João de
Ruysbroeck nasceu em 1293, em Ruysbroeck, nos arredores de Bruxelas.
A sua
família era honrada e muito abastada. Desde a sua mais terna
infância gostava de isolar-se na natureza. Aos 11 anos,
foi confiado
um tio, Mestre João Hinckaert, cónego de Santa Gúdula, que o
despertou muito cedo às verdades do Evangelho, e o enviou para uma
escola para estudar as letras, a filosofia e as ciências humanas e
divinas.
Em
1317, quando completava 24 anos foi ordenado sacerdote e exerceu o
seu ministério durante 25 anos em Bruxelas, como capelão de Santa
Gúdula, na companhia de Mestre Hinckaert e de Franco van Coudenberg,
capelães da mesma igreja, e animados dos mesmos desejos de vida
virtuosa. Foi durante a sua estadia em Bruxelas que ele redigiu as
suas primeiras obras.
Sacerdote secular, João decidiu de seguir Cristo humilde no caminho
da humildade e de se conformar tanto quanto lhe era possível a este
Modelo, indo mesmo ao ponto de ser considerado como desprezível
e sem qualquer valor aos olhos de todos quantos ignoravam a sua vida
santa, toda cheia da presença de Deus.
Mais
tarde, em 1343, decidiu de viver na solidão com o seu tio e Franco
van Coudenberg e, para esta nova vida, fundou uma pequena comunidade
em Groenendeael ("o vale verde"), que em 1350 adoptou o hábito dos
Cónegos regulares de Santo Agostinho, assim como a Regra destes. Ele
foi prior desta comunidade religiosa até à morte. Ali se entregava a
uma vida de grande simplicidade, em contacto com a natureza. A ele
acorriam personalidades do mundo inteiro. Pôs-se a escrever as suas
experiências espirituais, legando-nos numerosas obras, entre as
quais, “O reino dos amantes de Deus”; “As núpcias espirituais”;
“O livro da mais alta verdade”; “O espelho da salvação eterna”; “O
livro dos sete fachos”; “Os sete graus de amor espiritual”; “A pedra
brilhante”; “Os doze pontos da verdadeira fé”; “As quatro
tentações”... Dizem que, tomando conhecimento da grave doença
que o acometera e que morreria em breve, pediu humildemente que o
acomodassem na enfermaria comum dos irmãos. Ardendo em febre e
disenteria, passou vários dias esperando que Deus o chamasse. Morreu
rodeado pelos irmãos em oração e tinha o rosto radioso e sem os
sinais ordinários dos e agonizantes. "Era o ano do Senhor de
1381, no dia oitavo da Beata Catarina, virgem e mártir. Tinha já
mais de 88 anos e era padre havia cerca de 64" (apud J. Leite,
op. cit VoI. III, p. 376).
João
Ruysbroeck foi, sem qualquer dúvida, um dos maiores escritores
místicos da Igreja católica, senão o maior. As suas obras, ou parte
delas, eram conhecidas de são João da Cruz, de santa Teresa de Ávila
e de mais alguns dos grandes escritores místicos dos séculos XV e
XVI. |