correspondência epistolar.

Vejam-se estas duas cartas enviadas ao Padre Humberto, uma da Baía, outra do Recife :

« S. Salvador, Baía e Colégio António Vieira, 28/VII/47

Rev. em Xto P. Humberto e meu prezadíssimo amigo

P. C.

Era meu dever já há muito ter agradecido a V. Rev.ma o modo gentilíssimo como por meio da Casimira Maria, minha irmã, se dignou vir aliviar com seus pêsames a nossa dor pelo falecimento de nosso Pai. Deus pague a V. Rev.ma essa caridade.

Também o Dr. Azevedo me escreveu no mesmo sentido e, sabe V. Rev.a, estava para dizer que achei tudo muito natural. Isto é o hábito em que estamos de ver sempre Nosso Senhor tão delicado, mesmo com quem, como eu, tão pouco o merece. Bendito seja Ele por tudo e rogue-Lhe V. Rev.cia me conceda em troca a graça de em tudo O servir a cada momento, como Ele quer que eu sirva. É o meu maior receio na vida: não acertar com a sua santíssima Vontade, apesar de, por outro lado, me parecer que não quero outra coisa senão o cumprimento exacto e puríssimo dessa mesma Divina Vontade.

De mim, que direi a V. Rev.a ? Que me vão correndo os dias numa prolongada e mortificante expectativa, o que não quer dizer prolongada pasmaceira, porque, mercê de Deus, desde os primeiros momentos que aqui cheguei, não me tem faltado que fazer, e milhares que viessem daí não ficariam no desemprego: tanta é a falta e tão poucos os obreiros. Os seus bons irmãos Salesianos que lhe contem, pois vão na dianteira em tudo, até nas numerosíssimas vocações; ao contrário do que nos acontece a nós e ao clero regular. Para este então é uma dor de alma em várias dioceses a começar por esta vastíssima arquidiocese primaz do Brasil. Imagine-se: até ao ano de 1950, não se ordenará nenhum presbítero e nesse ano espera-se creio que apenas um ?! O pior é que não se encontra solução para este aflitivo problema.

Se por aqui houvesse muitos Calvários e vítimas como Cristo a penar neles, talvez Nosso Senhor apiedado fizesse chover em compensação as graças da vocação; mas isso é coisa que não se improvisa facilmente.

E que me conta V. Rev.cia daí ? Tem estado tão caladinho !... Mas a culpa tem sido minha que com o meu prolongado silêncio desmereço receber amiudadas notícias de tão bom e dedicado amigo. Como agora por aí devem estar em férias, talvez lhe seja mais fácil escrever e contar muitas coisas, tanto mais que foi a Roma. Já mo disseram de Viseu. Que inveja santa lhe tenho !

Cá fico pois esperando uma longa carta e enquanto tiver que contar, não pare de escrever.

Não o canso mais: renovo apenas os mais vivos agradecimentos e com um grande abraço para V. Rev.cia mando também muitas coisas para o Dr. Azevedo e Madrinha e toda a família. Pode dizer-lhes que os tenho sempre presentes, como se de Portugal não tivesse saído. Adeus, meu bom P. Humberto. Creia-me sempre muito sinceramente amigo in cordibus Jesu et Mariae,

Mariano Pinho S.J.

Recife, 28-VIII-62. »

« Meu prezadíssimo amigo Rev. Padre Pasquale

P.C.

Aproxima-se o dia 1.º de Setembro e quero que esta minha carta que já há muito devia ter escrito lhe mostre que não esqueci V. Rev.ma diante de Deus, no dia do seu aniversário natalício. Parabéns !

E agora, muitas desculpas por tanto atraso em agradecer a sua última, com a preciosa relíquia de S. Cottolengo e aquela bela colecção de relicariozinhos da Alexandrina. Foram por aqui tão cobiçados que não tenho nem uma! Mil vezes obrigado.

Desejava mandar-lhe já a nova biografia, mas ainda não saiu do prelo. Logo que saia, irá pelo correio um exemplar. Muitas vezes tenho pensado que este livro devia ter sido feito por nós ambos. Mas V. Rev.cia não veio para o Brasil, como tanto era necessário. O Espírito Santo trabalha por aqui muito em almas de escol, e verdadeiras vítimas. Venha, que encontrará bom terreno para o seu zelo.

Já estou a ver que o novo livro que aí estão publicando chegará aqui primeiro que o meu aí.

O que é pena é que não aparecesse nenhuma coisa em castelhano e em inglês sobre a Vítima de Balasar; seria uma parte enorme do mundo que a ficaria a conhecer. Já tentei, mas nada consegui até hoje. V. Rev.cia, aí na Europa, consegui-lo-á melhor que eu.

Adeus, meu querido Padre Humberto; em união de orações nos Corações de Jesus e Maria, todo seu, Padre Mariano Pinho S.J. »

Cronologia

1894 – Em 16 de Janeiro, nasce no Porto, de família de pequenos comerciantes, Mariano Monteiro Carvalho Pinho.

1906-1910 - Cursa a Escola Apostólica da Santíssima Trindade, em Guimarães, onde faz os estudos secundários.

1910 – Em 7 de Dezembro, com dezasseis anos, no exílio, entra na vida religiosa em Exaten, na Holanda, onde foi colega de Luís Mariz, de Simeão Tang, de Tobias Ferraz e de Domingos Maurício.

1913-1915 – Estuda Humanidades e Retórica, em Alsenberg, Bélgica.

1915-1918 – Cursa Filosofia, em Onha, Burgos.

1919 – Navega para o Brasil e entra no Colégio Padre António Vieira, na Baía, onde ensina Matemática, Português, Latim e Inglês, redigindo simultaneamente a revista Legionários das Missões, de que foi fundador.

1923 – Regressa à Europa para cursar Teologia em Innsbruck, na Áustria.

1925-1926- Publica na Brotéria uma série de artigos denunciando as falácias do « Teosofismo ».

1926 – Ordena-se sacerdote em Innsbruck.

1927-1928 – Faz a terceira provação em Paray-le-Monial, ultimando assim a sua formação religiosa.

1929 – Frequenta, durante algum tempo, a Pontifícia Universidade de Comilhas, Santander, Espanha, para se licenciar em Teologia.

1929-1931 – O Padre Pinho reside na Póvoa de Varzim, onde então se localizava a redacção do Mensageiro do Coração de Jesus.

1929 – É nomeado redactor da revista Mensageiro do Coração de Jesus, à qual deu fecunda colaboração em artigos sobre intenções gerais, sobre a Cruzada Eucarística das Crianças, sobre ao Apostolado da Oração. Funda a revista Cruzada.

Começa a usar o pseudónimo de Gualdim Pais.

Sem conhecer ainda a Alexandrina, os seus escritos podem ter tido decisiva influência na sua oferta como vítima.

Participa no Congresso Eucarístico de Viana, onde lê uma comunicação sobre as Vocações Sacerdotais e a Eucaristia.

É director espiritual da Congregação Mariana de Jovens da Póvoa de Varzim.

Apoia as Doroteias do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, dirigido pela Madre Sá.

1931-1933 – Continua como redactor da revista Mensageiro do Coração de Jesus, mas agora em Braga.

1932 – Publica, no Porto, o Relatório da Cruzada Euca­rística em Portugal. Publica a 1ª edição da tradução de Harry Dee.

1933 – Em 16 de Agosto, torna-se director espiritual da Alexandrina, por ocasião duma pregação dum tríduo em honra do Sagrado Coração de Jesus. Note-se que a este divulgador da devoção ao Sagrado Coração de Jesus vai caber um papel importante na consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

1933 – Em 27 de Dezembro, muda-se para Lisboa, onde assume o cargo de director da revista Brotéria (até 1935).

Na capital, entrega-se também a ministérios sacerdotais e a dirigir Congregações Marianas, em colégios de religiosas. Pregava com frequência nas igrejas paroquiais e fundava cruzadas eucarísticas infantis. Dava conferências sobre temas religiosos.

1933-1936 – É superior da Casa dos Escritores de S. Roberto Belarmino, em Lisboa.

1934 – Publica na Botéria um longo artigo « No Estado Novo », com catorze páginas.

Constitui uma análise serena, objectiva à orientação político-social outorgada a Portugal por Salazar. Conclui o autor : « As recentes iniciativas do Governo Português procedem dum pensamento altamente social, a que não parece ter sido estranha a inspiração da Encíclica Quadragesimo Anno » (Brotéria, 1934, I. p. 291).

Em Setembro deste ano, Jesus pede à Alexandrina que aceite ser alma-vítima. Ela comunica o facto ao Padre Pinho, que lhe ordena que escreva tudo o que ouve de Jesus.

1935 – Em 30 de Julho, depois da Comunhão, Jesus ordena à Alexandrina: « Manda dizer ao teu director espiritual que, em prova do amor que dedicas à minha Mãe Santíssima, quero que seja feito todos os anos um Acto de Consagração do mundo inteiro... Assim como pedi a S. Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração ». (Cartas ao Padre Pinho: 1-8-35).

1936 – Em 11 de Setembro, o Padre Pinho escreve ao Papa, por meio de Sua Em.a o Cardeal Pacelli, a manifestar-lhe o pedido dirigido por Jesus à Alexandrina para que o mundo fosse consagrado ao Coração Imaculado de Maria.

Deixa a direcção da Brotéria, para ser nomeado promotor nacional das chamadas Congregações Marianas e da Cruzada Eucarística, desempenhando simultaneamente as funções de director dos órgãos de imprensa destes movimentos da Companhia de Jesus vocacionados para a formação cristã dos leigos. Dirige, até 1942, o Mensageiro de Maria, órgão das Congregações Marianas. Agora reside em Braga, onde é professor.

1938 – Com início em 30 de Setembro, orienta um retiro espiritual para a Alexandrina, no seu quartinho; no êxtase de 2 de Outubro, Jesus prediz que ela iria sofrer toda a sua santa Paixão, pela primeira vez, em 3 de Outubro, e, em seguida, todas as sextas-feiras, das 12 horas às 15.

Traz a Balasar o Dr. Elísio de Moura, no dia 26 de Dezembro.

1939 – Publica, em Braga, a Carta Magna da Acção Católica Portuguesa.

1940 – Por determinação do Padre Pinho, a 20 de Outubro, a Alexandrina começa a ditar a sua Autobiografia.

1941 – É contactado em Braga pelo Dr. Dias de Azevedo, que se propõe estudar a Alexandrina do ponto de vista médico.

1942 – No dia 29 de Agosto, o Padre José Alves Terças, da Congregação dos Missionários do Espírito Santo, assiste à Paixão; seguidamente publicará um relato do que viu e ouviu no n.º 10 da revista « Vida de Cristo, a Paixão dolorosa », vol. V, Lisboa, 1941. Tem aqui origem a perseguição ao Padre Pinho, que em breve é afastado da direcção da Alexandrina e da direcção do Mensageiro de Maria. Passa a residir no Seminário de Vale de Cambra. São-lhe dirigidas acusações graves, que nunca foram provadas, mas, muito mais tarde, denunciadas como falsas.

No dia 31 de Outubro, o Santo Padre faz a consagração oficial do mundo ao Imaculado Coração de Maria, para o que muito concorreram as diligências do Padre Pinho.

1944 – Publica, no Porto, a 1.ª edição do Regresso ao Lar.

1946 – Em Fevereiro, parte para o exílio no Brasil, indo residir para o Colégio Padre António Vieira, na Baía, onde foi professor, orador e conferencista muito apreciado. Sofre duma úlcera.

No dia 22 deste mês de Fevereiro, declara Jesus à Alexandrina a propósito do castigo infligido ao Padre Pinho : « Eu não queria que nova nódoa, negra nódoa, caísse sobre a Companhia. Minha Companhia que tanto amei e amo, porque ainda, dentro dela, tem muitos que me são queridos. »

1947 – Publica, na Baía, a 2.ª edição do Regresso ao Lar.

1948 – Publica, na Baía, O Coração Imaculado de Maria à Luz de Fátima, a sua melhor obra.

1951 – Ensina Religião, Latim e Português nesse mesmo Colégio. É director espiritual dos alunos, de uma Congregação Mariana e da Cruzada Eucarística, assistente da Acção Católica, auxiliar do director diocesano do Apostolado da Oração, redactor de Chama Viva, escritor e censor de livros.

1952 – Exerce as mesmas ocupações e tem a mais o ensino do Francês do 5.º ano e 6.º anos do Colégio.

1952 – No dia um de Novembro, Jesus manda à Alexandrina : « Diz ao teu Paizinho (Padre Mariano Pinho) que os eleitos do Senhor o esperam. Ele será contado entre eles; como os meus santos, ele será honrado na terra; como eles, subirá às honras dos altares .

1953 – Transfere-se da Baía para o Colégio Nóbrega, no Recife (Pernambuco), onde é professor de Francês na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica.

1956 – Publica a Vítima da Eucaristia e a 2ª edição da tradução de Harry Dee.

1958 – Já não tem actividades docentes no Colégio Nóbrega nem na Faculdade, é simplesmente director da Congregação Mariana dos alunos do Colégio e redactor do jornal Mundo Melhor. Mantém-se no exercício destas funções quase invariavelmente até à morte.

Sai a tradução francesa da Vítima da Eucaristia, com o título de Sous le Ciel de Balasar. Mais adiante sairá na Suíça a tradução alemã.

1963 – Publica No Calvário de Balasar, em S. Paulo.

1963 – Em 11 de Julho, falece, com 69 anos, no Colégio Nóbrega, no Recife, Brasil.


[1] A do Padre Humberto no Cristo Gesù in Alexandrina (que vem repetida em Figlia del Dolore Madre di Amore), a que se encontra na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a de José Eduardo Franco, em Brotar Educação (Roma Editora, Lisboa, 1999, pp. 389-91), a da nota necrológica saída no Mensageiro do Coração de Jesus, em 1963, a de A. Ambrósio de Pina, S.J., publicada também no Mensageiro, em Março de 1973, e depois republicada no Boletim da Alexandrina, uma outra do Padre Fernando Leite e a ainda um estudo que o Afonso Rocha tem no seu site – Alexandrina et le Père Pinho – onde, como o título sugere, se historiam sobretudo os passos que ele deu por causa da direcção da Alexandrina.
[2] Estas informações biográficas e várias outras que hão de aparecer, não directamente ligadas à Beata Alexandrina, procedem do artigo de A. Ambrósio de Pina, S.J., saído no Boletim da Alexandrina.
[3] Como se vê, o jornal existia antes do Padre Pinho vir para a Póvoa de Varzim. Após a sua partida, só sobreviveu meio ano.
[4] Repito que para muitos dados biográficos não ligados a Balasar continuo a seguir o artigo de Ambrósio de Pina.