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SOLENIDADE DO NASCIMENTO DE S. JOÃO BATISTA
PONTOS DE REFLEXÃO
I LEITURA –
Is 49,1-6
A ideia
fundamental que brota deste texto é a certeza de que é Deus quem está
por detrás de toda a experiência profética… É Deus quem elege o profeta
e quem lhe destina uma missão, desde o seio materno; é Deus quem coloca
a sua Palavra na boca do profeta; é Deus quem protege o profeta e quem o
recompensa… Seria impensável falarmos em profecia, sem falarmos de Deus.
A profecia
não é uma realidade reservada a pessoas especiais, mas é uma missão que
brota do meu compromisso batismal.
Apesar do
sofrimento, das perseguições, dos fracassos, a missão do profeta é ser
“luz das nações”, para que a salvação de Deus “chegue aos confins da
terra”.
Para que a
Palavra proclamada seja Palavra de Deus, é necessário que eu viva uma
relação de comunhão e de intimidade com Deus: só nesse diálogo serei
impregnado da vida de Deus, me aperceberei dos projetos de Deus e
poderei anunciá-los aos homens.
II LEITURA –
Atos 13,22-26
O discurso
posto por Lucas na boca de Paulo consta, sobretudo, de reflexões sobre o
Antigo Testamento. Faz uma rápida síntese da “história da salvação”,
indicando alguns dos seus fios condutores, para mostrar que tudo
converge para Jesus e que tudo culmina em Jesus.
É neste contexto que nos aparece a referência a João Baptista. Ele é
apresentado como aquele que veio preparar a vinda de Jesus, propondo um
batismo de conversão (a expressão grega “baptisma metanoías” faz alusão
a uma transformação radical das mentalidades, a fim de que a proposta do
“Reino” trazida por Jesus possa encontrar acolhimento no coração e na
vida de todos os homens) a todo o povo de Israel (vers. 24). João
Baptista não é o Messias esperado, mas o profeta que anuncia aquele que
virá a seguir e ao qual o próprio João não se sente sequer digno de
“desatar as sandálias” (vers. 25). A expressão denuncia essa consciência
que o profeta tem de ser apenas um simples e frágil instrumento de Deus.
Repare-se, ainda, como João se esforça por não apontar para si mesmo,
mas para Cristo. A missão do profeta não é dirigir o olhar do mundo na
sua própria direção, mas sim o orientar o coração dos homens para o
essencial, para Deus.
EVANGELHO –
Lc 1,57-66.80
A história de
João fala-nos, em primeiro lugar, de um Deus que ama os homens e que tem
para lhes oferecer um projeto de salvação e de vida plena; é por isso
que Ele inventa formas humanas de vir ao encontro dos homens, de lhes
fazer chegar a sua Palavra e as suas propostas, de os questionar e
interpelar com a Palavra profética… Ao celebrar esta solenidade, estamos
a celebrar o Deus/amor, que se revela na figura do profeta João.
No relato do
nascimento de João, transparece a centralidade de Deus na vida do
profeta, desde o seio materno. O profeta é um homem de Deus, cuja vida
tem origem em Deus, cuja vocação só faz sentido à luz de Deus, cujo
alimento é o próprio Deus, cujas palavras são palavras de Deus.
Embora os
textos de hoje não refiram essa dimensão, convém, nesta solenidade,
reflectir acerca da forma como João Baptista viveu a sua missão
profética. São particularmente questionantes o seu despojamento, a sua
radicalidade, a sua entrega total à missão, a coragem com que ele
enfrentou os poderosos, a sua capacidade de dar a vida para defender a
verdade. Estas características fazem parte do “caminho profético”.
No relato de
Lucas, fica bem expressa a diferença entre João e Jesus… João não é a
salvação; ele veio, apenas, dar testemunho da chegada iminente da
salvação. O profeta precisa de ter consciência do seu papel e do seu
lugar: ele não é “a luz”; a sua missão não é levar os homens a aderir à
sua pessoa, mas à pessoa de Jesus. O profeta deve ter cuidado para não
usurpar, nunca, o lugar de Deus.
Pe. José
Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |