Quando a Beata Alexandrina escreve a sua
Autobiografia, tem bem consciência de como sofreu a Mãe de
Jesus
junto ao seu Filho que carregava a Cruz com o corpo destroçado pela flagelação e
que a seguir agonizaria e morreria na dor, na humilhação e na solidão. Por isso
a recordação das suas idas à capela poveira da Senhora das Dores há-de acordar
nela vivências que não saberemos imaginar.
Como quer que seja, é nestes termos que
ela evoca aquela capela na referida Autobiografia:
Quando ia a
passeio com a patroa para o campo, acompanhada com outras meninas, fugia do
convívio delas e ia colher flores que desfolhava para fazer tapetes na igreja de
Nossa Senhora das Dores.
Era em Maio e
toda me comprazia de ver o altar da Mãezinha adornado de rosas e cravos e de
respirar o perfume dessas flores. Algumas vezes, oferecia à Mãezinha muitas
flores que minha mãe propositadamente me levava.
Jesus há-de um dia chamar-lhe mesmo
Alexandrina das Dores:
Esta
manhã não podia respirar, não podia viver, estava tomada de terror.
Sentia os olhos
colados pelo sangue que brotava do grande capacete de penetrantes espinhos que
me cingiam a cabeça.
Assim segui as
escuras e estreitas ruas do Calvário. ...
Oh, como foi
dolorosa a viagem!
Quanto me
custou chegar ao Calvário!
...
Veio Jesus; deu
luz a toda a minha alma e disse-me:
— Minha filha,
minha filha, minha Alexandrina, Alexandrina das dores:
Deixa-me que te
dê mais este título de Minha esposa:
Alexandrina das
Dores!
Tem coragem!
(9/5/47)
Para a vítima da Eucaristia, para a
apaixonada dos sacrários que foi a Alexandrina, a evocação da sua
Primeira
Comunhão trazer-lhe-ia também lembranças únicas.
Foi na Póvoa de
Varzim que fiz a minha Primeira Comunhão, com sete anos de idade. Foi o Senhor
P.e Álvaro Matos quem me perguntou a doutrina, me confessou e me deu pela vez
primeira a Sagrada Comunhão. Como prémio, recebi um lindo terço e uma
estampazinha. Quando comunguei, estava de joelhos, apesar de pequenina, e fitei
a Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira que me ficou tão gravada na alma,
parecendo-me unir a Jesus para nunca mais me separar dele. Parece que me prendeu
o coração. A alegria que eu sentia era inexplicável. A todos dava a boa nova.
A encarregada da
minha educação levava-me a comungar diariamente.
Os
especialistas da Alexandrina não deixam de reconhecer como este momento foi
marcante na sua caminhada.
Ouça-se agora esta oração eucarística
que Jesus ensinou à Alexandrina:
Diz às almas que
Me amam que vivam unidas a Mim durante o seu trabalho.
Nas
suas casas, seja de dia seja de noite, ajoelhem-se muitas vezes em espírito e de
cabeça inclinada digam:
“Jesus,
Eu Vos adoro em
todo o lugar onde habitais sacramentado;
Faço-Vos
companhia pelos que Vos desprezam,
Amo-vos pelos
que não Vos não amam;
Desagravo-Vos pelos que Vos ofendem.
Jesus, vinde ao
meu coração!”
Nos tempos republicanos em que a pequena
de Gresufes andou pela Póvoa, se os católicos foram humilhados, com o
encerramento do Colégio das Doroteias, com a suspensão das obras da Basílica do
Sagrado Coração de Jesus, etc., continuou a erguer-se o excelente templo que é a
Igreja da Misericórdia. A devoção da Alexandrina a Santa Teresinha do Menino
Jesus tem algum débito ao menos para com esta igreja.
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