1946
Quis escrever-Lhe (a
Jesus) pela minha mão e fazer-lhe a entrega total de mim mesma,
para completar o seu enxoval. Com que sacrifício eu o fiz! Que
desfalecimento! Quanto sofri ao meu corpo e a minha alma! Mas, sem
poder resistir a tais ânsias de lhe fazer esta entrega e provar
desta forma ao Menino Jesus quanto o meu coração O queria amar e
pertencer, escrevi-lhe assim:
Para o meu querido Jesus no Seu presépio.
Remete a Vossa filhinha Alexandrina que quer
aprender convosco as vossas lições. Sede o meu Mestre, Jesus.
Natal de 1946.
Ao nascer Jesus, junto do seu presépio.
Meu doce e querido Jesus, em espírito prostrada
humildemente diante do vosso presépio, venho adorar-Vos e
entregar-me inteiramente a Vós, para mesmo aqui, neste momento,
morrer para mim e para o mundo.
Assim o quero, Jesus, para viver inteiramente para
Vós, para dar-Vos a prova não do amor com que Vos amo, porque é tão
pouco, mas sim daquele com que vos queria amar.
Escutai, Jesus, escutai, meu amor!
Para que possa conseguir o que tanto anseia o meu
pobre e frio coração, fazei que os meus olhos não vejam outra coisa
a não ser a Vós, que os meus ouvidos não ouçam senão as coisas do
Céu, que a minha língua e os meus lábios não se movam a não ser para
falar de Vós e das vossas coisas e louvores. Que o meu coração não
tenha outros sentimentos que não sejam os do amor e dor: o amor para
Vos amar, a dor para Vos consolar e reparar.
Sim, Jesus: fazei que tudo o que se disser, à volta
de mim, quer sejam de louvor quer sejam de desdém, eu os tome como
que não sejam para mim, que eu fique como um cadáver que não fala,
não ama nem sente.
Ainda mais, meu Jesus, ainda quero dizer-Vos mais:
quero fazer-Vos um acto de resignação à morte e um acto de renúncia.
Se os médicos com as suas experiências me abreviarem
os dias da vida, eu aceito contente e perdoo-lhes de todo o coração.
Renuncio também às ânsias e alegrias da realização
das vossas divinas promessas. Não quero saber nem pensar se sim ou
não elas se cumprem, se o meu Paizinho vem ou não junto de mim,
antes da minha partida para o Céu. O que Vós quiserdes é o que eu
quero, meu Jesus: a vossa vontade, a vossa glória e o vosso amor.
Vós, só Vós, só Vós, meu Jesus!
Bem sabeis o quanto custa tudo isto ao meu coração.
Sinto-o todo esburacadinho, deixo-me esmagar, aniquilar só por amor.
Aceitai este coração retalhado para guarnecer as
vossas roupinhas, como se fosse o ouro mais fino, as pedras mais
preciosas. Aceitai tudo que sofri, tudo que senti, tudo que fiz
durante a vossa novena para, em vez de duras palhas, terdes mimosos
colchões e almofadas.
O que eu Vos queria dar, Meu Jesus!... O que eu Vos
queria pedir!... O que eu Vos queria dizer!...
Fale-Vos o meu coração: enchei-me de Vós, enchei a
todos os que me são queridos, enchei o mundo inteiro.
Sede comigo, Jesus, para que não me faltem as forças
para cumprir fielmente com a entrega que Vos acabo de fazer. Vede
quanto sofro já por vosso amor, por vosso amor, por vosso amor.
Salvem-se as almas!
Perdoai-me, Jesus, dai-me a vossa graça, dai-me o
vosso amor com a querida Mãezinha.
Sou a pobre Alexandrina e a vossa indigna vítima.
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