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JOANA FRANCISCA DE CHANTAL
Esposa, Religiosa fundadora, Santa
1572-1641

No século XVI, a heresia protestante devorara como um câncer quase toda a Alemanha.

Lançando metástases pela Europa, penetrou tão perigosamente na França, que em breve seu poderio foi o de um Estado dentro do Estado.

Aproveitando-se da fraqueza e omissão da dinastia francesa dos Valois, dirigida efectivamente pela inescrupulosa Catarina de Medicis, e do apoio de membros da mais alta nobreza, seduzidos pela nova heresia, esta ameaçava a própria existência da única e verdadeira religião, a Católica.

Diante do perigo, os católicos, liderados pela família dos duques de Guise, formaram uma Liga Santa pa-ra a defesa de sua Religião. Dissolvida por Henrique III, a referida Liga renasceu em 1587, quando o Tratado de Beaulieu favoreceu demasiadamente os huguenotes, como eram chamados os protestantes na França.

Da Liga fazia parte o enérgico e ardente católico Benigno Fremyot, Presidente do Parlamento da Bor-gonha, casado com Margarida de Berbisey. Foi nesse ambiente, carregado das guerras de religião, que nasceu Joana, segunda filha deste casal.

Não há dúvida de que o amor materno é insubsti-tuível na formação moral e religiosa da prole. O caso do Presidente Fremyot foi uma das notáveis e raras excepções a essa regra.

Joana tinha apenas 18 meses quando faleceu a mãe, no parto do terceiro filho, André. Benigno Fremyot supriu a falta da esposa dando aos filhos uma educação ao mesmo tempo afectuosa e viril. Dos três que teve, a primeira faleceria piedosamente poucos anos depois de casada; a segunda seria elevada à honra dos altares; e o último, por sua virtude e qualidades morais, tornar-se-ia, aos 21 anos, Arcebispo de Bourges e amicíssimo de São Francisco de Sales.

O Presidente Fremyot os reunia de manhã e à noite para ensinar-lhes a rezar, conhecer e amar a verdadeira Igreja e o Papa.

Desde cedo, enérgica rejeição da heresia

A pequenina Joana foi dotada pela Providência de um carisma especial, que a levava, mesmo antes do uso da razão, a discernir os hereges. Quando, nos braços da ama, via um deles, começava a chorar.

E se este queria acariciá-la, gritava e escondia a cabeça no peito da ama, não se tranquilizando até que o perdesse de vista.

Um fato muito conhecido, mas que vale a pena relembrar, foi o que se passou quando ela tinha apenas cinco anos.

Devido à sua profissão, o Sr. Fremyot recebia muitas vezes influentes protestantes em sua casa.

Havia um que, como é característico deles, não deixava escapar a ocasião para uma discussão teológica. Ora, uma vez em que a pequena Joana estava presente na sala, aparentemente absorta com algum brinquedo, o herege negou a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia consagrada.

Ao ouvir isto, a menina não pôde conter-se; aproximando-se dele, olhou-o com emoção e disse:

— Senhor, é preciso crer que Nosso Senhor Jesus Cristo está presente no Santíssimo Sacramento, porque Ele mesmo o disse! Se vós não O credes, fá-Lo-eis passar por mentiroso.

O protestante, admirado, começou a argumentar com ela. Mas Joana, dotada da sabedoria da inocência, respondia-lhe à altura. Para terminar amigavelmente a conversa, o herege ofereceu-lhe um punhado de caramelos.

A menina os recebeu em seu avental e foi jogá-los directamente na lareira fumegante, dizendo-lhe:

— Vede, senhor, vede. Assim arderão os hereges no fogo do inferno por não quererem crer nas palavras de Nosso Senhor!"

Em outro dia em que o renitente herege recomeçou a discussão, a pequena Joana acercou-se dele e lhe disse energicamente:

"Senhor, se tivésseis ofendido o Rei, meu pai vos mandaria enforcar. Se desmentis a Nosso Senhor, estes dois Presidentes (apontou para um quadro representando São Pedro e São Paulo) mandar-vos-ão enforcar.

Quando seus filhos foram crescendo, o Presidente Fremyot contratou mestres escolhidos para reforçarem sua formação. "Joana aprendia com grande facilidade e viveza de imaginação. E, dado seu bom talento e a posição que ocupava no mundo, foi-lhe ensinado tudo o que deveria saber uma jovem de sua classe: ler, escrever, dançar, tocar instrumentos de música, canto, os labores próprios ao seu sexo etc." .

Ao receber a Confirmação, por devoção ao Poverello de Assis, Joana acrescentou ao seu o nome de Francisca.

No matrimónio e na viuvez: fortaleza e generosidade

Aos 20 anos, Joana Francisca foi dada pelo pai em casamento ao Barão de Chantal, valoroso oficial do exército francês e católico, embora desde a morte da mãe ele levasse uma vida um tanto dissipada.

O primeiro cuidado de Joana foi conquistar o coração do marido para levá-lo inteiramente a Deus. Isso não foi difícil, pois o Barão, além das boas predisposições que possuía, percebeu logo que Deus lhe tinha dado por esposa uma santa. A união entre eles foi tão grande que se dizia que tinham um só coração. Ao mesmo tempo a baronesa estabeleceu, com bondade e firmeza, a ordem e a disciplina no seio da numerosa criadagem do castelo.

Quando seu marido estava ausente, Joana entregava-se mais a Deus e ao exercício da caridade. Cuidava dos pobres e dos enfermos com suas próprias mãos e supria a todas suas necessidades. Em breve, ficou conhecida na região como a santa Senhora. Deus quis, em duas ocasiões, demonstrar a virtude de Sua serva mediante o milagre da multiplicação do trigo para alimentar os pobres, em época de grande fome.

O casal foi abençoado com seis filhos, dos quais os dois primeiros faleceram apenas nascidos. Sucederam-lhes outro filho e três filhas, tendo a última nascido poucas semanas antes da morte do Barão.

Mortalmente ferido por seu melhor amigo num acidente de caça, recebeu os últimos Sacramentos, perdoou seu homicida e recomendou à Baronesa que se resignasse à vontade de Deus.

Joana ficava assim viúva aos 28 anos, com quatro filhos para educar e o baronato para dirigir. Foram-lhe necessárias toda sua fé e energia para aceitar o rude golpe. Mas recebeu muitas graças nessa época, o que a levou a afirmar mais tarde que, não fossem os filhos tão pequenos, teria tudo abandonado para ir terminar seus dias em Jerusalém, consagrada inteiramente a Deus.

Essa alma forte e generosa foi submetida na viuvez a novas provações! O Barão de Chantal – sogro de Joana, cujo carácter orgulhoso, vaidoso e extravagante ela conhecia -- sentindo-se muito só em sua velhice, queria que a jovem viúva, com os filhos, fosse lhe fazer companhia.

No novo domicílio – cuja desordem era igualmente de seu conhecimento -- Joana entregou-se a todas as obras de apostolado e misericórdia por ela desenvolvidas no anterior. Mas sentindo a necessidade de encontrar um bom director espiritual, pediu insistentemente a Deus essa graça.

Conjugação de dois Santos transpõe obstáculos insuperáveis

Em 1604, o já merecidamente célebre Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, foi pregar a quaresma em Dijon, cidade natal de Joana. Esta convenceu o sogro a trasladarem-se para a casa de seu pai para seguirem os sermões.

O grande pregador, a quem Deus mostrara em sonhos sua futura penitente, imediatamente a reconheceu, atenta e recolhida, em meio aos fiéis. Esta também reconheceu com emoção aquele que Deus designara para seu pai espiritual. Começou assim um dos mais belos parentescos espirituais da História da Igreja, que tantos e tão belos frutos produziria.

São Francisco de Sales traçou-lhe uma minuciosa regra de vida. Sob sua direcção, Santa Joana de Chantal progrediu tão rapidamente, que o santo se admirava, dando graças a Deus.

Aos poucos maturava na mente do Bispo de Genebra o projecto de uma nova congregação religiosa, com regras adaptadas a virgens e viúvas que, desejando servir a Deus, não se sentiam atraídas pelas grandes austeridades das famílias religiosas já existentes. Teriam como oração em comum somente o Ofício Parvo de Nossa Senhora; deveriam dedicar-se também à assistência dos pobres e enfermos.

Joana pôs-se à sua disposição para a realização da obra assim que seus filhos estivessem encaminhados.

A mão de Deus fez-se então sentir para abreviar o tempo de espera. A Baronesa de Chantal tornara-se amicíssima da Baronesa de Boissy, mãe de São Francisco de Sales, senhora virtuosíssima, viúva e mãe de 13 filhos. Tal era a confiança que esta tinha em Joana que, a conselho de São Francisco, confiou à jovem viúva a educação de sua caçula, de nove anos. Esta veio a falecer poucos anos depois nos braços de Santa Joana.

Para unir por laços mais fortes que os da amizade as duas famílias, a Senhora de Boissy propôs o casamento de seu filho, Barão de Thorens, de 14 anos, com Maria Amada, filha mais velha de Santa Joana, então com 12. O casamento foi oficiado por São Francisco de Sales e, como era costume na época, a jovem esposa foi viver com a família do marido até atingir a idade núbil.

Santa Joana confiou o filho, Celso Benigno, ao avô, Presidente Fremyot, que com a ajuda de um virtuoso preceptor completaria a educação do adolescente. Levando as duas filhas para terminar sua educação no convento, a Baronesa de Chantal ficava assim livre para a realização da grande obra.

Antes de partir, renunciou a todos seus bens em favor dos filhos e embarcou para Annecy, que fazia parte então do Ducado da Sabóia. Pouco depois, Deus chamou a Si a filha caçula de Joana, aquela a quem ela mais amava por sua inocência e docilidade.

Co-fundadora e alma da Congregação da Visitação

Em Annecy já a esperavam três donzelas virtuosas, dirigidas de São Francisco de Sales, que com ela principiariam a obra.

A Congregação idealizada pelo Bispo de Genebra era uma inovação. Até então só havia conventos de reclusas. Na recém-fundada Congregação – denominada da Visitação – as religiosas não guardariam clausura, pois deveriam cuidar dos pobres, o que suscitou muitas controvérsias.

Apesar da pobreza e das críticas recebidas, novas postulantes foram ingressando na Congregação e três jovens viúvas de Lyon pediram licença para lá fundar uma casa. Nessa ocasião, interveio o Cardeal Arcebispo local, convencendo São Francisco de Sales a erigir e transformar a Congregação em Ordem religiosa e aceitar a obrigação da clausura perpétua. O Fundador, tendo aceito a proposta, estipulou contudo que em seus conventos se pudessem receber senhoras e donzelas que quisessem retirar-se temporariamente para pôr em ordem sua consciência.

Embora muito atenuada em relação às regras existentes, no que se refere a penitências, jejuns e longos ofícios em comum, São Francisco de Sales reforçou a pobreza e a obediência da nova instituição. Nenhuma religiosa poderia ter nada seu, nem mesmo o hábito ou o rosário que usava. Cada ano havia uma rotação de tudo, inclusive livros e objectos de piedade.

A finalidade visada por São Francisco de Sales para sua Congregação seria levada avante pouco depois por seu grande amigo, São Vicente de Paulo, mediante a criação das Filhas da Caridade.

Foi cedendo a instâncias da Madre Chantal e dedicando-o a suas filhas da Visitação, que São Francisco de Sales escreveu seu famoso Tratado do Amor de Deus.

— Minha filha, disse-lhe o santo Bispo, o Tratado do Amor de Deus está escrito para vós.

No prefácio da obra, ele diz:

— Como Deus sabe o muito que estimo essa alma, não foi pouco o que ela influiu nesta ocasião... o que mais me moveu a levar avante meu projecto foram as reiteradas instâncias desta alma.

Sofrimento modela "alma das mais santas"

Àqueles a quem ama, Nosso Senhor presenteia com sua Cruz. Como alma eleita e muito sensível ao afecto, a Providência foi tirando de Santa Joana suas mais caras afeições para que se desapegasse inteiramente das criaturas.

Sua mãe morreu muito cedo. Apenas casada, foi-lhe arrebatada a irmã que com ela compartira a orfandade, deixando-lhe como herança três orfãozinhos. Dois de seus filhos faleceram recém-nascidos e o marido foi-lhe arrebatado num acidente de caça, deixando-a viúva aos 28 anos. Viu morrer, sucessivamente o pai, o sogro, os quatros filhos, a nora e um genro, tornando-se, aos 60 anos e já superiora da Visitação, a "mãe" de seus netos. Cabe mencionar que seu único filho varão, Celso Benigno, morreu heroicamente aos 31 anos, lutando contra os protestantes na ilha de Rhé. Sua esposa seguiu-lhe na tumba pouco depois, deixando uma filhinha de um ano, que viria ser a famosa epistológrafa Madame de Sevigné.

A cada novo luto, Santa Joana de Chantal superava-se a si própria, saindo do convento para cuidar dos interesses de seus filhos com um tino e uma habilidade superiores. Não deixava, em meios aos negócios do mundo, de ser menos religiosa que no mosteiro. Irradiava por toda parte o reflexo de sua santidade, suscitando verdadeira veneração. Só ao contemplá-la, várias donzelas foram atraídas ao seu convento.

A estas provações somaram-se as espirituais, como tentações terríveis, algumas vezes contra a fé. Conheceu a noite escura e a secura espiritual para chegar a um grau sublime de contemplação. São Vicente de Paulo afirmou que, embora aparentando paz e tranqüilidade, Santa Joana "sofria terríveis provas interiores. Via-se tão assediada de tentações abomináveis, que tinha que apartar os olhos de si mesma com horror para não contemplar esse espectáculo insuportável .... Em meio a tão grandes sofrimentos, jamais perdeu a serenidade nem esmoreceu na plena fidelidade que Deus lhe exigia. Por isso a considero como uma das almas mais santas que encontrei sobre a terra".

Após a morte de São Francisco de Sales, não só consolidou a obra nascente, mas a fez expandir. Durante sua vida, os mosteiros da Visitação elevaram-se a 65. A todos visitou para satisfazer o desejo que muitas de suas filhas espirituais tinham de conhecê-la.

Em 1641, a rainha Ana d’Áustria convidou-a para ir a Paris, cumulando-a de honras e distinções. Era a exaltação que a Realeza prestava à Santa que foi, em vida, comparável à própria Mulher forte do Antigo Testamento.

Meses depois, foi ela receber, no Céu, a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva a seus eleitos.

Entregou sua alma a Deus em Moulins, a 13 de Dezembro de 1641. Foi beatificada por Bento XIV a 13 de Novembro de 1751 e canonizada por Clemente XIII em 16 Julho de 1767.

FONTE:

http://santossanctorum.blogspot.fr/2011/12/santa-joana-francisca-de-chantal-joana.html

 

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