Abertura
“O dedo de Deus está aqui” – digitus
Dei est hic, como gostam de
dizer os que sabem latim – é uma frase do
Êxodo
que pensamos que se poderá evocar a propósito de qualquer dos três
temas relativos à Beata Alexandrina que vamos abordar: o da Santa
Cruz, o da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e o do
seu Jejum.
Se o
seu “dedo está aqui”, é porque está aqui um facto maravilhoso ou
profético, e é porque Ele existe… E a urgência da afirmação de Deus
está na ordem do dia.
As
tentações da Alexandrina contra a Fé
As
tentações contra a fé infligiram à Alexandrina um inaudito tormento.
Merecem ser lidas algumas citações a esse respeito, mormente neste
tempo em que os meios de comunicação e até a escola, sem pudor,
veiculam um pensamento agnóstico ou até ateu:
Veio
Jesus, disse-me:
— Crê,
minha filha, crê, minha esposa amada, crê, flor mimosa do Paraíso!
Crê que
Eu existo, crê que estás na verdade, crê que toda a tua vida é a
minha vida.
Coragem, coragem! S (17-12-54)
Numa
angústia lancinante repeti os meus actos de fé:
Creio,
Jesus, creio que foi para mim o vosso nascimento, a vossa morte, o
vosso calvário.
Creio,
Jesus, creio!
Os meus
abismos são tão negros e profundos que só um Deus podia penetrar
neles. S
(2-9-55)
Estou
como pousada na ponta de uma lança, dizendo:
Creio,
não creio; há Deus e não há; existe a eternidade e não existe.
Estou
no auge do maior perigo: perder a Deus ou possuir a Deus.
Caio
dessa lança, toda ferida, desfalecida; mas caio para o lado que há
Deus e vela por mim e que existe eternidade. C (12-12-54)
Creio,
creio firmemente, repeti tantas vezes no cimo da montanha, espetada
numa lança, mas tão em prumo que não pendia mais nem para um lado
nem para o outro: ou Deus ou o demónio; ou a eternidade ou o nada.
Assim
ferida, toda em sangue, caí da parte em que fui repetindo o meu
“creio, creio firmemente!”
Creio,
embora o meu sentimento seja todo mentiroso. S (17-12-54)
— Minha
filha, vem cá, vem esposa minha, repete o teu «creio», espera e
confia.
Jesus
está contigo, está Deus, está o Senhor, está Jesus com a sua esposa
amada.
O teu
«creio» sem sentimento é para os que não crêem na realidade.
A tua
morte é para dar vida, as tuas trevas são para dar luz com a qual as
almas ressuscitam para a graça.
S (8-10-54)
Repete
o teu “creio”. Tens de viver da fé sem fé, do amor sem nenhum
sentimento de amor.
Só
quero de ti o teu “creio”, a tua firmeza na cruz, a tua generosidade
heróica, sempre heróica.
Vem
repousar sobre o meu divino Coração. É repouso divino, é repouso
confortante, é repouso de vida. S (19-11-54)
O nosso
título remete para uma preocupação que foi muito da Alexandrina. E
porque a Alexandrina é luz e farol do mundo, esperemos que este
trabalho ajude o leitor, em particular o jovem, a que, reflectindo
sobre os temas predominantemente históricos que escolhemos, vá
percebendo a actuação de Deus na história e se torne mais firme na
sua fé.

Eu mandei a esta privilegiada freguesia a cruz para sinal da tua
crucifixão.
Palavras de Jesus à Beata Alexandrina

O
leitor mais desprevenido, quando lhe falam da Santa Cruz de
Balasar, pode ser levado a pensar que está perante mais uma
aparição fantasiada pela mente popular; mas os documentos provam
o contrário, e são fiáveis.
Constatada a autenticidade da aparição, surpreende a data em que
ocorreu: cerca de 15 dias antes do desembarque do Mindelo, um
acontecimento determinante da história portuguesa. Ele ia trazer
definitivamente o Liberalismo ao país, com todo o seu cortejo de
violências, de desorientação, de reformas, de afrontamentos à
Igreja e finalmente com a instalação do primeiro regime
democrático em sentido moderno.
A
seguir, ao conhecer a história da devoção que a aparição gerou,
verifica-se que ela teve um reconhecimento generalizado e
duradoiro, com um ou outro acontecimento lamentável de permeio,
até quase desvanecer nos anos 30 do séc. XX.
E é então que acontece algo de ainda mais espantoso, quando
Jesus anuncia que a aparição de 1832 fora um anúncio do
sofrimento de vítima da Alexandrina.
Que futuro tão original para uma aparição que no começo parecia
prometer tão pouco! Por outro lado, quantos outros santos, além
da Alexandrina, terão sido assim tão antecipadamente anunciados?
A
aparição e a história da Santa Cruz de Balasar adquiriram uma
dimensão inteiramente nova com esta revelação.

Capela da Santa Cruz em Balasar
Balasar foi meta de peregrinação
“Desde
1832, por vários anos, Balasar foi meta de peregrinações
em honra da Cruz aparecida misteriosamente na terra.
Para protecção dela Cruz foi construída uma Capela, que
tem na frente a desse mesmo ano de 1832, esculpida em
pedra”.
Essa frente
está voltada para o antigo caminho que vinha do Casal e
Lousadelo para a Igreja do Matinho, e seguia depois para
Escariz, Vila Pouca e Gresufes. Ali ao pé já havia a
ponte
que vinha de Gestrins e da estrada de Vila do Conde para
Guimarães. O lugar da aparição era certamente inculto e
talvez em declive.

Data na frente da Capela da Santa Cruz
A aparição da Santa Cruz, “um caso raro”
O Pároco
de Balasar enviou para Braga um relatório sobre
a aparição da Santa Cruz que data de 6 de Agosto
de 1832, cerca de mês e meio após o
acontecimento. Veja-se o seu começo:
"Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor:
Dou parte a Vossa Excelência de um caso raro
acontecido nesta freguesia de Santa Eulália de
Balasar. No dia de Corpo de Deus próximo
pretérito, indo o povo da missa de manhã em um
caminho que passa no monte Calvário, divisaram
uma cruz descrita na terra: a terra que
demonstrava esta cruz era de cor mais branca que
a outra: e parecia que, tendo caído orvalho em
toda a mais terra, naquele sítio que demonstrava
a forma da cruz não tinha caído orvalho algum".
Perante
o estranho facto, o Pároco actuou com grande
circunspecção, com um sentido de realismo
admirável:
"Mandei eu varrer todo o pó e terra solta que
estava naquele sítio; e continuou a aparecer
como antes no mesmo sítio a forma da cruz.
Mandei depois lançar água com abundância tanto
na cruz como na mais terra em volta; e então a
terra que demonstrava a forma da cruz apareceu
de uma cor preta, que até ao presente tem
conservado. A haste desta cruz tem quinze palmos
de comprido e a travessa oito; nos dias turvos
divisa-se com clareza a forma da cruz em
qualquer hora do dia e nos dias de sol claro
vê-se muito bem a forma da cruz de manhã até as
nove horas e de tarde quando o Sol declina mais
para o ocidente, e no mais espaço do dia não é
bem visível". |

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O monte Calvário
A expressão
“monte Calvário” que se encontra no relatório indica sem
dúvida o morro que vem do sul e que desce ali para o rio
Este. Devia ser lugar predominantemente ermo; o chão é
predegoso e o rio não era vadeável na vizinhança.
Algures, talvez sobre o cimo morro, erguiam-se as três
cruzes do Calvário.
As pessoas de que fala o documento viriam porventura do
Lousadelo e do Casal e também de além do Este e
dirigiam-se para a antiga igreja do Matinho.
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Aspecto do monte Calvário |
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O desembarque do Mindelo
Em 1832, o país
já vinha a viver um conturbado e longo período e tinha
iminente uma crua guerra civil. O desembarque do
Mindelo, que havia de conduzir D. Pedro, Duque de
Bragança e ex-imperador do Brasil, à vitória sobre D.
Miguel e ao triunfo do Liberalismo, ocorreu em 8 de
Julho desse ano. Ele fora precedido por uma tentativa de
aportar em Vila do Conde, facto que um padrão recorda
junto à foz do Ave. |
Padrão do desembarque dos Mindeleiros
em Vila do Conde
e sua cartela |
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“Aquilo vem dar cabo disto”
Conservava-se
então memória muito viva das violências contra a Igreja
a que a Revolução Francesa dera azo. Por isso muito boa
gente via com maus olhos os liberais e preferia os
conservadores realistas. Ficou célebre a frase que a
abadessa do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde
pronunciou ao ver ao longe a esquadra libera junto à
costa: “Aquilo vem dar cabo disto”. E não tardou muito
que as Ordens Religiosas fossem extintas.
Durante décadas
houve em Vila do Conde um sacerdote francês, certamente
exilado dos tempos da Revolução. |
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“Frontão” da fachada sul do Convento de Santa Clara de
Vila do Conde |
O ex-voto de Bernardina Rosa
Este
ex-voto à Santa Cruz de Balasar lembra de modo directo a
agitação que se seguiu à vitória liberal, e que já vinha
de antes. O abade de Touguinhó (concelho de Vila do
Conde) nele mencionado chamava-se Custódio José de
Araújo Pereira (1777-1852) e, ao que se sabe, era
riquíssimo, mas irrepreensível: foi preso e expulso, mas
não foi à cadeia. Anos adiante, tendo regressado, pagou
de seu bolso uma nova igreja paroquial. |
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Igreja em cisma
A assinatura ao
lado é do pároco de Balasar que enviou o relatório sobre
a aparição da Santa Cruz de terra para Braga e data do
mesmo mês que o reltório, Agosto de 1832. No ano
seguinte, não sabemos porquê, deixou de paroquiar a
freguesia e sucedeu-lhe o P.e Manuel José Gonçalves da
Silva. Como o pároco de Touguinhó,
também ele foi
expulso (de 1834 a 1841).
A
grande desorientação que se viveu nas fileiras da Igreja
foi ao ponto de esta viver em cisma durante uma década,
com bispos não reconhecidos pela Santa Sé.
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Custódio José da Costa
Custódio
José da Costa, o balasarense de Lousadelo que pôs a sua
pessoa e os seus haveres ao serviço da dignificação da
Santa Cruz aparecida em Balasar, fez-se representar
neste quadro que se conserva na Capela.
Foi um homem providencial.
Como leigo, a onda das expulsões dos
párocos não o atingia e por isso pôde prosseguir a obra
de dar dignidade e vigor à nova e surpreendente devoção.
Na legenda do quadro exprimiu-se assim: |
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“Milagre que fez a Santa Cruz de
Balasar, aparecida a 21 de Junho de 1832 a Custódio José
da Costa, que, sendo o principal fundador desta capela,
trabalhou cinco anos com o seu corpo e abonos de
dinheiro, prometendo à mesma Santa Cruz que, se lhe
permitisse estas obras sem perigos nem assaltos de
ladrões, nela colocaria um painel com o retrato da sua
efígie com a cruz na mão, e assim o concedeu a mesma
Santa Cruz, e pede de mercê a todos que este lerem um
Pai-nosso e uma Ave-Maria por minha intenção e por todos
os benfeitores que ajudaram estas obras, aplicados pelas
almas de seus pais e por todas as do Purgatório”.

Texto autógrafo de Custódio José da Costa. |
O P.e Leopoldino
Mateus escreveu sobre Custódio José da Costa:
“Este homem de
bem e fervoroso católico nasceu em Balasar no ano de
1788. Filho de pais humildes, mas laboriosos, resolveu
deixar o torrão natal e embarcar para o Brasil, como
efectivamente fez, em 1803, para tentar fortuna. Ali,
depois de uma luta de porfiados trabalhos, tendo
adquirido uma fortuna razoável, resolveu regressar à sua
terra, o que fez antes do aparecimento da Santa Cruz.
Custódio José da Costa, cuja efígie se conserva num
quadro a óleo, na pequena capela, sendo testemunha da
assombrosa aparição que emocionou não só o povo de
Balasar mas também os crentes das vizinhas freguesias,
que acorriam em grande número a visitar e rezar à Santa
Cruz de Jesus Cristo, resolveu empreender a erecção de
uma capela onde houvesse mais respeito e devoção pelo
símbolo da Redenção”. |
Interior da Capela da Santa Cruz
A Capela da
Santa Cruz foi dimensionada para proteger a Cruz aí
aparecida, deixando ainda algum espaço para as pessoas
circularem em redor.
O gradeamento em
madeira delimita os contornos da cruz original. A terra,
essa não é de origem, já que os
devotos que visitam o
lugar teimam
em levar pequenas porções dela, obrigando os zelado-res a
trazer terra de outra procedência.
Nossa Senhora das Dores
A
Cruz que se vê sobre o pequeno altar da pa-rede
frontal tem uma pintura não muito ní-tida do
Crucificado; ao fundo dela, é visível a
repre-sentação de Nossa Senhora das Dores.
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Interior da Capela da Santa Cruz |
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O Registo
A
estampa à direita chamava-se registo.
Verosimilmente ainda virá do tempo de Custódio
José da Costa. Veja-se a legenda:
“Nosso Senhor da Cruz aparecida no monte
Calvário da freguesia de Balasar, a 22 de Junho
de 1832.
O nosso Ex.mo Prelado concedeu 40 dias de
indulgências a todas as pessoas
que rezarem de joelhos um Pai-nosso e uma
Ave-Maria diante desta estampa pela extirpação
das heresias, concórdia entre os Príncipes
Cristãos e exaltação da Santa Madre Igreja
Católica”.
A
“concórdia entre os Príncipes Cristãos” poderia
ainda aludir a D. Pedro (ou seus sucessores) e
D. Miguel.
A data
da aparição foi deslocada para o dia seguinte. |
Curiosidades
De 1830
a 1833, Balasar renovou o tombo da sua Comenda.
Isso obrigou à intervenção de muita gente de
fora da freguesia, o que proporcionava uma
animação menos comum. Esse tombo, naturalmente,
contém muitas informações; por exemplo, a de que
a freguesia, além do pároco, possuía um cura ou
a de que à data da aparição da Santa Cruz já os
futuros Viscondes de Azevedo possuíam a Quinta.
Esta
circunstância, que trazia a Balasar gente dum
saber acima do comum aldeão, como o Juiz e
outros funcionários, há-de ter ajudado a
divulgar a aparição do dia do Corpo de Deus de
1832. |
Fragmento do Edital que anuncia o início das diligências
para a renovação do novo Tombo
“O Doutor António de Paiva Ribeiro, Juiz de Fora dos
Órfãos nesta vila de Barcelos e seu termo e Juiz do
Tombo da Comenda de Santa Eulália de Balasar, da Ordem
de nosso Senhor Jesus Cristo, por Sua Majestade
Fidelíssima, que Deus guarde, etc., faço saber as todas
as pessoas que o presente Edital virem e dele tiverem
notícia que, por provisão de treze de Novembro de mil
oitocentos e vinte e nove, expedida pela Mesa da
Consciência e Ordens, foi Sua Majestade servido
encarregar-me da factura do novo Tombo dos Bens,
Propriedades e mais Direitos pertencentes à dita Comenda
de Santa Eulália de Balasar […]
E assino trinta dias aos moradores existentes no termo
desta vila, sessenta aos que dela viverem ausentes,
quatro meses aos que habitam fora do Reino, contados do
dia da afixação deste em diante, para satisfazerem a
todo o referido, debaixo da dita pena e de proceder em
tudo às suas revelias e de se haverem por citados para
todo o relatado e mais termos necessários na forma do
regimento”. |

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O ex-voto de 1838
Notável a
concepção deste ex-voto de 1838 à Santa Cruz: a Cruz
está estendida no chão, frente a uma mulher que reza.
Além da Cruz, vê-se uma grande nuvem de tons brancos,
que parece evocar a que guiava o povo hebreu na
caminhada no deserto. Dela, um Olho de Deus, inscrito
num triângulo isósceles, representando a Trindade
Divina, como que reflecte para a mulher a força que
nasce da Cruz.
A senhora em
súplica, de nome Maria Margarida, é poveira e viúva;
tinha um filho no Brasil desde há muito e poucas
notícias lhe chegavam. Depois de orar, «com muitas
lágrimas», na capela da Cruz, o filho «lhe apareceu à
porta sem ser esperado». |
“As Duas Fiandeiras”
No romance
As
Duas Fiandeiras,
publicado em 1891, Francisco Gomes de Amorim descreve a
romaria da Santa Cruz do ano de 1845.
De notar a referência à grande concorrência de povo e o
“vistosíssimo arraial”, que juntava inclusive gente
vinda do Porto e de Braga.
A igreja de que fala era com certeza a
capela que então existia onde agora está a Igreja
Paroquial, e que devia ser de razoável dimensão. O facto
de haver ainda uma casinha das esmolas, popularmente
chamada “mosteiro”, que ficava no lugar da actual a
Residência, além da capela da Santa Cruz, é também
significativo de da adesão que a nova devoção motivou. |
 |

Cartaz
Esta página em jeito de cartaz saiu no jornal poveiro
A Propaganda,
em 5 de Novembro de 1936, quando se quis dar fôlego
acrescido à tradição da festa do Senhor da Cruz e após a
publicação dum longo estudo sobre a aparição de 1832.
Pouco depois vai Jesus convidar a Alexandrina para a
crucifixão. |

Jesus
fala da Santa Cruz
No
colóquio de 5 de Dezembro de 1947, Jesus falou assim à Beata
Alexandrina:
"Quase um século era passado que Eu mandei a esta privilegiada
freguesia a cruz para sinal da tua
crucifixão.
Não a mandei de rosas, porque a não tinha, eram só espinhos; nem
de oiro, porque esse com pedras preciosas serias tu com as tuas
virtudes, com o teu heroísmo a adorná-la. A cruz foi de terra,
porque a mesma terra a preparou.
Estava preparada a cruz; faltava a vítima, mas já nos planos
divinos estava escolhida; foste tu.
O mal aumentou, a onda dos crimes atingiu o seu auge, tinha que
ser a vítima imolada; vieste, foi o mundo a sacrificar-te".
Oito anos à frente, em 21 de Janeiro de 1955, insistiu:
“Há
mais de um século que mostrei a cruz a esta terra amada, cruz
que veio esperar a vítima. Tudo são provas de amor!
Oh, Balasar, se me não correspondes!
Cruz de terra para a vítima que do nada foi tirada, vítima
escolhida por Deus e que sempre existiu nos olhares de Deus!
Vítima do mundo, mas tão enriquecida das riquezas celestes que
ao Céu dá tudo e por amor às almas aceita tudo!
Confia, crê, minha filha! Eu estou aqui. Repete o teu «creio».
Confia!”
Fácil é de ver o que estas palavras acrescentam de novo à
aparição de 1832. Se a documentação histórica era fidedigna, se
a história da devoção nascida e desenvolvida em redor da Santa
Cruz era conhecida ao menos em relação aos aspectos mais
marcantes, agora tudo isso adquire uma dimensão nova, a de um
anúncio muito pouco comum, relativo a uma figura da santidade
invulgar.
A Santa Cruz de
Barcelos
Até 1836, Balasar integrava-se no Concelho de Barcelos,
em cuja sede se conta que no começo do séc. XVI também
tinham aparecido umas cruzes.
Também lá a aparição deu grande brado e originou
concorridíssimos arraiais.
Um livro de 1672 reuniu e explorou as memórias do
acontecimento.
Frontispício do Panegírico da Vila de Barcelos,
de 1672. |

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Conclusão
Em 1832, Balasar
era muito diferente do que é hoje. Distante de qualquer
centro significativo, foi apesar disso a escolhida para
a aparição da Santa Cruz.
Desta chegou até nós um conjunto de informações que nos
permitem conhecer não só os factos com rigor, mas ainda
circunstâncias variadas que os acompanharam. Colocam-nos
no âmbito da história, do acontecimento bem documentado
e não da lenda.
Hoje sabemos que o dedo de Deus esteve ali, que tudo foi
pensado em função da Beata Alexandrina, a “vítima do
Calvário”.
Por isso, a importância da aparição de 1832 não pode
deixar de ser enorme.
Em 2007 recordaram-se os 175 anos da aparição da Santa
Cruz. |
“É absolutamente certo
que durante 40 dias em que a Alexandrina esteve internada no
“Refúgio» não comeu nem bebeu, nem urinou, nem defecou”.
Dr. Henrique de Araújo
Uma história de resistências
O
jejum da Beata Alexandrina pode ser visto como um instante
convite, um apelo para que as pessoas se
aproximem
do seu surpreendente mundo. Por isso decerto os seus inimigos de
hoje, como os de ontem, teimam em pô-lo em causa. Realmente, se
ele fosse falso, abalava irremediavelmente o edifício desse
mundo. Mas é um facto e factos não se negam, explicam-se.
Ele
é também um desafio lançado à nossa mentalidade que valoriza o
dado objectivo e inapelável. Por isso é particularmente
interpelante: é extraordinário, mas verdadeiro.
Se
cheira a milagre, é falso, pensa muita gente.
Mas esta atitude é tão pouco científica como a aceitação ingénua
do facto miraculoso. Científico é analisar, investigar os factos
até ao limite e depois tirar as conclusões que eles imponham,
sejam elas quais forem.
Felizmente, a história das resistências ao jejum da Alexandrina
responde, cremos, a todas as objecções que sobre ele hoje se
queiram levantar. Muitos se anteciparam: levantou-lhas o
Arcebispo de Braga, levantaram-nas vários médicos, levantou-as a
comissão teológica que a examinou em 1944, etc.
Esse jejum começou por ser uma certeza apenas para a roda dos
amigos da Alexandrina, para aqueles que a conheciam de perto e
que com ela sofriam e que sabiam que nela não havia mentira.
Depois, aos poucos, a notícia divulgou-se e ganhou adeptos.
Como veremos à frente, essa abstenção total de alimentos ou
inédia não é um facto novo na história da Igreja.
Vamos abordar o tema em dois momentos: no primeiro tentaremos
estabelecer com a máxima garantia a realidade desse excepcional
jejum, no segundo, procuraremos penetrar já no mundo de vítima e
de outras experiências místicas da Beata, mas a partir do mesmo
jejum.
“Uma mulher que não come nem bebe há 6 anos e vive
perfeitamente!...”
Um dos primeiros testemunhos públicos, inequívoco e
insuspeito, sobre o jejum da Alexandrina foi
publicado
em 4 de Novembro de 1947 no
Jornal de
Notícias.
O autor do texto terá sido o próprio director desse diário
portuense.
Sob o título de “Uma mulher que não come nem bebe há 6 anos
e vive perfeitamente!...”, o artigo desenvolve-se em duas
partes. Começa com uma breve introdução, a que se segue uma
entrevista à doente, e depois completa-se com a segunda
parte, intitulada “A história da enfermidade e as conclusões
clínicas que ela provocou”.
O jornalista tinha tomado conhecimento do facto invulgar e
quis indagar da sua veracidade. O seu trabalho dá apenas
conta do que pôde apurar, sem alguma vez pretender opinar
sobre as conclusões dos médicos judiciosos que o tinham
estudado: não acrescenta nem diminui a informação a que teve
acesso. Coisa mais serena e objectiva não é legitimo
pretender. Veja-se então a primeira parte, a entrevista:
Haviam-nos falado da existência, em Balasar,
no concelho da Póvoa de Varzim, de uma paralítica que
viveria em regime de jejum integral. Conhecemos, da
tradição, os grandes jejuadores a Índia, que conseguem
passar largos períodos, 40 a 50 dias, sem ingerir alimentos,
mas sabemos que se esses indivíduos não comem sólidos, não
deixam porém de ingerir líquidos. Pelo que nos informavam, a
doente de Balasar não comia nem bebia. Seria possível? Mas
então como se explica a sua existência – a sua
sobrevivência?
O assunto espevitou a nossa curiosidade jornalística – e
decidimos tirá-lo a limpo tanto quanto os nossos meios
permitissem.
Claro que a primeira ideia que nos acudiu foi ir à Póvoa.
Não se trata, aqui, como se entende, de pôr em prática a
conhecida divisa de S. Tomé – «ver para crer». O facto de
vermos a doente, e foi isso que tratámos de fazer, não quer
dizer que nos desse a certeza de que ela se encontra em
abstinência completa. Para tal seria preciso usar outros
meios, que já não são da nossa competência.
Indicava-se uma observação demorada, uma vigilância
permanente, durante muitos dias. Mas também esse pormenor
não o descuramos, como o leitor verificará na altura
própria. Por nossa parte, o que pretendíamos e o que
conseguimos foi falar à paralítica, ouvir-lhe algumas
palavras, colher uma impressão pessoal acerca da sua
enfermidade e da sua psicologia.
A doente chama-se Alexandrina e tem presentemente 43 anos.
Reside com sua mãe e sua irmã, na freguesia de Balasar, a 10
quilómetros da sede do concelho, numa pequena casa do lugar
do Calvário, em cuja parede exterior se vê um azulejo com a
imagem da Virgem.
À porta, quando chegámos, estacionava um automóvel. Um dos
moradores do local, que nos havia indicado o caminho,
elucidou-nos:
— São visitas.
E acrescentou:
— É uma excelente mulher. O que mais impressiona é que, não
comendo nem bebendo, a sua aparência é relativamente
magnífica. Fala pouco, mas é para todos duma grande doçura.
E olhe que pensa como se fosse uma pessoa de saber.
E rematando, admirativamente:
— O que se passa com ela é um mistério!
Nesse momento saem as pessoas por quem o automóvel esperava.
Depois de partirem, a Sra. Maria do Vicente, mãe da
Alexandrina, manda-nos entrar.
A doente está meia deitada na cama, a cabeça e as costas
amparadas em almofadas. O quarto, simples, com a claridade
luzente que lhe vem duma janela ampla, está ornamentado por
um crucifixo e várias imagens. Ao fundo do leito, sobre um
cobertor fino, repousa um bichano de raça.
A Alexandrina, de sorriso aberto, espera talvez que lhe
dirijamos a palavra. O rosto é sobre o comprido, a boca
rasgada, a pele branca, um tudo-nada rosada. Seus olhos são
pretos, duma luz brilhante, e os cabelos também negros,
emolduram-lhe a fisionomia numa expressão de simpatia
desafectada mas, tem 43 anos, mas não figura mais que 35.
Entrámos em conversa:
— Disseram-nos que não se alimenta.
— É verdade. Deixei de comer e de beber há seis anos.
— Mas não tem apetite?
— Estou sempre enfartada.
— Repugnam-lhe os alimentos?
— Não. Por vezes sinto até saudades deles.
— Então porque não aproveita essas ocasiões para tentar uma
alimentação ligeira?
— Não posso. Sinto-me bem.
— Mesmo bem?
— É como quem diz: Passo bem, passando mal.
— Há que tempo está doente?
— Trinta anos. Só há 13 é que tive a primeira grande crise.
Dessa vez, torturada pelo vómito, sofri um jejum de 17 dias.
Vieram depois outras crises, menos prolongadas. Quando elas
passavam, voltava a comer. Por fim, quase só o comia fruta.
Mas há seis anos veio a crise definitiva. Então deixei os
alimentos por completo.
— O seu aspecto não deixa perceber isso.
— Cada um sabe de si. Compreendo que a minha doença tem
despertado curiosidade e murmurações. Aflige-me que tal
suceda: desejaria que não se preocupassem comigo. De mim já
se tem falado demais. Se estivesse no meu poder, metia-me
num buraco.
A Alexandrina fala porém sem aborrecimentos – fala
naturalmente, dizendo o que sente. Essa simplicidade é
transparente. Sofre, por certo, mas resiste com alegria,
couraçada por uma decidida força espiritual, a sua fé.
Insistimos no interrogatório:
— E os médicos?
— Os médicos – não dizem nada. Todas as semanas vem aqui o
Sr. Dr. Azevedo, mas não me receita remédios. Há cinco anos
estive em observação numa casa de saúde do Porto. Foram 40
dias de vigilância apertada, rigorosa. Mas regressei – daí
como havia entrado para lá.
Passava meia hora. A enferma estava visivelmente fatigada.
Despedimo-nos, fazendo votos pelas suas melhoras. Sorrindo,
ela agradeceu-nos.
O jornalista não encontrou uma histérica a falar talvez dos
seus ataques demoníacos, de exorcismos, de rezas e coisas do
género. Não, a Alexandrina é uma mulher serena, que pensa
correctamente, que possui uma “expressão de simpatia
desafectada”, que não dispensa uma graça quando vem a
ocasião dela: “passo bem, passando mal” (passar mal neste
caso é não comer).
O articulista avança depois para a segunda parte do seu
escrito.
A
história da enfermidade a as conclusões clínicas que ela
provocou
Se a Alexandrina estivera internada e vigiada, seria curioso
saber quais as conclusões a que os médicos haviam chegado.
E foi precisamente esse
facto que procurámos elucidar.
O
internamento da doente verificou-se com efeito no Refúgio da
Paralisia Infantil, de que é director o ilustre neurologista
Dr. Gomes de Araújo. Das observações diversas e aturadas
feitas durante o internamento, resultou um relatório, cuja
leitura nos foi amavelmente facultada. Não seguimos os
passos desse documento, em todos os seus pormenores, mas
vamos aludir aos seus pontos essenciais, para uma melhor
compreensão do estranho caso que nele se foca.
A Alexandrina foi vista
em 1941, na clínica do Sr. Dr. Gomes de Araújo, onde
compareceu com o seu médico assistente, Sr. Dr. Manuel
Augusto Dias de Azevedo, de Ribeirão. O diagnóstico desse
exame determinou uma paralisia ergástica por compressão.
Em Maio de 1943, o Dr.
Gomes de Araújo, instado pelo Dr. Azevedo e outras pessoas,
que lhe afirmaram que a doente deixara de se alimentar há 13
meses, visitou-a em Balasar, na companhia do Sr. Prof. Dr.
Carlos Lima, e depois dum exame neurológico e psicológico,
aconselhou o internamento, para observação e tentativas de
terapêutica.
Em 29 de Julho desse
mesmo ano, verificou-se a entrada da enferma no Refúgio, na
Foz.
Sigamos agora passos mais
curiosos da observação clínica, sob todos os aspectos.
Linha genealógica da
enferma e outros antecedentes: não teve ascendentes
alcoólicos nem loucos, mas há algures tuberculosos e
cancerosos. Aos 11 anos teve uma doença grave que parece ter
sido uma febre tifóide. Quando tinha 13 anos, deu uma queda
da altura de 3 metros e meio, sentindo uma dor aguda na
região lombar sacra. Como a queda foi determinada por uma
emoção violenta de temor, ficaram-lhe dela penosas
recordações, surgindo antes os primeiros distúrbios
dispépticos, com depressão neuro-psíquica: dois fenómenos
paralíticos de que se libertou mais tarde. Aos 20 anos foi
para o leito, por motivo dos seus padecimentos se terem
agravado.
As impressões clínicas da
observação acentuam: Aspecto perfeito à primeira vista,
normal intelectiva, afectiva e volitivamente, mas depressa
se revela portadora de um equipamento de ideias fixas,
estereotipadas e sistematizadas, vivendo e sentindo intensa
e sinceramente, sem sombra de mistificação ou impostura,
ideias que determinam a abstinência.
E quanto a sintomas
fisionómicos e morais: expressão viva, perfeita, meiga,
bondosa, acariciante; atitude sincera, despretensiosa,
correntia. Nem exotismo nem melifluidades; nem timidez nem
exaltamento de voz. Conversa natural, inteligente, subtil.
Na vigilância feita à
doente participaram várias senhoras da mais absoluta
seriedade. D. Maria Guichard, D. Amélia Romualdo Ribeiro, D.
Irene e D. Júlia F. Madureira Guedes, D. Rosa e D. Helena
Gomes de Araújo, D. Helena G. Araújo Silva, D. Maria de
Sousa Pinto e D. Maia Alice Silva Rosas. Algumas destas
senhoras foram convidas a verificar a doente por se
mostrarem incrédulas quanto à abstinência. E essa vigilância
durou 40 dias, sendo aplicados à doente panos frescos na
fronte e um saco impermeável no epigastro, com soluções de
sal amargo, aliás por ela ignorados.
O médico interrogou-a
longamente, tentando convencê-la a alimentar-se. Que não:
sofre por amor de Deus – redargue.
Morrerá se continuar a
não comer. Por isso, faz-lhe saber que vai começar a tentar
uma pequena alimentação. Ela insiste na recusa: «Deus não
quer que eu coma».
— Mas repugnam-lhe os
alimentos?
— Não. Até por vezes
tenho saudades da comida.
Concretamente – a
observação e a vigilância permitiram verificar estes factos
excepcionais: a doente não comeu, não bebeu, não urinou, não
defecou. Citando Charcot, anota-se que a falta de apetite
(anorexia mental) é dos acidentes mais graves nos
histéricos. Em parte é o caso da Alexandrina. Mas só em
parte. É que nela a abstinência é total, acompanhada pela
paralisação da função excretora dos rins; quer dizer,
nenhumas micções, como também nenhumas defecções.
O documento é uma notável
peça científica e conclui desta maneira, em que o autor
empenha a sua probidade profissional e pessoal:
Trata-se duma neurópata.
Verificou-se durante 40 dias completa abstinência de
alimentos e bebidas, o que leva a crer que tal situação
possa ter notável precedência. Durante esse período não
defecou nem urinou, o que ultrapassa os casos de aneura (?)
conhecidos.
A despeito da normal
perda de peso, conserva uma frescura e resistência
impressionantes. Finalmente, oferece o aspecto dum caso que
a Medicina sabe em grande parte explicar, mas não deixa
contudo de patentear alguns pormenores que, pela sua
importância de ordem biológica, tais a duração da
abstinência de líquidos e anúria, impõem uma suspensão,
aguardando que uma explicação clara faça a necessária luz.
A ciência não é
definitiva, como se vê. O que é incontroverso é o facto de a
doente viver há anos – sem levar à boca nem alimentos nem
bebidas.
Destacam-se só estas afirmações:
E quanto a sintomas
fisionómicos e morais: expressão viva, perfeita, meiga,
bondosa, acariciante; atitude sincera, despretensiosa,
correntia. Nem exotismo nem melifluidades; nem timidez nem
exaltamento de voz. Conversa natural, inteligente, subtil.
Oito dias à frente, o Dr. Dias de Azevedo, em artigo saído
no mesmo jornal, fez alguns acertos à informação publicada e
forneceu mais alguns pormenores.
O
veredicto da comissão examinadora
O esforço do Dr. Azevedo para
conseguir o reconhecimento público da verdade do jejum da
Alexandrina sofreu um doloroso revés quando, em Junho de
1944, foi publicado o veredicto da Comissão Examinadora que
o Arcebispo de Braga D. Bento Martins Júnior incumbira de
estudar a Doente de Balasar para que a diocese pudesse
emitir sobre o caso um parecer fundamentado.
Foi esta a conclusão a que chegou a comissão:
Perante o longo relatório
feito, esta Comissão sente a necessidade de dizer nada ter
encontrado que ateste
(no
caso da Alexandrina)
algo de sobrenatural,
extraordinário ou miraculoso. Ousa mesmo acrescentar que há
indícios seguros para se afirmar o contrário. Por
conseguinte, esta Comissão faz votos para que o Ex.mo
Prelado adopte todas aquelas medidas necessárias para a
glória de Deus e a tranquilidade de tantas almas.
foram estas as medidas do Arcebispo:
Tendo em vista este
esclarecido parecer e voto, determinamos o seguinte:
a) que se faça silêncio
sobre os pretensos factos extraordinários atribuídos à
referida doente ou de que ela afirma ser protagonista, os
quais não devem ser expostos nem apreciados em público, mas
confinar-se quando muito ao âmbito estritamente privado;
b) que seja feita
recomendação aos sacerdotes que não alimentem mas antes
caridosamente contrariem a curiosidade que em volta da
doente e por considerações de ordem religiosa se possa vir a
manifestar ainda, visto que essa curiosidade não pode ser sã
e bem fundada, nem é louvável;
c) que a mesma
recomendação se faça a todos os nossos diocesanos, sempre
que houver necessidade e se puder fazer discretamente;
d) que ao Rev.do Pároco
de Balasar se comunique que o incumbimos, além disso, de
velar para que a doente e a sua habitação não sejam
molestadas com visitas importunas, feitas a título de
observação dos pretensos fenómenos extraordinários a que se
atribua carácter religioso ou intenção religiosa.
Estas determinações foram lidas e comentadas em quase todos
os púlpitos da Arquidiocese de Braga e deixaram o Dr.
Azevedo isolado, sem aliados, ao menos parcialmente
desacreditado face a adversários de peso.
Para se medir, porém, a gritante irresponsabilidade da
comissão, leia-se a contundente crítica que ela mereceu
aquando do Processo Informatico Diocesano:
O “Parecer” expresso pela
Comissão não pode ser considerado válido por vários motivos:
1 – Os teólogos não
visitaram a Alexandrina (houve apenas uma visita ocasional
dum dos membros);
2 – Os teólogos
examinaram apenas pouquíssimos escritos da Serva de Deus;
3 – Não foram
interrogados o director espiritual, os familiares, o médico
assistente, etc.;
4 – Contra o parecer dos
peritos-médicos sustentam a opinião de que se trata dum caso
de histerismo;
5 –
Exprimem um juízo sobre o conteúdo dos Escritos que não
concorda com o juízo dos Censores.
6 – O “Parecer” é
desmentido no Processo de Braga, foi abandonado pelo
Arcebispo de Braga e pelos próprios teólogos redactores, que
depuseram depois a favor da Alexandrina. Foi um caso de
incompetência e presunção.
Carta do Dr. Dias de Azevedo ao Arcebispo Braga
Mas a crítica do Processo Informativo
Diocesano foi feita muito depois, quando a comissão já
havida caído em descrédito. Ora se a luta foi difícil
foi naquele Verão de 1944!
O Dr. Azevedo sentiu a necessidade de reagir face a esta
resistência vinda já não do campo médico, mas do da
filosofia e teologia; e fê-lo numa carta enviada ao
Arcebispo bracarense em 2 de Agosto.
Trata-se dum importante documento pela clareza da
argumentação, orientada em grande parte para a defesa do
carácter extraordinário do jejum. É um documento dum
católico esclarecido que se bate pela verdade, mesmo
indo contra o parecer do seu arcebispo.
Exmo. e Revmo. Senhor Arcebispo Primaz,
Recebi o amável
cartão de V. Exa. Revma., acompanhado do parecer duma
comissão e dumas
determinações,
relativas ao caso, há muito falado, de Balasar. No fim
de ler tudo o que me era dito, senti o dever de dizer a
V. Exa. Revma., com o maior respeito e com a maior
franqueza, umas cinco palavras:
1.ª Palavra:
guardarei sempre em meu coração as palavras amáveis do
cartão do Senhor Arcebispo Primaz, agradecendo-lhas,
muito penhorado;
2.ª Palavra:
procurarei ter a maior prudência, ao ser provocado a
falar ou escrever da Alexandrina e sempre recordarei as
determinações de V. Ex.cia Revma., para lhes ser
obediente, na medida do possível, salva a liberdade para
responder a qualquer crítica referente ao caso, saída em
qualquer jornal ou revista de responsabilidade, pois não
posso nem quero menosprezar o meu brio profissional;
3.ª Palavra:
continuarei inabalável, até que a razão ou o bom senso
me aconselhem atitude diferente, no mesmo posto de
observação, prudência, investigação clínica e admiração
pela Alexandrina, verdadeira mártir, que o tempo e Deus
plena e brilhantemente justificarão;
4.ª Palavra:
servindo-me da ideia do Prof. da Faculdade de Medicina
do Porto, Senhor Dr. Mazano, que, falando sobre este
caso, e mostrando-se muito interessado por ele, disse
«não há explicação possível para já não comer há dois
anos», eu continuo, como médico, sem receio de ser
confundido, a afirmar que este caso é extraordinário,
porque a Ciência diz que uma mulher de 39 anos, de vida
intelectual e afectiva intensas, de faculdades e
sentidos normais, passando alguns dias e noites sem
dormir, e dormindo pouco durante o outro tempo,
conservando invariavelmente ou com pequena variação o
mesmo peso, conservando ainda o sangue normal nos seus
elementos constitutivos ou de desassimilação, vivendo
não somente quarenta dias completos e consecutivos (sob
vigilância, de dia e de noite, feita por algumas pessoas
descrentes), mas dois anos e três meses, aquele primeiro
período em abstinência absoluta de alimentos sólidos e
líquidos, incluindo a simples água, e o outro período em
abstinência absoluta de substâncias alimentares,
simplesmente bebendo, um ou outro dia, por imposição
médica, uma ou outra colherinha de água simples, com o
fim de diminuir a secura que em sua boca por vezes
sente, constitui um facto verdadeiramente
extraordinário, não sendo preciso, para esta
classificação, que os médicos tenham de pedir licença
aos filósofos ou teólogos para digna e justamente a
fazerem. A quem me disser que há um parecer de filósofos
e teólogos que, invadindo campo defeso, significa não
ser extraordinário este facto (que maravilhou um
especialista de Neurologia não crente em vários dogmas
católicos, a ponto de anunciar que devemos ficar
«suspensos, aguardando que uma explicação clara faça a
necessária luz», pois a observação da Alexandrina tinha
podido «ser segura, firme, incontestável, só deixando
dúvidas aos que têm o hábito de duvidar … de si
próprios»), eu responderei que quem tiver lido a
História e a biografia de algumas criaturas
extraordinárias sabe bem o valor dos pareceres de uma ou
outra comissão. A Igreja só quer a verdade e eu amo uma
e outra.
5.ª Palavra: a
Comissão, lendo isto, há-de julgar que esta prosa é um
pouco enfadonha e estranha a amantes da filosofia e
teologia, e eu, para a suavizar, peço licença para citar
as palavras do P.e Louis Capalle, S.J., em «Les âmes
généreuses», pág. 165 e seg.:
La vérité théologique et expérimentale est que Dieu n’a
pas donné aux âmes une résistance illimitée, et qu’Il a
laissé aux directeurs ou supérieurs imprudents la
puissance redoutable d’entraver ou même de ruiner
l’œuvre magnifique qu’Il se proposait d’accomplir.
Nier cette vérité ou
même chercher à l’atténuer par sophismes spécieux,
serait atteindre par le fait même la notion de
responsabilité, fondement essentiel de toute morale.
E, depois de mais
frases muito interessantes, diz ainda:
Malheureusement, après une réponse évidente, on en veut
souvent une plus évidente encore; et ainsi on oublie que
Dieu, souverainement indépendant, ne se plie pas
toujours aux exigences de ses créatures. Il donne assez
de lumières pour que l’on puisse raisonnablement
conclure à son intervention, et Il laisse assez de
ténèbres pour que l’on ait le mérite d’une humble
soumission.
Todas estas
frases podem resumir-se em poucas: as determinações de
V. Ex.cia, no geral, são justas, embora o tempo não
venha a justificar algumas palavras como «pretensos», e
o parecer da Comissão, enquanto ao facto, é exorbitante,
negando-lhe a qualidade de extraordinário e dando lugar
até a juízos temerários, o que não fica bem a filósofos
e muito menos a teólogos.
Termino esta, fazendo
votos pela preciosa vida de V. Excia. Revma. e pedindo
que esta carta seja anexa ao supra mencionado parecer da
referida Comissão (ou ao relatório dos médicos) que se
pronunciou sobre a grande mártir que é a Alexandrina de
Balasar, a quem o Mons. Vilar chamava sua “protectora”,
a sua “colaboradora providencial”, a sua “cooperadora
mais fiel que Jesus lhe deu”. E esse valia uma Comissão.
Beijo as mãos
sagradas de V. Excia. Revma.
Manuel Augusto Dias
de Azevedo
Ribeirão, 2 de Agosto
de 1944.
Firmeza e clareza acabadas, obediência inteligente, não
cega, é o que encontramos nestas “palavras” do Dr.
Azevedo.
Quem era o Dr. Gomes de Araújo?
As polémicas em redor do jejum da Alexandrina envolveram
muita gente. Embora arredado e silenciado em
Vale
de Cambra, todos sabiam que era o trabalho de nove anos
do P.e Mariano Pinho que em primeiro lugar era posto em
causa; o
P.e Agostinho Veloso, esse
estava de mãos livres e por isso activo; os médicos,
como o Dr. Gomes de Araújo ou o Dr. Carlos Lima, não se
envolveram em debates que tinham contornos que
ultrapassavam a medicina, mas saberiam bem que se jogava
ali o crédito dos seus nomes; os membros da comissão,
esses sentir-se-iam seguros pelo aval do Arcebispo.
Tentemos fazer ao menos uma sumária (e incompleta)
avaliação de dois protagonistas desta borrasca, os Drs.
Gomes de Araújo e Dr. Azevedo.
É pouco o que conhecemos sobre o Dr. Gomes de Araújo
para além do que a seu respeito escreve a
Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira.
Nascido em Baião em 1881,
«formou-se na antiga Escola Médico-Cirúrgica do Porto,
onde fez um curso distinto. Defendeu tese em 1908, sobre
Ionoterápia Eléctrica, trabalho que foi premiado,
dedicando-se desde logo à especialidade das doenças
nervosas e artríticas.
Em
1926 fundou, na Foz-do-Douro, o “Refúgio da Paralisia
Infantil”, que sempre tem dirigido e desenvolvido com
dedicação inexcedível. Esta obra de assistência
representa um grande esforço, pois contam-se já por
milhares as crianças beneficiadas, e constitui um
exemplo que foi seguido na capital, onde passou a
organizar-se o «Centro contra a Paralisia Infantil».
O notável médico dedicou-se à obtenção do soro
antipoliomielítico, único que, a partir de 1940, passou
a ser aplicado em Portugal.
De entre o grande número de trabalhos publicados,
citaremos:
A doença de
Hein-Medin — Seus aspectos clínico e social; A propósito
da Seroterápia da Poliomielite; A primeira epidemia de
Poliomielite em Portugal; O problema social do
Reumatismo; Histeria — Pithiatismo; Mielastenia
Amiotrófica; Os Reumatismos nos seus aspectos clínico,
social e médico-legal, etc.
Tem colaborado assiduamente na
Medicina Moderna,
no
Portugal Médico
e noutras revistas científicas nacionais e estrangeiras.
É membro da Sociedade Portuguesa de Química e da Real
Academia de Medicina de Madrid» (Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira).
O Dr. Gomes de Araújo faleceu a 18 de Março de 1964.
Nessa altura, o Dr. Dias de Azevedo referiu-se-lhe
longamente, mas quase sempre no sentido de esclarecer os
leitores sobre o jejum da Alexandrina. Essa informação
vê-la-emos mais adiante. É de interesse saber que o Dr.
Gomes de Araújo possuiu uma casa na Trofa, que o punha
na vizinhança do Dr. Dias de Azevedo.
Quem era o Dr. Manuel Dias de Azevedo?
O Dr. Manuel Augusto Dias
de Azevedo nasceu na vila de Ribeirão, Vila Nova de
Famalicão, em 21/09/1874,
e
aí faleceu, a 20/12/1971. No número de Janeiro de 1960
do Boletim Mensal da Alexandrina, que fundou e que
redigiu sozinho desde Julho de 1957 a Agosto de 1970,
evocava ele assim a sua adolescência e juventude:
Fui estudar, tendo
onze anos de idade, para os Seminários de Braga e,
depois de feito aí o Curso Teológico, fui convidado por
quem de direito a ir formar-me na Universidade
Gregoriana, agradecendo, mas declinando o convite.
Ensinou depois no Colégio de Ermesinde, dedicando-se
simultaneamente a actividades de animação religiosa. É
então que se matricula na Faculdade de Medicina do
Porto, iniciando a actividade médica nos anos 30. Mas
voltemos ao seu relato autobiográfico:
Em seguida fui
leccionar e resolvi simultaneamente repetir nos Liceus
os exames do curso secundário. Após esses exames,
matriculei-me na Faculdade de Medicina, fazendo esse
curso no tempo normal de seis anos e leccionando sempre.
Defendida depois a tese de doutoramento, que nesse tempo
era facultativa, embora convidado por pessoas ilustres a
ficar a trabalhar no Porto, vim para Ribeirão, minha
terra natal, onde há vinte e cinco anos venho exercendo
clínica.
Um catedrático veio a chamar ao Dr. Dias de Azevedo
«Augusto na medicina»; o Pe. Humberto declara-o «primus
inter primos».
Apesar de ser pai de 14 filhos, dadas as dificuldades
económicas da população, dedicava dois dias semanais a
consultas gratuitas para os mais indigentes.
Homem de
acção, foi fundador ou animador de várias instituições
de prevenção social, pugnando por elas quer na sua terra
natal, quer em vilas e cidades. «Foi chamado a usar da
palavra em congressos religiosos de carácter nacional,
assembleias paroquiais, permanecendo os seus discursos
quer nas respectivas actas, quer em separatas».
Sobre a sua acção junto da Alexandrina, a quem tomou
como madrinha, não nos vamos alongar. Interveio em
vários jornais e manteve mesmo polémicas com vista a
defender o bom nome da sua doente.
A palavra ao Dr. Manuel Dias de Azevedo
O Dr. Azevedo
alonga-se no Boletim de Graças, a partir de Abril de
1964, sobre o seu esforço para conseguir o
reconhecimento
médico do jejum da Alexandrina, justamente quando
acabava de falecer o Dr. Gomes de Araújo.
Depois de elogiar o director do Refúgio de Paralisia
Infantil e referir as conversas por si havidas com o
Arcebispo de Braga, que o aconselhava a aprofundar o
estudo clínico da Alexandrina, prossegue:
Fui ao Porto e
convidei um médico distintíssimo a irmos a Balasar
ver a Alexandrina (cuja doença ou afecção, em 15 de
Julho de 1941, o Sr. Dr. Gomes de Araújo tinha
classificado de paralisia orgânica por afecção
medular de um ou mais focos), dizendo-lhe que não se
alimentava. Respondeu-me logo que ia vê-la, quando
eu quisesse. Disse-lhe, entre outras coisas, que era
um caso interessante, visto que ela, além de não se
alimentar, apresentava fenómenos extraordinários,
que os teólogos chamavam êxtases. Então esse meu
amigo respondeu-me logo que nesse caso desistia de
estudar o «caso», visto que não queria meter-se em
tal estudo.
Não pareceu dito
próprio de tão formoso espírito que ele era. Como
católico, tinha obrigação de estudar o «caso», ou
para constatá-lo como admirável e respeitável coisa
de Deus ou como mistificação a descobrir para não
iludir ninguém. E poucos médicos estariam em tão
boas condições intelectuais como ele estava. Mas as
coisas são como são e, por vezes, como não devem
ser.
Depois, fui
convidar o Sr. Dr. Carlos Lima, e esse professor
distintíssimo respondeu-me que aceitava o meu
convite.
Por fim, fui
convidar o Sr. Dr. Gomes de Araújo, a quem só disse
tratar-se duma doente que não se alimentava. Também
aceitou o meu convite, mas creio que persuadido de
tratar-se duma anorexia mental igual a outro caso
que já lhe tinha entregado e que ele muito bem
curou, ou então duma mistificação.
Soube pouco
depois que, falando-lhe alguém, na Trofa, neste
caso, ele respondera que deveria tratar-se dum caso
em que me iludiram e que, em poucos dias, sendo
internada e vigiada a doente, depressa daria o que
tinha a dar.
Continua mais adiante o Dr. Dias de Azevedo, expondo
duas condições fundamentais que impôs ao Dr. Gomes
de Araújo:
(…) para o
internamento, fiz prometer-me duas coisas:
1.ª
– Seria feito o estudo das faculdades mentais da
doente, desejando saber, por escrito, se elas
estavam ou não normais;
2.ª – A doente
não seria obrigada a alimentar-se, a não ser que a
tal fosse persuadida, nem lhe seria injectado
qualquer medicamento, a não ser que ela concordasse.
Em duas palavras:
queria que ficasse registado se ela vivia sem se
alimentar e se as suas faculdades mentais estavam
normais, estando ela internada qualquer tempo que
fosse julgado necessário, concordando o Sr. Dr.
Gomes de Araújo com essas condições.
Sabendo-se da idoneidade do Dr. Gomes de Araújo,
estas condições só ajudavam ao rigor da observação e
enquadravam-se nos objectivos que o Dr. Azevedo
tinha em vista.
No Boletim de Julho seguinte, continua:
Não será demais
falar no trabalho que teve o Sr. Dr. Gomes de Araújo
a fim de investigar se de facto a Alexandrina vivia
ou não sem a mínima alimentação, a não ser a Sagrada
Eucaristia, autêntica purificação e fortaleza da
Alexandrina, o que, sendo tudo, infelizmente para
muitos é pouco ou nada. Essa sua investigação é
tanto mais interessante quanto é certo que, a este
respeito, o distintíssimo médico que era o Sr. Dr.
Gomes de Araújo partia da impressão de que a
Alexandrina seria uma doente que certamente queria
iludir os outros. Aqueles 40 dias de rigorosa
investigação foram um autêntico tormento mental para
ele, disse-me uma vez a sua saudosa esposa, que
também já partiu para a eternidade a receber o
prémio das suas virtudes. (…)
Passados quinze
dias, dizia-me o Sr. Dr. Gomes de Araújo, já no seu
consultório:
- Você chegou
para mim, pois comprometi-me a não forçá-la a
alimentar-se e eu queria ver se ela podia ou não
alimentar-se.
- Mas então, Sr.
Dr., quem foi o iludido, eu por ela ou o Sr. Dr. por
mim?
Nós não queremos
saber se ela pode engolir ou não os alimentos, e eu
sei que pode; mas, passados momentos, vomita-os.
Fiz essa
experiência durante meses, desde Março de 1942 até
Maio deste ano. O que quero provar ao mundo é que
ela vive sem alimentação.
Passemos agora ao Boletim de Agosto:
Afirmámos no
boletim anterior que aqueles 40 dias de rigorosa
observação foram um autêntico tormento mental para o
saudoso e distintíssimo médico que foi o Sr. Dr.
Gomes de Araújo. Parece-me que nessa ocasião ele
estava convicto de que ninguém tivesse passado
qualquer temporada de abstinência total de sólidos e
de líquidos digna de referência e contra a
normalidade das exigências físico-químicas do nosso
organismo.
Essas inédias, de
que nos fala a hagiografia cristã, eram pouco do seu
conhecimento e convicção, partindo da normal lei
orgânica de que ninguém podia viver durante meses e
anos sem alimentação.
Ao estar na
presença duma inédia que lhe apresentávamos para
estudo e averiguação, duvidou, como cientista, da
sua realidade objectiva, persuadido de que não
teríamos tido todo o cuidado para sermos iludidos.
Era o caminho próprio e seguro que um investigador
tinha a seguir, e seguiu-o no seu inquérito e rigor,
sim, mas também com respeito e registo das
consequências que iam derivar do seu meticulosos
estudo, não se deixando perturbar, nos seus juízos
sobre o caso, com as insinuações que alguém, nessa
ocasião do seu estudo, lhe fora fazer e a que se
refere o Sr. P.e Mariano Pinho, S.J., a pág. 186 do
seu último livro –
No Calvário de Balasar
– editado no Brasil:
«Concluído o
rigoroso exame de quarenta dias sobre a abstinência
total de sólidos e líquidos por parte da
Alexandrina, parece deveriam os adversários do
caso, ao menos por prudência, calar-se. Mas nada
disso: recrudesceu mais o seu zelo.
Houve até quem, ouvindo falar do exame, acorreu
pressuroso ao Dr. Gomes de Araújo, antes que ele
entregasse o seu relatório, a preveni-lo que “devia
ter cuidado com o dito relatório, porque a Doente de
Balasar era uma impostora... que ficasse certo que
se tratava de uma mistificação»
.
Em Setembro, o Dr. Azevedo volta ao tema:
Em seis de
Novembro de 1927, num sermão pronunciado na Catedral
de Munique, o Cardeal Faulhaber, referindo-se aos
acontecimentos de Konnersreuth
(Teresa Neumann)
disse que “era preciso tratar estes assuntos, em
primeiro lugar, com muito respeito». E somente assim
podem vir a ser classificados esses fenómenos.
São
acontecimentos ou fenómenos explicáveis
naturalmente? Dê-se deles, nesse caso, a verdadeira
explicação, para esclarecimentos de toda a gente.
Não podem ser
explicados naturalmente? Então esses casos terão uma
origem preternatural ou sobrenatural.
Enquanto à inédia
ou conservação vital da Alexandrina sem alimentação,
durante tempo indefinido, para a sua explicação, não
podemos esquecer que a fisiologia e a patologia nos
ensinam que ninguém pode viver treze anos e meio
numa abstinência absoluta de sólidos e líquidos. A
medicina não pode explicar a sobrevivência da
Alexandrina pelas forças da natureza. Essa
explicação só pode ser dada por influência
preternatural ou sobrenatural, isto é, a sua causa
só poderá ser de origem diabólica ou divina.
Poderemos perfilhar a explicação que nos pareça mais
razoável, mas só a Igreja docente será autêntico e
definitivo juiz. Ora o Sr. Dr. Gomes de Araújo, com
a sua rigorosa e inteligente investigação, baseada
numa contínua e eficiente fiscalização, veio
auxiliar-nos muito a formar indiscutivelmente
perante o público o nosso juízo, que será definitivo
e completo depois de ouvirmos a Igreja.
Como o Dr. Azevedo também quis que fossem estudadas
as faculdades mentais da Alexandrina e certas
pessoas, levianamente, apodam os místicos de loucos,
ouçamos, para terminar, a opinião avalizada do Dr.
Henrique Gomes de Araújo a este respeito:
A expressão de
Alexandrina é viva, perfeita, afectuosa, boa e
acariciadora; atitude sincera, sem pretensões,
natural. Não há nela ascetismo, nada untuoso, nem
voz tímida, melíflua, rítmica; não é exaltada nem
fácil a dar conselhos. Fala de modo natural,
inteligente, mesmo subtil; responde sem hesitações,
até com convicção, sempre em harmonia com a sua
estrutura psíquica e a construção sólida de juízos
bem delineados em si e pelo ambiente, mas sempre,
repetimo-lo, com ar de espontânea bondade que o
clima místico que desde há tempos a circunda e que,
parece, não foi por ela provocado, não modificaram.
O atestado
do Prof. Dr. Carlos Lima e do Dr. Dias de Azevedo
O Prof. Dr. Carlos
Alberto de Lima, “jubilado
da Faculdade de Medicina do Porto”,
tinha 77 anos nesta
altura. Se calhar já o era, mas pelo menos depois
foi um admirador e amigo dedicado da Alexandrina.
Veja-se este final duma carta que lhe escreveu em
1944: “Que o Senhor se compadeça dos seus
sofrimentos e desfaça em breve as más vontades
contra a sua santa pessoa. Assim o espero, tendo-me
sempre ao seu lado a defendê-la do orgulho e vaidade
das criaturas”.
Naqueles tempos, a sua assinatura
num atestado como este devia ser preciosa.
Nós abaixo assinados, Dr. Carlos Alberto de Lima,
professor jubilado da Faculdade de Medicina do
Porto, e Manuel Augusto Dias de Azevedo, doutor em
Medicina pela dita Faculdade, atestamos que, tendo
examinado Alexandrina Maria da Costa, de 38 anos de
idade, natural e residente na freguesia de Balasar,
do concelho da Póvoa de Varzim, verificámos que era
portadora de uma afecção ou compressão medular,
causa da sua paraplegia.
Atestamos também
que, estando internada desde o dia 10 de Junho até
ao dia 20 de Julho corrente, no Refúgio de Paralisia
Infantil, da Foz do Douro, sob a direcção do Dr.
Gomes de Araújo e sob a vigilância feita de dia e de
noite por pessoas conscienciosas e desejosas de
indagar a verdade, foi constatado que a sua
abstinência de sólidos e líquidos foi absoluta,
durante o seu internamento, conservando-se o seu
peso, temperatura, respirações, tensões, pulso,
sangue e faculdades mentais sensivelmente normais,
constantes e lúcidas e não havendo durante esses
quarenta dias nenhuma evacuação de fezes nem a
mínima excreção de urina.
O exame de sangue
colhido três semanas após o internamento
supramencionado vai junto a este atestado e por ele
se vê que, considerada a dita abstinência de sólidos
e líquidos, a Ciência não pode explicar
naturalmente o que nele se registou, assim como,
atentas as verdades da Fisiologia e Bioquímica, não
pode ser explicada a sobrevivência desta Doente, por
motivo dessa abstinência absoluta, durante os
quarenta dias de internamento, devendo-se salientar
que a Doente, durante esse tempo, respondeu
diariamente a muitas perguntas e sustentou inúmeras
conversas, manifestando a melhor disposição e melhor
lucidez de espírito.
Enquanto aos
fenómenos observados às sextas-feiras, pouco mais ou
menos pelas 17 horas oficiais, entendemos que
pertencem à Mística, que se pronunciará sobre os
ditos fenómenos.
Por ser verdade
mandámos passar este atestado que assinamos.
Porto, 26 de
Julho de 1943.
Carlos Alberto
Lima
Manuel Augusto
Dias de Azevedo
A palavra
do especialista brasileiro de nutrição Prof. Dr. Ruy
João Marques
Paga a pena ler também
um documento sobre o jejum produzido no Brasil. O
seu autor, o Dr. Ruy João Marques, leu o relatório
do Dr. Gomes de Araújo e, na qualidade de Prof.
catedrático da Faculdade de
Ciências
Médicas e da Faculdade de Medicina da Universidade
do Recife, especialista em assuntos de nutrição,
pronunciou-se:
A meu ver, não é
possível explicar por meios meramente científicos —
melhor diria, por meios médicos — o que se vem
passando com a Sra. Alexandrina Maria da Costa.
Nada faz crer, segundo se depreende dos minuciosos
relatórios dos médicos... que se trate de um simples
caso de histerismo, sobretudo porque é
demasiadamente prolongado o tempo que a observada
passou e vem passando sem tomar o mínimo alimento.
Por outro lado, estou certo de que não se trata
igualmente de mistificação, pois a comissão
(insuspeitíssima e à altura da investigação a
proceder) que a observou por quarenta dias e
quarenta noites, sob rigorosa vigilância, na Casa de
Saúde “Refúgio da Paralisia Infantil”, pôde
constatar que, de facto, sua abstinência alimentar
era total.
Ora essa ausência
absoluta de consumo de substâncias nutritivas,
durante tão largo espaço de tempo, cerca de 14 anos,
se não me engano, não é compatível com a vida e
muito menos com a manutenção da normalidade da
temperatura, da respiração, do pulso, da tensão
arterial, etc. etc. Até mesmo as funções psíquicas
deveriam cedo se apresentar obnubiladas, mas é
exactamente o contrário o que se verifica: sua vida
intelectual é intensa, suas relações afectivas são
perfeitas, suas faculdades e seus sentidos
absolutamente conservados.
Trata-se, pois,
de um caso extraordinário, direi mesmo excepcional,
de modo algum explicável por meios puramente
naturais ou através de dados científicos.
Quanto ao
progresso da mielite, muito provavelmente existente
e responsável pela paralisia, nada tem a ver com a
abstinência de alimentos, sendo uma doença
paralela.
Dr. Ruy João Marques
Outros casos
de inédia na história da Igreja
São muitos os casos de inédia, semelhantes ao da
Alexandrina, que a Igreja registou desde tempos
antigos. Assinalamos os seguintes:
Sta. Catarina de Sena, falecida em 1380,
8 anos de inédia.
Sta. Ludwina de Schiedman, falecida em
1433, 28 anos de inédia.
São Nicolau de Flüe (1417-1487) 20 anos
de inédia.
Beata Elisabeth de Reute, falecida em
1421, mais de 15 anos de inédia.
Beata Ângela de Foligno, falecida em
1309, 12 anos em inédia absoluta.
Beata Catarina de Racconigi (1468-1547)
dez anos de inédia.
Beata Catarina Emmerich.
Perante um assunto como este, exige-se clareza e
firmeza, prudência e determinação. As pessoas têm
direito a uma palavra esclarecedora.
Eppur si muove!
Queira-se ou não, o jejum da Beata Alexandrina, que
tantas e tão grandes resistências provocou, foi uma
realidade. Dele devem-se tirar todas as conclusões.
Há que respeitar o sofrimento dela e dos que a
defenderam numa luta desigual.
Mas a reflexão sobre este caso de jejum não pode
parar aqui. É indispensável conhecer o que Jesus
disse sobre ele.
Eugénia Signorile
é certamente quem com mais largueza e saber
estuda o tema da Eucaristia na vida da
Alexandrina. Por isso, é do seu
Só por Amor!
que transcrevemos quase a totalidade do capítulo
intitulado "O alimento da Alexandrina". Ele
revela-nos que o jejum, para além do seu aspecto
físico, médico, tem uma dimensão mística que nos
mergulha no mundo mais recôndito da Beata: ela,
que não comia no sentido comum que se dá à
palavra, alimentava-se, mas da
Eucaristia, apenas da hóstia consagrada e
diária.
Eucaristia
Na história já se tinham verificado casos de
místicas e místicos que tinham vivido, mesmo
durante anos, só com o alimento da Eucaristia.
Por exemplo, Beata Ângela de Foligno, durante 12
anos, S. Catarina de Sena, durante anos, o Beato
Nicolau de Flue, durante 20 anos.
Também na Alexandrina Jesus quer pôr em
evidência o valor da Eucaristia.
Em 1946 está muito consumida com os sofrimentos
e com o jejum, que dura desde 1942. Alguns
sugerem ajudá-la com injecções nutritivas.
O Dr. Azevedo não quer fazer nada contra a
vontade divina. Então a Alexandrina pergunta a
Jesus:
— Ó meu
Jesus, eu quero sofrer, mas saber que em tudo
faço a vossa divina vontade. Se quiserem que eu
me alimente, se quiserem aplicar-me injecções,
que devo eu fazer?
— (...)
Não quero que tu uses medicina, a não ser aquela
a que não possam atribuir alimentação.
Esta ordem é para o teu médico: será ele que
toma a tua defesa.
Quero que ele continue com toda a sua vigilância
a amparar-te: é grande o milagre da tua vida.
Que ele Me ajude, que te ampare!
S (7-12-46)
No desígnio de Jesus o jejum da Alexandrina é um
martírio mais que deve levar os homens a
meditarem sobre a Eucaristia.
Em Abril de 1954 isto será claramente expresso:
Faço que tu vivas só de Mim para mostrar ao
mundo o valor da Eucaristia e o que é a minha
vida nas almas.
És luz e salvação para a humanidade. Ditosos
aqueles que se deixam iluminar!
S (9-4-54)
O valor nutritivo da Eucaristia está bem provado
com o facto de que a Alexandrina, durante o
jejum total, não poderia sobreviver. De facto
Jesus promete-lhe que não a deixará sem a
Eucaristia em nenhuma sexta-feira, dia em que se
esgota muito ao reviver a Paixão, mesmo sem
movimentos.
Em certos períodos o pároco (único que lhe pode
levar Jesus) está ausente; há depois as
sextas-feiras santas, em que a liturgia consente
receber a Eucaristia só como Viático (quando
vivia a Alexandrina).
Mas Jesus supre quando falham os homens,
mostrando mais uma vez o seu poder no Caso da
Alexandrina, que receberá a Hóstia consagrada
misticamente, mas realmente, da mão dum anjo ou
do próprio Jesus!
Transcrevamos de algum diário.
— Prepara-te,
filhinha: vou dar-Me a ti. (...) Repara: desce o
Céu sobre ti.
Dou-Me a ti numa Comunhão real, numa Comunhão
Eucarística.
Desceu sobre mim a abóbada do céu:
— Que
lindo, que lindo! - exclamei eu - Vale a pena,
meu Jesus, sofrer e sofrer tudo para possuir o
Céu. (...)
Parece-me bem que estendi a língua para receber
Jesus.
Ficámos por alguns momentos num silêncio
profundo, numa união tão grande.
S (30-3-45)
Jesus insiste em afirmar que se trata duma real
Comunhão eucarística.
Em 13 de Maio de 1949 dirá:
Vais receber-me em Corpo, Sangue, Divindade,
como estou no Céu.
Em 4 de Abril de 1947 é Sexta-Feira Santa: Jesus
dá-Se-lhe como Viático:
— Minha
filha, minha esposa querida, vais agora
(apenas terminado o êxtase da Paixão)
receber-Me pelas mãos do teu Anjo da Guarda. Vêm
ao seu lado S. Miguel Arcanjo e o Anjo S.
Gabriel. Atrás deles seguem-nos uma grande
multidão deles. Prepara-te: descem do Céu (...)
Inclinou-se para mim o Anjo. Eu estendi-lhe a
língua e ele, ao dar-me Jesus, não principiou
pelas palavras do costume, mas sim: “Viaticum
Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat
animam tuam in vidam aeternam”
(...)
Fiquei mergulhada em amor, numa intimidade com
Jesus: parecia-me inseparável dele.
— Minha
filha, dei-Me a ti em alimento: sou a tua vida.
Dei-Me desta forma para mais e melhor mostrar as
minhas maravilhas e para mostrar que estou
contente com os meus representantes na terra,
com a doutrina da minha Igreja. (...)
Recebeste-Me como Viático; e é verdade que és
enferma e sem um milagre divino não terias
resistido à dor: estavas moribunda.
S (4-4-47)
Transfusão de sangue, efusão de amor
O fenómeno da Eucaristia real dada misticamente
já se tinha verificado com algumas grandes almas
muito elevadas na espiritualidade, dotadas duma
especial sensibilidade para as realidades
celeste. Por exemplo, S. Verónica Giuliani, S.
Gema Galgani; e em 1916 Jesus escolheu a pequena
Lúcia de Fátima para dar-Se a ela mediante o
anjo da guarda.
Mas a Beata Alexandrina recebe ainda um outro
alimento para o corpo e para a alma: um conjunto
de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira
transfusão para o sangue e de efusão para o
amor. É a primeira alma mística para quem se
efectua tal fenómeno. O próprio Jesus o afirma:
Vou dar-te a
gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu
infinito amor, a maior de todas as maravilhas, a
maravilha única, que tinha destinado de dar à
maior vítima da humanidade, a quem confiei a
missão mais sublime”.
S (13-2-48)
— Que
grande graça, que grande prodígio o sangue do
Crucificado do Gólgota correr nas veias da maior
crucificada da humanidade!
Jesus ia falando – junta a Alexandrina – e a
gota do seu precioso Sangue passava lentamente.
Que união intima: o seu divino Coração unido ao
meu!
S (11-6-48)
É importante notar que tal transfusão de sangue
não é um facto puramente espiritual, como a
efusão de amor. Não, não! É sangue verdadeiro,
concreto, que lhe faz dilatar o coração de modo
sensível e que deve compensar o sangue que a
Alexandrina perde frequentemente, e mesmo
durante longos períodos diariamente!
Jesus diz-lhe:
Dar-te-ei o meu Sangue gota a gota, assim como
gota por gota o dás por Mim e pelas almas.
S (29-6-45)
Recebe-o antes que percas todo o sangue que tens
em tuas veias.
Quero sempre esta mistura: o sangue da vítima
deste Calvário
(o lugar de Balasar onde vive Alexandrina),
da maior vítima da humanidade, com o sangue da
Vítima do Gólgota, de Cristo redentor. Assim
tens todo o poder e tudo vencerás.
S (19-10-45)
No fim do diário de 9 de Novembro de 45 o Dr.
Azevedo colocou a seguinte nota:
Há três meses que a doentinha tem diariamente
perda de sangue.
Se o mundo soubesse que é a tua vida! Se ele
soubesse o sangue que corre em tuas veias,
quereriam tocar teu corpo como foi tocado o meu
(...)
S (27-12-46)
Recebe a gota do meu divino Sangue: é o remate,
é a coroa das minhas maravilhas em ti. É o
sangue de Cristo, é o sangue que trouxe do
ventre puríssimo de minha Mãe bendita, a girar,
a correr em ti, nas tuas veias!
S (11-11-49)
O sangue que Jesus lhe transmite tem
indubitavelmente o objectivo de sustentá-la, de
ajudá-la a não ceder sob o peso dos enormes
sofrimentos que deve suportar enquanto
alma-vítima:
Deixa que corra em tuas veias o sangue que te dá
a vida; é a vida que te dá força na tua dor, no
teu calvário.
S (30-4-48)
Mas para o espírito é preciso o amor:
O sangue dá-te a vida ao corpo, o amor dá-te a
vida à alma.
Prodígio maravilhoso! Recebe, enche-te.
S (29-4-49)
A efusão de amor é frequentemente evidenciada
por luz, ardor, raios luminosos:
Apareceu-me Jesus em direcção a mim. Do seu
divino Coração vieram para o meu uns raios
luminosos que mo atravessavam como uns punhais.
Jesus parecia estar numa nuvem branca (…)
O meu coração satisfazia-se naqueles raios: eram
o seu alimento e o bálsamo de toda a dor.
O tempo foi passando e eu mergulhada naquele
doce Paraíso.
S (23-7-48)
Eram tais e em tão grande número os sofrimentos
que eu não podia, sentia-me desfalecer. No meu
caminho apareceu-me Jesus (...) Da chaga do seu
Sagrado Coração saíam raios brilhantes de fogo
que vinham todos para mim.
Levantou a mão, com um dedo apontou para o Céu e
disse-me:
— Caminha,
que Eu te ajudarei! (...)
Esta chuva acendeu em mim um fogo ardente. A dor
e a tristeza desapareceram. Fiquei em luz clara.
— Agora
sim, meu Jesus, conheço que sois Vós!
(tem sempre temor de que os fenómenos místicos
que acontecem nela sejam fruto da sua fantasia:
é um dos maiores sofrimentos). S (8-7-49)
Apareceu Jesus e vi que
(aqueles raios)
saíam do seu divino Coração.
Ele chamou-me e disse-me:
— Minha
filha, minha filha, minha amada filha, os raios
de fogo que atravessavam o teu coração são raios
de amor do teu Jesus. Estes raios levam-te vida,
levam-te conforto, paz e luz.
É com esta luz que podes ver quanto necessitas
de dar ao teu Esposo Jesus dor, muita dor, com
grande reparação.
Os crimes não diminuem, os crimes não deixam de
aumentar.
Oh, filha, tantos sacrilégios, tantas
iniquidades!
S (19-8-49)
Minha filha, minha filha, venho com o fogo do
meu amor aquecer-te o coração, dar-te vida,
venho provar-te que estou contigo.
S (4-3-50)
É preciso ter presente, todavia, uma coisa
essencial: todas as graças que Alexandrina
recebe não a têm por fim, mas à missão à que é
chamada. Alexandrina deve transmitir à
humanidade o amor, a vida de Jesus:
Leva o meu amor, leva a minha paz. Vai dá-la às
almas: criei-te para elas e para elas te fiz
poderosa.
S (23-4-48)
Leva o meu divino amor, vai irradiá-lo.
Infunde-o nas almas, fá-lo passar nos corações
como setas.
S (25-3-49)
Vi pelo centro do Coração de Jesus saírem umas
chamas de fogo que o irradiavam todo.
Perguntei-Lhe:
— Que
fogo é esse, Jesus?
— É
o fogo do meu divino amor. É o fogo, minha
filha, é o amor que Eu, por ti, dou ao mundo,
dou às almas.
Espalha-o, espalha-o!
S (21-7-50)
Via o seu lado aberto e aberto o seu divino
Coração. Dele saía uma chuva de ouro e, em vez
de cair para baixo, vinha de encontro ao meu
coração. Quanto mais chuva do de Jesus saía,
mais o meu se enchia, mais luz possuía, maior
fogo me queimava.
— Estou
a arder, meu Jesus: bendito sejais por tanto me
dardes!
Fazei que eu saiba distribuir como Vos apraz!
S (16-6-50)
— Eu
sou a ressurreição e a vida
(acabara de reviver a Paixão).
E tu, à semelhança de Jesus, teu Esposo, és
ressurreição e vida de muitas almas, de
milhares, milhões e milhões e milhões de almas.
Quando Jesus falava de milhões, parecia que a
sua divina voz se espalhava ao longe e que era
um nunca acabar, nunca acabar.
E, tomando nas suas mãos sacrossantas o seu
divino Coração como se fosse uma custódia cheia
de raios dourados, começou a abençoar-me de cima
a baixo.
Os raios que dele pendiam atravessaram e
penetraram todo o meu ser. Parecia ver-me a mim
mesma toda luz, dum lado ao outro. Fiquei como
que a arder em fogo.
— Enche-te,
minha filha, do que é divino, enche-te do meu
amor!
A minha graça e tudo o que é meu há-de
transparecer de ti e ver-se em ti como em
espelho cristalino.
S (23-2-51)
Jesus exprime numa incisiva síntese a missão da
Alexandrina:
Enche-te para encheres,
abrasa-te para abrasares!
S (10-9-48)
N.B.
Terminamos aqui a transcrição do capítulo uma
vez que a secção seguinte, a última, já se
desvia do tema do alimento da Alexandrina.
do mundo
ao Imaculado Coração de Maria
A CONSAGRAÇÃO DE 1942

Só por Ela (o mundo) poderá ser salvo.
UMA CONSAGRAÇÃO
PARA A IGREJA E PARA O MUNDO
A
Consagração do mundo ao Imaculado Coração de
Maria que o Papa Pio XII proclamou em 31 de
Outubro de 1942 tem uma dimensão eclesial, mas
também uma dimensão ainda mais universal. A
primeira será repetidamente afirmada por Jesus
nas citações que transcreveremos dos escritos da
Alexandrina e numa síntese que sobre o
acontecimento escreveu Eugénia Signorile.
Ela está também
nestas palavras que vêm na Wikipédia inglesa
sobre o tema:
The noted Mariologist
Gabriel Roschini
called the 1942 consecration of the human race
to the Immaculate Heart of Mary the greatest
honour, which anyone can imagine.
It is the highest manifestation
of the Marian cult.
Em português: “O conhecido mariologista Gabriel
Roschini chamou à consagração da humanidade ao
Imaculado Coração de Maria, em 1942, a maior
honra que alguém pode imaginar. Ela é a mais
alta manifestação do culto mariano”.
Não fora em vão que Jesus prometera à
Alexandrina que iria fazer nela "grandes
coisas".
Mas não queremos deixar de fora a dimensão
universal.
Há uma frase de Winston Churchill que é muito
significativa para a avaliação do impacto que
consideramos que a Consagração teve na evolução
da II Guerra Mundial – impacto que estava
expressamente anunciado nas palavras de Jesus
que se citarão:
Before
Alamein we never had a victory. After Alamein we
never had a defeat.
Em
português: “Antes de Alamein nunca tivemos uma
vitória. Depois de Alamein nunca tivemos uma
derrota”.
O interesse desta frase está em que a batalha de
Alamein coincidiu aproximadamente com a
Consagração e, por isso, faz algum sentido –
talvez muito – adaptá-la e ler Consagração onde
o seu autor escreveu Alamein. De facto, o curso
da guerra alterou-se após o gesto papal.
Se
qualquer dúvida também aqui anda o dedo de Deus.
Primeiro pedido da Consagração –
1935
30 de Julho
"Manda
dizer ao teu Pai espiritual que, em prova do
amor que dedicas à minha Mãe Santíssima, quero
que seja feito todos os anos um acto de
consagração do mundo inteiro num dos dias das
suas festas escolhido por ti – ou Assunção, ou
Purificação, ou Anunciação – pedindo a esta
Virgem sem mancha de pecado que envergonhe e
confunda os impuros, para que eles arrecuem
caminho e não Me ofendam.
Assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser
o mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim
o peço a ti para que seja consagrado a Ela com
uma festa solene".
Palavras de Jesus à Alexandrina
A
Alexandrina em 1935
Eu quero que o mundo seja
consagrado à minha Mãe Santíssima – 1936
"Eu
quero que o mundo seja consagrado à
minha mãe Maria Santíssima; é o
remédio para tantos males que o
ameaçam. ...
Eu não quero ser ofendido e sou-o
tão horrivelmente na Espanha e em
todo o mundo!"
Palavras de Jesus à Alexandrina
O mundo estava
doente. As ditaduras russa, alemã e
italiana inchavam de orgulho.
Em Espanha estalava
a guerra civil.
A Segunda Guerra Mundial vinha a
caminho. |

Guernika de Picasso |
Em 1898, tinha partido de
Portugal o pedido para a Consagração do
mundo ao Sagrado Coração de Jesus; durante a
guerra anterior, em Fátima, o Céu mostrara
novo rumo ao mundo;
agora antecipava-se, indicando o caminho a
seguir.
Passaram-se longos meses entre o primeiro
pedido e o segundo. Foi um período de
sofrimento para a Alexandrina e de reflexão
para o P.e Pinho.
Os pedidos tomam agora forma mais precisa e
mesmo profética.
– Setembro, 10:
“Eu vou dizer-te como será feita a
consagração do mundo à Mãe dos
homens e minha Mãe Santíssima, que
Eu amo tanto!
Será em Roma pelo Santo Padre
consagrando a Ela o mundo inteiro e
depois pelos padres em todas as
igrejas do mundo sob o título de
rainha do Céu e da Terra e Senhora
da Vitória...
Não haja receios, que os meus
desejos serão cumpridos”.
Palavras de Jesus à Alexandrina
– Setembro, 11:
Carta do Pe. Pinho ao Cardeal
Pacelli
Festa da SS. Trindade: A Alexandrina
vive pela primeira vez a morte
mística.
O P.e Oliveira Dias, S.J., vem dar
apoio à Alexandrina. |

Rojos
espanhóis fuzilam a imagem de
Cristo-Rei
|
 |
A Santa Sé pede informações - 1937
A Santa Sé requer informações sobre
a Alexandrina.
Diligências do Arcebispo de Braga
(que era natural de Arcos, paróquia
vizinha de Balasar).
Notável profecia relativa à
Alexandrina.
– Março, 2:
D. António Bento Martins Júnior,
arcebispo de Braga, pede a
colaboração do P.e M. Pinho para
responder a Roma sobre a
Alexandrina:
"Todos os que a conhecem afirmam
unanimemente que é uma santa.
Todas estas coisas, bem ponderadas,
parecem sem dúvida maravilhosas e
induzem a pensar que há nelas o dedo
de Deus. ...
Acrescento ainda o testemunho do
Rev. P.e José Oliveira Dias, S.J.,
distinto por ciência e prudência, o
qual conhece bem a jovem".
D. António Bento Martins Júnior
|
Agrava-se a saúde da Alexandrina - 1937
– Abril de 1937: agrava-se a saúde
da Alexandrina, que entra no
"desposório espiritual".
– Maio, 21:
Em nome da Santa Sé, o P.e António
Durão, S.J., examina Alexandrina,
sobre o seu pedido para a
Consagração.
Desde Julho a 7 de Outubro:
"Vingança e perseguições" visíveis
do demónio.
– A Sra. D. Fernanda dos Santos, de
Lisboa, alivia da hipoteca a casa da
Alexandrina. |

Casa da Alexandrina |

Alexandrina em tempo do P.e Marino
Pinho (de quem se vê a mão ao fundo,
à esquerda)
|
– Outubro, 21:
"Minha filha, escolhi-te para coisas
muito sublimes; servi-me de ti para
comunicar ao Papa o meu desejo de
que o mundo seja consagrado a Minha
Mãe Santíssima".
Palavras de Jesus à Alexandrina
"Eu quero que, logo
depois da tua morte, a tua vida seja
conhecida"
- 1937
"Eu venho buscar-te em breve, mas
não quero vir sem que antes seja
feita a consagração do mundo à Minha
Mãe Santíssima.
Ela é por teu intermédio glorificada
e maior também será a tua
glorificação. A tua coroa será mais
gloriosa, mais brilhante, mais
resplandecente. Serás coroada por
Ela".
Palavras de Jesus à Alexandrina |
Novembro, 22:
"Eu quero que, logo depois da tua morte, a
tua vida seja conhecida, e há-de o ser,
farei que o seja. Chegará aos confins do
mundo, assim como terá chegado a voz do Papa
a consagrar o mundo à minha querida Mãe.
Quero que tudo se saiba para verem como Eu
Me comunico às almas que Me querem amar".
Palavras
de Jesus à Alexandrina
O P.e Mariano Pinho mobiliza os Bispos
portugueses
para a causa da Consagração - 1938
Estes anos têm sido duríssimos para
a Alexandrina.
A sua vida mística entra em nova
fase, pois a partir de Outubro
começa a sofrer a Paixão.
O mesmo P.e Pinho pede aos médicos
veredicto sobre a sua paralisia.
– 1938, Fevereiro, 9:
o P.e Pinho escreve de novo ao
Cardeal Pacelli.
– Abril, 5:
Jesus confirma o desposório
espiritual com a alma da
Alexandrina. Já em 4 Fevereiro lhe
prometera que ela seria elevada "à
altura de esposa fiel, de esposa
querida, de esposa toda e só de
Jesus".
Capa dos
Elementos de Arte Concionatória
do P.e Oliveira Dias, S.J |
 |
— Abril,
25:
"Diz-lhe que escreva ao Santo Padre, que Eu
que quero a consagração do mundo a minha
Imaculada Mãe. Mas quero que o mundo saiba a
razão por que lhe é consagrado: Eu quero que
se faça penitência e oração.
Tu é que estás a aplacar a Justiça Divina.
(…) E tens que sofrer muitas vezes isto
(ainda não era a Paixão)
até que Ele
(o Papa)
o consagre.
Somente por Ela
(o mundo)
poderá ser salvo, e se o mundo fizer
penitência e se converter.
Ela é a minha Rainha, Rainha do Céu e da
Terra".
Palavras de Jesus à Alexandrina
Os Bispos Portugueses
dirigem-se ao Santo Padre - 1938
– Junho, 6:
"Os meus divinos desejos serão realizados".
Palavras de Jesus à Alexandrina
Os Bispos Portugueses, por proposta do Pe.
Mariano Pinho, que em Fátima lhes pregava um
retiro, dirigem-se ao Santo Padre:
Beatíssimo Padre
O Cardeal Patriarca de Lisboa e
todos os Arcebispos e Bispos de
Portugal, reunidos no Santuário da
Fátima aos pés da Beatíssima Virgem
Maria, para renovarem a Consagração
já há tempos feita ao seu Imaculado
Coração, em acção de graças por
haver salvado Portugal, sobretudo
nestes últimos anos, do tremendo
perigo do comunismo, exultando de
alegria por tão assinalada protecção
tão milagrosamente dispensada pela
Divina Mãe, humildemente prostrados
aos pés de Vossa Santidade pedem
insistentemente, logo que o julgue
oportuno, que o mundo inteiro seja
consagrado ao Coração Puríssimo de
Maria, a fim de que seja liberto dos
muitos perigos que de toda a parte o
ameaçam, pela Mediação da Mãe de
Deus. |

Pio XI
|
A
Alexandrina sofre pela primeira vez a Paixão
- 1938
– Outubro, 3:
A Alexandrina sofre pela primeira
vez a Paixão, que se repetirá todas
as sextas-feiras até 20 de Março de
1942. A Paixão devia ser vista como
o sinal da vontade divina de que a
Consagração se efectuasse. Era dia
litúrgico de S. Teresinha, que a
Alexandrina tinha por "irmã
espiritual" e que nesta primeira
“Paixão” lhe aparece duas vezes.
–
Abril, 25:
Eu que quero a
consagração do mundo à minha
Imaculada Mãe. Mas quero que todo o
mundo saiba a razão por que Lhe é
consagrado. Eu quero que se faça
penitência e oração. (…)
Só por Ela (o
mundo) poderá ser salvo. E se
ele fizer penitência e se converter!
Ela é a minha Rainha, a Rainha do
Céu e da terra.
- Outubro, 24:
Depois de levar a Balasar dois
colegas jesuítas para presenciarem a
Paixão e ouvido o seu parecer, o
Padre Pinho escreve directamente ao
Papa Pio XI a pedir a Consagração;
Jesus oferecia-lhe o Céu, sem
passagem pelo Purgatório, se a
realizasse. |

Alexandrina revive a Paixão |
Viagem ao
Porto, para ser examinada pelos médicos -
1938
 |
– Dezembro, 6:
Viagem ao Porto, para ser examinada
pelos médicos.
"Eu fui o primeiro a ficar perplexo,
não sobre os êxtases, mas em relação
aos movimentos (ocorridos quando
revivia a Paixão). Por este motivo
interessava-me saber com certeza
qual o género da sua paralisia.
Falei ao Dr. Abílio de Carvalho, que
já havia tratado a doente;
interessou-se e levou-a ao Porto ao
radiologista Dr. Roberto de
Carvalho, em Dezembro de 1938".
P.e Mariano Pinho
–
Dezembro, 26:
Exame pelo professor Elísio de Moura
("psiquiatra famoso em toda a
Península Ibérica").
Busto do Dr. Elísio de Moura |
A Segunda Guerra Mundial
vai estalar - 1939
A Consagração ainda se não fez e a
Segunda Guerra Mundial vai estalar.
Continuam as diligências para a
Consagração.
Morre Pio XI.
O piedoso e sábio Cónego Vilar (que
era natural de Terroso, Póvoa de
Varzim) é chamado a estudar a
Alexandrina. Vai a seguir para Roma
e passam a estar a seu cargo as
diligências para a Consagração.
– Janeiro, 4; Abril, 5:
Jesus pede à Alexandrina com
insistência a Consagração para obter
a paz do mundo.
– Janeiro, 5:
Segundo exame da Santa Sé feito pelo
Cónego Manuel P. Vilar
– Janeiro, 20; Junho, 13; Junho, 16:
Jesus prediz-lhe a guerra como
castigo de graves pecados:
“Em que montão de ruínas vai ficar o
mundo!”
– Fevereiro, 10:
Morre Pio XI.
|

Cónego Manuel Pereira Vilar |
Eugénio Pacelli é eleito
Papa - 1939
– Fevereiro, 24:
D. António Bento Martins Júnior dá
informações para Roma sobre os
êxtases da Paixão. Conclui assim o
seu documento:
Sobre a Consagração do mundo à
Santíssima Virgem Maria, o Senhor
tem-lhe falado frequentemente. Quer
com insistência que o peça ao Sumo
Pontífice. ...
Parece-me que é isto que, depois de
atento exame, se pode sumariamente
dizer.
Estas notícias, se as considerarmos
com todas as circunstâncias, não
podem não suscitar, segundo o meu
juízo, ao menos a suspeita de uma
intervenção divina.
– Março, 2:
Eugénio Pacelli é eleito Papa,
tomando o nome de Pio XII.
– Março, 20:
Jesus prediz à Alexandrina a
respeito do novo Pontífice Pio XII:
"É este Papa que consagrará o mundo
ao Coração de Minha Mãe". |

Pio XII |
“Tu
és o encanto dos meus olhos” - 1939

A Alexandrina em 1939
|
– Junho, 2:
Carta do Mons. Vilar à Alexandrina:
É hoje a primeira sexta-feira de
Junho e está a fazer um mês que
recebi a sua estimada cartinha.
Esperava, ao escrever esta, poder
dar-lhe alguma notícia acerca da
nossa Consagração do mundo ao
Imaculado Coração de Maria, tão
insistentemente pedida por Jesus,
mas infelizmente ainda nada de
positivo lhe posso dizer. As coisas
em Roma contam-se em comparação com
a eternidade, e por isso nunca têm
pressa. Continuaremos porém a rezar
e a trabalhar para que por fim os
santíssimos desejos de Jesus sejam
realizados. |
– No mesmo dia:
"Tu és o encanto dos meus olhos, a alegria,
a consolação do meu Coração divino.
Tu amas-me, mas amas-Me com dor: é o amor
doloroso.
O teu coração arde e arderá eternamente nas
chamas do meu divino amor.
Depressa virá o dia que amarás com delícias
e com toda a consolação".
Palavras
de Jesus à Alexandrina
"O mundo está em cima dum
vulcão de fogo" - 1939
– Junho, 13:
"O mundo está em cima dum vulcão de
fogo, o qual só falta de um momento
para o outro abrir-se e
incendiá-lo!"
Palavras de Jesus à Alexandrina
–
Junho, 16:
Festa do Sagrado Coração: Jesus pede
pela última vez ao Papa a
Consagração do mundo ao Coração de
Maria:
"Que (o
Mons. Vilar)
diga ao Santo Padre que hoje, dia do
meu divino Coração, é a última vez
que peço a consagração
(do mundo)
à Minha Mãe Santíssima. Já a pedi
tantas vezes! Que não Me recuse por
mais tempo o meu pedido.
Depressa, depressa! É a minha Mãe
Santíssima com as minhas vítimas que
salvam o mundo".
Palavras de Jesus à Alexandrina
Cogumelo atómico |
 |
O Coração
da Minha bendita Mãe está tão ferido com as
blasfémias! - 1939
– Dezembro, 2:
“O Coração da Minha bendita Mãe está
tão ferido com as blasfémias que
contra Ela se proferem! Tudo o que
fere o Seu SS. Coração vem ferir o
Meu. Estão unidos os nossos
Corações!
É por isso que a consagração do
mundo Lhe há-de dar muita honra e
glória. Ao ele Lhe ser consagrado,
hão de ser abatidas e humilhadas
aquelas línguas malditas, blasfemas
e impuras que se moverem para a
blasfemar.
Coragem, Minha filha, que dentro em
pouco tempo tudo será realizado e
depois verás no céu a glória que Lhe
foi dada”.
Palavras de Jesus à Alexandrina
Imaculado Coração de Maria |
 |
O Santo Padre
será poupado fisicamente aos horrores da
guerra - 1940
 |
– Setembro, 10:
Apenas desceu em mim
(Jesus-Eucaristia)
senti na minha alma o retrato vivo
da querida Mãezinha que do alto do
Céu contemplava a pobre humanidade,
com o seu Coração santíssimo numa
dor quase mortal. Com a cabeça
inclinada para a terra não afastava
o seu olhar cheio de ternura e
compaixão.
Alexandrina, carta ao P.e Pinho
–
Dezembro, 6:
Jesus assegura à Alexandrina que o
Santo Padre seria poupado
fisicamente aos horrores da guerra,
mas que sofreria muito moralmente.
Alexandrina durante a Paixão. |
Portugal não sofrerá a
guerra: “Portugal será salvo!" - 1940
Portugal não sofrerá a guerra:
«Portugal será salvo!»
Apesar dos sombrios projectos de
Hitler, Pio XII não será fisicamente
atingido pela guerra.
A Virgem Imaculada debruça-se sobre
a terra com um "olhar cheio de
ternura e de compaixão".
Lúcia ou Alexandrina?
Lúcia só em 1940 expôs o texto do
pedido de Nossa Senhora, cujo desejo
era que o Papa fizesse a consagração
da Rússia, e ela lhe acrescentou o
próprio desejo da consagração do
mundo.
P.e H. Pasquale
–
Maio, 2:
"Diz ao teu Director para avisar o
Papa que se quer salvar o mundo
apresse a hora da sua consagração à
Minha Mãe. Ponha-A na frente da
batalha e proclame-A Rainha da
Vitória e Mensageira da Paz".
Palavra de Jesus à Alexandrina
Alexandrina |
 |
Entra em cena o Dr. Dias
de Azevedo - 1941

Dr. Dias de Azevedo e a Alexandrina |
Continuam os pedidos para a
Consagração e continua o calvário da
Alexandrina.
Entra em cena o Dr. Dias de Azevedo.
Falece santamente, de cancro, no
Porto, o Mons. Vilar.
O P.e Terças publica um relato da
Paixão vivida pela Alexandrina.
–
Janeiro, 7:
“O teu Calvário dentro em pouco
terminará, mas deverão primeiro
realizar-se as predições de Jesus.
Coragem! Tens como auxílio o teu
Director, o teu Jesus, a tua Mãe
Bendita!”
Palavras de Jesus à Alexandrina |
– Janeiro, 24:
“Prometo-te neste sábado consagrado a Ela
(Nossa
Senhora)
não demorar na terra muito por tempo a tua
existência. E prometo alcançar-te no Céu,
com os teus pedidos e amor, o que agora te
alcanço na terra pela tua dor. Mas para
isso, Minha filha, pede ao Santo Padre que
se compadeça do teu martírio, que satisfaça
os desejos divinos, que é consagrar o mundo
a Minha Mãe Bendita”.
Palavras
de Jesus à Alexandrina
Falece no Porto o Mons.
Vilar
– Fevereiro, 14:
O Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo
torna-se médico assistente da Alexandrina, o
"médico providencial".
–
Março, 7:
Falece no Porto o Mons. Vilar.
– Abril,
5
"Diz ao Papa que Jesus insiste, pede
e ordena que consagre o mundo à Sua
Mãe. Que o consagre depressa se quer
que a guerra acabe, depressa se quer
que o mundo tenha paz".
Palavras de Jesus à Alexandrina
– Maio, 3:
"Diz ao teu Padre espiritual que lhe
pede Jesus e Maria que escreva ao
Papa para que Ele consagre o mundo
ao Imaculado Coração da Virgem Mãe.
(…) Só ela o poderá salvar".
Palavras de Jesus à Alexandrina
–
Junho, 20:
"Une a tua dor à Minha dor, e o teu
amor ao Meu amor; só assim te será
suavizado o caminho do Calvário. Só
assim os pecadores serão salvos; só
assim vem a paz e vai vir depressa
dentro em pouco. Depois, todo o
mundo rejubilará ao ser consagrado
ao Coração de tua e Minha bendita
Mãe".
Palavras de Jesus à Alexandrina |

Alexandrina na publicação do P.e
Alves Terças. |
Roma requer a Braga
parecer sobre o pedido da Consagração - 1941
– Julho, 15:
Consulta médica no Porto, com o Dr. Gomes de
Araújo, «um dos maiores neurólogos de
Portugal».
Importantes fotografias tiradas na Trofa.
– Julho, 31:
O Padre Pinho escreve a Pio XII, suplicando
a Consagração e mostrando que algumas
predições da Alexandrina sobre a guerra se
haviam revelado verdadeiras profecias.
– Agosto, 29:
O Pe. Terças assiste ao êxtase da Paixão, de
que publica depois um relato pormenorizado,
lançado o nome da Alexandrina nas bocas do
mundo.
– Outubro, 9:
Roma requer a Braga parecer sobre o pedido
da Consagração.

Alexandrina fotografada na Trofa, quando ia
a caminho do Porto, para uma consulta
médica.
“Que glória para Portugal
e para o mundo inteiro!” - 1942
– Março, 27:
Alexandrina piora e administram-lhe
os Sacramentos: entra na segunda
morte mística e muito dolorosa,
porque assiste a uma espécie de
destruição e incineração do próprio
corpo, até 24 de Outubro de 1944.
–
Maio, 3
Jesus fala dela como "glória para
Portugal e para o mundo inteiro":
“Que glória para Portugal e para o
mundo inteiro!”
–
Maio, 22:
A Alexandrina dita as suas últimas
disposições, persuadida de que vai
morrer: começa o jejum absoluto e
anúria, vivendo somente da
Eucaristia até a morte (em Outubro
de 1955).
Em lugar da Paixão física, terá de
agora em diante os êxtases das
sextas-feiras, com uma crucifixão
"das mais dolorosas que a história
pode registar".
Vai atravessar agora a "noite do
espírito", durante a qual acontece o
“matrimónio místico” (1944). |

Capa de um livro. |
Alexandrina prediz a
próxima Consagração ao Coração de Maria -
1942
– No mesmo dia Alexandrina
prediz a próxima Consagração ao Coração de
Maria. Em êxtase, Alexandrina irrompe num
hino:

Capa da tradução
francesa de Uma Vítima da
Eucaristia. |
Glória, glória,
glória a Jesus!
Honra, honra e glória a Maria!
O coração do Papa, o coração de
oiro, está resolvido a consagrar o
mundo ao Coração de Maria!
Que grande dita e que alegria para o
mundo, pertencer mais que nunca à
Mãe de Jesus!
Todo o mundo pertence ao Coração
Divino de Jesus;
todo vai pertencer ao Coração
Imaculado de Maria!
– Maio, 29:
neste dia é o próprio Jesus Quem
proclama a vitória de Sua Mãe:
"Ave Maria, Mãe de Jesus!
Honra, glória e triunfo para o seu
Imaculado Coração!
Ave, Maria, Mãe de Jesus, Mãe de
todo o universo!
Quem não quererá pertencer à Mãe de
Jesus, à Senhora da Vitória?
O mundo vai ser consagrado todo ao
seu Materno Coração!
Guarda, Virgem pura, guarda, Virgem
Mãe, em teu Coração Santíssimo,
todos os filhos teus!" |
Pio XII proclama, de
Roma, a Consagração - 1942
– Setembro, 5:
Alexandrina sente que será
transformada pelo amor.
–
Outubro, 30:
"O
Céu, o Céu cheio de glória! O Céu
cheio de triunfo!
Uma coroa encantadora, mais
esplêndida que o sol e que as
estrelas, está preparada para a
louca de Jesus.
Jesus é tudo para a sua crucificada.
Jesus dá-lhe tudo para receber dela
tudo!"
Palavras de Jesus à Alexandrina
– Outubro, 31:
Pio XII, aos
microfones da rádio, dirigindo-se em
português aos peregrinos de Fátima e
ao mundo inteiro, proclama, de Roma,
a Consagração do mundo ao Imaculado
Coração de Maria. Na fórmula
utilizada ecoa a mensagem ida de
Balasar: |

Pio XII
proclamação a Consagração |
Fórmula da Consagração
Rainha do Santíssimo
Rosário, auxílio dos cristãos,
refúgio do género humano, vencedora
de todas as grandes batalhas de
Deus! Ao vosso trono súplices nos
prostramos, seguros de conseguir
misericórdia e de encontrar graça e
auxílio oportuno nas presentes
calamidades, não pelos nossos
méritos, de que não presumimos, mas
unicamente pela imensa bondade do
vosso Coração materno.
A Vós, ao vosso
Coração Imaculado, Nós como Pai
comum da grande família cristã, como
vigário d’Aquele a quem foi dado
todo o poder no céu e na terra (Mat.
28, 18), e de quem recebemos a
solicitude de quantas almas remidas
com o Seu sangue povoam o mundo
universo, a Vós, ao Vosso Coração
Imaculado, nesta hora trágica da
história humana, confiamos,
entregamos, consagramos não só a
santa Igreja, corpo místico do vosso
Jesus, que pena e sofre em tantas
partes e por tantos modos
atribulada, mas também todo o mundo
dilacerado por exiciais discórdias,
abrasado em incêndios de ódio,
vítima de suas próprias iniquidades. |
 |
Estão realizados os
desejos de Jesus
Novembro, 7:
“Alegra-te, minha filha,
alegra-te, filha querida, com Jesus e a tua
Mãezinha querida! Alegra-te porque estão
realizados os desejos de Jesus!
Alegra-te, porque grandes
bênçãos vêm para a terra culpada!
Minha filha, minha filha,
atractivo meu, encanto dos meus olhos: Jesus
vê na sua louquinha a maior alegria do
mundo! Jesus vê na sua benjamina todos os
encantos do seu Divino Coração!”
Por ti foi consagrado o
mundo à minha Bendita Mãe
 |
Em 1 de Outubro de
1954, Alexandrina ditou para o seu
diário:
(...) veio Jesus e,
num impulso, o seu amor
fortaleceu-me mais e falou-me assim:
- Vem, minha filha: Eu estou
contigo. Está contigo o Céu com toda
a fortaleza.
Neste momento, pela Chaga do seu
Divino Coração saiu um clarão tão
grande e uns raios tão luminosos que
irradiavam tudo.
Pouco depois, de todas as suas
Chagas divinas saíram raios que me
vinham trespassar os pés e as mãos!
Da sua sacrossanta cabeça para a
minha passava-se também um «sol» que
me trespassava todo o cérebro.
Falando do primeiro clarão e raios
que saíam do seu Divino Coração,
disse Jesus com toda a clareza:
“—
Minha filha, à semelhança de Santa
Margarida Maria, eu quero que
incendeies no mundo este amor tão
apagado nos corações dos homens.
Incendeia-o, incendeia-o. Eu quero
dar, Eu quero dar o meu Amor aos
homens. Eu quero ser por eles amado.
Eles não mo aceitam e não Me amam.
Por ti quero que este amor seja
incendiado em toda a humanidade,
assim como por ti foi consagrado o
mundo à minha Bendita Mãe.
Faz, esposa querida, que se espalhe
no mundo todo o amor dos nossos
Corações. |
— Como, Jesus?
Como trabalhar dessa forma?! Se ele não é
aceite por Vós, como hão-de os homens
recebê-lo por mim?
— Com a tua dor, com a tua dor, minha filha!
Só com ela as almas ficam agarradas às
fibras da alma e depois se vão deixar os
corações incendiar no meu amor.
Deixa que estes raios das minhas Chagas
divinas vão penetrar nas tuas chagas
escondidas, nas tuas chagas místicas”.
Que o dedo de Deus esteve na
vida da Alexandrina é difícil de duvidá-lo.
Foi esse o sentido da luta do Dr. Dias de
Azevedo: ele sabia, por exemplo, que não
havia explicação humana para o jejum. O P.e
Mariano Pinho sabia que o dedo de Deus
actuava nela e também o reconheceu
rapidamente o P.e Humberto Pasquale. Nos
anúncios respeitantes à Consagração, estão
verdadeiras profecias. A Santa Cruz
prenuncia a Alexandrina.
Outras pessoas cultas e
dignas de crédito afirmaram a presença do
sobrenatural na vida da Doente do Calvário,
como o Mons. Vilar, o Mons. Mendes do Carmo,
o Mons. Horácio de Araújo, o Prof. P.e
Isidoro Magunha, etc. O próprio Cónego Molha
do Faria pôs a hipótese de se verificar nela
uma “explosão sobrenatural”.
Ela, nossa vítima, sofreu
para que crêssemos. Se não deixarmos que a
luz da sua vida passe por nós inutilmente,
também um dia Jesus nos poderá dizer como a
ela:
“Vem repousar sobre o meu
divino Coração. É repouso divino, é repouso
confortante, é repouso de vida”.
|