Numa carta ao Pe.
Mariano Pinho a Beata Alexandrina fala a dada altura da festa de «Nossa Senhora
da Saúde, que se venera em S. Pedro»; a carta tem a data de 15 de Agosto de
1934. Vejamo-la:
Viva
Jesus!
Balasar, 15 de
Agosto de 1934.
Sr. Pe. Pinho
Por caridade,
perdoe-me por eu já hoje lhe mandar escrever. Mas é para ver se melhor posso
passar estes dias que Nosso Senhor me tem dado de vida, pois não calcula como me
têm custado a passar, com tantas saudades.
Sr. Pe. Pinho,
hoje fico muito doentinha, talvez como dia nenhum dos que V. Rev.cia aqui
passou, mas estou muito contente com isso por ser hoje dia de Nossa Senhora da
Saúde, que se venera em S. Pedro, e no dia de hoje fazem-lhe lá uma festa em que
Nosso Senhor é muito ofendido. E como não hei-de eu estar contente? Quantos mais
sofrimentos tiver, mais tenho que oferecer a Nosso Senhor, e por isso hoje lhe
tenho repetido: «Mandai, meu Jesus, o que quiserdes, contanto que Vos desagrave
das ofensas que recebeis.»
Meu bom pai
espiritual, já tenho mandado alguma coisa para o meu procurador e, graças ao meu
querido Jesus, têm ido sem demora.
Sr. Pe. Pinho,
bem queria ir esta tarde a Cavalões, mas não posso; estou presa por Nosso
Senhor,
mas
seja sempre feita em tudo a Sua santíssima Vontade, porque também é a minha.
Peço-lhe por
caridade que hoje, de um modo particular, me consagre a Nossa Senhora, que eu
também sou filha dela.
Adeus, sim? Fará
a caridade de abençoar esta que nunca o esquece, em minhas pobres orações.
Alexandrina
Maria da Costa.
A festa a que a
Beata alude não pode ser senão a que se celebrava em S. Pedro de Monte de
Fralães – a freguesia é conhecida simplesmente como S. Pedro –, já no concelho
de Barcelos, nesse dia.
Seria então uma
festa vistosa e com grande tradição, que a Alexandrina e o Pe. Pinho porventura
conheceriam. De facto, a confraria que a promovia, e continua a promover, a
Confraria de Nossa Senhora da Saúde, celebra a sua padroeira desde princípios do
séc. XVII.
As ofensas a Nosso
Senhor de que a Beata Alexandrina fala teriam a ver com a pancadaria que então
rematava a festa; dela fala Teotónio da Fonseca no Barcelos Aquém e
Além-Cávado. Mas estes desacatos não eram caso isolado, como dá conta o
poeta Matias Lima nestes versos de «Festa Minhota», escritos exactamente na
terceira década do séc. XX:
Começa
a debandada. Passa um grupo
De viola ao peito, santos no chapéu.
Alguém lança uma chufa, um forte apupo...
Levanta-se escarcéu!
Não há de lado a
lado quem transija.
Palavras avinhadas, lódãos no ar...
Digno final duma festança rija:
– Bordoada de tombar!
Na 3.ª reforma dos
Estatutos da Confraria de Nossa Senhora vem uma bela oração, que se transcreve
em forma abreviada:
VIRGEM
IMACULADA,
MÃE DO CRIADOR!
Virgem
imaculada, Mãe do Criador!
A Vós, Senhora,
recorrem os fiéis devotos irmãos da Vossa Confraria com o singularíssimo título
de Senhora da Saúde!
Vós,
Senhora, sois a Saúde dos Enfermos;
Concedei-lha,
Senhora, para Vos louvarem e engrandecerem, e a vosso Unigénito Filho.
Vós sois o
Refúgio dos Pecadores!
Refugiai
debaixo da vossa bandeira este piedoso rebanho e fazei com que suas almas,
fortalecidas nesta vida com a graça, vão gozar na outra da eterna glória.
Assim seja.
Noutros tempos era
comum dirigirem-se à Igreja de Monte de Fralães grupos de peregrinos em oração
cantada, a que se chamava «vigílias». Uma das mais célebres quadras que então se
ouviam era a seguinte:
Senhora da
Saúde,
O caminho pedras tem;
Se não fizésseis milagres,
Aqui não viria ninguém.
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