Alexandrina de Balasar

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Memórias paroquiais de Balasar

No Boletim Cultural da Póvoa de Varzim, estão publicadas as memórias paroquiais de 1736 e 1758 relativas às freguesias do concelho e portanto também as de Balasar. Estas memórias eram as respostas dadas pelos párocos a um questionário que lhes fora enviado pela Academia de História e dão-nos uma panorâmica da realidade da freguesia naquela data. As de 1758 foram pedidas na sequência do Terramoto de 1755.

As de 1736 apresentam algumas imprecisões: dizem que é do Rei, quando era do Arcebispo e da Casa de Bragança; que a igreja tinha três naves, quando apenas tinha uma; e que todos os moradores iam beber à Fonte de S. Pedro de Rates, como se Balasar não fosse uma terra abundante em água e com um rio.

Nas de 1758, o lugar de Lousadelo aparece como Pousadela.

Memória de 1736

Freguesia na Província de entre Douro e Minho, Arcebispado de Braga, Comarca de Viana, termo da Vila de Barcelos. É del-Rei.

Está situada numa campina donde se não descobrem povoações algumas. A paróquia tem três naves e está no meio do lugar; é seu orago Santa Eulália. Tem os altares do SS. Sacramento, Nossa Senhora das Candeias, Santo António, Santo Antão Abade e Nosso Senhor Jesus Cristo, com as irmandades de Santo Antão Abade e das Almas.

O pároco é reitor, a apresentação do Arcebispo Primaz; terá de renda cento e oitenta mil réis, pouco mais ou menos.

Os frutos que os moradores colhem em abundância são milho, trigo, centeio e vinho. Está sujeita às Justiças de Barcelos e cidade de Braga.

Tem esta freguesia uns montes chamados Sisto, que têm de comprido meia légua e de largo um quarto: trazem muita caça de lebres, coelhos e perdizes.

Bebem os moradores duma fonte a que dão o nome de S. Pedro de Rates: há aqui uma pedra com uma pegada estampada, a qual dizem ser do Santo de que a fonte tomou o nome; e, tirando a pedra em certa ocasião, dizem secara de todo e não lançara mais água senão quando se lhe tornou a pôr. Tem o povo grande fé com esta água e dizem que bebendo-a tira as maleitas, de que há repetidas experiências.

Corre por este distrito o rio Este, que faz a terra mimosa de bom peixe, como são barbos, esqualos, bogas e trutas.

Memória de 1758

Muito Rev.do Senhor Provisor

V. Mercê é servido ordenar-me informe eu sobre o papel impresso incluso, em que se contêm vários interrogatórios repartidos em três partes; começado pela primeira e primeiro interrogatório, informo V. Mercê na seguinte forma:

I

1. Esta terra fica na Província de entre Douro e Minho e pertence ao Arcebispado de Braga; é de Comarca de Viana, termo da Vila de Barcelos e Provedoria de Viana. O nome da terra é Balasar e o mesmo é da freguesia.

2. É da Sereníssima Casa de Bragança a referida terra por estar debaixo da jurisdição e ser termo de Barcelos, donde dista duas léguas ao norte.

3. Tem cento e setenta fogos toda a freguesia e quatrocentas e sessenta pessoas de Sacramento, e de menor idade cinquenta e duas.

4. Está situada nas faldas duns montes e não se descobrem povoações algumas.

5. Não tem termo seu nem vizinhos mais do que dois, e os lugares que compreende a freguesia são treze, a saber: Gandra, e este tem oito fogos; Gresufes, tem dezasseis fogos; Escariz, nove fogos; Igreja, oito fogos; Pousadela, dezoito fogos; Casal, trinta e dois fogos; Telo, vinte e seis fogos; Gestrim, cinco fogos; Guardes, três fogos; Guardinhos, cinco fogos.

6. A Igreja está no meio de todos os lugares e o seu próprio de Balasar tem somente dois vizinhos, como fica dito.

7. O orago é Santa Eulália; tem cinco altares, um do SS. Sacramento, outro de Nossa Senhora da Conceição, outro de Santo Antão, outro de Santo António e outro do Senhor Crucificado; tem duas irmandades, uma das Almas e outra de Santo Antão Abade. É igreja duma só nave, e perfeita.

8. O seu pároco é reitor, que ao todo lhe renderá duzentos mil réis, e é igreja de concurso e data do Sereníssimo Senhor Arcebispo Primaz e Comenda da Ordem de Cristo, cujo comendador é Fernando Xavier de Miranda Henriques, morador na cidade de Lisboa, que lhe renderá seiscentos mil réis.

9. Não tem beneficiado, e assim aos números 10, 11 e 12 não há que dizer nesta freguesia.

13. Tem uma ermida da Sra. da Piedade, sita no lugar do Casal, que é anexa da igreja paroquial de que se trata.

14. A romagem que acorre à dita ermida é somente no primeiro domingo de Agosto, quando se faz a festa à mesma Senhora.

15. Os frutos são milho grosso em abundância e suficiente trigo, centeio e vinho verde.

16. Não tem juiz ordinário; está sujeita ao governo da Justiça da Vila de Barcelos, e não há que dizer aos números 17, 18 e 19.

20. Não tem correio; serve-se do correio de Vila do Conde, e dista duas léguas, ou de Vila Nova de Famalicão, que dista quase o mesmo.

21. Dista de Braga quatro léguas e de Lisboa cinquenta e seis; e ao número seguinte não há que dizer.

23. Há nesta freguesia, no lugar do Casal, uma celebrada fonte, chamada de S. Pedro, cuja água é milagrosa para os doentes de sezões e terçãs, como se experimenta bebendo-a com fé e devoção ao mesmo Apóstolo; e aos números seguintes não há que informar. Nem padeceu ruína no tempo do Terramoto.

II

1. Enquanto à segunda parte dos interrogatórios, sobre a serra, a não há, nem tenho que dizer aos números 2, 3, 4.

5. As vilas que se acham vizinhas são Barcelos, Vila do Conde, Vila Nova de Famalicão, e a mais próxima é Rates, e não há que dizer aos números 6, 7, 8, 9.

10. As qualidades do temperamento desta é frio e húmido.

11. Não (há) criações de gado ou outros animais. Há sim suficientes lebres, coelhos e perdizes, e aos números 12, 13 não há que dizer.

III

1. Enquanto à terceira parte, sobre o rio, passa por esta freguesia um, que se chama Este[1], porque nasce meia légua acima da cidade Braga, na freguesia de S. Pedro d’Este.

2. Nasce e principia à maneira de fonte branda e corre todo o ano.

3. Não entra nele rio algum.

4. Não é navegável, por ser de pouca água.

5. É curso arrebatado no distrito da freguesia de S. Félix de Gondifelos e nas demais partes manso e quieto.

6. Corre de nascente a poente.

7. Cria peixes das espécies seguintes: barbos, trutas, bogas, esqualos e panxorcas, tudo em suficiente quantidade, mormente barbos e bogas.

8. Há pescarias de curiosos no Verão.

9. As pescarias são livres em todo o rio, de qualquer forma. Aos números 11, 12, nada.

13. Entra este rio em outro rio chamado Ave, na freguesia de Touguinhó, a um lugar chamado Ponte d’Este, e ao número 14, nada.

15. Tem o dito rio Este nesta freguesia duas pontes de pau, uma no lugar da Igreja, outra no lugar do Casal.

16. Tem três moinhos de moer pão, e ao número 17 não tenho que dizer.

18. Usam os povos livremente das suas águas.

19. Tem o dito rio seis léguas de comprido até ao rio Ave e não passa por povoado algum. E o número 20 final não (há) coisa digna de memória de que possa informar. E nesta forma hei por satisfeito ao mandado de V. Mercê sobre os interrogatórios do dito papel. V. Mercê ordenará o que for servido.

Santa Eulália de Balasar, de Maio 7 de 1758.

O Reitor, António da Silva e Sousa

O Vigário, Gabriel Ribeiro

O Vigário de S. Miguel de Arcos, António Pereira do Reis.

 

Nota – As imagens de Santa Eulália e de Santo Antão que aqui se apresentam pertencem à Igreja Paroquial de Balasar.


[1] No original, este rio é sempre chamado Deste.

 

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