Santo
Irineu era discípulo de São Policarpo, bispo de Esmirna, e quase
contemporâneo dos apóstolos. Era sacerdote de Lyon, quando o santo
bispo Potino ali foi martirizado pela metade do segundo século, com
um grande número de fiéis.
Esses
mártires, consultados pelos cristãos da Ásia Menor, se haviam
cabalmente pronunciado contra a heresia dos montanistas. Mas como
não ignorassem que todas as Igrejas do mundo estão obrigadas a
concordar com a Igreja Romana, escreveram ao Papa Eleutério que
ocupava, então, o lugar de príncipe dos Apóstolos. Escolheram para
levar as cartas a Roma o mais ilustre personagem do clero de Lyon e
Viena, Santo Irineu, que recomendaram vivamente ao Papa, louvando
seu zelo pela lei de Jesus Cristo.
Muito
se admira quando se pensa que em tempo tão calamitoso, no mais aceso
da perseguição, estando já morto o bispo Potino, e, por conseguinte,
viúva esta igreja, e quando os principais vultos do clero, presos e
encerrados em horríveis calabouços, esperavam de uma hora para outra
serem degolados ou atirados às feras, tivessem querido privar esta
cristandade desolada de pessoa tão necessária, o que nos leva a crer
que esta legação tinha ainda por objectivo o interesse de sua
igreja. Após a morte de Potino, a principal solicitude dos santos
confessores e de todo o clero foi dar a este rebanho atribulado um
novo pastor que pudesse preservá-los de completa destruição, e
terminada a tempestade, levar o redil as ovelhas dispersas, e
reparar as perdas com novas conquistas. Ninguém mais adequado do que
Irineu.
Foi,
pois, escolhido, de comum acordo, pelos mártires e pelo clero para
suceder a Potino. Devendo, pois, ir a Roma para receber a ordenação
do santo Papa Eleutério, encarregaram-no das cartas concernentes aos
assuntos da religião e prestando, segundo os requisitos das regras
da Igreja, um testemunho autêntico de sua fé, piedade e mérito.
Santo
Irineu compôs contra as principais heresias do tempo uma refutação
completa em cinco livros. Eis o conteúdo e modo de exposição: a
unidade de Deus, criador do céu e da terra, é proclamada por todos
os séculos e todos os homens. A Igreja católica é a fiel depositária
dessa tradição universal. A santidade é inseparável dessa Igreja. A
Igreja é universal. É apostólica. Para confundir todos os hereges,
basta a tradição da Igreja romana. (...)
(...)
Santo Irineu, após haver defendido a fé contra os hereges da época,
após havê-la propagado nas Gálias pelos homens apostólicos que
enviou de um lado a outro, como por exemplo os Santos Ferreol e
Ferrúcio a Besançon, os Santos Félix, Fortunato e a Quileu, A
Valência, selou, por fim, com o seu sangue durante a perseguição de
Severo. O que torna sua glória ainda mais resplandecente é que quase
todo o povo morreu mártir com ele. Uma antiga inscrição, que se vê
em Lyon, na entrada de sua igreja, traz o nome de dezanove mil
homens, sem contar as mulheres e os filhos. Seu sangue corria em
rios nas praças públicas.
Vida
dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XI, p. 245-246-253 |